Sophie dirigiu em silencio até o Pico da Viúva, talvez soubesse que eu não estava afim de conversar, minha mente borbulhava demais. Jogava mais perguntas, das quais eu ainda não tinha resposta e colocava à prova todo o amor que eu nutria por Evan.

Minha mente sempre dizia que quando à amor não deve haver segredos, tem que existir confiança, como um laço invisível que te une aquela pessoa e faz com que você divida com ela, até seus momentos mais sombrios.

Parte de mim queria acreditar que Evan não mentiu, apenas ocultou uma verdade que me machucaria, mas a outra parte, enxergava aquilo como uma mentira, como uma conspiração contra mim. Eu não sabia em qual das duas acreditar, por mais que soubesse que talvez estivesse tirando conclusões precipitadas demais, aquilo tudo não deixava minha mente.

Sophie encostou o carro perto da árvore e desligou o motor, esperando que eu descesse. Mas, naquela altura do campeonato, eu não tinha mais tanta certeza se queria fazê-lo. Cogitei a ideia de implorar à Sophie que ligasse o carro e me tirasse dali antes que Evan sequer notasse nossa presença, mas meu ego e minha curiosidade não me deixaram fazê-lo.

Olhei para minha amiga, que se esforçava para enxergar alguma coisa dentre a neblina e me perguntei se ela tinha mentido para mim. Sophie encarava tudo aquilo com muita tranquilidade, como se estivesse preparada para isso. 

Suspirei e retirei o cinto, levando meus dedos trêmulos em direção à porta, mas fui impedida por sua voz.

- Tem certeza de que quer fazer isso? - Murmurou. - Não sei se você vai gostar do que pode descobrir.

Voltei a me encostar no banco, sentindo minhas costas doerem e meu pulmão arder. Minha cabeça rodava, quase me impossibilitando de falar direito.

- Se você não vai me contar, Evan vai. - Rebati, decidida. - Eu confiei nele, é justo que ele confie em mim.

Dessa vez Sophie quem suspirou, imitando meu ato anterior, porém sendo mais rápida e saltando do carro antes mesmo que eu o fizesse. Sai do mesmo, sentindo a brisa fria me fazer arrepiar. Apesar do sol quente em Rockford, a neblina ainda continuava imponente nos arredores do Pico.

- Tudo bem, então eu vou com você.

- Sophie...

- Qual é! Chega de segredos, não é?

Suspirei derrotada, enquanto caminhava pela neblina em direção a casa de Evan, sentindo Sophie em meu encalço. A neblina estava densa e eu mal enxergava um metro a minha frente, mas pude ouvir claramente as vozes que vinham do interior da casa. Travei, parando de caminhar e depois sentindo o peito de Sophie bater em minhas costas. Ela xingou um palavrão e depois murmurou para mim.

- Porque parou?

- Você não está ouvindo? - Sussurrei, me virando para ela. O silencio se instalou no lugar por um momento, e tudo que podíamos ouvir eram as ondas quebrando na baia e os murmúrios dentro da casa. 

- Evan não está sozinho. - Murmurou mas para si do que para mim, e depois elevando a voz, se dirigiu a mim. - Tudo bem, vamos nos esconder.

O espírito de aventura de Sophie não tinha desaparecido, por mais que eu soubesse que ela só estava nessa por mim. Assenti quando Sophie tomou o comando da direção e me puxou pela mão até uma janela próxima da casa.

As vozes se tornaram mais altas e agora eu pude descobrir que além de Evan, uma outra garota e um homem estavam lá dentro.

Sophie foi mais rápida que eu, retirando as palavras da minha boca. Sussurrando ao dizer.

- O que Charlote está fazendo aqui? 

- Vai ver eles voltaram. - Sussurrei de volta, tentando fazer com que aquilo não abalasse meu emocional.

- Não. - Negou com a cabeça. - Evan não voltaria com ela, deve ser outra coisa.

Me desliguei de Sophie e tentei me concentrar nas três pessoas no interior da casa, me focando em suas imagens por de trás da cortina.

