Levantei a cabeça do meu livro de Biologia quando ouvi o sinal bater. Todos os alunos se levantaram as presas para sair da sala. Eu ainda dormindo e com muita preguiça joguei meu material todo na mochila de qualquer jeito. Ainda bem que é a ultima aula do dia.

__ Argh! A pior aula de todas, e sabe por quê? __ Nina saiu da aula junto comigo já reclamando como de costume.

Joguei minha mochila no ombro e fui em direção para meu armário.

__ Me deixa adivinhar o óbvio: É a pior professora da escola; Ela não sabe da aula direito porque só lê um trecho do livro da escola e tenta explicar, mas acaba se enrolando, e porque ela não tem moral com a turma. __ Disse a ela revirando os olhos.

__ Exato! Cara, todos dormem na aula dela, e outra aquele cheiro de álcool forte que ela tem. Tenho absoluta certeza de que ela bebe antes de começar alguma aula.

Eu ri.

__ Nina, você também bebe.

__ Ah, isso é diferente. Não bebo logo de manhã. Quer dizer, eu não bebo toda hora. __ Ela chegou mais perto de mim para sussurrar. __ Você sabe quando eu bebo... E com quem bebo. __ Ela deu um sorrisinho.

__ Shhh! __ Agarrei seu braço um tanto forte demais. __ Cala a boca! Alguém pode escutar você. Quer que todo mundo saiba?!

Ela riu.

__ Any não exagera, eu sussurrei. Ninguém ouviu sua lunática. __ Ela piscou e eu revirei os olhos. __ Ah é, tinha me esquecido que você gosta de manter a imagem de garota certinha e inocente pra todo mundo, até pra sua família. Leva a mal não amiga, mas um dia essa mascara vai cair. Ah, e outra, esse cargo de menina inocente e certinha já é da nossa querida Emma. Só to falando o que eu tenho certeza que você já sabe. __ Disse em tom de debochado.

Cheguei ao meu armário e comecei a guardar minhas coisas. Nina foi pro armário dela, que era uns seis armários distantes do meu.

__ Oi meninas! __ Emma apareceu dando um susto em Nina.

Eu sorri.

__ Sua vaca. __ Disse Nina.

__ Exagerada. Então, vamos nadar mais tarde? __ Perguntou Emma se apoiando no armário ao lado do meu.

Fechei meu armário.

__ Não sei. Tenho que ver se não tiver muita coisa pra fazer no rancho ai eu vou. __ Disse me encostando ao seu lado.

__ Sempre a mesma resposta. __ Nina agora estava na nossa frente com um pirulito na boca. __ Qual é Any, agente não nada junta há um tempo. Agente ama nadar, você ama nada. Nós três nadamos juntas desde pequenininhas! __ Ela suspirou e tirou o pirulito da boca. __ O que ta acontecendo?

__ Nada. __ suspirei. __ Eu só to com muita coisa acumulada no rancho, tenho tido muito trabalho. A clientela lá está aumentando, ainda bem.

Nina deu de ombros.

__ Tanto faz. Quer dizer, eu fico feliz que a clientela esteja alta, mas... Eu quero nadar e dessa vez você vem com agente. Você tem tantos irmãos, um deles deve ficar no seu lugar. E eu aposto que sei quem ficaria... __ Nina mordeu o lábio tentando escondendo um sorriso malicioso, mas a malicia era evidente em seus olhos.

__ Nina!

__Que? Ah Any vai me dizer que você nunca reparou em como o Jackson te olha...

__ Nina! __ Falei mais auto.

Ao meu lado Emma começou a rir.

__ Any, vou concordar com a Nina pela primeira vez. __ Disse Emma. __ Sabe desde pequenos vocês foram os mais próximo dentre os seis irmãos que você tem, tirando o Lex. Desde que seu pai... Bom, desde que...

__ Desde que Fredd foi embora. __ Disse friamente.

Ela limpou a garganta.

__ É... Bom, desde que Fredd se foi... Desde que sua mãe confessou de que você não era filha de sangue dele, desde que ele descobriu que só é metade irmão sua, ele te olha de um jeito... Ah, ele sempre te olhou desse jeito, mas agora é como se ele estivesse mais...

__ Mais confiante... Com mais esperanças. __ Completou Nina.

__ Esperanças? __ Eu ri. __ Gente para. Ele não pensa assim de mim. É verdade que somos os mais próximos dentre os seis irmãos, mas isso não quer dizer nada. Nos amamos, mas não do jeito que vocês pensam...

