Preferi não discutir com ele, aliás já havia passado da hora de eu agir como um homem e não mais como um moleque. Aquilo não era uma viajem de férias, Edward e eu não eramos amiguinhos e a criança em seus braços não era o filho de um amigo que quando chorasse ou sentisse cólica durante a noite eu poderia entregar aos pais e sair sem preocupação alguma. Estávamos ali para salvar o meu filho, ou ao menos tentar fazer isso e discutir era perda de tempo.

Fiquei de pé, contente por me sentir firme e capaz o suficiente de caminhar sem ter de ser amparado por ele. Não me lembrava de quando foi que Edward havia colocado aquela camiseta em meu corpo, apenas que a arranquei por ser desconfortável e meu corpo respondia aos estímulos naturais, a adrenalina correndo em minhas veias e minha respiração se tornando mais tensa antes mesmo que meus pés se impulsionassem contra o chão e me fazendo saltar a janela.

– Jacob Black está de volta ! - Disse Edward se aproximando da janela.

Eu já estava correndo, meus pés sentindo o macio da areia por sob si, e mesmo sem me virar em sua direção, sabia que ele estava sorrindo de lado.

Não me dei ao trabalho de tirar o short em meu corpo, apenas deixei a transformação fluir por meu corpo. Era como despir-se de uma roupa que está há muito te apertando, tão natural como livrar-se de um sapato que está o dia todo lhe machucando. Me transformar era como despir-me não apenas das roupas, mas de toda e qualquer dor e sentimentos ruins que meu corpo humano é capaz de carregar.

Quando passei dias correndo não era porque estava sem controle de meus atos e o lobo estava dominando. Não há isso de o lobo e eu, somos apenas um, um a terminação do outro, algo tão complexo e perfeito que quando você aceita ser como é, tudo o que há dentro de você é paz e liberdade.

Uivei para a lua sem deixar de correr. Sentíamos falta de Ben, isso era a única coisa que permanecia comigo. O único sofrimento presente de verdade e por isso o uivo fora sofrido e triste. Havia muito tempo que eu não uivava daquela forma.

As árvores passavam por mim como meros reflexos, sem diferença alguma que não fossem os cheiros. Eu me sentia livre e a cada passada enorme que eu dava, me sentia mais livre. Edward talvez houvesse dito a frase por acaso, mas eu era um ser da noite assim como ele e sua família deveriam ser, e a luz da lua nos fazia mais fortes.Isso potencializava ainda mais a sensação que crescia em mim.

As horas se passaram como se fossem minutos, mas logo o sol nascia á minha frente. Não era necessário nenhum aviso de Edward ou qualquer tentativa dele de vir me buscar de volta, ainda mais com meu filho nos braços.

Pov's Ben

Havia sido loucura e irresponsabilidade de minha parte deixar Billy Black sob as vistas dos irmãos de Jake e ido atrás dele mesmo tendo a certeza de que ele estava bem ? Sim, é claro que sim, mas eu me apegava a certeza de que nenhum dos lobos permitiria que nada acontecesse a meu sogro até o meu retorno.

Existe uma única coisa no mundo que nunca teria limites, a maldade. Era por essa que ele havia saído de casa e tentado salvar nosso filho, de um jeito louco e com o qual eu nunca concordaria, mas era Jacob sendo Jacob. Impulsivo, explosivo e amoroso. Não tinha como não amar aquele homem. Mas pensar em quão grande pode ser a maldade de uma pessoa humana e que a mesma pode aumentar incomensuravelmente caso a mesma venha a ser transformada, eu não conseguia descartar a possibilidade de alguém ter gravado aquelas frases de Jacob e colocado próximo ao telefone durante aquela ligação, ou a ideia de que alguém pudesse estar ameaçando-o e forçando-o a me dizer que estava tudo bem.

Exagerado ? Claro que sou, mas todos somos quando amamos alguém de verdade.

Eu só acreditaria que tudo estava bem quando batesse meus olhos nele, na figura dele, segurando nosso filho e sorrindo para mim, com aquele sorriso que só ele tem, que ele só dá quando me vê.

