I Feel Infinite escrita por Mr Brightside


Capítulo 4
Capítulo 3 - 15 de Novembro de 2009


Notas iniciais do capítulo

Como prometi da última vez, aqui está mais um capítulo. Não sei bem o que falar sobre ele, de verdade. Só espero que gostem, e se não gostarem, por favor, não me xinguem. Boa leitura.



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15 de Novembro de 2009



Querido amigo,



Hoje li um artigo na internet que falava sobre as pessoas mais azaradas do mundo. Você já ouviu falar daquilo de “um raio não cai no mesmo lugar mais de uma vez”? Bom, não é o que dizia o artigo. Um cara, acho que era guarda florestal, foi atingido uma porção de vezes por raios em vários momentos da sua vida. E sim, ele sobreviveu. Pelo menos, sobreviveu aos raios. Mas não a uma decepção amorosa, que o fez cometer suicídio alguns anos depois. O amor às vezes é... Pesado. Não é? Bom, não estou falando isso por algum motivo em específico. Só achei interessante e queria compartilhar contigo.



Na última semana, quando saí do treino das Cheerios com Kurt e sua namorada Rachel, fomos até o estacionamento da escola. Às vezes eu realmente esquecia que ele não era assim tão jovem quanto eu imaginava e que já estava em uma turma após a minha. Ah, e que também tinha carteira. Na realidade, ambos ali tinham. E como, naquele momento, eu gostaria de ser como eles e também possuir uma. Depender de papai, ou da Frannie é muitas vezes deprimente. Principalmente dela, que nem sempre concorda em me levar onde quero. Cerca de meio metro entre o carro e nós, Rachel tomou as chaves do bolso de Kurt e correu com elas, chacoalhando, enquanto dizia sorridente que iria dirigiria. Ela era tão livre. Uma graça, no melhor dos sentidos.



— Já foi no Lima Bean? — Ele perguntou.



— Não... É legal? Sabe, é legal por lá?



— Acho que você vai gostar. Ainda mais se não tiver problemas com cafeína, ou sei lá. — Ele afirmou, quando abriu a porta traseira do carro e me puxou pelo braço para dentro. — Vem, você vai comigo. A Rachel poderia te matar no caminho até lá.



Ri da piada, ao mesmo tempo em que buscava perceber se ela também estava rindo. Ela estava. Tudo bem. Sentei sobre um saco de batatinhas fritas quando me acomodei ao lado dele no banco de couro. Rachel negou, ainda no tom de brincadeira, que faria algo do gênero, porque eu poderia ser sua fã no futuro, e não gostaria de ser como esses artistas em ascensão que esbofeteiam fãs e roubam câmeras de paparazzis. Nosso percurso até o Lima Bean não demorou mais que vinte minutos, e quando chegamos, gostaria de ter implorado para continuar ali dentro, porque, eu estava me divertindo. Da minha própria forma. Contida. Mas me divertindo. Foram piadinhas de um lado para o outro sobre tudo, como por exemplo, o lixo no carro — Supus que ele era de Rachel, já que não faria sentindo Kurt fazer piada sobre o próprio carro. Sem falar que ela defendeu tudo àquilo como “falta de tempo e bons tantos de cultura” — e até escutamos ao rádio. As músicas eram terríveis, mas os dois fizeram questão de cantarem alto e desafinados de propósito. Também me estimularam a cantar um pouquinho, e, até arrisquei um trechinho de “Good Girl Go Bad”.

