Sams Town escrita por Rennan Oliveira


Capítulo 7
Tecidos




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Mais tarde naquela manhã, Quinn decidira dar uma volta por Sam’s Town. Não sem nenhuma razão, é claro, mas porque havia coisas para fazer sobre o casamento. De uma hora para a outra, ficara tão empolgada com toda aquela história de se casar em uma cidade distante que se esqueceu que isso poderia parecer um absurdo para as pessoas que a conhecia, principalmente para a sua mãe, que já sofrera emoções fortes demais no dia em que a descobrira grávida. Já não bastasse isso, Quinn ainda se lembrava dos conselhos que dera a Rachel quando ela decidira se casar com Finn aos dezoito anos, ao fim da festa de formatura do McKinley High. Ela estava praticamente ignorando todos os preceitos que carregara até ali, como se nunca tivessem existido.

A grande culpada disso era Sam’s Town. Em uma cidade tão distante que todos os sonhos pareciam ser possíveis de se tornar realidade, fato que ela inclusive havia abordado na conversa que tivera com Sam, casar-se tão nova não parecia um absurdo. Na verdade, até parecia a coisa certa se fazer, como se estivesse destinada a isso.

E se casar naquele lugar, então...

Sam era muito esperto. Podia não ser um exemplo de inteligência, mas era um homem sagaz, já que sabia que Quinn ficaria inspirada por um lugar como aquele. Dera um tiro no escuro e acertara em cheio. Quinn estava tão contagiada pelo clima daquele lugar que se sentia plenamente feliz, ou seja, suscetível a qualquer pedido que Sam pudesse fazer para ela. Não que ele também não estivesse contaminado por esse ar, pois, se não fosse o caso, ele nunca pensaria em propô-la em casamento tão cedo. Querendo ou não, assim como era para Quinn, aquilo era uma responsabilidade imensa para ele. Um casamento é uma decisão para a vida inteira, não só para um fim de semana.

Quinn ainda estava caminhando por aquele dia ensolarado, o solado da sua bota de couro fazendo barulho nos pedregulhos das ruas, quando deparou-se observando uma casa pequena, de tábuas de madeira, assim como todas as outras, com uma placa até que bonita que dizia “Alfaiataria da Sra. Flowers”. Quinn não tinha pretensão de fazer gastos exorbitantes naquele lugar – e nem naquele dia, já que, enquanto caminhava, já comprara muitas coisinhas que achara bonitinhas em lojas de presentes e outras coisas -, mas ali estava um estabelecimento no qual ela precisava pelo menos entrar. Mesmo que não comprasse nenhuma roupa, precisava conhecer a Sra. Flowers. Quem sabe ela não tivesse uma história interessante para contar?

Quinn empurrou a porta da pequena alfaiataria e ouviu um sininho tocar ao longe, anunciando a sua entrada. Ela não sabia que lugar encontraria por trás daquelas paredes, mas pelo menos algum movimento era esperado. Não era o caso. A loja estava vazia como se nem aberta estivesse. Quinn consultou o relógio e constatou que eram dez horas da manhã. Aquele era um dia normal. A dona devia estar ali, do contrário, ela deveria aprender a pelo menos manter sua porta fechada, por questões de segurança.

Havia alguns balcões de madeira ao redor, mas todos tinham inúmeros pedaços de pano sobre. Tecidos rendados, bordados, de algodão, de poliéster, todos amontoados numa bagunça que Quinn achou desconfortável. Aliás, mal havia cadeiras ao redor, o que talvez significasse que aquele era um lugar que não era muito frequentado. Ou pelo menos não se esperava grande freguesia.

- Olá? – Quinn chamou, imaginando que o soar do sino não fora alto o bastante para chamar a atenção de alguém. E estava certa.

- Me desculpa! – disse uma voz que Quinn imaginou vir de um monte de panos a um canto. E de fato vinha. Logo surgiu uma senhora robusta de trás de todos aqueles tecidos, o que quase fez parecer que ela estivera ali o tempo todo, diante dos olhos de Quinn, sem que ela pudesse vê-la. A senhora andou com passadas rápidas toda a distância entre ela e sua freguesa e, estendendo uma mão pequena, mas grossa, ofereceu um aperto de mão que Quinn gentilmente aceitou. – Em que posso ajudar, minha linda?

