Riley apoiava sua cabeça nas mãos e mexia com o pé sob a carteira, incapaz de segurar sua ansiedade. A professora de Inglês explicava algo sobre pronomes relativos, mas a atenção da garota estava completamente focada nos ponteiros do relógio de parede, que pareciam se mover tão devagar. Na sua cabeça, ela traçava de novo e de novo o caminho mais rápido para sua casa.

“Tenho que chegar a tempo de recepcionar a equipe medica com a minha mãe. Suzana não vai ser capaz de fazer tudo sozinha,” pensou. E logo foi tomada por diversos outros pensamentos. Já sabia que sua mãe tinha tomado alta do tratamento intensivo no hospital, e os dois meses passados foram duros para a família. Especialmente para a filha mais velha, já que a renda e as despesas eram pagas principalmente por Riley. Suzana, de 15 anos, se inscrevia para todos os sorteios de revistas, e já havia até ganhado alguns prêmios, como os legumes da Vegan Magazine.

E seu pai, pensou, mais do que nunca teve que enfrentá-lo para conseguir melhor suporte. “Desde que ele largou a mamãe e se mudou para Hiroshima, nunca mais se importou conosco, exceto pela mensalidade do aluguel.” Em fato, Riley havia tomado a decisão de ir até o apartamento de seu pai, num dia chuvoso e cinzento, e ser recebida pela sua madrasta, apenas alguns anos mais velha que a adolescente. Mas valera a pena. Saindo de lá as duas da manhã, porém com um sorriso vitorioso no rosto, ela havia finalmente convencido seu pai a pagar o atendimento domiciliar. “Por dois meses, mas pelo menos já é alguma coisa.”

E ainda tinha sido convidada por Hanna, sua melhor amiga desde que entrara no Colégio Seika, para ir ao shopping com algumas amigas novas. Ela ficou triste em pensar que sua amiga estava saindo cada vez mais com o pessoal popular, mas logo se corrigiu. “Hanna está certa. Ela não pode ficar esperando por mim, principalmente agora que minha vida está tão corrida.” Riley teve que recusar, é claro, mas logo explicou tudo a amiga.

O sinal tocou estridente de súbito, e Riley pegou sua bolsa escolar e foi a primeira a sair correndo pela porta. Desviou da multidão de alunos que saia das classes, desceu escadaria abaixo e chegou ao térreo rápida como um raio de cabelo negro esvoaçante.

Os alunos populares da escola, a maioria jogadores de rúgbi e líderes de torcida, sempre se reúnem com seus grupinhos perto do jardim do colégio, no portão principal. Riley passou sem nota-los, como sempre fazia, e dobrou o seu caminho a direita do portão. Nesse momento, ela nem vê os dois garotos que conversavam num canto, e acaba esbarrando feio em um deles. Ela fechou os olhos, esperando pela dolorosa queda, mas ao invés disso sentiu dois braços fortes agarrando-a.

– VOCÊ FICOU LOUCA, GAROTA?! - Dimitri Walker, com seu cabelo extremamente loiro espetado e a camiseta do uniforme aberta até a metade, estava caído no chão, e gritou furioso. - PERDEU A NOÇÃO DO PERIGO, FOI?!

Enquanto ela se reerguia, de tanto estardalhaço que Dimitri fez ela até perdeu a vontade de pedir desculpas. Enfrentou-o, e o fez calar a boca.

– Argh, pensei que talvez os jogadores de rúgbi fossem um pouco mais resistentes!

O garoto atrás dela, que ainda mantinha uma das mãos em seu braço, limpou a garganta.

– Ah, sim, desculpe Ward. – ela disse, virando-se sem olhá-lo nos olhos. – Você é resistente. Obrigada.

– Não há de quê. – Ward, o garoto alto e esguio, respondeu enquanto a via recomeçar a correr em disparada pela calçada. Ele observou-a até sua sombra sumir, ao dobrar a esquina.

Dimitri, recompondo-se, começou a reclamar.

– Mas que sem-noção! Nenhuma garota seria estúpida o suficiente para me responder!

– É cara, essa garota é diferente... – e escondeu do amigo um sorriso no canto do lábio.