Perguntar a todos os Cullens era o mesmo que perguntar para uma porta onde eles estavam. Talvez realmente não soubessem, mas a fidelidade que existia entre eles era inquestionável. Mas depois de me ver suplicar, de joelhos até, pela décima vez, Rosalie disse por entre os dentes enquanto rolava os olhos :

– Eles estão em uma ilha no Brasil. Tudo o que sei é que fica no Rio de Janeiro !

– Rosalie ! - Repreendeu Esme, como uma mãe naturalmente faria.

– Ele também é pai da criança ! - Disse Rosalie - Não é justo saber da verdade e deixá-lo desesperado !

– Eu ... não... sabia ! - Disse Alice, a decepção escorrendo em sua voz, já que a relação entre Edward e ela era obvia que mais intima do que com os outros.

– Por que não disse antes e resolveu me falar agora ? - Questionei fora do tom que queria. Não queria ser grosseiro, mas era impossível de não sê-lo.

– Bella e Nessie não estão aqui ! -Disse Rosalie suspirando - Bella e Edward não estão mais juntos e não sei se posso confiar nela, porque Ed não nos disse o porque de terem se separado, mas eu não diria isso na frente dela !

– Eles virão para casa em menos de cinco dias, Ben. Espere por eles aqui ! -Disse Carlisle, e aquele raio de tom paternal quase me fez desistir de buscar meu Jake.

– Eu não vou ficar em paz se ficar aqui esperando por ele ! - Disse eu - Obrigado, Rosalie !

Nem mesmo me despedi, saí em disparada rumo a Reserva. Lá chegando avisei a Paul que estava indo buscar Jacob e Edward, sem pedir maiores explicações ele assentiu e disse que avisaria aos outros e que se eu tivesse cuidado, poderia sair naquele mesmo instante.

Poderia ter comprado passagens de avião, mas não estava afim de ficar em um lugar fechado por horas, fui correndo. Não me cansaria mesmo e colocava minha cabeça no lugar.

Horas haviam se passado até que senti o cheiro de Edward e de Jacob em um dos tantos piers da cidade dita por Rosalie, e tive a certeza de que aquele era o caminho que deveria tomar, mesmo que o cheiro deles fosse apenas uma sombra. Aproveitando-me do fato de ainda ser madrugada, ou era isso que o céu transmitia, eu emergiu nas águas salgadas daquele mar e após verificar três ilhas, eu me aproximei da quarta. O sol já nascia quando eu alcancei as áreas perfeitamente brancas e o cheiro de Jacob me acertou em cheio já que eu estava contra o vento. Suspirei audivelmente me permitindo fechar meus olhos e quando os abri me deparei com um lobo enorme de pelagem avermelhada, olhando para trás pude ver um Edward com uma criança nos braços, o que seria uma cena perfeita. O vampiro apaixonado esperando o marido lobisomem voltar de sua corrida noturna com o filho de ambos nos braços, mas era o vampiro errado e aquela era a minha família.

Mesmo tenso por mesmo não tendo o mesmo dom de Edward, eu ter conseguido ler que eu não era o único ali apaixonado por Jake, eu sorri para o meu lobo que voltava a sua forma humana com um sorriso tão grande nos lábios que eu jurava que suas bochechas doeriam logo se continuasse sorrindo daquela forma para mim. Ignorei o fato de ele estar pelado, naturalmente devido a transformação e corri para seus braços, pouco me importando com os fatos de tê-lo jogado no chão, de ter caído por sobre ele e de estar molhando todo o seu corpo, apenas juntei meus lábios nos dele.

Precisava daquele beijo como precisava de sangue. Precisava sentir que ele estava vivo. De que aquilo não era alguma artimanha de minha mente ansiosa.

O beijo durou o quanto tinha de durar, um milésimo de segundo se comparado com o quanto eu precisava dele, mas uma eternidade para os pulmões de Jake que precisou me afastar.

– Eu não aguentei esperar. Precisava saber que vocês estavam mesmo bem ! - Assumi envergonhado.

– Você não faz ideia do quanto eu te amo mais por isso ! - Disse ele com a respiração ofegante. Olhando dentro de seus olhos eu pude me ver ali e ser refletido em um espelho ou em outros olhos nunca seria a mesma coisa que ser visto por aquelas orbes castanhas. Percebi também que eu estava brilhando.

– Você é tão lindo assim ... brilhando ... - Disse Jacob abobadamente.

