I Feel Infinite escrita por Mr Brightside


Capítulo 2
Capítulo 1 - 08 de Novembro de 2009


Notas iniciais do capítulo

Fiquei feliz em saber que o primeiro capítulo agradou. Espero que esse também agrade. Boa leitura.



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08 de Novembro de 2009

       Querido amigo,

       Minha nova escola parece uma selva. Tudo é muito diferente da escola primária, o que não é tão bom. Eu sei que muitas vezes mudanças são bem vindas, que o novo sempre é atraente aos nossos olhos, mas se estar em um lugar que faz com que eu lembre dos leões que vi na última sexta no National Geographic seja bom, eu não quero “o bom”. Nem as pessoas de lá são agradáveis. Não são simpáticas, e eu passei toda manhã com aquela sensação de estar sendo centro de alguma piada de mau gosto. No primeiro dia eu quase chorei por isso. Minha irmã estuda na mesma escola, o garoto com afro que comentei na última carta também, e Santana. A propósito, Santana não anda sendo tão legal como antes. Mesmo com aquele sorriso que desfila pelos corredores, e com o número absurdo de amigos que conseguiu nesses dias, ela não tem falado comigo. E foi assim desde o funeral. Como havia planejado, pensei em telefonar para ela depois que voltei da psicóloga, mas minha irmã não largou o telefone por toda noite. Acho que ela estava brigando com o novo namorado, não sei bem. Após o funeral, vi que ela ia voltar para casa sozinha e ofereci uma carona. Ela aceitou. E foi isso. Não conversamos, ela ficou todo percurso ao meu lado sem trocar uma palavra, apenas virada para a janela. Olhei para o seu reflexo e depois para o campo alaranjado com o fim da tarde por trás dele. Ultimamente, ela tem agido como uma idiota. Vive com blusas justas, micro saias e quando me vê no intervalo de uma aula para a outra, simplesmente passa como se eu fosse invisível.

       Se bem que, talvez, eu fosse mesmo invisível. Ninguém em todos esses dias tem falado comigo, com exceção da minha irmã e do Will. E acredite, é ainda pior no refeitório. Gosto da forma que os “grupinhos” se dividem em mesas, realmente parece algo organizado, mas é um pouco deprimente saber que em nenhuma delas eu me encaixo. Você deve pensar que eu realmente não tenha tentado me socializar, e tenho que confessar que o meu esforço não é tanto assim. Eu não sei, todos parecem tão ocupados com as próprias vidas, se os cabelos estão devidamente sentados em suas cabeças, ou até mesmo se o cara dos sonhos está te olhando discretamente do outro lado do refeitório, que não tenho muita coragem de arriscar.

       Oh, desculpe. Acabo de reler e percebi que não comentei sobre o Will. Inclusive, ele me aconselhou uma vez a melhorar minha narração, que muitas vezes eu acabo perdendo o rumo e entrando em outros assuntos. Prometi a ele melhorar, mas pelo visto, não foi nessa carta que consegui. Pelo menos, não até agora. Bom, Will é o meu professor de literatura. Todos na sala o chamam de Mr. Schue, e eu também me dirigia a ele assim até nossa aula na sexta, onde ele pediu para falar sobre a minha narrativa e de como eu tinha jeito para isso. Eu fiquei lisonjeada, quero dizer, nunca fui de receber elogios e vindo de alguém como ele me deixava um pouco envergonhada. Will era um cara legal. Perguntou sobre o que eu estava achando do colégio, se eu tinha algum familiar por aqui, e eu respondi que tinha a minha irmã mais velha. Depois ele voltou a perguntar sobre a escola, na verdade, naquele momento eu percebi que tive a deixa para sair de sala e ir para o refeitório. Antes, porém, ele pediu que eu o chamasse de Will. Basicamente, o Will foi o meu primeiro amigo. O que era um pouco deprimente.

