Quatro Detetives e Um Sonho escrita por Lawlie


Capítulo 16
Capítulo 16 - Vitória


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo... esse ficou bem grande... Finalmente acabou o interrogatório da Gabrielle e-e E com o deste capítulo, só falta um ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/299139/chapter/16

 Gabrielle ficou em silêncio. Tikara pegou uma foto levemente amassada e com marcas de ter sido dobrada e desdobrada muitas vees. Mostrava uma garota ruiva, de 14 ou 15 anos, com sardas, tinha os olhos escuros e usava roupas pretas.

- Conhece essa garota?

- Hmm... Nunca vi ninguém parecida. Eu tenho boa memória para rostos, mas nunca vi este. Se eu ficar sabendo...

- Você não vai ficar sabendo. Ela também morreu.

- Oh, desc-

- A senhorita tinha algum contato com a filha de Lucas? - adiantou-se Miruku, pondo uma mecha do cabelo que havia caído nos olhos atrás da orelha

- Algumas vezes já encontrei com ela na rua, e uma vez na praia, nesta ocasião conversamos. Ela era bem agradável... uma pena o que aconteceu com ela.

- Ficou sabendo sobr ela?

- Sim, eu vi no jornal...

- Então como não viu sobre a outra garota?

- Não precisa ser exatamente a mesma matéria. Mas sinto muito pelo o que está acontecendo com o Lucas. Ele e a esposa devem estar chocados.

- E esse rapaz... - Miruku fuçou no bolso do casaco de mangas curtas de Tikara e entregou a foto de um homem ainda jovem que devia ter uns dois anos a menos que Gabrielle.

- Ex da minha irmã.

- Ex o que? Marido, noivo?

- Ex-namorado. Minha irmã ficou muito abalada com o fim da relação. Chegou até a criar uma espécie de depressão que desaparece e volta sem avisar, vezes mais fraca, vezes pior que nas outras.

- Sua irmã mora com você?

- Morava até pouco mais de um mês atrás.

Dessa vez Miruku se remexeu no sofá como se houvessem tachinhas lá.

"Quase dois meses... mais ou menos quando começaram os assassinatos"

- Onde ela mora agora?

Gabrielle levantou, foi até uma pequena mesa de telefone, rasgou um pedaço de papel e depois de ter anotado o endereço, entregou-o a Miruku.

- Se tivermos mais perguntas, vamos ligar. Arigato gozaimassu. - Miruku levantou e se inclinou um pouco. Endireitou as costas e caminhou até a porta junto de Tikara.

- Tudo bem, tenham um bom dia - respondeu

Os dois correram para o ponto de ônibus numa energia inexplicável.

- Espero que a moto que o Matt vai arrumar não demore - falou Tikara, tentando pegar ar, enquanto os dois subiam no automóvel

- Puta que pariu, como os ônibus daqui são esquisitos - Miruku sentou em um lugar e observou pela janela - Eu não vinha ao Brasil faz dois anos. Nem sei como ainda falo português.

Tikara torceu o nariz.

- Bom, pra quem fala quase nove línguas diferentes, é estranho mesmo. Andar de ônibus é um porre e sempre foi. Prefiro mil vezes os metrôs japoneses.

- E olha que você nem é japonês.

- E olha que eu ainda nem sei direito de que raio de país você é.

A garota apenas riu e continuou olhando pela janela como uma criança que é levada para passear.

- Percebeu como a Gabrielle parecia alegre? - perguntou, depois de quase dez minutos.

- Percebi. Vamos ver como a próxima vai parecer. - os dois se levantaram e desceram - Brasil... calor, carnaval, futebol, e povo alegre? É assim que os estrangeiros que não conhecem o país direito o veem?

- Esqueceu dos que acham que uma parte é praia e outra favela. Eles ainda tem muito o que aprender - a garota observou o céu azul por um instante e tirou balas do bolso, parecendo ainda mais uma criança e ofereceu à Tikara, enquanto este tocava a campainha.

- Sabe, muita boa educação da Toshimoyo ter mandado todos endereços. Sabe que a gente nem precisava ter pego o da Gabrielle?

- Boa educação e dinheiro, isso sim - Miruku revirou os olhos - E sim, eu sabia, mas eu quis dar trabalho à ela - pôs a língua pra fora.

 A casa tinha uma cor-de-gelo desbotada e um telhado triangular. O quintal totalmente cinzento e de concreto, com muros de concreto em volta, e a única parte que não era opaca era um pequeno quadrado de terra dentro do quintal com algumas plantas verdes.