Conseguia escutar as máquinas de cappuccino e outros tipos de café fumegando atrás da minha nunca. Na verdade, elas estavam bem mais distantes, por trás de um balcão com funcionários, mas era essa a minha sensação. O Lima Bean era uma cafeteria bastante movimentada e meio que um point para estudantes e pessoas da minha faixa etária, pelo que entendi. Porém, naquela noite em especial, ele não estava assim, tão movimentado. Ouvi Rachel comentar do outro lado da mesa sobre uma tal festa que estava rolando, e que talvez todos tivessem abandonado a cafeteria por umas boas doses de vodca e pílulas livres. Perguntei-me se eles ainda iriam nessa tal festa, ou se já deveriam estar por lá, mas eu estava tomando seu tempo. Quando nosso alarme soou, Kurt saiu do meu lado, tentando tomar espaço naquele banco gigante de camurça vermelho, e se direcionando até o balcão de pedidos. Fiquei com os olhos fixos no cardápio da mesa. Não que eu estive interessado nos preços, ou em tentar decifrar o que seria um “Hullabaloo Maltino”, mas eu só não tinha coragem suficiente em olhar para ela. Para os seus dedos tamborinando sobre a madeira sim, mas não em direção aos seus olhos. Não ali. E sem Kurt. E não, eu não tinha nada contra ela. Aliás, quem teria? Ela parecia tão delicada, sem falar na sua animação e simpatia gritante. E no seu sorriso. É, eu gostei do seu sorriso. Talvez pudesse confessar isso algum dia, quando tivesse certeza que seríamos amigas. Mas, algo que aprendi naquela noite sobre Rachel, foi: ela não fica calada. Quando escutei sua voz, questionando sobre onde conheci Kurt, levantei meus olhos cuidadosamente em sua direção. Esbarrar bruscamente com aquelas profundidas de chocolate seria um problema, não é? E foi assim que passamos o tempo até Kurt retornar à mesa com nossos pedidos. Respostas e perguntas. Na verdade, era mais algo puxado para o ‘Rachel pergunta, eu respondo’. Acho que funcionou. Como funcionou com Kurt, em outro dia.



— E qual é o seu filme favorito?



— Eu não sei. Quero dizer... Não sei se tenho.



Ela parou de falar e olhou para mim. Acho que esperava que eu agora perguntasse algo.



— Ah, uhm... E o seu? Qual o seu filme favorito?



— Musicais! Sim, eu sei, é um gênero, mas eu me sentiria injusta em escolher um em especial. Eu realmente amo musicais e já devo ter assistidos todos os filmes que foram lançados até agora. Mesmo que fossem ruins. Alguns são, sabe? Mas, bem, não é sempre assim.



— Você já está torturando a garota assim, Rachel? — Kurt questionou com o habitual tom de voz, enquanto voltava a sentar do meu lado, e colocava nossas bebidas sobre a mesa.



— Não, não... — Falei, meio que por instinto. Foi algo inusitado. Eu simplesmente estava pegando meu café na bandeja e falei. Defendê-la? — Eu gosto também. Um pouco... Assisti “O Mágico de Oz” com Judy Garland no mês passado.



Contrai meus lábios. Senti que aquilo foi errado. Mas, não sei, talvez não tenha sido assim tão mal. Eles não pareciam chateados, ou qualquer coisa do tipo. Estavam normais, cada um bebericando suas bebidas dentre uma palavra e outra. Eles eram fantásticos. Ambos. Sem dúvida, formavam um ótimo casal. Tão... Conectados. Eu ficava feliz por Kurt, de verdade. Ele era de longe um dos melhores caras que conhecia, e merecia uma garota com um sorriso e olhos daqueles. O mundo pode ser justo para alguns. Os dois prosseguiram com o papo, enquanto eu acompanhava. Então eu notei que gostava deles. Gostava mesmo dos dois. Poderia ser precoce, ainda mais com ela, mas estar sentada naquele banco e simplesmente ouvi-los não foi desconfortável. Pelo contrário. Foi um daqueles momentos em que você fica em silêncio e puramente curti a atmosfera. E se eu pudesse ficar ali, quietinha olhando para seus rostos e sentindo o cheiro de café, ficaria. Acho que posso definir como uma sensação de infinidade. Eles me fizeram sentir assim.



— E então, Quinn? — Ela voltou a falar comigo — O que pensa em fazer após o colegial?



— Eu não sei, ainda. — Me senti totalmente demente ali — Mas, eu gosto de fotografias... Talvez eu trabalhe com isso. No futuro.



— Ah, é mesmo? Bom, pelo menos sei que você faz parte do clube de fotografia por um motivo bem mais sólido que o do Sr. Stalker.