 Eu não sei bem dizer...

- Ahn... Eu estava pensando em dar uma olhada nos tecidos que você tem para...

- É alguma ocasião especial?

- Sim! – Quinn umedeceu os lábios, um pouco nervosa sobre a situação.

- É alguma festa?

- Algo como isso...

- Um casamento?

- Sim!

Os olhos da senhora brilharam com uma alegria contagiante.

- Meus parabéns! – Ela abriu tanto os braços que Quinn imaginou que fosse ser abraçada. Esperou ansiosamente por esse momento, mas ele nunca veio. – Adoro casamentos porque adoro esse amor que as pessoas são capazes de sentir umas pelas outras! Eu mesmo me casei uma vez, e ainda consigo me lembrar como se fosse hoje da ocasião... – E começou a cantarolar, como se estivesse revivendo aquele momento.

Quinn a seguiu com uma expressão divertida no rosto. Talvez visitar aquela alfaiataria fosse bem mais divertido do que ela supusera.

- E está pensando em alguma cor específica? – a Sra. Flowers perguntou, parando subitamente no lugar como se a memória do seu casamento tivesse se esvaído de uma hora para outra. – Eu sugeriria o branco, como manda a tradição, mas você deve bem saber como são esses tempos modernos e tudo mais, em que as jovens pensam em usar cores diferentes e...

- Estou pensando em usar branco mesmo.

- Excelente escolha! Não são muitos os casamentos que acontecem em Sam’s Town – não com tanta frequência -, mas ainda assim tenho um estoque relativamente grande de tecido branco, para esse tipo de emergência. Sam’s Town não se renova há algum tempo, mas pelo menos alguns turistas ainda pensam em vir para cá para tornar inesquecíveis as memórias de um evento tão importante como esse... – E começou a cantarolar novamente. – Você é uma turista, não?

- Você conseguiu perceber?

- Claro que sim. Nem são tantas as pessoas que moram por aqui, então, quando um rosto novo aparece, nós logo o reconhecemos.

- Eu imaginei.

- Mas que tipo de vestido está pensando em usar?

- Eu queria uma coisa simples...

- Ficaria excelente em você. Vestidos muito elaborados eram lindos anos atrás, mas acho que os olhos de hoje já se cansaram de ver tantos detalhes. No final, o que mais importa de um casamento são as pessoas que estão ali para fazer os seus votos, e não o vestido que a noiva está usando. Você tem um corpo bonito. Acho que posso fazer um excelente trabalho em você. Está disposta a fazer um “ensaio”?

- Agora?

- Sim, se estiver livre.

- Eu adoraria.

- Deixe suas coisas ali no balcão, minha linda, porque o trabalho que temos para fazer é muito!

Quinn pousou suas compras no balcão e só voltou a apanhá-las algumas horas depois.

~//~

Tarde da noite – o relógio em cima da cômoda acusava que já era meia noite -, e Quinn e Sam estavam de volta a casa. Não tinham se visto muito durante o dia, até porque nenhum dos dois queria estragar a surpresa que o outro tinha sobre os preparativos do casamento. Por conta disso, tinham muitas novidades para contar, e Quinn estava empolgada para contar as suas. Deitada em sua cama, fitando uma televisão onde algum tipo de novela era encenada, ela iniciou a conversa com Sam, que estava trancado no banheiro fazendo alguma coisa já havia algum tempo.

- Sabe o que eu fiz hoje? – ela começou dizendo.

- O quê você fez hoje? – Sam perguntou lá de dentro.

- Comprei algumas coisinhas para me lembrar de Sam’s Town quando a deixarmos. Enfeites, louças, acessórios, essas coisas que podem ser consideradas como lembranças. Comprei coisas para mim, para você e para os nossos amigos de Glee Club. Estou pensando em encontrá-los quando voltarmos, e a notícia do nosso casamento não vai ser o único presente que eles vão ter.

- Você e essa sua mania de ser criativa!

- Você e essa sua mania de me elogiar o tempo inteiro!

Ao dizer isso, os dois riram.

- Fiz outra coisa também.

- O quê? – Sam tornou a perguntar, ainda no banheiro.

- Eu não imaginei que fosse fazer isso hoje, mas fiz uma prova de vestidos.

- De casamento?