__ Ah, por favor, Any! __ Nina me cortou. Começo! __ Na boa, somos suas melhores amigas, e as que mais te conhecem, na verdade as únicas que te conhecem bem, então para com esse teatrinho de esconder seus sentimentos nessa mascara que você tenta forma no seu rosto porque sabemos que você também sente algo por ele, algo além de amor de irmão. Você pode não ter se dado conta ainda, ou tenta se enganar todos os dias dizendo não é isso, mas sabemos que é. E você bem no fundo sabe também. Tudo bem que ele é todo misterioso e sabe esconder bem os sentimentos. Mas uma coisa nós percebemos: Ele gosta de você. Eu vejo algo nos olhos dele toda vez que ta perto de você! Eu reparei okay?!

__ E outra __ começou Emma __ vocês ficaram bem mais próximos quando o Fredd se foi. Ele, apesar da raiva que sentia da sua mãe por ela ter escondido tudo por muitos anos, ficou do seu lado o tempo todo, enfrentou sua mãe e ficou no seu quarto te acalmando toda vez que você acordava gritando dos pesadelos que tinha, sabe, aqueles pesadelos super estranhos e sinistros que você falou que teve depois que o Fredd foi embora __ Ela colocou a mão no queixo pensando. __ como era mesmo os sonhos que você descrevia... Fredd mutilado, olhos violetas... Ah deixa, não faz bem lembrar isso e também estamos falando de outra coisa.

Eu não disse nada, apenas olhei pras duas bufei e fui para os portões da escola.

Eu não queria toca nesse assunto. Quer dizer, não sobre o assunto do Jackson que em minha opinião elas estavam enganadas e vendo coisas, mas sim sobre minha mãe e Fredd. Já faz dois anos que ele nos deixou. Ele foi embora três dias antes do meu aniversário de quatorze anos em uma noite, simplesmente pegou a caminhonete dele e se mandou, sem avisar a ninguém. Ele apenas deixou uma carta pra minha mãe, mas ela nunca deixou ninguém ver a carta, nem eu, nem vovô e nem meus irmãos. Uma semana depois de um sofrido aniversario que tive, minha mãe reuniu a família na sala de casa e nos contou uma verdade que eu preferia que não fosse verdadeira: Fredd não era meu pai. Eu não era filha de sangue dele, e ele descobriu e se mandou, provavelmente com raiva e ódio por Jeniffer, minha mãe, nunca ter contado nada a ninguém e sempre soube da verdade. Fiquei quase um ano sem falar com a mamãe. Mas o tempo passou, voltamos a nos falar, mas ainda sim não é a mesma coisa de antes, eu evito me cruzar com ela às vezes porque sei que ela me observa tentando entender meus sentimentos, tentando ver minhas emoções, e sempre me pergunta se quero conversar. E eu não sou uma pessoa de me abrir muito, nem com minhas amigas me abro totalmente.

Ela não nos contou quem é meu pai verdadeiro, na verdade ela nos contou uma historinha dizendo que não lembra porque estava bêbada, mas eu sei que ela está mentindo e isso é o que me deixa mais irritada.

Ela disse que foi um erro o que aconteceu. Ela estava em um bar tomando uma bebida depois de uma briga feia com Fredd. Um homem sentou-se perto dela e ofereceu mais bebida por sua conta, e ela aceitou. No final da noite ela estava muito bêbada e não se lembra de mais nada, só de ter acordado no dia seguinte em um motel barato da cidade.

Eu não acreditei em nada, mas como eu nunca quis conversar sobre isso com ninguém nem mesmo com minha mãe ou minhas amigas, deixei que ela acreditasse que eu havia engolido a historinha dela. Mas ninguém acreditou nem meus irmãos, quanto ao meu avô, Jack, eu não sei. Mas ele também não gostou da revelação, ele ficou menos tempo do que eu sem falar com ela. Mas também, ele é adulto e pai dela, ele é mais maduro pra encara essa verdade e aceita-las. Meus irmãos também viraram as costas pra minha mãe, Jackson está sem falar com a mamãe até hoje, eles não se falam muito e quando falam brigam o tempo todo. Eles não eram assim antes, agora quando se esbarram é só briga, ou caretas, ou suspiros, ou um olhar de irritação. Hoje Jeniffer está namorando um advogado chamado John Massey, e já faz um ano que estão juntos. Fico até feliz por eles, John é um cara bem legal, divertido, amigo, bobo e compreensivo. Gosto dele. Ele tem uma filha que é dois anos mais nova que eu, Kim Massey. A garota é pior que a Rikki ou a Loh. Muito patricinha, é insuportável, tanto que nem eu e nem Rikki suportamos ficar com ela em um mesmo cômodo por mais de um minuto. Kim e John estão viajando agora, Kim fez aniversário de quinze anos semana passada e pediu ao pai que a levasse a Disney por um mês, John faz de tudo para manter a filhinha feliz ainda mais quando a mãe dela morreu de câncer a dois anos. Então, eles estão em Orlando (Flórida) se divertindo e só vão voltar daqui a um mês. Sinto falta de John e das palhaçadas dele, mas jamais sentirei falta da tarântula da sua filha.

