I Feel Infinite escrita por Mr Brightside


Capítulo 5
Capítulo 4 - 19 de Novembro de 2009


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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19 de Novembro de 2009

Querido amigo,

Sonhei com ela na noite passada. Foi a primeira vez desde o último ano, e talvez até de antes. Para ser bem sincera, não sei se devo considerar aquilo como um sonho, propriamente dito, porque eu não havia “imaginado” tudo aquilo. Eu sabia que não. Estava mais para uma memória distante. Uma lembrança da Brittany. Uma das poucas que minha cabeça não deteriorou com o tempo, e que sucessivamente desapareciam dela. Isso me deixava feliz, por um lado, por outro, estava deprimida. Eu não poderia esquecer a Britt. Eu não queria esquecê-la. Porém, mesmo que seu nome não me fugisse, andei percebendo como coisas simples estavam. Poderia ser a dúvida sobre o tom dos seus olhos. Ou poderia ser pior. Eu poderia não lembrar com certeza de como era abraça-la. Não todo o tempo.

Estávamos sentadas uma do lado da outra no meio fio. Naquela manhã estava nevando, e ela havia me telefonado cedinho, toda animada, para que pudéssemos usufruir “daquele milagre”. Ela sempre amou dias como aqueles. Amava o Natal e todas as suas luzes. Amava até o Papai Noel. Como eu poderia rejeitar um pedido daqueles? Aliás, quem em todo o mundo, poderia negar algo à Brittany? Ela sossegou sua cabeça em meu ombro, e ficamos ali, observando a alvura do nosso bairro. Não havia carros ou pessoas. Apenas Brittany, eu e a neve que agora voltava a cair sobre nós. Decidimos tomar o caminho de volta para casa, porque segundo ela, toda aquela neve poderia nos soterrar e ela ficaria sem presentes mais tarde. Lembro que no percurso todo até casa, rimos sobre basicamente tudo. Ela era tão inocente, que muitas vezes seus comentários podiam soar como bobagens para alguns, mas não para mim. Pelo contrário. Eu amava a sonoridade da sua voz. E sabe o que era melhor? Ela também gostava de ficar comigo. Nunca pediu algo em troca, ou me cobrou. Simplesmente permanecia ali, e era a Brittany. Acho que, sendo bem franca, foi isso o que me fez criar vínculos com ela. Não sei se essa é uma impressão mais particular, mas atualmente, as pessoas andam cobrando tanto uma das outras, e também de si, não é? Sei que no fim, isso é algo natural. As pessoas são assim. Eu sou assim. Vivemos criando expectativas de vidas que gostaríamos de levar, com pessoas que gostaríamos de conviver, e com personalidades que gostaríamos de ter. Se nos decepcionamos com alguém, no fim, e muitas vezes; estamos nos decepcionando apenas conosco e nossas expectativas. E não, tudo isso não saiu da minha cabeça. Foi algo que a psicóloga da minha antiga escola disse uma vez, em uma das sessões pós-Brittany.

Acordei com mamãe batendo na porta. Acho que eram umas 08h35 da manhã, e posso assegurar que não sou uma das pessoas mais alertas quando acordada assim, de supetão. Demorei um pouco para sair da cama, meus pensamentos pareciam borboletas batendo asas de um lado para o outro dentro da minha cabeça, e não me deixavam ficar firme sobre aquele chão gelado do meu quarto. Quando enfim girei a maçaneta, mamãe estava no corredor apontando o telefone de casa em minha direção, enquanto equilibrava o cesto com roupas recém-lavadas encostado ao corpo. Adorava aquele cheirinho de roupa limpa. Era suave. Peguei o telefone um pouco confusa, afinal, eu não era de receber ligações. Não com frequência. E quando isso acontecia, ligavam para o meu celular. Sorri para mamãe, e ela retribuiu, dirigindo-se na direção das escadas. Deveria ter perguntado quem era, mas como disse, não sou das mais espertas de manhã. Coloquei uma mecha de cabelo para trás da orelha antes de aproximar o aparelho, e com relutância, perguntei quem era. Minha voz saiu baixinha. Estava envergonhada. Não gostava de telefones ou de ligações inesperadas, e minha voz estava mais roca do que o normal. Estava estranha.

— Sabe o que é um milagre, Quinnie? Não haver mais famílias com o mesmo sobrenome que o seu por aqui. Da última vez que procurei por alguém da lista telefônica, acabei recorrendo a uns quatro números diferentes.

