Talvez Seja Mesmo Uma História De Amor escrita por Anne Diogo


Capítulo 1
Capítulo 1 - A secretária eletrônica


Notas iniciais do capítulo

Começando a história, esse capitulo esta relacionado ao primeiro capitulo do livro, onde o susto acontece ! Fiz ele curto pois acho que combina mais. Boa Leitura!



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Era um dia diferente, mesmo sem ele saber. O sistemático Virgile saiu do prédio da Svengali Communication, a empresa de publicidade onde trabalhava, mais tarde do que de costume. Inopinadamente só depois de que o sol se pôs e começou a chover, foi então que ele percebeu que o relógio vermelho-sangue, que ficava em cima da porta, estava quebrado.

A sede da agencia de publicidade onde Virgile trabalhava era bem localizada, mas ele não possuía um relacionamento com o bairro, somente duas pequenas “ilhas” daquele pedacinho dourado do primeiro distrito o atraíam: a livraria Delamain e o café-restaurante À Jean Nicot, lugares ainda não invadidos pelo publico que ele indesejava.

Apesar de estar perto da estação de metrô, subiu no ônibus e validou o tíquete, evitava o metro fazia seis meses. Assim como seu corpo deixa aos poucos seu lugar de trabalho, sua mente fazia o mesmo. Ele acreditava que deixar o trabalho, não é algo simples como passar pela portaria, mas deveria se passar por um ritual imaginário, uma transição. Era necessário o caos do transito, as buzinas, o ônibus, o cheiro de cidade e seus sentidos acompanhando tudo isso. O ambiente em movimento ao seu redor ajudava executar o ritual de se libertar do trabalho e de seus colegas, ia se reencontrando à medida que chegava em casa.

De forma disparatada o ônibus parou quase atropelando um vagabundo de rua. Descendo em frente à Gare du Nord, percebeu que Armelle não estava na mesa de sempre na varanda do Terminus. Ah, como ele gostaria de vê-la, sempre com um pouco de batom vermelho nos lábios e um livro na mão e com aquele jeito que faz as pessoas a observarem como se fosse em câmera-lenta mas se encontraria com ela somente depois do jantar para beber um pouco.

Chegando, cumprimentou duas prostitutas que estavam na frente do prédio, elas responderam acenando e sorrindo. Verificou sua vazia caixa de correio e subiu as escadas de dois em dois degraus até chegar ao terceiro andar, abriu a porta do apartamento e jogou as chaves na fruteira.

Viu a luz da sua secretária eletrônica piscar, que por sinal era velha e utilizava fita cassete. Virgile gostava de mensagens, não importando que as mandassem, fossem de amigos ou de vendedores de cozinhas equipadas, faziam-lhe relembrar sua existência na sociedade mas só as ouviria depois de preparar algo para petiscar. Abriu sua geladeira típica de solteiro, pegou dois ovos e os quebrou na frigideira, pôs a mesa e, por fim, apertou o botão de escuta da secretária eletrônica.

– Virgile – Disse uma voz feminina, que o fez aprecia-la

– Aqui é Clementine. Sinto muito, mas prefiro que a gente pare por aqui. Vou me separar de você, Virgile. Não quero mais.

Ouviu a mensagem cinco vezes, sendo acompanhado por um cheiro cada vez mais forte de queimado. Jogou água fria no rosto, olhou-se no espelho do armário do banheiro, fechou e abriu os olhos, como se quisesse acordar de algum sonho. Engoliu um ansiolítico. Voltou para a cozinha e desligou o fogão. Seus ovos torrados exalavam uma fumaça ardida e sua cabeça não muito diferente.

A ruptura de um relacionamento é uma das poucas coisas doloridas, não importe o quanto bem se termine, sempre irá doer, sempre fará falta, sempre existirá a saudade seja das coisas boas ou ruins. Mas para o Virgile foi mais devastador, porque ele seria deixado por alguém que ele nem ao menos conhece ou lembra conhecer, sentia o desespero de ser deixado somado á irreal e ilogicidade do acontecido.

Decidiu fazer uma autoanalise, mesmo para ele a Terra sendo um planeta estável, havia coisas que poderiam ser certas mesmo sendo poucas e essas eram seu refugio para a realidade. Era solteiro, obvio, sua casa tinha característica de um cara solitariamente solteiro. Que casal gostaria de morar naquele prédio? Qual namorada iria querer visita-lo morando ali? Quem namoraria alguém que mora ali? Impossível! Sua geladeira, tipicamente solteira, só besteira: ovos, uma lata aberta de tomates sem pele, manteiga, enlatados e uma significativa coleção de iogurtes,sendo essa ultima efeito da nova campanha de publicidade. Como mais alguém além dele sobreviveria com esse tipo de alimentação? Se é que pode ser chamada assim! E tinha mais um upgrade que provaria que essa mulher não pode existir... Seu celibato! Algo mais solidamente estabelecido do que a força da gravidade.

A sua autoanalise apenas piorou as coisas, o fez sentir em um sonho, tentou por varias vezes fechar e abrir ou olhos, beliscou-se e por final teve uma tonteira e caiu sentado, então dirigiu suas atenções para as coisas palpáveis da sala: a coleção de vinis, o cartaz vermelho e amarelo do circo de seus pais sobre o sofá de braços puídos, a caixa de chicória, uma conta de telefone preso a porta da geladeira por um imã de flor, estranhou por não ter lembrado onde e quando comprou.Tirou a secretaria da tomada e saiu do apartamento.

Desta vez não conseguiu cumprimentar ninguém, se é que tinha visto que havia alguém ao seu redor. Fechado em si, prestava atenção apenas no barulho de seu mocassin no chão molhado e com o pensamento no vazio, desceu o bulevar Magenta.Tudo estava bem, em seu corpo, tudo funcionava como deveria, exceto sua mente, esta fervilhava.


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Notas finais do capítulo

... Gostaram? Primeiro capitulo FINALIZADO. Fiquem ligados no resto da história, sei que iram amar!



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