O Distrito 9 34 escrita por Math25771, Hikari


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito por ReynaPotter



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Acordei ensopado de suor e ofegante, como se tivesse acabado de correr em uma maratona.

Mas que sonho era aquele?

Arranquei o cobertor de cima de mim e fui direto para o banheiro lavar meu rosto com água gelada. 

Era para ser um dos invernos mais rigorosos e era para eu estar com umas trezentas e dez blusas de frio mais uma toca e mais vinte camadas de meias no pé e luvas nas mãos.

Porém, eu não sentia frio. E sim calor. Muito calor.

Estava usando uma bermuda e só. Uma daquelas bermudas de ir para a praia. Meu colega de quarto me considerava um louco e desmiolado para usar aquilo numa estação como aquela. O que não chegava tão longe da verdade.

Apalpei-me e ainda me vi gosmento, com o suor frio impregnando meu rosto, estava tão melado que não podia nem me movimentar direito.

Ainda estava atordoado com o sonho.

Ou devo dizer lembrança?

Olhei para o espelho e para meu rosto cansado, juntei as mãos e enchi-as de água e me molhei, tentando tirar a sensação de desconforto do meu corpo.

Era como se eu ainda estivesse lá, naquela floresta sendo perseguido por passos apressados e pesados.

Revivendo o que havia acontecido há alguns minutos atrás, naquele mesmo dia.

Saí para a sacada para tomar um ar fresco, podia ver a minha respiração densa no ar e não pude resistir e estremeci. Não de frio, mas sim de medo.

O que estava acontecendo comigo? Eu não sei. 

Pelo menos, fingia não saber.

Eles haviam me levado de meus pais, da minha família, separando-me de tudo o que tinha.

Levaram-me para o desconhecido, onde vagueei sozinho tentando entender o porquê daquilo ter acontecido.

Em vão.

Disseram-me o que eu realmente era. O que meus pais não me disseram – ou não tiveram a coragem de dizer – desde quando era menor.

Além de terem me privado de vê-los ou fazer qualquer contato com eles, me levaram a um distrito que mal eu – ou qualquer um - sabia existir.

E depois de alguns anos, me levaram a uma escola. Uma estranha escola.

Lembrava-me das fotografias dos livros de história, da época anterior aos Jogos Vorazes.

Antes mesmo dos Dias Escuros.

Ou seja, aquilo era bem antigo.

Muito velho.

Mais velho do que o Presidente Snow.

E todas as descobertas que havia feito; todas as pesquisas que tinha me empenhado; tudo que me esforçara para fazer a fim de escapar dali?

Foram jogados fora.

Claro, às vezes levavam-me de volta, me deixavam na casa onde me instalaram e cuidavam de mim.

Quer dizer, cuidavam no princípio deles.

Devo admitir, prefiro muito mais estar internado naquela escola misteriosa, do que ficar enfurnado dentro da casa.

Não exatamente enfurnado.

Eles bem que insistiam em me fazer sair, conhecer novas pessoas e me adaptar naquele lugar.

Porém, eu não queria.

Está certo, existiam pessoas como eu por ali.

Pessoas que realmente me aceitariam do jeito que sou e das coisas inexplicáveis que conseguia fazer.

Todos faziam atos impossíveis de explicar com coerência (como pessoas flutuando, figuras fantasmagóricas aparecendo do nada, ou até mesmo transformar um lagarto em uma pedra), coisas que eu fazia e que quando deixava isso escapar no antigo local onde morava, todos me olhavam de uma forma que me encolhia e me fazia sentir-me indesejável por todos e tudo.

Por eu ter visto aquilo e por ter presenciado como ficavam felizes e orgulhosos ao demonstrar para os mais velhos que sorriam e batiam em seus ombros em forma de parabeniza-los, fiquei encantado. 

Na primeira vez que notei isso, finalmente me senti em um lugar onde eu me encaixava. Onde eu podia viver sem aqueles olhares fumegantes que me eram direcionados.

Apesar de tudo, sentia que algo estava errado.

Nunca existiria um lugar assim... Por simplesmente existir.

Algo iria acontecer.

Ignorei isso, na época, e ao invés de sair e me enturmar, fiquei preso na área que me tinham designado.

Com o passar do tempo, cheio de fracassadas tentativas de fuga, decidi ceder.

Descobrir o que aquele lugar realmente era.

Caminhava sozinho por ali, nas sombras, e observava.

E o que descobrira?

Não havia uma mísera pessoa na qual era... bem, normal.

Sim, aquelas pessoas – todas elas – eram como eu. Eram... Bruxas.

Pelo menos, fora o que me disseram.

Podia vê-los desvendar novas formas de “brincar” com suas – como poderia descrever aquilo? Hm. – mágicas. 

É, sem nenhuma preocupação aparente.

Cada dia que se passava, eu me sentia mais aflito.

Mais aflito de não conseguir sair dali.

Ok, eu gostava do lugar. Gostava de poder ter encontrado o meu lugar.

Mas queria minha família de volta.

Não me encarem como se eu fosse um bebê chorão, sério. O que você faria se estivesse no meu lugar? Se descobrisse, de uma hora para outra, o que você nunca havia ao menos pensado ser e levado, sem explicação nenhuma, para um lugar completamente desconhecido?

Queria voltar para meu distrito, o distrito 2.

Talvez ele não fosse o melhor distrito de todos, talvez meus pais não me tratassem como uma criança normal, e talvez a única pessoa que me aceitava era meu irmão menor, Frank.

E era exatamente por isso que queria ir para lá, para cuidar dele e conforta-lo.

Haviam se passado quatro anos desde que me trouxeram para cá.