Um ano depois que meu pai desapareceu e depois que minha mãe nos contou a verdade, ela adotou um menino, provavelmente fez isso para amenizar o clima em casa, ou porque sempre quis adotar alguém, o que é verdade. Ela adotou Lex quando ele tinha oito anos. Hoje ele está com dez anos, e foi muito bem vindo à família, todos o tratam como se fosse irmão de sangue.

__ Promete que vai mesmo nadar com agente hoje? __ Perguntou Emma me tirando dos meus devaneios.

Sorri pra ela.

__ Prometo tentar. __ Disse. Andei pra fora da escola e olhei para a praia na frente da escola. __ É o mesmo horário de antes?

Nina e Emma sorrira.

__ Sim. __ Disse Nina.

__ Ta bem então.

__ Quer carona pra casa? __ Perguntou Emma.

__ Não obrigada. __ Mordi o lábio. __ Jackson vai vir me buscar.

As duas se olharam e eu já sabia o que elas estavam pensando.

__ Não comecem! __ Falei indo para uma sombra.

__ Não falamos nada. __ Disse Nina.

__ Mas eu sei que pensaram.

__ Tanto faz. __ Nina pegou o pirulito que não havia acabado ainda e o jogou pra longe. __ Eu aceito a carona até a cafeteria da sua mãe. Eu to com uma fome... __ Nina sorriu pra Emma e piscou os olhinhos.

Emma revirou os olhos.

__ Vamos logo então, eu também to com fome. Mas vou logo avisando que não vai ser por conta da casa. __ Disse Emma, e Nina colocou a mão no coração abrindo a boca em um perfeito O fingindo que se ofendeu. __ Até mais Any. Se não puder ir me mande mensagem.

__ Ela vai sim. __ Disse Nina. __ Até Any.

Elas acenaram e entraram no carro de Emma.

Queria poder morar perto da cidade com elas. Pelo menos poderia pegar carona com elas sem ficar sem graça toda vez que Emma ou Nina me oferecem carona e eu sempre recusando por morar muito, muito longe, no meio do nada, e elas terem de gastar uma nota na gasolina. Emma e Nina não moram muito longe uma da outra, Emma mora com a mãe em cima da cafeteria da família dela que se chama Coffs Net Werney. E Nina mora cinco quarteirões de distância. Sem contar que moram de frente pro mar. Perto do rancho onde moro só tem um lago, não é muito grande mais também não é pequeno, meus irmãos e eu costumávamos brincar lá sempre. Tinha uma corda grande pendurada na arvore na beira do lago, ficávamos nos balançando na corda e depois soltávamos caindo dentro do lago. Bons tempos. Hoje em dia não somos mais assim unidos como éramos antes quando brincávamos ou saia um com o outro.

Olhei em volta da entrada da escola e vi Rikki olhando pra mim antes de entrar no seu carro vermelho luxuoso deixando amostra sua calcinha sob a mini sai rosa choque que usava.

Desde que mamãe contou a verdade meus irmãos mudaram, mudaram mais com a mamãe do que comigo. Jackson ficou muito abalado no inicio, uns três meses, mais depois me deu apoio, o mesmo aconteceu com Justin e Shofy, no final ficaram do meu lado e me ajudaram sempre que eu ficava muito na depressiva. Já Rikki e Loh... Bom elas não gostaram muito, e não falam muito comigo por causa disso.