Ela disse apontando para Kurt com o copo de cappuccino. Virei meu pescoço abruptamente, na tentativa de entrar naquele clima descontraído. Ele olhava para ela, tentando conter o sorriso, quase a ameaçando mentalmente. Ele moveu os lábios em um “Cale a boca” e ela riu satisfeita, voltando os lábios ao buraquinho na tampa do copo. Também me virei, encarando o vapor que saia do meu café. Sinceramente? Eu estava confusa. Quero dizer, Rachel era sua namorada, e se Kurt estava no clube de fotografia apenas para ficar mais próximo de alguém, como ela... Então eu entendi. Eles poderiam ser namorados. E ele até podia estar no clube por achar alguém interessante, mas unicamente para fazer ciúmes nela. E pelo visto, deveria estar funcionando. Gostaria de saber se ele aprendeu aquilo, de alguma forma, com a minha irmã. Era tão típico dela.



— Você pode me fotografar, qualquer hora — Rachel falou, assim, do nada, com o copo de café ainda próximo da boca. — Se quiser.



Assenti com a cabeça, sem pensar. Ela repousou o copo na mesa. E sorriu. Foi o mais perfeito sorriso que vi na vida. Kurt que me perdoasse por pensar aquilo, mas, era verdade.

Quando saímos do Lima Bean, já eram umas 20h00 da noite. E na verdade, teríamos continuado por lá, isso se Frannie não tivesse telefonado uns cinco minutos antes, toda irritada comigo, e prestes a me enforcar por ali mesmo, visto que segundo ela, não avisei da minha saída. Tentei lembrá-la que havia dito sim, mas ela não me deu cabimento. Acho que os dois puderam escutá-la, porque, quando desliguei, Kurt já não estava na mesa — tinha ido pagar a nossa conta — e Rachel continuava na minha frente, com as mãos juntas, e um olhar do tipo “Não ligue, ela não vai brigar. Tanto”. Quando voltamos ao carro, Kurt agora ia ao volante, e Rachel ao seu lado, fiquei com todo banco de trás vago. Isso se eu desconsiderasse as revistas jogadas ao meu lado e os pacotinhos de ‘coisas’. Não sei onde Kurt as enfiou quando sentou ali, mesmo assim, bem, me parecia um carro legal. Enquanto escutávamos mais uma das músicas aleatória da rádio — que depois descobrir se chamar “I'm Not Gonna Teach Your Boyfriend How To Dance With You”, e que Rachel parecia gostar. — notei que os dois discutiam ali na frente. Eu não entendi bem o motivo. Ou quando começou. A questão era que, aquela discussão era diferente. Não tinha o mesmo tom de brincadeira de sempre. Eles realmente estavam brigando. Lembro-me de ter olhado para Kurt pelo espelho retrovisor, e notei que ela me viu também, cessando suas palavras naquele momento. Eles ficaram em silêncio daí em diante. E todo o mundo obedeceu também. Se não fosse pelo rádio, e a música alta que escutei quando dobramos uma esquina. Olhei pela janela, tentando reconhecer a rua. Entretanto, definitivamente, eu nunca havia ido naquele lado da cidade.

Quando Kurt parou o carro próximo ao meio fio de uma casa com cerca branca e um quintal infestado de adolescentes aparentemente foras de si, entendi que aquele era o local da tal festa que ouvi os dois comentando na cafeteria. Ficamos estáticos em nossos acentos. Apenas a batida sonora cochando-se contra nossos corpos. Daí ela saltou do carro. Voltei meus olhos para Kurt, na esperança que ele me dissesse algo, mas ele ficou calado. Olhando para o final da rua, como se estivesse esperando o sinal abrir. Quando procurei Rachel com os olhos, quase não a encontrei, até notá-la com um grupo de caras. Acho que, talvez, dois ou três deles eram do grupo de futebol da escola, se não estava enganada. Tinha um loirinho com as mãos para dentro do casaco esportivo, um asiático com o litro de alguma bebida na boca, e outro grandalhão beijando-a. Fiquei sem respirar por uns três segundos. Como Rachel poderia beijar aquele cara? E com Kurt no carro? Eles haviam terminados? Ela fazia isso com os caras que dispensava? Digo, terminava com um e já partia para outro? Eu estava confusa. Tudo estava confuso e desconfortável. Até a pilha de revistas, que havia despencado perto da minha coxa. Ele virou para mim, tomando minha atenção de Rachel e aquele cara, querendo saber onde eu morava.



— Aquele cara, o da festa — Ele começou — Não é o cara certo para ela. Ele é legal, é só que... Bom, não é o certo.