Era Kurt. Ri com o comentário. Não sabia que a cidade ainda mantinha uma lista telefônica, e muito menos que nossa família estava lá. Depois pensei sobre aquilo novamente, e sim, fazia sentido. Cidade pequena tinha dessas coisas. Sentei em minha cama, dessa vez, mais tranquila. Ao menos, até me perguntar se Rachel estaria ao seu lado. Ela poderia, não é? Afinal, se eram meio-irmãos, possivelmente ambos morariam na mesma casa. Ou não. Talvez os pais dos dois estivessem indo com calma, ou fizessem o estilo moderno e sem pretensões e não morassem juntos. Não sabia o que pensar, ainda mais porque Kurt sempre denominava o relacionamento do pai como um “rolo”.

— Por favor, trate de passar o número do seu telefone celular mais tarde, sim? Sua mãe foi uma graça, mas convenhamos, não quero ficar incomodando sempre. — Assenti. O que foi uma bobagem, já que ele não podia me ver. Contudo, não foi necessário responder. Kurt fazia o estilo de cara que não tinha problema em falar, então, dava continuidade a conversas sem qualquer problema. — Como está?

— Bem, obrigada. E você? Dormiu bem?

— Sim. Quero dizer, isso até a Rachel voltar para casa e praticamente me arrancar da cama para tagarelar sobre a noite dela. Nós meio que brigamos.

Meu coração ficou apertado. Talvez por ele ter citado seu nome, talvez por eu ter lembrado da noite passada e da imagem da Rachel com aqueles caras grandalhões, ou certamente por saber que eles haviam brigados. Kurt e Rachel pareciam sempre tão bem. Eles tinham uma sintonia fora do comum. Ao menos, foi o que notei. Saber que os dois brigaram me fez pensar na possibilidade de uma guerra estar armada até o momento, o que era demasiadamente ruim. Eu me importava com Kurt, e imaginava que aquilo poderia estar machucando-o. Contudo, também acho que me importo com ela. Com aquele sorriso sendo desfeito por algo que estava fora do meu conhecimento.

— Por quê?

Meu coração batia com veemência. Voltei a sentir aquela sensação de estar no lado de fora da sala da psicóloga. Uma mistura de inquietação e desconforto. Medo do desconhecido.

— Ela foi uma sacana, Quinn. Quero dizer, mais do que ela é habitualmente. — Sei que isso pode sugerir ser uma coisa pesada de se falar sobre alguém, mas vindo do Kurt, por incrível que possa parece, ele não parecia estar com raiva. Falava com a mesma tranquilidade da primeira vez que conversamos. — Além de me acordar no meio da madrugada, ficou de papinho sobre o Finn, e os amiguinhos dele. Sério, evite contato com esses caras, Quinn. Eles são babacas. A maioria deles é, pelo menos.

Eu não o conhecia há tanto tempo. Não sabia se Kurt já quebrara algum osso quando criança, ou qual é a sua cor favorita. Não sabia qual era sua expectativa para a vida em 20 anos, e se sabia da sua sexualidade, bem, digamos que foi sorte. Por isso, saber o motivo do seu desagrado em relação aos caras do time, e principalmente ao cara que Rachel gostava, era um assunto imaculado para mim. E honestamente? Eu não me importava. Não que eu não tivesse curiosidade em conhecê-lo melhor. Eu verdadeiramente tinha. Kurt era um cara fantástico. E certamente, o mais próximo de um verdadeiro amigo por ali. Porém, sempre fui adepta da naturalidade das coisas. Como na noite passada. Se ele não tivesse me contado sobre o tal Sam, eu continuaria acreditando que Kurt era apenas mais um cara que gostava de líderes de torcidas com saias curtas. Apenas isso. Saber que ele confiava em mim importava. E eu acreditava nele também.

— Tudo bem... — Falei, após perceber que aquela era minha deixa. — Mas, uhm, vocês ainda estão assim? Digo, ela não está aí com você?

— Ah, não, não. Estamos tão bem quanto em qualquer outro dia. Passou. — Joguei meu corpo na cama. Aquilo me deixou aliviada. — A Rachel é uma sacana, mas não deixa de ser minha irmã, além de alguém que eu realmente gosto. Eu gosto dela demais para ficar chateado com esse tipo de coisa, entende? Ainda que o gosto por homens dela seja quase nojento.

