Uma linda manhã de sexta feira nascia lá fora – pessoas correndo para todos os lados planejando o Caça a Bandeira de hoje – e eu? Eu fiquei deitada até a hora do almoço. O Caça a Bandeira começaria de tarde hoje. Levantei, fui para o chuveiro e tomei um banho. Eu não estou exatamente arrumada e nem ficarei. Simplesmente amarrei o cabelo, escovei os dentes e vesti uma camiseta aleatória do Acampamento, uma calça jeans qualquer e o meu bom e velho All Star preto com o cano alto. Olhei-me no espelho e vi que eu estava com uma espinha no nariz, ironia se levar em conta o que fiz há alguns dias com as filhas de Afrodite que já melhoraram das espinhas.

Fui até a mesa que pertencia ao meu chalé e me sentei. Poucas pessoas estavam no Pavilhão - uma ou duas do meu chalé e mais algumas em outras mesas – o restante estava preparando as coisas para o Caça a Bandeira. Eu teria que ajudar, afinal, a fazer o time Azul ganhar. Terminei de comer e fui até meu meio-irmão Travis, ele explicou seu plano mirabolante para a vitória e eu assenti. Dificilmente daria certo então pensei em um plano B.

Fui até o Arsenal – estava cheio, mas todos estavam ocupados e nem me notaram - e peguei uma adaga, escondi dentro do cano do All Star. Ela poderia ser útil em algum momento. Sentei-me em uma das mesas dali e comecei a analisar as espadas e adagas. Não que eu estivesse interessada em armas, apenas precisava fingir me ocupar com algo. Olhei para os lados e vi que a maioria das pessoas já havia escolhido as armas e saído de lá. Piper e Leo estavam em um canto conversando. Analisando bem eles formavam um casal legal, bem melhor que qualquer garota que Leo eventualmente viesse a se relacionar. Ninguém sabia do casal – mesmo que estivesse muito óbvio – e nem desconfiavam deles ali no canto conversando e rindo um pro outro.

– Pare de encarar. – alguém falou ao meu lado. Virei-me e vi Will, sorri automaticamente.

– Esses casais apaixonados... Às vezes me pergunto o que eles sentem. – comentei, voltando a encarar Leo e Piper.

– Amor? – Will falou como se fosse óbvio.

– O que eu quis dizer é que imagino como é namorar. – falei.

– Nunca ficou apaixonada por alguém? – ele perguntou.

– Não. – menti. Não queria que ele soubesse de Nico. – E você?

– Já. Acho que já, não sei. – ele deu um sorriso amarelo.

– E o que aconteceu? – perguntei, me virando para encara-lo.

– Nada. – ele disse, olhou para o casal lá atrás e desviou os olhos.

– Piper? É dela que você gosta? – perguntei levantando uma sobrancelha.

– Não. – ele respondeu. – É que parecem tão felizes, não entendo essas coisas. – acrescentou.

Passei os olhos por todo o Arsenal, sete pessoas apenas estavam ali. Olhei para fora e vi a multidão começando a vestir seus elmos. Pulei da mesa e puxei Will para fora do Arsenal. Coloquei o meu elmo e armadura, ajudei Will com a dele e entreguei uma espada para ele. Expliquei (Ou tentei, me perdi algumas vezes nas próprias palavras) as regras básicas do Caça a Bandeira e ele pareceu se divertir com isso. Corremos para trás das pessoas do nosso time.

– Nada de linha de frente? – ele perguntou um pouco desapontado.

– Não. Deixem eles se matarem. – respondi. – Nós vamos pegar aquela bandeira.

Todos pareciam estar preparados e o jogo começou. Droga. Segurei a mão de Will e corri para o lado oposto ao da batalha, mas um inimigo do outro time apareceu e atacou Will que caiu desajeitadamente no chão. Chutei a pessoa o mais forte que consegui e Will acertou o cabo da espada na cabeça da pessoa. Corremos para longe e demos a volta no campo de batalha, vez ou outra um babaca aparecia para nos atacar e Will acabava com ele, e finalmente chegamos a qualquer lugar seguro. Paramos por um instante e olhamos para os lados e seguimos qualquer direção que fosse e nada aconteceu por um bom tempo.

– Então... Gosta de pudim? – perguntei.

– Não. – ele respondeu. – gosta de torta salgada? – perguntou.

– Não. – respondi.

E continuamos nesse tipo de conversa até vermos que chegamos ao lugar onde nossa bandeira estava. A defesa estava lutando com o time Vermelho e vi de relance a garota de Atena que “namora” Will, ela pegou a bandeira e correu – por sorte – para nossa direção. Bati o lado cego da espada em seu pescoço com toda a força que consegui reunir no momento (Deve ter sido uma dor imensa que ela sentiu), ela caiu no chão segurando a garganta e puxei a bandeira de volta. Corri de volta para a nossa base, mas algum idiota de Ares me atacou e cai de cara no chão.

Levantei apressadamente e vi nossa bandeira indo embora e os gritos de vitória do outro time. Olhei ao redor e vi que todos pareciam ter levado uma surra. Will – a alguns metros dali – estava sentado segurando o braço. Aproximei-me dele e olhei para seu braço, um baita corte profundo, ele levantou e deu um sorriso tremulo. Devia estar doendo um bocado esse corte. Levei-o para alguns filhos de Apolo, já que Apolo era o patrono da medicina, talvez pudessem ajudar. Sai de lá enquanto ajudavam Will. Olhei para os lados e vi que muita gente havia se machucado. Meus olhos pararam exatamente na pessoa que eu procurava. A garota de Atena segurava o pescoço e me olhou de modo feio, sorri descaradamente para ela.