- Sim. Foram horas de pura diversão. Eu nem pude acreditar no relógio quando vi as horas. Provar vestidos pode ser bem divertido se você faz isso com a pessoa certa.

- Foi à alfaiataria da Sra. Flowers?

- Exatamente. Você a conhece?

- Não, mas ouvi falar dela hoje.

- Que legal.

Quinn sorriu, ainda fitando a televisão. Estava brincando com as fitas do seu vestido, enrolando-as nos dedos, enquanto fingia assistir a novela. A temperatura estava boa naquela noite, amena. Estava perfeita.

Franziu o cenho ao reparar que Sam já estava no banheiro havia tempo demais.

- Sam?

- Sim?

- O que você está fazendo?

- Já estou terminando, só mais um instante...

- Terminando o q...

Quinn interrompeu a sua fala assim que a porta do banheiro se abriu e, por ela, Sam saiu. Parou de falar porque ficou boquiaberta, o que fez com que as palavras fugissem.

- Isso não pode ser verdade... – acabou por dizer.

Sam estava fantasiado, mas não com uma fantasia comum. Quinn já ouvira falar do stripper White Chocolate, embora Rachel e Finn tivessem sido bem simples em suas descrições, então o reconheceu assim que o viu. Vestido em um uniforme de bombeiro que bombeiro nenhum algum dia vestiria, Sam começou a fazer um body roll que, apesar de mal feito, deixou Quinn excitada. Era um colete vermelho, junto com uma bermuda que terminava acima do joelho, tudo muito justo, e um chapéu da mesma cor, primeiro acessório que ele lançou na direção de Quinn. Quinn, tão chocada que estava, não conseguiu agarrar o chapéu a tempo, então ele foi parar no outro canto do quarto, longe do seu dono. Sam levou os dedos aos lábios e fingiu soprar um beijo que a mulher não agarrou, ainda porque estava chocada.

- Uau... – ela suspirou, embora Sam tivesse entendido aquilo como um sopro. – Eu não esperava mesmo por esse Show da Meia Noite...

Sam levou um indicador aos lábios, pedindo silêncio. Em seguida, dançou com seus inúmeros rebolados desengonçados até o centro do quarto, de onde jogou seu colete. Esse sim Quinn conseguiu agarrar, até como forma de evitar que fosse alvejada por ele.

Sam não era só um homem bonito. Ele era perfeito, pelo menos para Quinn. Não que ela se importasse mais com beleza do que com conteúdo, mas Sam se importava, e o resultado do seu trabalho era magnífico e admirável. Vê-lo daquele jeito, apesar das danças mal feitas – Sam definitivamente não sabia dançar -, fez com que Quinn, mais uma vez, tivesse certeza de que queria se casar com ele. Não que precisasse disso, mas esse sentimento de felicidade foi inevitável.

Uma vez nu, Sam se jogou sobre o corpo de Quinn, tomando todo o cuidado de não machucá-la, e bombardeou-a com beijos. Quinn agarrou seu corpo como se, naquela noite, não quisesse deixá-lo partir em hipótese alguma.

- O que você quer ganhar com tudo isso? – ela disse com a respiração embargada, entre um beijo e outro.

- Que você aceite a minha ideia.

- A sua ideia?

- Isso.

Ficaram a se beijar por muito mais tempo, até que Quinn finalmente resolveu perguntar:

- Que ideia?

- Se vamos nos casar, temos que seguir algumas tradições à risca.

- E que tradição você quer seguir dessa vez?

- Que tal se fizéssemos uma despedida de solteiro?

Quinn arregalou os olhos no mesmo instante, o que esfriou um pouco o seu beijo.

Despedida de solteiro? Ele está maluco?, ela pensou, confusa. Ainda mais nesse lugar?

- E como você quer fazer isso, Sam?

- Eu e você vamos a um lugar em que muitas festas costumam acontecer aqui em Sam’s Town, e vamos nos divertir como se o mundo fosse acabar amanhã.

- Talvez não seja uma má ideia.

- Confie em mim, não é.

Quinn ficou em silêncio enquanto continuavam a se beijar. Concluiu que o melhor seria confiar em Sam. Depois disso, fez amor com ele como se, de fato, o mundo fosse acabar amanhã.


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Notas finais do capítulo

Me desculpem a menção do Fim do Mundo, mas é que eu tinha que fazer isso rs