Saracarema escrita por Brenda Paolla


Capítulo 2
Capítulo 2 - Tudo igual em Saquarema e capoeiras.




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(Sintonize no tempo!: Primeiro dia, 3:30hrs da tarde)

Tem quatro horas que cheguei. A casa da vó Aixa praticamente não mudou nada desde a última vez que vim aqui. Os relógios antigos e coloridos, o carpete de zebrinha, a mesinha de centro de vidro, os retratos da família toda junta, da tia Briana e seu enorme chapéu de praia, a minha exibindo minhas unhas que a bisa Oriana arrumou e o Selmo junto com o Fred pegando a primeira onda, estão todos nos mesmos lugares. Além das cerâmicas que a vó Aixa pinta, as redes, os murais dos netos e as araras de casaco espalhadas pela casa...

O meu antigo quarto, que agora é de visita, é a única coisa de diferente. As paredes estão alaranjadas – ela disse que foi para levantar o astral –, e a cômoda está toda customizada com desenhos de flores, típico de vó que quer inventar moda!
Curti o visual novo, velho e o de sempre. As janelas enormes deixam entrar vento, areia e alegria, fazendo com que eu respire fundo, aliviada e livre!

Meu primo Selmo ligou me chamando pra caminhar na praia. Ele já está a caminho e eu ainda preciso tomar um banho e trocar de roupa: jeans não combina nada com o sol tropical de Saquarema!

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(Sintonize no tempo!: 4:00hrs da tarde)

Selmo me gritou pela janela, como sempre fazia quando eu ainda morava aqui e eu fiquei espantada como ele havia crescido. Está maior que eu e só tem quatorze anos! Muito bronzeado e com cabelo queimado, ainda me chama de 'Sah', fala 'brow' e tem a pulseirinha de Bonfim azul no braço esquerdo.

Passamos no quiosque da vó Aixa e pedimos um sanduíche natural. Tinha muita gente conhecida por lá, mas ninguém me cumprimentou. Acho que ficaram na dúvida se era eu mesma, não lembraram de mim ou não quiseram nem sentiram vontade de falar nada. Não liguei! A conversa com o Selmo, toda cheia de gírias, me fez dar muitas risadas.

Ficamos sentados na cadeira do balcão, comendo e batendo papo. Ele contou sobre o campeonato de surf, seus rolos e a banda do momento. Ensinou algumas palavras do seu mundo praiano, brincou dizendo que eu precisava pegar uma ‘corzinha’ e me entupiu de perguntas sobre a vida em Brasília.

Já estávamos saindo para caminhar quando a vó Aixa pediu para que o Selmo buscasse mais pão integral em casa. Enquanto ele não vinha, fui para mais perto do mar. Aproveitei o dia lindo, abri os braços e senti a brisa, o balanceio do meu cabelo, o cheiro de ar puro, a liberdade que me circulava e escutei as ondas se mexendo. Só molhei os pés, mas a vontade de me jogar lá dentro e deixar todo aquele azul me levar, não faltou. Cheguei à clara e indiscutível conclusão que Saquarema é mesmo um paraíso!

No fundo, meio abafado, ouvi toques de berimbau. Ao virar, vi do lado direito, próximo à calçada, uma roda de capoeiras dançando. Fui até eles para assistir mais de perto e fiquei paralisada, fascinada e com saudades. É incrível esse tipo de expressão corporal! Quanto tempo não via, escutava e sentia isso...

Aproximei mais e no meio da roda, estava Ramon – um amor de verão que me durou mais algumas estações... –. Numa fração de segundos, o presente, as mudanças, o mar, o verão e as malditas montanhas, passaram na minha cabeça. E vendo ele, o brinco de coco, o colar do reggae, o traje de capoeira, o cabelo ondulado, o gingado, a areia voando, o toque com sintonia... fez com que eu sorrisse tranquila. Ele está o mesmo.

Eu estava atenta na dança, no som, no sorveteiro berrando os sabores dos picolés, nas crianças correndo com baldes de areia, na dança, no som, no Ramon..., quando Selmo me puxa: – Vem, tem uma surpresa para você! – . Antes que eu pudesse responder, ou melhor, antes que eu pudesse pensar em falar que queria assistir mais um pouco, fui arrastada, não dando tempo de ao menos virar a cabeça para ver a roda mais uma vez. Mas a consequência disso valeu muito, foi demais! A surpresa era o Fred, meu outro primo que estava na casa do pai dele em Búzios e foi lá só pra me ver. Deixe-me o apresentar: Ele tem doze anos, cabelo comprido, quase nos ombros, com um tom natural loiro tingido pelo Sol. É filho da tia Briana, gosta de chinelo de dedo e adora pescar.

Ganhei uma seção de beijos da surpresa, que retribui com uma porção de cócegas.


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