POV PERCY

Finalmente as férias tinham chegado. Annabeth concordou em deixar as crianças, juntamente com Jake e Ezequiel, passarem duas semanas na casa da avó da filha do Travis. Depois de muitos preparativos e recomendações, Annie se despediu sossegada dos nossos filhos. Afinal, nós também precisávamos de descanso. E nada melhor que despachar os filhos, para que eu pudesse aproveitar a maravilhosa companhia da minha mulher.

Como já fazia alguns meses que não íamos ao Acampamento Meio Sangue, decidimos que seria um bom lugar para passarmos uns dias relembrando os velhos tempos. Annabeth mandou uma Mensagem de Íris para Quíron e segundo ela estava tudo acertado:

–Ele disse que será um prazer nos receber por alguns dias. Disse que nosso quarto na Casa Grande está a nossa espera e que poderemos vagar livremente por lá. Ah, e ele nos pediu um favor, segundo ele nas últimas semanas houve um bom número de novos campistas registrados e que por hora, a maioria dos monitores ainda não entrou em férias e, portanto ele precisa de certa ajuda para enquadrar todos os novatos. Eu disse que poderíamos ajudar sem nenhum problema.

–Annie, nós precisamos relaxar. Não trabalhar pro Quíron. – eu resmunguei.

–Percy! Pare de ser reclamão! Sempre que queremos podemos ir ao Acampamento e Quíron nunca reclama da nossa hospedagem lá. Não custa nada contribuirmos com uma mínima ajuda quando eles precisam. E vai ser uma forma de relaxar, podemos relembrar os velhos tempos! – ela disse piscando.

–Com relembrar os velhos tempos, você está se referindo as noites em que escapulia pro meu chalé? – eu perguntei com um sorriso malicioso, ela riu e sentou na cama comigo.

–Eu não disse isso Cabeça de Alga. – ela corou – Mas, se você entende assim... Acho que não há mal nenhum em concordar com você! – rindo ela me beijou.

Beijar Annabeth era muito bom, sempre. Fazia tanto tempo que não conseguíamos nos curtir, assim, sem nenhuma preocupação com horários ou filhos. Não me senti nenhum pouco mal quando atrasei a saída dela ao mercado. E creio eu que ela não se importou nenhum pouco em trocar os legumes pelo meu corpo.

POV JAKE

Duas semanas na mansão da avó da Anna Sophia. Isto era pra ser incrível, certo? Não. Na verdade, estávamos todos muito animados. Nós quatro, Silena, Charles, Ezequiel e eu, fomos convidados pela Anna e sua avó, a passar duas semanas das nossas férias de verão com elas, na tão falada mansão da família. Ela acertou tudo com a Annabeth, que depois de decidir que era sensato nos deixar ir, falou com meus pais que prontamente concordaram e pelo que entendi, como Ezequiel era “órfão”, pelo menos de parentes mortais, e pelo que sei Deméter não se importa de se envolver nessas questões filiais, Annabeth também se responsabilizou por ele. E assim, logo estávamos todos no carro do Connor Stoll, indo em direção a nossas férias. Segundo Anna Sophia, seu tio levaria a gente porque seu pai não se sentiria bem naquela situação:

–Ele me disse que não estava com a intenção de rever minha mãe e muito menos ter que esbarrar com minha avó. Acho que ela foi muito dura com ele, quando ele estava com a mamãe. Mas eu entendo, e Connor é um tio bem bacana e leva a gente sem nenhum problema.

E foi o que aconteceu. Os primeiros dias foram bem legais, nós saímos bastante durante o dia e a noite ficávamos jogando ou assistindo filmes na grande casa da dona Mercedes. Era esse o nome da avó da Anna. Ela parecia estar meio contrariada de estarmos todos lá, mas dava pra ver o quanto se esforçava pra nos deixar a vontade, foi uma ótima anfitriã.

Só que depois de uns seis dias bem cheios e cansativos, afinal não parávamos em casa durante o dia, eis que Zeus, meu lindo avozinho, deus dos céus, resolve acabar com a nossa alegria e manda chuva. Resumindo, não pudemos mais sair, então teríamos que ficar dentro da mansão durante todos os dias. No primeiro dia chuvoso, estava tudo bem, até que Ezequiel teve uma crise de asma, e foi levado ao pronto socorro, porque ninguém tinha nenhuma espécie de remédio para ajuda-lo naquela casa. Anna Sophia é claro, foi com a avó levar o garoto. E Charles que não perdia oportunidade de ficar ao lado dela, foi junto. Resultado, sobraram apenas Silena, eu e os empregados na mansão. Como os empregados eram mais como fantasmas, sério eu os vi poucas vezes perambulando pela casa, Silena era minha única companhia.

