Depois de uma semana em casa, esperando meu tornozelo melhorar, e me recuperando da despedida com Anabelle, tinha que voltar ao trabalho. Mas Anabelle me fazia falta, fico imaginando se a gente desse certo, ela viria morar aqui e me daria um beijo de bom dia, eu sentiria o cheiro do seu cabelo todo dia antes de dormir e nós estaríamos sempre junto. Eu teria alguém. Não sei se gostava tanto de Anabelle, por ser ela, ou se estava muito carente.

Voltando ao trabalho, me deparo com Leah. Senti um misto de sentimentos que iam desde a raiva que eu tinha, porque Anabelle foi embora por causa dela, até o desejo de colocar ela em cima da mesa e tela ali mesmo. Mas tentei ser o mais frio possível, mais frio que ela. Passei reto, e fui direto para a minha mesa. Mas as horas não passavam, eu ficava a olhando ali em sua redoma de vidro. Não adiantava o quanto eu quisesse e o quanto eu fizesse, pra ela não ia adiantar.

Quando fui tomar um café ela estava lá também, e ficamos nós dois sozinhos.

– Eu estou bem Leah, obrigado por perguntar. – Eu falei com um tom sarcástico na voz.

– Eu sou apenas sua chefa, sua vida fora daqui não me interessa.

– Então porque foi me ver no hospital? – Fiquei de frente para ela a encarando, ela olhou de volta, mas desviava o olhar. Ficamos um tempo assim até ela achar alguma resposta digna.

– Fui em nome da empresa.

– Tenho certeza que a “empresa” não estava chorando por mim. – Ela me olhou surpresa e eu senti que havia mexido com ela.

– Aquilo foi um erro.

– Admita que tem alguma coisa entre nós.

– Não tem nada entre nós, e nunca haverá. Nossa relação tem que ser apenas profissional – ela suspirou de leve - e ela será. Volte ao seu trabalho Sr. Benjamin. – e ela se virou e foi embora.

Eu fiquei ali olhando pro nada, enquanto tentava ver algum sentido naquilo tudo, mas não havia. Leah estava sempre fugindo. Voltei ao meu trabalho tentando me concentrar o máximo possível, mas estava sendo mais difícil que antes. Tinha que haver um jeito.

No fim do expediente, olhei rápido para a sala dela, e o mesmo cara que havia me dado um soco na cara estava lá. A esperando. E aquilo foi demais pra mim, mas continuei olhando esperando que quando ela saísse desse um tapa na sua cara e o expulsasse do escritório. Mas não foi isso que aconteceu, ela saiu e assim que o viu sorriu, e os dois junto e felizes foram embora.

Realmente eu só estava me enganando. Talvez ela não sinta nada por mim além de desprezo, ou pena. Eu fiquei um minuto em pé parado, pensando em o que ia fazer agora. Passei no Recurso Humano e pedi minha demissão. Era de mais pra mim.

Fui pra casa e comprei uma bebida pra ver se me ajudava a dormir, ia ser meu remédio pro desapego. Claro que eu ia chorar, ia sofrer e ia pensar muito nela nessa noite, não podia fingir que agora era o fim. E pensar que a ultima vez que eu a vi, foi indo embora com outro. Ironias da vida. Talvez fosse melhor assim. Ou não. Mas já não me importava mais.

Pela internet comprei uma passagem pra Holanda. Sempre quis conhecer lá e agora que eu não tinha mais compromisso nenhum com nada, eu poderia ir. Eu tinha um dinheiro guardado então ia ser bem útil. Ia falar só com Beth, porque se eu não a avisasse ela ficaria muito chateada, e também pra não acharem que eu morri como indigente.

Bebi tanto que acabei dormindo no banheiro, mesmo com tanta bebida a única coisa que eu pensava era em Leah, e eu me odiava por isso, me odiava mais do que odiava ela. Acho que eu nunca a odiei realmente, eu odiava o fato de ela não corresponder o meu sentimento por ela, porque eu a amava. Mas ela não me amava. Eu tinha que acabar de ter expectativas em relação às pessoas, porque no final quem acabava mal era eu, e agora eu acabei sozinho.