A porta do carro bateu e Frank Dawson deu a primeira partida. A senhora Dawson, que esperara no carro, apresentava uma aparência séria. O silêncio reinou até a metade do percurso e eu não sabia para onde eu estava indo. Esperava apenas que eles me levassem até a minha mãe. E esperava que dissessem alguma coisa!

Não sabia o que dizer. Só queria que aquele silêncio cessasse.

- Senhor Dawson, eu juro que não armei aquela festa... Eu...

- Eu sei, Logan.

- Eu juro senhor, eu não forneci drogas àqueles garotos...

- Nós sabemos, Logan – Mary disse rigidamente.

Nada mais foi dito. Consegui ouvir apenas o som da minha respiração.

- Como... – suspirei preocupado – Como ela está?

- Amy a levou ao hospital. Ela fraturou uma costela e está em processo cirúrgico.

Eu suspirei. Estava preocupado. Estava com medo. Medo de minha mãe não estar bem. Estava com frio, mas não pedi para ligarem o aquecedor. Os Dawson se olhavam como se soubessem de algo que eu não sei. Isso doía mais que o frio.

O tempo se passou e nós chegamos a um hospital. Olhei em volta quando desci do carro. Tudo parecia embaçado. Apressei o passo e deixei os Dawson um pouco para trás. A rua era mal iluminada, pois os postes estavam com um espaçamento de pelo menos 50 metros. Caminhei até a porta principal e a atravessei. Nos deparamos então com um ambiente espaçoso de atmosfera pesada. A luz branca e florescente desfocava minha visão e o cheiro de álcool rondava meu nariz. Tudo estava silencioso. Enfermeiros entravam e saiam dos quartos e Mary me puxou até o sofá.

- Está com fome, querido? – ela me perguntou.

Balancei a cabeça positivamente. Eu já não sabia se estava com fome ou não.

- Amy deve estar na lanchonete daqui. Sabe onde é, não?

Murmurei um "sim" fraco e caminhei para longe. Conheço o lugar porque foi nesse hospital que fiquei quando Ashley me espancou. Ashley. Minha vontade era torcer o pescoço dela. Isso me fez lembrar de outra pessoa cujo pescoço eu também gostaria de quebrar. Max. O pensamento me causou repulsa e raiva. Tentei tirar os dois da minha cabeça por um instante. Pois afinal, ficar com raiva só pioraria a minha situação. Já estava preocupado com minha mãe e se eu deixasse a raiva dominar meus pensamentos, com certeza seria capaz de fazer alguma besteira.

Caminhei até a pequena lanchonete e encontrei uma garota sentada numa mesa de madeira bem próxima à bancada. Havia várias mesinhas uniformemente espalhadas ao redor da minilanchonete e tudo estava bastante calmo. Quase não se podia ouvir nenhum barulho. A mulher que trabalhava na lanchonete bocejou e apoiou o corpo em cima da bancada. Ela passou as mãos no rosto e bocejou novamente. Já era tarde da noite. A garota sentada na mesinha estava imóvel. Seus cabelos pretos não estavam presos e caiam sobre seus ombros. Sua bebida soltava fumaça por estar tão quente e ela agora comia um pedaço de sanduíche. Sentei na cadeira a sua frente e segurei sua mão.

- Como você está?

Amy levantou os olhos para me fitar.

- Você quem pergunta? Como você está, Logan?

Massageei a têmpora e respirei fundo.

- Não sei.

Ela baixou os olhos e apertou minha mão, massageando meu polegar.

- Eu sinto muito. – eu murmurei – Sobre o Max.

- Não sinta.

- Você está mal.

- Infelizmente, mas não devia.

- Não devia mesmo, Amy. Ele não merece uma lágrima sequer sua.

No momento que eu disse isso, uma lágrima caiu de seus olhos. Me apressei a secá-la e puxei uma cadeira para sentar ao lado dela. Ela me encarou com as bochechas vermelhas e descansou a cabeça em meu ombro. Coloquei meu braço em volta dela e senti minha camisa começar a molhar. Segurei seu queixo e beijei sua testa.

- Odeio te ver assim. Sofrendo por causa dele.

- Eu me sinto uma tola. Tola por achar que ele era diferente do que todos diziam. Agora que disse isso me lembrei de todas aquelas vezes que nós brigávamos por causa dele.

- Não eram brigas de verdade...

- Eu sei, mas eu ficava chateada. Me sinto mal por ter te tratado daquele jeito. Você estava certo, sempre esteve. Eu sou uma tola por achar que você estava errado e que sentia apenas ciúmes. Eu fui burra.

- Você estava cega. É isso que a paixão faz. Ela nos faz criar situações e qualidades na pessoa que muitas vezes não existem. Você não foi errada por sentir isso. Apenas sentiu o sentimento certo pela pessoa errada.

Ela me fitou silenciosamente e engoliu o choro.

- Eu estou muito triste por ter descoberto a verdade. Bem, me sinto melhor por não ser mais enganada, mas a verdade machuca. E muito. Eu estou confusa, Logan.

- Não vale a pena viver de ilusões. Por melhores que elas sejam.

- Não sei se eu sou forte o bastante para viver assim.

- Eu não consigo entender, Amy. Você não podia estar triste por descobrir a verdade! Como pode querer viver achando que o Max era exatamente do jeito que você queria que ele fosse? – eu disse incrédulo.

Ela levantou a cabeça para me olhar nos olhos e eles transmitiam a tamanha decepção que ela sentia.