Após alguma espera, Tikara apertou a campainha outra vez. Dois minutos depois, repetiu o ato. Miruku já estava perdendo a paciência e ia tacar uma pedra na janela quando um adolescente abriu a porta e chamou alguém. Surgiu uma mulher cerca de um ano mais velha que Gabrielle. Tikara explicou o motivo da "visita" e ela os convidou para entrar.

- Gomenassai pelo incômodo - falou Miruku, educada, ao entrarem.

- Não tem problema. Quase não temos visitas mesmo... quais são seus nomes? = a voz era entediada e tinha um tom meio melancólico

- Miruku desu. Este é o Tikara-san.

A moça, que se ocupara em arrumar almofadas no sofá, levantou os olhos. 

- Que nomes esquisitos. São estrangeiros?

- Nhé... Miruku na verdade é um apelido. Meu nome real é mais normal. O do Tikara é Tikarayko Satonakai - Miruku deu uma risada, e vendo Tikara fechar a cara, pôs a mão sobre a boca.

- Podemos largar nomes de lado e fazer as perguntas? - perguntou Tikara, ficando vermelho

- Nossa, você tá chato hoje ¬¬ - disse Miruku, sentando no sofá com as pernas cruzadas em modo de índio.

- Estamos em uma investigação não em um passeio de férias - murmurou para si mesmo sem que ela ouvisse.

 Vitória era uma moça de uns trinta anos com o rosto delicado, os cabelos castanhos e olhos de um azul cinzento e sem vida. Pela cor da pele, parecia que não via o sol há algum tempo, mas ainda sim havia um sorriso sincero e era bonita.

- Se lembra de uma professora do ensino médio, Adrielle, que dava aulas de história e matemática? - "Bendito Jornal Nacional que transmitiu detalhes"

- Lembro, mas prefiro não lembrar daquela vaca desgraçada.

- A senhorita guarda algum rancor dela? - perguntou Tikara

- Rancor... Não gosto dela como ser humano.

- Ficou feliz com a morte dela?

Fez-se silêncio por um minuto.

- Ela morreu? Hum, há um certo conforto em saber que pessoas que sujavam o mundo não vão mais sujar. - respondeu pelo canto da boca

- Será que a senhorita poderia contar um pouco sobre a sua adolescência e o envolvimento com tudo e qualquer um que for relacionado à Lucas?

- Não quero me lembrar disso - Vitória suspirou entediadamente - Lucas é um ridículo, Gabrielle uma chata medíocre, Marcos não me importa o que ele fez de sua vida ou de sua morte e agradeço por Lucas ter se mudado pra bairros de distância antes que eu me lembrasse de tudo perdesse a cabeça e fizesse alguma loucura. - disse de um fôlego só

- A parte que eu mais odeio de uma investigação são os interrogatórios. Ficar perguntando as mesmas coisas pra meia dúzias de pessoas, e às vezes nem adianta muita coisa, mas mesmo assim temos que fazer. Prefiro mil vezes à emoção de correr de patins atrás de um caminhão com explosivos mas infelizmente isso é algo que não acontece todo dia, por isso, será que poderia fazer um esforcinho e me ajudar a resolver isso logo? - Miruku perguntou, arregalando os olhos e postando-os fixamente em Gabrielle.

Vitória deu mais um suspiro resignado.

- Eu e Gabrielle não nos dávamos bem de jeito nenhum. Ela era ridícula, e eu, de acordo com o que ela dizia, uma Samara da vida real. Só faltava pôr os cabelos pra frente e um poço pra que todos saíssem correndo quando me encarassem. Ela era obcecada pelo Lucas idiota, e eu sempre fui ciumenta demais com aquilo. Ele era importante para mim - seu rosto corou por um momento, e depois acrescentou - Me arrependo amargamente. Filho da puta. Ele era vital pra ela, acho que por que ele não zuava ela junto com os amigos. Toda essa merda começou quando um dos que fazia bullying com ela, devia se chamar Mateus, ou Marcos, passou correndo, derrubou ela, pegou a mochila e espalhou as coisas pelo chão. O Lucas chegou, juntou tudo e a ajudou a levantar, perguntou se ela estava bem, conversaram por menos de cinco minutos, ele pagou um lanche pra ela e saiu. Eu sabia por que estava observando, não éramos namorados na época. Nos dias seguintes, ele foi simpático com ela mas não tentou puxar papo, mas o mal já estava feito e ela ficava cada hora mais doida. Namoramos, brigamos, discutimos por causa de ciúmes e por causa da Gabrielle, eu a ameacei várias vezes, disse que ia cumprir a ameaça nem que quinze anos se passassem, eu e o Lucas terminamos quando ele arrumou a que atualmente é esposa dele, sem antes deixar de pegar mais cinco garotas e a irmã nojenta da Gabrielle vivia aparecendo na nossa escola pra defender a pobre irmãzinha. Gostaria que todos que foram citados no que eu disse quebrassem as pernas. E hoje eu estou calma.

