Ela não fazia ideia de como tudo acontecera. Sequer acreditava que havia chegado àquele ponto. Agora, estava lá, sentada no chão, fria e sem reação.

Suas mãos tremiam; um suor gelado e pegajoso, misturado com álcool e algum tipo de bebida exótica, escorria de seu rosto; e um cheiro de perfume barato, misturado ao seu próprio perfume refinado, invadia suas narinas lhe deixando com náuseas, não só porque a combinação era horrível, mas também porque lhe trazia péssimas recordações.

Sentiu ainda gosto de sangue na boca, e descobriu que perdera um dente. O que não era muita coisa, afinal. Pois ela acabara de perder algo muito mais importante, e pelas próprias mãos.

Esticou o braço e pegou a garrafa de champanhe da mesa para dois. Tomou o que sobrara e olhou para o que segurava na outra mão. Não era nada que combinasse com ela, mas fora sua salvação. As costas ainda doíam do baque com a abençoada estante e a palma da mão que segurava aquele instrumento da morte ardia. Ela não se arrependia de nada, porém. A garganta inflamara e doía, mas tudo o que fora dito, gritado e berrado de forma intermitente era verdade.

Só que ninguém a entenderia. Seria julgada pelo seu ato reflexivo.

Guardou então a arma e começou a arrastar com esforço o corpo do marido para a cozinha, onde apagaria de uma vez por todas a existência daquele que um dia lhe fizera feliz.