       Acho que ainda não contei, mas agora participo do clube de fotografias. É uma aula extracurricular, ou seja, no fim não vale muito além de alguns pontos extras que eu nem sei exatamente para onde vão. Na verdade, essa foi a melhor forma de socializar com os outros alunos depois do jantar que tive com a minha irmã no sábado.

       — Então, Quinnie? Gostando do colégio? — Papai estava como um perfeito patriarca na nossa mesa da sala de jantar enquanto batucava seus dedos no jogo de mesa. Seu prato estava vazio porque ele não gosta muito de salada. Eu sempre fui mais parecida com ele do que com a minha mãe, mas eu até gostava de salada. Mamãe era ótima com qualquer prato.

       — Uhm, sim. — Respondi um pouco ambígua. Talvez fosse culpa da alface que mastigava antes que continuar — A escola é legal. Tenho um professor de literatura que é muito gentil.

       — Quem? O Mr. Schue? — Perguntou Frannie que estava sentada no lado oposto ao meu. Não entendi o motivo daquela sobrancelha arqueada, ainda mais porque ela parecia distraída com o celular por baixo da mesa. Devia estar continuando com a discussão com o namorado por SMS. Afirmei movendo a cabeça — Todos no colégio sabem que ele é gay.

       — Mesmo?

       — Aham. Lembra-se do Evan? O loiro judeu que namorou comigo no ano passado — Lembrava-se dele. Ele era legal, bonito e vivia bajulando minha irmã com vários presentes. Mas isso não sustentou o relacionamento dos dois por muito tempo. Eu nunca entendi o motivo que deu fim ao namoro, ela simplesmente chegou em casa naquela noite e foi ao meu quarto com o urso que Evan deu para ele há mais ou menos umas duas semanas “Você quer, Quinn?”. “Mas o Evan não te deu isso?”, perguntei. “Deu, mas eu não quero mais. Nós acabamos”. O urso continua no meu quarto.

       — Ainda quando namorávamos, ele disse que viu o Mr. Schue saindo de uma dessas boates gays do outro lado da cidade com um cara — Replicou minha irmã enquanto movia o garfo em movimentos circulares.

       Eu revirei meus olhos. Independente de o Will ser gay ou não, não deveria ser ocupação dos outros ficarem comentando. Ou pior, fazerem gracinhas com isso. Eu me perguntava como o Evan sabia daquilo. Quero dizer, se ele viu o Sr. Schue sair da boate, ele não estaria lá também? Conti meu riso enquanto arquitetava essa teoria.

       — Quem é gay? — Perguntou mamãe enquanto saia da cozinha com uma travessa de vidro entre as luvas de calor.

       — O professor de literatura da Quinnie. Muito gay! — Enfatizou minha irmã com uma risadinha. Eu não gostava da forma que ela falava. Não do fato do Will ser gay ou não, na verdade, eu não via problema nisso. A questão era o tom sarcástico que ela usava.

       — Oh, ele deve ser realmente gentil — Disse mamãe enquanto sentava-se ao lado de papai na mesa — Aproposito, querida, está gostando de lá?

       — Eu já fiz essa pergunta antes — Disse meu pai com o tom de voz um pouco cansado. Ele devia ter trabalho bastante por todo dia.

       — Não, tudo bem — Eu detestava discussões, ainda mais quando eram as dos meus pais. Não me entenda mal, eles não brigam com tanta frequência. Geralmente só antes do Natal, quando a família da minha mãe vem aqui para casa e todos ficam estressados. Até eu já fiquei algumas vezes. Mas no fim, acabamos esfriando a cabeça após a ceia e tudo volta ao normal — Tudo é muito novo por lá. Não é ruim, mas é muito diferente da minha antiga escola.  