O dia da colheita estava chegando. Sabia disso.

E ele havia alcançado a idade para participar do sorteio. Se meus cálculos estiverem corretos.

Na verdade, aquele seria seu primeiro ano.

Ah, como havia dito, me levaram a uma escola.

A escola?

Hogwarts, ela se chamava. A única escola de magia e bruxaria do mundo todo.

Disseram-nos para não nos preocuparmos, lá iríamos aprender tudo o que precisássemos e conhecer mais um pouco de quem éramos.

Desde quando chegara, não podia fazer nada para impedir, e até que havia gostado da escola. Gostado muito.

Absorvia tudo que me era ensinado, fazendo o máximo para compreender e me empenhar.

Tinha esperanças de conseguir algo, algo muito importante para mim, algo que mantive em segredo.

E consegui, consegui achar um jeito, de alguma maneira, para poder vigiar minha família, mesmo de longe.

E um dia, quando voltava da aula descobri que meu irmão havia sido escolhido. 

Que ele seria o próximo tributo.

Flashback On.

Respirava fundo tentando me acalmar.

A aula de poções era muito entediante. A matéria que menos gostava.

Depois de ter fechados os olhos três vezes e quase desmoronado da cadeira quatro vezes, decidi fazer algo para me manter acordado.

E por isso, no meio dela resolvi bisbilhotar no meu novo aparelho que havia descoberto e “pegado emprestado” do armário da sala de poções.

Está bem, talvez poções não fosse a pior das matérias... Aliás, fora com ela que encontrei o meu instrumento, a melhor coisa que já tinha, uma vez na vida, achado.

Vasculhei discretamente a minha mochila e achei aquela tela tão familiar. Sorri. Estava prestes a vê-los de novo.

Não me importei pelo que o professor pensou quando me viu mudar subitamente de animação.

E assim como a empolgação havia chegado abruptamente, o desespero e a frustação também vieram.

Aquela mesma cena estava se repetindo, a cena da colheita.

E meu irmão estava lá na frente, como tributo masculino.

Comecei a tremer de raiva, de pavor de algo acontecer a ele.

Não consegui me concentrar nem um pouco pelo resto do dia.

Flashback off.

Sacudi a cabeça, tentando espantar aqueles pensamentos mórbidos.

Fazia mais de um ano desde aquele dia, o dia em que tentei resgatá-lo.

Lembrava-me da última vez que o vi. Dos seus olhos arregalados e assombrados enquanto ele só podia me encarar sem poder fazer mais nada.

Algo estava atrás dele, algo - ou alguém – que eu não podia enxergar.

Quando meus membros voltaram a se mover era tarde demais.

Ele havia ido.

Seu corpo jogado brutalmente no chão, a luz brilhante presente em seus olhos instantes atrás, se apagando até virarem duas fendas sombrias e sem vida, a esperança esvaindo-se, apagando-se lentamente e só me deixando ver duas órbitas vazias.

Meu irmão, meu único irmão.

Havia sido morto nos jogos. 

Meu irmão mais novo, o único que não me via como um monstro, uma aberração, que costumava me ajudar quando ninguém estava por perto.

Frank, aquele garoto que havia ficado quatro anos sem ver, e depois, quando finalmente nos reencontramos... ele se vai.

E eu, quando tentara o ajudar e retribuir o que ele fizera por mim, havia apenas piorado a situação. 

Sabia que eu não podia interferir.

Regras, isso é o que me impediam.

Mas quem que obedece a regras? Eu digo que não. Confesso, declaro em alto e bom som.

E nisso, não sabia que me traria tantas consequências.

Não podíamos desafia-los. Nunca.

Outra maneira deles demonstrarem seu poder e imponência era tirando aqueles que você mais amava.

No meu caso, minha única família que restara.

Nós, afinal de contas, éramos proibidos a participar dos jogos, eles sabiam que iríamos vencer de primeira com a ‘pequena’ vantagem que temos em nosso favor.

E naquele mesmo momento, queria ter sido eu quem houvesse morrido, e não meu irmão. Que fosse eu no jogo.

Queria que fosse eu que fosse apenas um mero... humano, ou digamos, trouxa, qualquer, sem magia, sem nada. Apenas a esperança de um dia ser melhor - como Frank.

Abaixei minha cabeça, recusando-me a ter relembrado daquilo, e ao fazê-lo vi os nós dos meus dedos brancos do tanto que apertava com força na grade em que me apoiava e que servia como "tela protetora" para que não escapássemos. Eram a prova de feitiços, malditos sejam.

Já havia escapado uma vez, e eles não deixariam que eu escapasse de novo.

Tudo o que queria era sair dali. Poder vingar meu irmão, poder saber quem era aquele imprestável que fizera uma coisa tão imperdoável como aquela.

Se bem, que olhando por outro lado, todos ao meu redor eram suspeitos. Aqueles que vieram de lá.

Uma gota úmida e salgada molhou minhas mãos e tirei-as imediatamente de onde estavam pousadas, levantei meu rosto e fixei meu olhar na lua que resplandecia no céu acima de mim.

Aquilo iria acabar.

Algum dia.

Era o único fiapo de esperança que poderia ter.

Viro-me dando as costas para meu pesar, não tinha tempo para tais sentimentos no lugar onde, para mim, estou preso.

Eu vou esperar.

Mas não asseguro que aguentarei por muito tempo.

Só me sobram aprender e aperfeiçoar tudo que me é apresentado.

Quando chegar a hora...

Não vou falhar dessa vez.

E nem eu mesmo podia esperar pelo que viria em seguida.

Minhas suspeitas estavam corretas.

Eles tramavam uma coisa.

Oh sim, e era grandioso.




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