O que era pra ser perfeito, já que era ela. Mas, como nossa relação estava meio estranha, não foi fácil ficar apenas na companhia dela.

Ela não estava me evitando, mas estava bem claro que não queria nada comigo. Ela fazia questão de me chamar de “amigo” o máximo de vezes que pudesse.

“Amigo, você pode me passar o controle da TV?”, “Eu sei disso amigo.” Ou ainda “Amigos são pra essas coisas!”.

Eu não entendia, eu achava que ela respondia meus sentimentos. Mas agora, ela deixava claro que éramos só amigos. E isso estava me irritando profundamente. Eu gostava da Silena, há um bom tempo, e quando acabamos nos beijando, eu achei que tudo daria certo, que nos resolveríamos. Mas não era bem assim que as coisas estavam indo.

POV ANNABETH

Nossas férias foram muito boas! No começo, Percy reclamou um pouco por termos que ajudar em algumas atividades no Acampamento, mas no final, acabamos nos divertindo muito!

Nós voltamos as nossas tarefas como monitores dos chalés, só que dessa vez não cuidamos apenas dos nossos chalés, mas sim de todos. Apenas dois monitores, que eram campistas de ano inteiro, estavam lá para recepcionar e orientar os novos campistas. Percy e eu ficamos ajudando nisso. Orientando todos, respondendo perguntas na maioria das vezes, e até mesmo ajudando nos treinamentos.

Claro que já não éramos mais ótimos lutadores como há quinze anos, mas lembrávamos muito bem das técnicas, segundo nosso centauro favorito, fomos ótimos professores.

Conhecemos muitos campistas novos, afinal nós lembrávamos apenas daqueles que eram do nosso tempo. Nossa! Como isso soa estranho, se referir a nós mesmos como velhos. Não vimos o tempo passar, e agora a nossa época, o nosso auge como grandes heróis já passou. Agora era a vez de nossos filhos, ou melhor, de todos os jovens campistas conquistarem seu espaço nesse nosso mundo tão maluco. É claro que não perdemos nossa importância, afinal Percy e eu trabalhamos em muitas batalhas e (não querendo me gabar) se não fosse pela nossa ajuda, muita coisa teria acabado e já não seria tudo nos conformes como hoje é. Como consequência disso, nós temos o nosso lugar de honra no “hall da fama” do Acampamento Meio Sangue, Eu tinha certeza de que nunca seríamos esquecidos por Quíron e talvez por algumas criaturas mitológicas imortais. Mas por hora, enquanto tínhamos contato com esses novos semideuses, seríamos reconhecidos e considerados muito valorosos por eles. Era realmente bom ser reconhecido por algo que fizemos, ainda mais uma Filha de Atena como eu.

Era engraçado como certas coisas nunca mudavam. Como a lerdeza do Percy e o meu jeito de “sabe-tudo” como ele mesmo fala. Acho que características próprias nossas, nunca mudam realmente. Talvez sejam aperfeiçoadas ao longo do tempo, mas nunca mudam por completo. Nossa essência é sempre a mesma.

Sorri. Era um pensamento agradável.

–O que houve Annabeth? Está sorrindo por que? – Percy perguntou se sentando ao meu lado na varanda da Casa Grande.

–Um pensamento, apenas isso. – eu respondi.

–Qual pensamento?

–Percy, Percy, você sempre curioso! – eu disse encostando-se a ele.

–Eu? Pelo que me lembre, a “sabe-tudo” aqui é você, portanto a curiosidade te pertence, não a mim. – ele sentenciou.

–Era exatamente esse o meu pensamento. Existem coisas que pertencem à gente, que são nossas, e que nos fazem do jeito que somos. Por isso nunca mudamos. Não por completo. Lá no fundo seremos sempre os mesmos.

–Resumindo, você sempre será a Sabidinha e eu o Cabeça de Alga! – ele disse sério.

–Nossa! Isso foi profundo! – eu disse rindo.

–Sou um filósofo quando quero. – ele disse brincalhão.

–Estou percebendo. Na verdade, depois de todos esses anos juntos, eu já percebi certas coisas sobre você, querido.

Ele sorriu e me abraçou.

–Eu ainda babo enquanto durmo.