– Summer, nós perdemos! – Travis chegou de repente e começou a falar de como seu plano teria funcionado, parei de escutar depois de um tempo até notar que ele me perguntou algo.

– O que? Não ouvi. – informei.

– Perguntei se você se machucou. – ele repetiu.

– Não. Estou bem. – respondi, mas eu estava sentindo uma dor incomoda nas costas, culpa do ataque do idiota de Ares. - E você, se machucou? – perguntei, mas logo reparei nos cortes que ele tinha pelos braços e rosto.

– Está tudo bem, Summer. – ele respondeu notando meu olhar para os ferimentos.

Ele foi até alguns novatos que pareciam assustados com o que presenciaram e começou a conversar com eles e parecia acalma-los. Logo vi que era ilusão, ele estava pegando coisas dos bolsos das crianças sem elas verem. Ele não tinha jeito.

Fui até meu chalé, deitei na cama e peguei no sono muito rápido.

Na manhã do dia seguinte acordei no mesmo horário que todos e fui até a mesa 11. Caraca, meus irmãos estavam animados hoje. Will apareceu e vi seu braço enfaixado. Perguntei como ele se sentia e ele deu de ombros. Parecia chateado com algo, perguntei o que ele tinha e ele deu de ombros novamente. O que tinha acontecido com ele? Ele caminhou até um lado meio distante da mesa. Voltei a comer.

– Summer, - uma voz conhecida fez meu coração pular. Virei-me e vi que ele tinha um sorriso no rosto. – Oi.

– Nico... – falei.

– Como está? – ele perguntou e se sentou ao meu lado.

– Onde esteve?! – perguntei um pouco ríspida demais.

Ele me olhou e deu de ombros. Droga, por que todos faziam isso para mim? Olhei novamente para ele e senti vontade de dar um soco e depois um abraço nele. Sentimentos são estranhos.

– Espero que tenha se divertido, - falei. – devia estar legal demais para me mandar noticias.

– Por que precisava de noticias? – perguntou. – Eu sempre desapareço assim e volto dias depois.

– Não importa. – respondi.

– Ei, desculpe-me. – ele disse e tocou meu ombro. – Agora estou aqui.

Eu tentei parecer fria, mas ele me abraçou. Fiquei em silencio, não conseguia formular alguma frase.

– Summer, eu senti saudades. – oh, agora sim meu coração explode! Por que ele está me falando isso? – Por isso voltei.

Senti meu coração acelerar e vi de relance Will, que olhava com desprezo para nós. Por que ele estava assim? Will nunca olhou assim para mim. Soltei Nico no mesmo instante e ele falou algo que não ouvi, Will abaixou o olhar - quando encontrei seus olhos - e voltou a comer. O que estava acontecendo comigo, e por que agora eu me preocupava com Will tanto quanto com Nico?

– Summer, o que foi? – Nico olhou para mim levantando uma sobrancelha.

– Nada. – respondi e me levantei. – Tenho que ir.

Olhei para Will uma ultima vez e sai de lá. Não sabia o que estava acontecendo. Bom, na verdade eu tinha uma básica noção: Eu gostava de dois garotos ao mesmo tempo. Merda. O vento estava gelado e eu estava sem agasalho, me encolhi e acelerei o passo até o Anfiteatro para pensar (Eu gostava de pensar lá) e encontrei Travis. Dei meia volta, mas ele já começou a falar:

– Summer, o garoto de Hades estava conversando com Will. – ele disse. – Acho que disse que você gostava dele.

– O que?! – voltei-me para Travis.

– Foi o que ouvi. – ele disse.

– O que?! – perguntei novamente incrédula. Como Nico sabia? E pior, por que diria isso a Will? O que estava acontecendo com esses dois?

– Nico falou “Summer gosta de mim, você é um mero idiota sem pai, afaste-se dela” – Travis imitou a voz de Nico. – E Will ficou olhando parado e saiu de lá cabisbaixo. – acrescentou.

– Mas... – eu não conseguia pronunciar mais nada.

– Só achei que devia saber. – ele deu de ombros. – Eu te disse que o Di Angelo não era boa coisa. – e saiu de lá, me deixando com cara de idiota.

Deitei no meio do Anfiteatro e olhei para cima tentando entender o que acontecia. Nada. Fiquei um bom tempo lá. Nico fez algo muito idiota, as palavras devem ter magoado Will. Pensava mil e uma coisas sobre isso, até que notei que alguém se aproximava. Will sentou ao meu lado.

– Então você gosta do Nico? – perguntou. – Por que não me contou?

– O que ele te disse? – perguntei, olhando de esguelha para ele. Já ouvi a história de Travis, mas queria que ele me confirmasse isso.

– Que você gostava dele. – foi tudo o que disse. Por que não contou toda a história?

– E que era pra você sair de perto de mim. – acrescentei. Ele olhou surpreso para mim. – E foi isso que você fez. – suspirei.

– Então você gosta dele? – ele perguntou friamente. Will nunca foi frio comigo, isso me deixou triste.

– Ele te chamou de idiota sem pai? – perguntei e ele deu de ombros, entendi isso como um sim. – Você não é idiota, e seu pai logo vai aparecer. – acrescentei colocando a mão no ombro dele.

– Ah, Alice terminou o nosso quase namoro também. – ele informou. – Disse que a culpa era sua.

– Desculpe. – pedi.

Ele não disse nada, apenas desviou o olhar para o outro lado do Anfiteatro aonde Nico vinha caminhando com as sobrancelhas arqueadas.