Miruku e Tikara se entreolharam. Os lábios da garota se moveram rapidamente, como se estivesse dizendo algo, sem voz.

- Quer dizer que a irmã da Gabrielle ia à escola de vocês com frequência?

- Toda semana - Vitória desviou o rosto. Tikara já havia reparado que ela não gostava de olhar nos olhos das pessoas, como se elas pudessem descobrir algum segredo - Ia e arrumava a maior festa, pra não dizer o contrário. Vivia metendo a porrada no Marcos e se achava por que lutava judô, é claro que a Gabrielle morria de orgulho dela. Depois de algumas vezes que eu a ameacei, a irmã dela começou a ficar impossível, a gota d'água foi quando ela largou a bolsa de estudos no colégio particular mais caro da cidade para ir bajular a irmãzinha na escola que não era lá grande coisa. Não gostava de ninguém, e detestava a professora de história mais que qualquer outro aluno detestava algum professor, por que ela não defendia a pobre irmã, tão indefesa - fez cara de nojo.

Miruku assentiu com a cabeça, mexendo nervosamente na touca. 

- Sobre esse Marcos... ele era amigo do Lucas?

- Sim, amigos inseparáveis, tanto que um acabou levando o outro pro mau caminho. - ela deu um risinho nervoso - Aliás, Marcos era o que mais adorava fuder a vida da Gabrielle, se me permitem a palavra. - Mas eu nunca tive problemas com ele. 

- Sem problemas, vivemos falando palavrão nessa porra. Certo, já viu essa garota alguma vez? - Miruku pegou a mesma foto que haviam mostrado à Gabrielle.

- Fico feliz por não ter visto. - murmurou. - Não suporto adolescnetes. Depressivos, emocionais, sentimentais, cheios de complexos irritantes, sei por que já fui uma. - Um sorriso tímido apareceu em seus lábios. - Mas vocês são diferentes, estão e preocupando com algo importante, afinal. 

- A senhorita tinha algum contato com a filha mais velha de Lucas?

Ela balançou a cabeça negativamente. - Acabei de dizer que odeio adolescentes. - e virou o rosto para o chão

 Miruku entregou um papel com o nome da sétima vítima. Vitória reconheceu-a.

- Essa chata... é, ou melhor, era minha prima de segundo grau - pronunciou com prazer o verbo ser no pretérito ao invés de no presente - Não íamos com a cara uma da outra. Ela infernizava minha infância e mesmo depois que nos tornamos adultas ela continuava no meu pé. Não continua mais.

- Ainda temos algumas perguntas... já estou perdendo a paciência.

- Eu também. - concordou Vitória, virando mais uma vez o rosto pra olhar não sei onde.

- A senhorita mora sozinha? - perguntou Tikara

- Com meu irmão quinze anos mais novo e minha avó. Uma ironia que meu irmão tenha nascido bem nessa época. - a voz ainda tinha o tom melancólico - Meus pais morreram num acidente de avião esse ano. Estavam indo ao Egito pra uma excursão. Eu amava eles mais que tudo, além do meu irmão. Acho que sem eles eu posso fazer qualquer loucura. Qualquer. - dessa vez, olhou nos olhos de Miruku e Tikara, um de cada vez. - Mas não vou fazer assim como ainda não fiz, isso eu garanto.

Tikara anotou algumas datas em uk papel e entregou à Vitória. Olhando por cima do ombro de Tikara, Miruku reconheceu a data dos assassinatos.

- Lembra onde estava em alguma dessas datas?

Vitória inclinou a cabeça para o lado, confusa.

- Não... Deveria lembrar? Você é perturbado? Devia estar em casa, ou saído. Ou em casa. Ou fora de casa. Se... se puderem me dar licença, prometi fazer um bolo pro meu irmão.

- Sou sim, um pouco... e um pouco retardado também. - Tikara e Miruku levantaram, espreguiçando-se.

- Sayonara, Vitória-san - Miruku sussurrou, olhando diretamente nos olhos dela enquanto andava em direção à porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam da Vitória?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quatro Detetives e Um Sonho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.