E finalmente chegamos ao desfecho dessa medíocre história, doce criança. Você ainda se pergunta o que houve com a menina ruiva após a descoberta entre os espinhos de uma rosa delicada e a árdua caminhada do que chamamos de vida? Ela cresceu e amadureceu, minha pequena. E superou a perda. Superou a dor. Existe a saudade latente do que outrora foi motivo de riso, mas sua consciência está leve como nunca. De tempos em tempos, lembra-se dos olhos de mogno que tanto a encantaram no passado. Ela nunca mais o encontrou, e nunca mais se ouviu falar do rapaz; pelo menos, não onde morava, e jamais saía de lá. Mas, não, querida, esse não é um bom motivo para chorar. Por quê? Lembre-se que no começo do conto eu lhe disse para ser igual a uma rosa, nascida entre a tempestade e cultivada pela determinação de seguir em frente mesmo com as dores do presente.

O que nos traz de volta à questão principal: vale à pena? Devo recordar-lhe que, mesmo sob o risco de ser apanhada e castigada cruelmente, ela foi até Nothing Street com o intuito de ajudar o rapaz caído e em apuros, porque seu coração era puro demais para deixá-lo lá. Com isso, ela ganhou um grande amigo. Com isso, ele teve seu tão almejado período de herói aos olhos dela. Tudo se perdeu em meio à tormenta, e mais uma vez foi preciso superar toda a dor. Ela conseguiu esperança da qual tanto precisava. Ele conseguiu confiança da qual tanto sentia falta. E são essas as duas metades da mesma moeda, opostos ao extremo que precisam ser avaliados de todas as formas possíveis.

Você ainda não consegue entender nenhuma das palavras que agora falo, mas em breve tudo fará sentido. Pare e reflita, doce menina. No que resultou a história, criança? Estamos falando da vida. Sim, vida. Essa coisa que todos possuem, e poucos aproveitam de fato. Cada vida está representada numa estrela, brilhante e surpreendente, lá no céu.

Você está vendo aquela estrela solitária, menina? Ela brilha por você... Assim como a garota do conto, você precisa ter esperança e seguir em frente. Assim como o garoto, precisa de confiança para encontrar a si mesma. Todos são solitários, até que uma amizade verdadeira se forme; e é por isso que elas são tão necessárias Algum dia ainda irão olhar para aquele pontinho de luz e admirá-lo. E, ainda nesse dia, você vai sorrir, e saber que tudo valeu à pena.

A dor. As lágrimas. Os sorrisos. Nem tudo dura, sempre há algo que perece. Mas a impressão é eterna. Transcende eras.

Como eu conheço essa história? Eu estava lá, criança, quando ela chorou e orou por um amigo; quando implorou para que tudo terminasse bem. Eu estava lá quando ele se perdeu pelo caminho e permitiu que as trevas invadissem seu coração e o tomassem de forma dolorosa. Impotente, incapaz de alterar o rumo que tudo tomava, sabendo que o desfecho seria cruel. Sempre sussurrando palavras de conforto, sempre presente, afrontando a escuridão que ameaçava as frágeis vidas sob minha proteção. Ela me ouviu, quando estava em Nothing Street, e voltou para casa feliz naquela noite; pela primeira vez em muito, muito tempo.

Eu a recebi de braços abertos, pois esperei pacientemente por seu retorno quando soltou minhas mãos e correu para o soturno. E sobre mim caíram as gotas de seu sangue, quando ela finalmente compreendeu que não estava sozinha; assim como, algum dia, todos irão perceber.

"Hope Street".

Mas pode me chamar de pai, se quiser.

“E com suas asas de Ícaro, ela voou para longe,

Onde o Sol se erguia acima das nuvens,

Espalhando a luz suntuosa,

E fazia tudo parecer belo.”