"Não ache que estou nervosa por você estar com outra, Evan. - Murmurou a garota, que agora, graças a Sophie, eu sabia o nome. - Não que eu não esteja mas... Tudo bem, vamos ao que interessa. 

O homem completou, vendo que a garota estava levando o pessoal a sério demais.

- O que Charlote quer dizer, é que se você abrir o bico, ela morre.

Meu coração falhou uma batida, pude sentir a mão de Sophie apertando a minha, mas não me atrevi a olhar para ela. Mantive meus olhos fixos dentro da casa.

- Tudo bem, vou entrar em cena. - Murmurou. Dessa vez tirei meus olhos da casa e procurei minha amiga, mas Sophie já estava perdida na neblina, deixando para que eu visse a próxima imagem apenas, que foi ela passando pela porta.

- Que bela reunião em família. - A voz irônica de Sophie me causou arrepios, aquele não era um tom de voz que eu ouvia dela. Não daquela forma. Ela parecia tranquila enquanto caminhava até eles, não dirigindo olhares para a janela, para não perceberem que eu estava ali. Pude ver o rosto de Evan se contorcer em uma careta e depois seus olhos ficaram surpresos. A expressão de Charlote e do homem, não eram diferentes, talvez tivesse um pouco de raiva, mas nada além disso.

- Sophie, você não foi convidada. - Apesar do sorriso forçado que brincava no rosto de Charlote, sua voz ao pronunciar o nome de minha amiga, foi repleta de nojo.

- Não. - Rebateu Sophie. - Vocês não costumam me convidar para essas coisas. - Uma expressão, falsa, de tristeza apareceu no rosto branco de Sophie. - Mas, eu estava passando por aqui e resolvi fazer uma visita para Evan. - Deu de ombros, encerrando o assunto.

Encerrando apenas para ela, o homem parecia mais esperto e passou seus olhos por todas as janelas, me abaixei no momento certo, como um reflexo e depois o ouvi falar.

- Ela está com você, não está? 

- Quem?

- Não se faça de desentendida, Sophie. Charlote já viu você e ela juntas, muitas vezes.

- Está falando da Melanie? Ah não, ela está em uma festa com Daniel.

- Daniel... - Murmurou o homem para si mesmo, voltando, em seguida, a encarar Evan ignorando completamente a presença de Sophie. - Nós já avisamos, Evan. Não cometa o mesmo erro novamente. Dessa vez nós sabemos que ela está viva, não tente trapacear. Nós sabemos, bem, como termina.

- Terminaram? - Sophie interrompeu o momento tenso, trazendo a ironia de volta à sua voz e atraindo a atenção de todos, inclusive a minha. - Tenho assuntos para resolver com, Evan.

- Quais assuntos? - Rebateu Charlote.

- Um que você, pessoalmente, vai ficar feliz em saber. - Encarou Charlote e depois Evan. - Melanie quer terminar. - Engoli em seco. Eu queria? Terminar o quê? - Não sei se ela estava bêbada demais quando me ligou, só sei que ela praticamente me forçou a vir até aqui. 

- O quê? - Evan, Charlote e o homem emitiram o mesmo som de surpresa, e uma mesma pergunta.

- É, é isso aí. Pensei em falar quando estívessemos sozinhos, mas essa vadia não vai embora logo. - Se dirigiu a Charlote, mas sem tirar os olhos de Evan. - Ela disse que cansou de mentiras e descobriu sobre você e ela. Meu recado está dado, boa reunião.

Sophie se apressou a dizer, mas manteve a calma quando caminhou em direção a porta e passou por ela, voltando para o meu lado. Não tive tempo de perguntar o que foi aquilo tudo, porque o homem foi mais depressa.

- Acho que o assunto está encerrado. - Ele estava feliz. Feliz em saber, que segundo Sophie, eu estava fora do caminho. - Nos vemos em breve.

Antes que ele alcançasse a porta, Sophie me empurrou em direção aos fundos.

- Entre por aí, terei que ir embora. Quando for para casa, me ligue.

- Sophie...

- Anda logo! - Mais um empurrão e então desapareceu na neblina.

Fiz o que ela disse e caminhei até a porta dos fundos. Só que agora, eu já não tinha tanta certeza do que dizer.