       Frannie voltou a arquear as sobrancelhas com aquela expressão de repreensão a alguma coisa que eu havia dito. Abaixei meus olhos um pouco confusa. Após o jantar, minha irmã e eu fomos para o seu quarto. Ela queria conversar comigo, o que foi surpreendente. O quarto de Frannie continuava impecável como sempre, exceto pela pilha de “coisas” no assolha que eu não consegui identificar a primeira vista. Depois reconheci alguns formatos de coração e percebi que eram os presentinhos que ela ganhou do último namorado, na qual estava discutindo desde o começo da semana. Minha irmã sempre foi tão má com os namorados, e mesmo assim eles simplesmente a idolatravam. Sentamos em sua cama e ela logo começou com toda uma discussão de como eu deveria me portar de agora em diante, que deveria tentar me enturmar porque assim teria como me proteger daquelas pessoas que geralmente pegam no pé dos calouros. Eu fiquei um pouco, mas tentei não transparecer. Frannie até sugeriu que eu tentasse entrar para a equipe de torcida, onde ela era capitã. Teria seletivas na terça e soube que a Santana tentaria participar. Meneie a cabeça diante da ideia. Líderes de torcida? Acho que não. Ainda mais agora que Santana e eu não estávamos agindo como antigamente. Eu já estava um pouco cheia daquela conversa, então tentei dissipar aquela ideia de torcida e prometi me inscrever em alguma aula extracurricular. Frannie parecia satisfeita. E eu sorri, porque sabia que minha irmã estava sendo legal novamente.

       O clube de fotografia parecia o mais apropriado, e eu sempre gostei disso. Quando era mais nova e papai não estava vendo, eu pegava sua câmera antiga e fazia meus próprios estúdios de fotografia com as minhas bonecas. Era algo bastante lúdico, geralmente tinha alguma história de princesas como tema. Eu amava aquilo. Ainda tenho algumas fotos das vezes que fiz “A princesa e a ervilha” e acabei deixando mamãe chateada por ter sujado algumas fronhas que ela havia terminado de lavar.  

       O clube faz reuniões sempre após as aulas, e hoje foi a primeira. Assim que as aulas acabaram, peguei minha bolsa e fui para o outro bloco, onde as aulas eram realizadas. Alguns alunos já estavam em sala. Um número razoável, devo acrescentar. Fiquei um pouco insegura enquanto procurava um lugar, e acabei sentando ao lado de uma garota oriental com estilo gótico que mexia em uma câmera descartável. Ela não parecia tão interessada, na verdade, acho que ela estava assim como eu: tentando evitar grandes contratempos.

       Com o decorrer da aula, conheci alguns outros alunos. O que foi inevitável já que a professora fez questão que cada um dissesse seu nome e sua turma para o resto da turma. A tal oriental falou seu nome em um tom de voz tão baixo que tive que me esforça para entender pelo menos o fim da frase, mas foi inevitável. Depois foi a minha vez “Meu nome é Quinn. Uhm, sou caloura”. Acho que escutei alguns assobios quando terminei de falar, mas estava muito envergonhada para checar. Depois foi a vez daquele garoto risonho e com um ótimo senso de modo, em minha opinião. “Como se ninguém me conhecesse” ele disse rindo enquanto levantava-se da cadeira e subia sobre ela em um ato descontraído que rendeu algumas risadas por toda sala. Inclusive a minha. “Kurt, ladies e gays. Oh, segundo ano”. Outra dose de risadas. “Kurtladie”, alguém disse do fundo da sala, atraindo olhares furtivos em sua direção e depois para Kurt. “Ora, não expresse tanto seu amor por mim, Matt”, foi o que ele disse antes de descer da cadeira. Aquele garoto era realmente divertido. Fiquei me perguntando se tanto senso de moda e de humor realmente espelhava na boa pessoa que ele aparentava ser. Seria bastante agradável voltar a usar a palavra “amigo” com mais frequência.

Com amor, Quinn.


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Notas finais do capítulo

Desde já, muito obrigado a todos que leram. E novamente, reforço que a opinião de vocês é muito importante para a continuidade da fic.



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