– Me desculpem por interromper, mas alguém acordou. Acho que sentiu sua presença, Ben ! - Disse Edward, a voz perto de nós.

Eu poderia fazer raízes saírem do solo e matarem-no sufocado, mas teria de ser eternamente grato a ele por ajudar Jake a colocar meu filho no mundo.

– Edward eu...

– Não agradeça, eu fiz o que tinha de fazer ! - Disse Edward enquanto eu me sentava na areia - Acho melhor você pegá-lo, Jacob. Ben está todo molhado !

– É verdade ! - Disse Jacob se sentando em um movimento rápido logo esticando os braços na direção de Edward que prontamente esticou a criança em seus braços em sua direção - Hora de conhecer seu outro pai, meu filho !

Meus olhos arderam literalmente diante de tamanha perfeição. Nosso filho era lindo e tinha tanto de mim, assim como tinha muito de Jacob e ao mesmo tempo era todo ele mesmo, com suas diferenças e marcas únicas. Me olhava de forma assustada.

– Hey... eu estava louco para te conhecer ... te amei desde o primeiro minuto que soube que você viria para nós ! - Falei tocando seu rostinho redondo com as pontas dos dedos.

Seus olhinhos avermelhados se voltaram na direção de Jacob como se perguntasse algo para ele.

– Ele também é seu pai, meu amor ! - Disse Jacob em um tom amável.

Os olhinhos voltaram a me encarar, em seguida ambas as mãozinhas dele agarraram a minha que ainda tocavam seu rosto, estranhei de inicio que ele estivesse movendo meu dedo em direção a sua boca, mas deixei. Não levou nem mesmo meio segundo para que eu sentisse a potência de seus dentes.

Afastando meu dedo da boca ele sorriu em minha direção, como se eu tivesse passado em algum teste de sabor e houvesse sido aprovado. Os bracinhos se esticaram em minha direção.

– Se quiser se trocar antes de pegá-lo, tem mudas de roupa dentro da casa ! - Disse Edward que assistia a cena de onde o vi pela primeira vez naquele dia, na varanda - Estarei na cozinha. Jacob te mostra onde encontrar as roupas ! - Disse antes de dar as costas para nós e sair dali.

– Ben ? - Questionou Jacob chamando minha atenção.

– Oi, meu amor ? - Questionei sorrindo bobo em sua direção antes de voltar a encarar nosso filho que ainda sorria em minha direção, como se estivesse feliz por minha presença.

– Me perdoa por ter saído como saí, mas era uma chance e eu precisava me agarrar a ela ! - Disse ele.

– Amor, olha para a gente ! - Disse eu e ele o fez, oscilou o olhar entre nosso filho e eu - Eu não tenho o que perdoar, só o que agradecer ! - Disse me curvando em sua direção para unir nossos lábios.

Nossa família estava completa. Eramos três que formávamos um só.

Curtimos um pouco o momento antes de finalmente irmos para o interior da casa onde Jacob me mostrou onde eu podia me vestir e ele também. Assim que o fiz, seguimos para a cozinha já que ele havia me dito que havia passado a madrugada toda correndo.

Após me sentar á sua frente na mesa enorme de café preparada por Edward, Jacob me ensinou a pegar nosso filho nos braços. E eu poderia viver minha vida toda daquela forma.

Edward se aproximou de nós fazendo com que o clima ficasse um pouco estranho, mas não depois de esticar o papel que tinha nos braços em nossa direção.

– Me desculpem, eu não resisti ! - Disse ele, estranhei, mas ao voltar meus olhos para o papel retangular que na verdade eram dois, não pude deixar de sorrir. Ele havia fotografado nosso momento na praia. Em uma eu olhava para Jacob com cara de bobo e na outra nós nos beijávamos - A qualidade está ruim porque foi tirada com o celular e por sorte a impressora daqui ainda funciona !

– Obrigado... Por tudo que está fazendo por nós ! - Disse eu e talvez toda a verdade que havia colocado na frase tenha o pego de surpresa porque ele apenas sorriu em minha direção antes de corrigir minha mão esquerda por sob a coluna de meu filho - Se você segurá-lo assim, pode causar desconforto quando ele dormir. Nessie também era assim !