- Como pode ser tão insensível? – ela se afastou do meu braço. – Eu precisava descobrir a verdade e isso é óbvio. Mas, como você acha que eu estou me sentindo? Eu acordava todos os dias e o via achando que ele era perfeito para mim. Eu achava que eu não era boa o suficiente para ele. Eu me iludia sempre porque nunca acreditei quando as pessoas me alertavam sobre ele e nunca consegui enxergar nenhum defeito sequer que ele pudesse ter. Você não consegue entender o que é gostar de verdade de uma pessoa pelo visto!

Ficamos em silêncio por uns segundos até eu dizer:

- Você sabe que isso não é verdade...

Ela corou e segundos depois desabou novamente. Lágrimas caiam com rapidez de seu rosto e dessa vez eu não sabia o que minhas palavras haviam causado.

- Logan, eu estou me sentindo muito mal. Eu estava sendo traída durante todo esse tempo pelo homem que eu acreditava que me amava. Digo, eu ficava aqui achando que eu não era boa o suficiente para ele e ele simplesmente me trai como se eu não fosse nada. Você não sabe o quanto eu me sentia horrível... – ela parou repentinamente como se estivesse escolhendo suas palavras com cautela. – Logan, eu estou apaixonada por você. Você sabe disso. Você não tem ideia de quantas vezes eu me contive pra não largar o Max e ficar com você. Eu sempre me achei terrível por querer isso, mas eu queria. Eu achava que se eu fizesse isso eu estaria sendo uma pessoa horrível e principalmente com o Max que sempre foi muito bom comigo. O problema é que eu estava errada. E eu sempre pensei demais. Sempre me importei demais com ele. Pena que ele não fez o mesmo por mim. Quando nós nos beijamos eu presenciei uma guerra em minha cabeça. Acho que você já imagina o porquê.

Fiquei sem reação.

Amy baixou a cabeça novamente e secou as lágrimas com o dorso da mão.

- Amy, eu não sei o que te dizer, na verdade. Bem, eu te entendo e sei que não é fácil para você. A única coisa que posso te dizer é que o tempo é o único que pode te ajudar agora. Você vai esquecer o Max, vai esquecer essa dor. Você vai sorrir de novo tão cedo que não vai nem se lembrar dessas lágrimas. – fiz uma pausa longa e suspirei. Em seguida levantei seu queixo para fazê-la me fitar – E quando você estiver melhor e seu coração estiver perfeito novamente, eu estarei aqui esperando para te fazer feliz.

Amy piscou com força duas vezes e mais lágrimas caíram de seus olhos. Ela baixou a cabeça e levantou ligeiramente o canto da boca.

- Ei, o que eu disse de errado? Por favor, não suporto te ver chorar! Me desculpe, eu não... – eu disse apreensivo.

- Não se desculpe, Logan. Estou chorando de alegria.

Parei por um segundo e a encarei enquanto ela secava as lágrimas. A balconista da lanchonete não estava mais ali e o lugar estava completamente silencioso. Estávamos apenas nós. Amy e eu abraçados novamente. Estava fazendo frio e a luz florescente e potente não permitia um resquício de sombra no ambiente. Amy me encarou novamente e se endireitou na cadeira para que nossos rostos ficassem no mesmo nível.

- Eu tenho sorte de ter você, sabe? Não imaginava que você fosse se tornar tão importante para mim. Eu... eu te amo, Logan.

Sorri para ela e a garota levantou ligeiramente os cantos da boca apresentando um quase sorriso.

- Um dia uma mulher me disse, nesse mesmo hospital, exatamente as mesmas palavras que você me disse agora. "Você tem sorte de tê-la, Logan". – Amy me olhava calada e eu imaginei que ela já havia identificado quem era essa mulher – E tenho mesmo. Você me fez mudar, Amy. Você consegue tirar o melhor de mim sempre e eu não sei como, mas eu desejo te mostrar que eu também posso ser bom. Que eu posso ser mais que aquele garoto encrenqueiro e estúpido que não sabe fazer nada direito. Eu quero fazer as coisas certas, Amy. Quero fazer a coisa certa por você. E de algum jeito você se tornou a coisa mais importante desse mundo para mim. E eu simplesmente não consigo viver sem você. Sem seu sorriso, suas loucuras, sua ajuda, sua companhia, seu coque mal feito – ela soltou um riso baixo – e sem tudo o que me faz completo. Você, Amy. Eu também nunca imaginei que você se tornaria tão importante assim para mim. A única garota que me fez mudar, que se tornou o centro de todo o meu mundo. E depois de todo esse tempo eu posso dizer com toda a certeza que dessa vez eu me permiti a amar. E eu amo você, Amy.

Ela abriu um sorriso torto entre as lágrimas e se ergueu para segurar minha nuca e me puxar para perto dela. Ela encostou seus lábios nos meus. Ficamos ali quietos, imóveis. Nossos lábios estavam juntos, mas não se moviam. Ela me beijou suavemente e se afastou devagar.

- Você me espera? – a garota disse e eu a olhei sem entender – Você... Espera eu ficar bem de novo? Espera eu me ajustar e me permitir ficar junto a você sem nenhum obstáculo? Você me espera, Logan?

Eu encostei meu nariz no dela e pude sentir sua respiração lenta. Ela fechou os olhos e eu fechei os meus dizendo:

- O tempo que for necessário.

E me ergui para um beijo.