Rimos daquilo. Lá estava o bom e velho Kurt novamente. Alguns assuntos aleatórios sobre a noite passada acabaram por surgir, como por exemplo, se eu havia gostado do Lima Bean. Após insistir que deveríamos ir mais vezes lá, principalmente nas noites temáticas (isso me deixou um pouco preocupada, porque não me lembro de ter um chapéu engraçado para a noite do chapéu engraçado), Kurt perguntou se eu não gostaria de ir à casa dele no fim de semana. Seu pai estaria fazendo aniversário na sexta, e a mãe da Rachel decidiu fazer um bolo e convidar alguns amigos para irem até lá no domingo, já que o pai do Kurt estaria trabalhando durante toda semana. Aparentemente, o pai do Kurt não era de ter muitos amigos, além dos caras da oficina que trabalhava, assim, Rachel e ele tinham permissão de levarem quem quisessem. Aquele foi o motivo original da ligação. A princípio, fiquei meio evasiva em aceitar ou não o convite. Fazia bastante tempo desde o último aniversário que fui — o quinto do meu primo Aaron, o tema era algum desenho animado sobre com um garotinho cartoonesco de gorro branco que brandia uma espada enquanto montava sorridente em um animal que parecia ser um buldogue amarelo —, mais tempo ainda quando se tratava do aniversário de alguém que eu não conhecia. Não sabia se devia aceitar o convite. Parecia indelicado de a minha parte dizer não, porém, também parecia indelicado ir a uma ocasião tão familiar.

— Eu não sei, Kurt... Geralmente meus pais e eu vamos à catedral no domingo.

— Bem, e você ainda pode ir. O aniversário será só às 22h00. — Kurt estava correto. E eu sabia daquilo antes mesmo de ter jogado essa desculpa tão esfarrapada. — Por favor, Quinn. Olha, se as coisas estiverem chatas, juro que escapamos o mais rápido possível e vamos procurar algo legal para fazer. Não irei te fazer refém em uma sala repleta de mecânicos e a Shelby.

Eu não estava tão certa. Sabia, porém, se eu negasse, ele passaria os próximos dias insistindo. Kurt não parecia fazer o estilo de cara que se deixava ganhar tão fácil. Então, sim, era mais plausível aceitar o convite. Não tinha problemas em ser vencida.

— Além do mais, se você não aceitar meu convite, terá de pensar duas vezes antes de cruzar com a Rachel. Ela também pediu para te chamar. Você é o nosso ponto em comum, Quinn.

Naquele momento me apoiei sobre os cotovelos. Ele estava falando aquilo sério ou tentava ser gentil? A Rachel havia mesmo sugerido aquilo? Não sabia o que pensar. Na noite que saímos, ela havia sido extremamente simpática, e era inegável, aquele sorriso ainda estava na minha mente. Não podia dizer não. Os dois contavam comigo, e definitivamente, esse tipo de coisas não acontece com tanta frequência na minha vida, acredite. Assim, não tive outra escolha se não aceitar o convite do Kurt. Ouvi alguns gritinhos do outro lado da linha, além de um “Ela aceitou”, coisa que me deixou terrivelmente acanhada, e naquele momento, agradeci ao Senhor por estar falando ao telefone e não pessoalmente. Kurt me passou seu endereço nos minutos seguintes, e logo em seguida, nos despedimos. Sua casa não era tão distante da catedral, então, papai poderia me levar lá após a missa. Após colocar o telefone na cama e jogar minha cabeça novamente no travesseiro, perguntei-me mentalmente o que aquilo poderia significar. Se é que eu deveria buscar um significado naquilo. Decidi pedir dinheiro para mamãe quando descesse, assim poderia ir ao centro após o colégio e procurar algum presente. Não sabia o que daria ao Sr. Hummel. O que mecânicos gostariam de receber de presente? Tinha que pensar naquilo. Talvez mamãe tivesse alguma ideia. As borboletas na minha cabeça pareciam ter se alastrado no interior do meu corpo, porque agora, senti-as no meu estômago. Eu estava feliz. Não menos insegura, mas feliz, ainda assim. Pensei em Kurt e na sorte que tive em tê-lo conhecido. Pensei em Rachel e as borboletas se agitaram. E por fim, pensei em Brittany. Ela também ficaria feliz por mim.

Com amor, Quinn.


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Notas finais do capítulo

O que gostaria de dizer-me após ler este capítulo?