Ele me pegou meio desprevenida. Eu estava desatenta, olhando para os pontos luminosos nas ruas, sem me importar tanto com o resto da vida. Eu sabia que ele não estava disposto em conversar sobre aquilo, e que falou apenas para me tranquilizar um pouco. Sendo assim, preferi continuar como estava. Caso ele quisesse falar mais, falaria. Porém, ele não fez isso.



— Eu... Uhm, eu pensei que ela fosse sua namorada... — Falei baixinha, do banco de trás.



— Como é? — Ele voltou, dentro de uma risada abafada.



— A Rachel... Ela não é sua namorada? Quero dizer, vocês não está se relacionando com...



— Não. Céus, ela não é minha namorada, Quinn. — Ele respondeu, olhando de relance para o meu reflexo no para-brisa, já que estava atento ao tráfego — Olha, lembra quando eu disse que meu pai estava de rolo com outra mulher? E que ela já era mãe? Então.



Meia-irmã. Era isso. Rachel e Kurt não tinham esse tipo relacionamento. Kurt não tentava fazer ciúmes com alguém do clube, nem Rachel era uma vadia que acabava e começava relacionamentos. Eram meios-irmãos. Levei aquela pergunta como retórica, e acabei não respondendo mais nada. Contraí meus lábios, algo como “tudo bem” e relaxei minha cabeça contra o estofamento traseiro do banco. Quando percebi a desaceleração do carro, notei que já passávamos na casa do vizinho, indo em direção à minha. O carro de Frannie estava fora da garagem, e as luzes da sala estavam acesas. Aproximei-me da porta do carro, já com a mão no trinco, — achei que seria melhor da boa noite fora dali — quando senti seu toque em meu ombro.



— Ei, você se divertiu?



— Sim. Muito! Obrigada, você sabe, pela noite.



Ele sorriu, e eu fiz o mesmo. Eu ainda estava meio que me sentindo um peixe fora d’água, mas tentei não transparecer. Abri a porta do carro e desci logo em seguida. Quando pisei na calçada, virei sobre os calcanhares, olhando para o carro. Iria esperar ele sair. Parecia mais educado da minha parte.



— Ah, e Quinn — Ele me chamou. Aproximei-me, flexionando meus joelhos para ficar na altura da janela. Lembro perfeitamente da sua expressão. Dos seus olhos indo e vindo antes de dizer aquilo, após uma busca certa de palavras — Em relação a, você sabe... sobre eu estar me relacionando com alguém? É verdade, eu estou. Mas não é com uma garota. Sam Evan. Time de futebol da escola. Eu sou gay.



Eu gostaria de ter noção de como sou quando fico surpresa com algo. Não sabia se meus olhos ficavam terrivelmente arregalados, meu sorriso ficava trêmulo, ou qualquer coisa do tipo. De qualquer forma, lá estava eu, tentando assimilar o que Kurt havia acabado de dizer. Milhares de perguntas rondaram minha cabeça, porém, era tarde demais para arriscar alguma. Eu soltei um “uhum” e desejei boa noite, enquanto me aproximava da porta de casa. Quando entrei, graças à minha chave reserva, subi os degraus até o meu quarto e desejei não ter que encarar Frannie. Não naquela noite. Eu tinha muito que assimilar, e levar uma de suas broncas não ajudariam em nada. Graças a Deus, seu quarto estava trancado, com um dos seus pares de pompons na maçaneta, um aviso subliminar de que ela não desejava ser perturbada em qualquer circunstância.

Fechei a porta atrás de mim, e me joguei sobre a cama, ainda com as roupas da noite e tudo. Eu não sabia muito bem no que pensar. Perguntei-me como nunca havia desconfiado daquilo. Era novo. Decidi me arrumar para dormir, precisava organizar melhor meus pensamentos, e quando voltei, a última coisa que me veio à cabeça foi seu sorriso. Naquela noite, pensei em Rachel.


Com amor, Quinn.


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Notas finais do capítulo

Volto a dizer, seus comentários são meu combustível para escrever. Assim, por favor, se gostou, deixe sua opinião, que ficarei feliz em lê-la e respondê-la. Deixe-me alegre! E leitores fantasmas, por favor, vamos sair do muro?



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