A garota acordou sozinha na cama, examinando os lençóis e lembrando-se da noite passada. Uma retrospectiva daquele ano surgiu em sua mente, e ela pensou porque diabos estava-se recordando de tudo aquilo. De como ela xingava todos, e como ele a mudou.  Charlie, o nerd chato. Que a salvou tantas vezes, que a amou tão intensamente.

“Bom dia dorminhoca” Ele disse acariciando seus cabelos que agora iam até a cintura. Ela sorriu, pensou em como amava o jeito que ele a tratava, mesmo depois de todo esse tempo. Ela agora estava com 34 anos e tinha um casal de gêmeos de seis anos que ela considerava um dos melhores presentes que recebera em toda sua vida.

“Mamãe!” Uma garotinha de olhos azuis vívidos subiu na cama com agilidade e se pôs entre o jovem casal. Anny sorriu pensando em como era sortuda por ter Charlie, Angel e Louis em sua vida. O garotinho veio correndo, segurando um ursinho em suas mãos! “Angel, não precisa contar nada!” Ele sorriu maroto. O seu jeito a lembrava tanto de como Charlie era em sua adolescência e o mesmo sorriu erguendo os braços para receber a garota que choramingava. “Papai...” Ela disse se jogando em seus braços. Louis tossiu para esconder uma risada e subiu na cama, que embora fosse alta, não era um obstáculo para o menininho travesso.

“Mãe, o que vamos fazer hoje? É natal!” A mulher o fitou, examinando sua expressão e pensou. Depois de alguns segundos ponderando a resposta, falou: “Que tal passar na casa do vovô? Eles estão com saudades de vocês. Aí você aproveita pra ver a Lucy” Anny deu um peteleco leve no nariz do filho. “Eba!” Ele ergueu as mãos e começou a comemorar. Charlie ergueu uma das sobrancelhas e ela pensou: Certas manias não mudam nunca.

“Então vamos descer e tomar um café, tomar um banho e nos arrumar pra ver seu vovô e a Lucy, ok?” Charlie levantou carregando Angel em seus braços. Ela logo se soltou e passou a correr atrás do irmão, que estava brincando com seu ursinho. Anny puxou seu braço. “Não me deu nenhum beijo hoje” Ela sorriu o fitando e se segurando para não morder os lábios. Ele fez uma careta de surpresa e exclamou: “Que crime!” E fez questão de consertá-lo.

Então o telefone tocou, atrapalhando o momento de carinho de ambos. Charlie praguejou algumas indecências e Anny pulou da cama para atendê-lo.

“Alô?” Ela disse tirando uma mecha de cabelo de cima de seu olho.

“Anne!!!!” Anny retirou o telefone de perto da orelha com o susto. “Tudo bem com você? É a Lexy! Você não vai acreditar!” Lexy disse e Anny pode imaginar a amiga dando pulinhos de alegria.

“O que eu não vou acreditar?” A morena pôs a mão livre na cintura e observou Charlie sair da cama, apenas com sua fiel escudeira: a cueca e mordeu os lábios com a visão. “Ahn? VOCÊ ESTÁ VOLTANDO!” Ela pulou – literalmente.

“Eles vão vir para o natal?” Charlie perguntou e a morena assentiu. “Você e o Luke tem uma novidade?” Perguntei irônica. “Até parece que não sabemos do que se trata” Continuou falando e se divertindo com a expressão curiosa do marido.

“Eu não sei” ele exclamou. Ela mexeu os braços, para silenciá-lo. “Normal” disse.

“E também tenho mais uma coisa para te contar, mas você terá que esperar” A garota falou animada. Anny revirou os olhos, sempre teria surpresas se dependesse de Lexy e de Luke. “Vou ter que desligar agora, nos vemos daqui a pouco, ok?” E a linha ficou silenciosa. Anny pôs o telefone em cima da cabeceira e virou-se para o marido.

Para eles, restavam apenas esperar qual seria a tão animada novidade do mais novo casal. Sim, haviam se casado há mais ou menos dois anos, não tanto tempo. Enquanto Anny e Charlie fariam seis anos de casados em março.

