Eu sabia que de alguma forma eu acabava machucando Seth, não me referindo ao corpo de pele morena que só de lembrar faz com que todo o meu corpo se arrepie e chame por ele em atitudes de pura carência hormonal. Como se não atendêssemos aos nossos desejos.

O problema se é que eu posso chamar assim é que Seth era diferente de todos com quem eu já havia me deitado,porque no caso não é simplesmente me deitar com ele, transar, vestir minha roupa e ir embora, ou usá-lo por um tempo e jogá-lo fora como um chiclete mascado que perdeu o doce.

Seth me fazia sentir coisas que eu nunca havia experimentado, insegurança quando via outras pessoas olhando para ele, quando Jake chegava perto dele ou quando ele saía para correr com a Alcateia eu me sentia um nada. Porque chega a ser maldade comparar meu corpo com o do grupo dele, como o corpo do próprio Seth apesar da idade; eu sentia frio na barriga sempre que pensava em perdê-lo ou em encontrá-lo, sentia vontade de passar a noite toda abraçado a ele, sentindo o cheiro dele.

Eu estava tão mudado que nem sei contar quantas foram as vezes em que virei a noite abraçado ao travesseiro que ele tinha repousado a cabeça horas antes, para sentir o cheiro dele ali comigo.

Foi necessário entrar em conflito interno comigo mesmo para tomar aquela atitude, para ter coragem de assumir pra mim mesmo que eu pela primeira vez na vida estava amando uma pessoa e não a usando.

– Luke, meu anjo você tem certeza de que vai mesmo viajar com esse garoto ? - Questinou Henry com mais drama na voz do que era necessário. O que eu podia fazer se eles eram teatrais demais.

Dizem que todos os vampiros são assim e eu já estava acostumado á tudo aquilo.

– Pai, eu preciso fazer isso. Eu assumi pra mim que amo ele e vocês sabem que se tratando de mim, isso é muito importante ! - Disse eu colocando mais uma muda de roupa dentro da mala.

– Nós sabemos, mas somos seus pais e sabemos do que você já fez. Temos medo de você se meter em confusão ou se encontrar com alguém que está a fim de te matar ! - Disse Richard.

– Eu sei me cuidar e Seth também é capaz de cuidar de mim, pai ! - Disse eu - E Henry para de tirar as roupas que eu estou colocando dentro da mala !

– Desculpe ! - Disse ele todo sem graça.

–Não façam essas carinhas de choro seco, por favor ! - Disse eu.

– Como é que eu deveria me portar se não vou assistir esse momento importante na vida do meu bebê ? - Disse Henry.

– Não sou mais um bebê, e se ele aceitar eu juro que deixo você fazer uma festa aqui e até uma cerimônia ! - Disse eu tentando não rir do modo exagerado dele.

– Sua sorte é que já passou da idade de apanhar ou eu lhe daria uns tapas nesse traseiro ! - Disse Richard.

– Eu amo vocês ! - Disse abrindo os braços para ser abraçado e logo estava sendo espremido entre os dois.

Era fácil lidar com eles e só o fato de eu ter garantido que uma futura festa seria feita por ele, encheu tanto o ego de que ele mesmo terminou de fazer as malas por mim. Eu já estava pronto, as passagens compradas dias antes estavam no bolso de meu grosso casaco de lá na cor preta, tal como a calça jeans que eu usava e meu coturno devidamente novo. Minha franja arrumada elegantemente para trás em um quase topete, mas nada exagerado.

Logo depois de arrumarem as malas no porta-malas do carro e me beijarem o rosto, assumi o volante e dirigi até a casa de Seth. Não surtei no caminho nem fiquei nervoso como se fosse virgem e estivesse pedindo ele em namoro, já havia surtado antes, podia fingir que estava confiante agora.

– Seth ? - Questionei ao entrar na casa, a confiança dele nas pessoas era tanta que ele não trancava a porta da frente, por isso logo entrei.

– Luke, hoje não ! -Disse ele sentado no sofá, o rosto em uma carranca de desânimo completo - Eu não estou a fim de transar hoje. Se acontecer você querendo ou não vai ter que passar a noite aqui !

Eu sabia que isso aconteceria um dia, porque era daquele jeito que eu realmente agia, transava e ia embora. Chegava até a estranhar o fato de ele não ter feito isto antes.

– Não vamos transar, não agora ! - Disse eu - Preciso viajar e meus pais não podem vir. Preciso que venha comigo !

– Não tenho roupas para viajar com você, Luke ! - Disse ele.

– Eu trouxe uma mala repleta de roupas que espero que te sirvam ! - Disse eu esticando a mala em minha mão até a mão dele, que exitou um pouco para tocá-la - Comprei baseada em um camiseta que deixou lá em casa !

– Não quero que gaste seu dinheiro comigo ! - Disse ele. Muitas vezes a teima dele me irritava.

– Eu estou implorando para que venha comigo ! - Disse eu.

– Não precisa apelar ! - Disse ele se colocando de pé - Vou tomar banho e me trocar, você espera ?

– Claro, temos duas horas antes do voo sair ! - Disse eu me sentando no sofá.