Loh é a mais velha de todos, tem 21 anos e morou um ano em Nova Iorque, ficou noiva, e teve um ótimo emprego lá, mas deixou tudo pra trás porque sentia falta da família e de casa. Seu noivo se recusou a morar aqui, então ela terminou. Na verdade acho que ela nunca gostou realmente dele, era só uma paixãozinha, nada muito forte. Quando mamãe nos contou a verdade ela ficou muito brava tanto com a mamãe quanto pelo Fredd por ter nos deixado. Um tempinho depois, alguns meses depois mais ou menos, ela começou a me culpar por tudo. Tudo. A partida do Fredd, a briga da mamãe com o Fredd, a traição da mamãe, essa bagunça toda foi culpa minha só por eu ter nascido, o conflito e o clima que ficou depois da revelação... Em fim, tudo. Ela me culpa também, assim como Rikki. E às vezes eu realmente acho que a culpa foi toda minha, se eu não tivesse nascido nada disso estaria acontecendo. Eles poderiam ser uma família feliz e unida sem mim, assim como éramos antes de Fredd descobrir a verdade de que Jeniffer o traiu um dia.

Hoje Loh se arrepende pelas coisas ditas por ela jogadas tudo pra cima de mim. Mas quem não quer papo agora sou eu. Ela tenta se aproximar todos os dias, desde o final do ano passado quando ela se arrependeu de tudo que disse. Mas eu nunca quero papo com ela, e sempre que ela me irrita muito forçando mais ainda suas tentativas de chegar perto de mim, eu acabo perdendo a cabeça e começo uma briga onde ela sai sempre chorando e repetindo sempre: Me desculpe!

Mas ela me magoou muito, não consigo perdoar. Tem uma coisa dentro de mim que não quer perdoar, tudo que ela disse pra mim, todas aquelas coisas horríveis, simplesmente me vem à cabeça e só o que sinto, além do aperto no coração, é a raiva. Passei um ano inteiro escutando ela falar muito mal de mim, me ofender e jogar muitas coisas ruins na minha cara, e sempre colocando culpa em mim. Dói lembrar, dói olhar na cara dela. Mas no fundo eu ainda acho que ela e Rikki têm razão. É tudo culpa minha.

Rikki nem olha pra mim, e quando olha sempre me lança olhares de nojo e raivosos. Ela sempre diz que nunca vai se rebaixar como Loh se rebaixa me pedindo perdão. Ela sempre foi uma menina metida, mais muito direta e gosta de arranjar briga assim como Nina. Mas eu sempre achei que Rikki não tem raiva de mim só por eu ser a causadora de destruir a nossa família, na verdade isso deve ser só um motivo pra disfarçar a verdadeira raiva do motivo real que ela tem por me odiar tanto. A algo a mais nessa raiva dela, algo que ela não deixa ninguém saber e por isso usa a desculpa de está com raiva porque eu destruir a família, sempre vi isso nos olhos dela. Mas nunca soube qual o verdadeiro motivo. Isso é frustrante.

__ Any? Any!

Tomei um susto com a voz de alguém me chamando. Levei um segundo pra perceber que era Jackson ao meu lado.

__ Nossa. Você me assustou. __ Disse colocando a mão no peito.

Ele sorriu. Ele sempre teve um sorriso muito bonito que encantaria muitas meninas. Um sorriso de Bad Boy, cafajeste.

__ Desculpe. __ Disse ele. __ Mas eu to te chamando e você não me escutou. Chamei varias vezes.

__ É? Realmente não escutei.

__ Percebi. __ Ele pegou minha mochila. __ Vamos.

Ele pegou meus livros que segurava na mão e os carregou pra mim.

__ Não precisa fazer isso. __ Disse seguindo ele até o carro. __ Não estavam pesados, posso carregá-los.

__ Não ligo __ Disse abrindo a porta do carro com a mão livre pra mim.

Sorri pra ele.

Jackson e Rikki trabalharam por um ano economizando e Fredd, quando ainda estava aqui, deu uma boa grana pra eles para juntarem o dinheiro que economizaram para comprarem um carro quando tivessem idade. Rikki acabou de completar dezoito anos e comprou um carro pra ela com o dinheiro. E Jackson comprou o seu ano passado quando completou dezoito anos, depois começou a trabalhar e a juntar mais dinheiro e acabou comprando uma bela moto preta estilo Bad Boy, bem a cara dele.

Fredd costumava trabalhar no hospital, ele era cirurgião plástico e ganhava bem. Se não fosse por ele não teríamos a casa que temos hoje o quintal dos fundos com piscina, apesar de eu não ser muito fã de piscina e sim de praia, que temos e a reforma nos estábulos onde ficavam os cavalos que cuidamos.

Eu nunca me interessei por carros. Qualquer um que ande ta muito bom pra mim.

__ Então, o que aconteceu de bom hoje na escola? __ Ele perguntou.

__ Nada como sempre.