“Mamãe! Tô pronta!” Angel disse correndo para os braços da sua mãe, exibindo um lindo vestido azul bebê que faziam seus olhos parecerem ainda mais azuis do que o normal, emoldurados por cabelos pretos. Louis a seguia, com uma roupinha mais marota, mas não menos atraente. Seu cabelo estava bagunçado e ele estava fungando. “Deixe-me ajeitar isso aí” Anny disse pondo Angel na cama e indo penteá-lo. “Cadê papai?” Angel disse, seus olhos ávidos procurando o moreno alto por todo o quarto. Anny se virou para ela. “Ele já vem” Disse sorrindo. Terminou de pentear seu guerreiro e depositou um beijo em sua testa. “Prontinho, está adorável” Ela sorriu amável. Louis olhou para cima, bem nos olhos da sua mãe e disse. “Melhor mãe do mundo!” e pulou para perto da garotinha.

“Todos prontos?” Charlie apareceu, com uma camisa de estampa, daquelas que ele amava e uma calça preta, ele estava rodando as chaves do carro e recostado na parede do quarto. A morena se levantou, arrumando o vestido azul rendado e esticando a mão para os dois filhos deixando exposta a aliança que o jovem dera em seu casamento. Ele não parava de admirá-la. Os longos cabelos pretos caindo em cachos comportados até a cintura, e o jeito que ela se movimentava eram imitados pelo balanço das mechas. Ela se virou para o homem alto que a observava. “O que foi?” exclamou erguendo uma das sobrancelhas, seus olhos azuis estavam o hipnotizando, ela causava esse efeito nele.

Balançou a cabeça. “Ah, nada”. Louis riu “Papai ficou olhando para mamãe com cara de bobo!” Ele disse observando a mãe, que estava agora agachada em frente à cama. “Estava é?” A jovem morena perguntou para Charlie. “Sim, sim!” Angel comemorou.

[...]

“Onde está minha Julieta favorita?” Bill disse animado, embora seus cabelos brancos o davam um tom de cansaço e experiência. Anny sorriu encabulada e abraçou o pai. Lucy apareceu logo atrás, Bill havia se casado com a doce enfermeira que ajudou Anny e Luke a se curarem, anos atrás. E foi uma boa decisão, por fim. Ela deu dois beijinhos em cada bochecha da morena e segurou Angel, que estava animada. “Oi linda!” Ela disse. A moreninha sorriu erguendo os braços para abraçá-la. “Ela cresceu tanto” Bill exclamou e o casal concordou. Charlie deu um passo a frente, segurando Louis pela mão. Ele observava tudo apreensivo, mas logo que Angel mudou de braços ele correu em direção a seu avô e a Lucy. Em seguida, um carro prateado buzinou em frente à casa pequena.

“Olha quem chegou!” Luke disse saindo do carro “Sentiram saudades, docinhos?” Ele disse com óculos escuros. Anny balançou a cabeça, ele não mudaria nunca mesmo.  Lexy reclamou ainda dentro do carro: “Dá pra você me ajudar?” E ele se virou, deixando o pessoal ter uma visão de Lexy pela primeira vez em muito tempo, ela estava grávida!

“Awn! Não acredito!” Anny pulou, mesmo com os saltos. Charlie se assustou, mas se recompôs, e Bill... Bem, ele exclamou: “Vou ser avô mais uma vez, que beleza”. Lucy concordou, ainda segurando um Louis ciumento. “É uma família linda!” e Bill concordou, não poderia negar, seus filhos tinham talento para ter bebês maravilhosos. Angel parecia uma boneca de porcelana, delicada e de beleza invejável. Louis não ficava atrás, sendo um pequeno guerreiro charmoso e travesso, mas muito atraente. Ele não duvidaria que o bebê de Lexy e de Lucas não fosse igualmente maravilhoso. Possivelmente herdaria a inteligência, a astúcia da mãe, ou seria galante que nem o pai, ainda não dava pra saber.

“Menino ou menina?” Anny perguntou, pondo suas pequenas mãos sobre a barriga saliente da amiga. Lexy ponderou feliz e respondeu: “Menina, Fleur” Luke tossiu “Ela continua fã de Harry Potter” e todos riram alegres.