Confesso que sentia minhas mãos soarem um pouco enquanto eu o esperei descer, pensei em ir atrás dele e beijá-lo, mas fiquei ali e quando ele desceu o pequeno lance de escadas que ligava o primeiro ao segundo andar da casa eu soube que havia valido a pena.

– Nossa, você está lindo ! - Disse eu e era a primeira vez que eu o elogiava enquanto estava vestido. Me arrependi mentalmente por isso.

– O que roupas caras não fazem !?! - Disse ele com certa ironia- Vamos ?

– Seth, olha pra mim ! - Disse ficando de pé e me aproximando dele - Me desculpa por ser sempre um idiota e pela forma que trato você. Eu amo você e eu nunca havia amado ninguém. Não é legal me sentir tão inseguro perto de você, me sentir tão dependente de você, do seu cheiro ...

– Eu não queria que você tivesse tido o imprinting por mim. Sabe, eu sinto que estou atrapalhando sua vida ! - Disse ele e aquilo foi como receber um soco na boca do estômago. Doeu.

– Eu não esperava que acontecesse comigo, mas sou tão feliz por ter acontecido. Eu tenho você ! - Disse eu tentando tocar o rosto dele, mas ele afastou o rosto de minha mão.

– Vamos logo ? - Questionou começando a andar em direção ao carro. Ignorando totalmente a minha frase.

Aquilo me machucou ainda mais, mas assenti o seguindo em direção a porta essa que ele trancou com a chave que retirara do bolso.

Aquela foi a primeira vez que eu o vi fazer aquilo. Entramos no carro e permanecemos em um silêncio tão chato e denso que poderia ser cortado com uma tesoura de poda. Eu me sentia machucado por ser tão ignorado por ele, mas não disse nada.

O carro ficaria no aeroporto até o fim da tarde que era quando meus pais iriam pegá-lo, deixei avisado para que ele não precisasse passar por nenhum infortúnio ao fazê-lo, e eles tinham uma segunda chave, tal como eu tinha uma segunda chace do carro deles também.

O silêncio se manteve ao entrarmos no avião onde percebi que ele sentia medo, alias os nós de seus dedos estavam ficando brancos de tanto que apertava o braço da poltrona.

– Não precisa ter medo ! - Disse entrelaçando nossos dedos.

– Não estou com medo ! - Disse ele, mas não soltou a mão da minha.

– Eu deveria ter dito em casa, mas preferi fazer isso aqui ! - Disse eu enfiando minha mão livre no bolso so casaco apanhando a caixinha felpuda na cor vermelho sangue - Eu tenho consciência de que sou um idiota, só penso em mim mesmo e em sexo, mas eu te amo !

– Não brinca com isso ! - Disse ele.

– Bom, normalmente eu te pediria em namoro, mas como estamos indo para Vegas eu pergunto ... Seth, você quer se casar comigo ?

Pude perceber o sangue fugindo de seu rosto e seus olhos se arregalando enquanto os lábios se entrabriam até formar um O cômico.

– O que ? - Questionou sem entender.

– Eu estou disposto a me casar com você, a morar com você, a trabalhar e levar uma vida simples com você, Seth ! - Disse eu - Eu pensei muito nesse tempo em que transava e ia embora, eu nunca deveria ter agido assim com você. Quando eu te machuquei, eu estava me machucando !

– Isso não vai dar certo ! - Disse ele balançando a cabeça como se fazendo isto seria capaz de afastar as ideias.

– Não, isso vai dar certo e eu estou disposto a fazer dar certo ! - Disse eu.

Ele pareceu ponderar um pouco antes de abrir a boca e dizer em um fio de voz: Eu aceito!

Me senti o homem mais feliz do mundo quando as pessoas ao redor bateram palmas. Apesar de estarmos na classe executiva não estávamos sozinhos.

Coloquei a aliança em seu dedo e ele repetiu minha ação, porém unindo nossos lábios em um beijo doce e carinhoso como há alguns dias não fazíamos.

Não pude evitar suspirar saudoso quando ele afastou seu lábio do meu. Em um ato incomum entre nós ele encostou sua cabeça em meu ombro e foi assim que seguimos viajem pois ele logo começou a ressonar baixinho. Era melhor que dormisse mesmo. Ao menos não discutiríamos para estragar o momento. Acabei cochilando um pouco durante a viagem, e no momento exato em que o avião pousou fomos despertos pela aeromoça que apesar da maquiagem exagerada foi gentil e agradável.

Observei Seth coçar os olhos como a quase criança que era enquanto eu tentava me recompor.

Deixei que ele ficasse de pé primeiro e me senti um pouco mais contente quando ele esticou a mão para que eu a pegasse e me levantasse com sua ajuda.

Nos esgueiramos por entre as tantas pessoas no aeroporto até chegarmos ás portas automáticas que cumpriam a função de saída/entrada e por sorte havia uma fila de táxis livres e não tivemos de esperar muito e nem eu tive de empurrar o carrinho muito mais do que por 500 m.

– Vamos parar no primeiro cartório que tiver por aqui ou você vai mudar de ideia ! - Disse ele com um sorriso divertido que ficava lindo em junção a sua carinha amassada de sono. Isso me fez sorrir um pouco.

Era bom poder assumir para mim mesmo que eu estava apaixonado e melhor, que não havia nada de errado com isso.