[...]

“Cadê os presentes?” Louis falou ainda de boca cheia. Charlie balançou a cabeça “Agora não” E o garotinho deu um muxoxo, arrancando risos de quase todos os presentes.

“A flor está agitada” Luke exclamou “É hiperativa que nem a mãe”. Lexy o fitou incrédula. “Eu não sou hiperativa” Continuou jantando e Luke gargalhou, assustando tanto Angel – que estava no colo da mãe – quanto Louis – que ainda estava no colo de Lucy.  “Não é? Você me dá um trabalho incrível... Mas não posso me queixar” Ele sorriu malicioso e Bill pigarreou. “Parando com as safadezas à mesa. Temos crianças aqui” Ele levantou as sobrancelhas e Luke fez um sinal em frente à boca, indicando que ele não iria mais falar nada.

“Como estão na nova casa?” Lexy perguntou, se referindo à Charlie e Anny. Eles ergueram os olhos “É incrível! Um pouco grandinha, mas é muito legal!” a morena respondeu com os olhos brilhando, orgulhosa. “Teria espaço para mais duas pessoas e meia?” Luke perguntou “Só por enquanto...”. Anny sorriu “Claro, não é querido?” Perguntou. “Contanto que eles não acordem as crianças à noite” Ele franziu o cenho e todos na mesa riram novamente.  “Jamais faria isso” Lexy concordou, mas Luke fez um muxoxo quase idêntico ao de Louis, só que menos meigo.

Quase meia noite, Louis e Angel já estavam dormindo no antigo quarto da mãe. Lexy estava conversando animadamente com a melhor amiga de suas viagens, dos livros que agora são Best-seller e contando de como o seu marido era atencioso. “Sem detalhes sórdidos, estamos falando do meu irmão” Anny fez uma falsa cara de nojo e as duas acabaram rindo animadas. Luke sentou ao lado de Lexy e a deu um beijo apaixonado, e Anny pensava em como era fofo ver os dois juntos, mesmo que, por algum momento, estivesse segurando vela. Percebendo isso, ela saiu do sofá, deixando o casal à sós e indo para a cozinha, junto com Charlie.

“Eu não canso de dizer que eles foram feitos um para o outro” Ela disse sorrindo feito uma boba, ele se aproximou e a abraçou pelas costas. “E nós? Não fomos?” e a encarou de um modo sério, mas escondendo o divertimento. “Você acha? O nerd certinho com a garota rebelde” Ela se apoiou na mesa. “Você não parece nada rebelde com esse vestido de renda” Ele disse e ela riu “Só porque foi a Lucy que comprou e queria que eu usasse hoje, e sim, eu gostei dele se você quer...” Arqueou as sobrancelhas quando foi interrompida pelos lábios do jovem moreno. “Saber...” Disse após o beijo, soltando um suspiro. “Podia esperar eu terminar de falar né? Gnomeu...” Eles se encararam por algum momento e começaram a rir logo em seguida. “Nem parece que faz tanto tempo, não é?” Ele a perguntou e ela assentiu. “Na verdade, parece que foi ontem”. Ela esticou os braços para um abraço caloroso que foi brutalmente interrompido por uma jovem grávida. “Oh Anny, desculpa. É que eu me lembrei do que ia te falar...” Lexy disse observando a reação da amiga, e ela revirou os olhos. “O que era?” Perguntou-lhe.

“Bem, você sabia que o nome Louis significa guerreiro?” Ela disse. Anny levantou as sobrancelhas, surpresa. “Não, eu não sabia” Disse. “É, temos um anjo... A Angel” Charlie sorriu “Um guerreiro... O Louis” Anny sorriu mais. “E agora temos uma florzinha... A Fleur” Lexy sorriu animada. “Isso não é ótimo?” Elas se encararam. “Eu não sabia o significado dos nomes na hora que eu escolhi, tirando a Angel, porque quem escolheu foi o Charlie” Ela o indicou com a cabeça. “Nerds” Os três gargalharam animados.

E se me perguntassem naquele momento o que eu mudaria no meu passado, ‘nada’ seria a resposta correta.