Taiyou estava sentado de baixo de uma árvore que começava a sentir os efeitos do outono chegando, uma mistura de verde e amarelo escuro era vista nas suas folhas.

Esse lugar era um pouco distante da vila, nem mesmo o som das marteladas da reconstrução da vila, ou mesmo das pessoas era possível ser ouvido. Em frente à mesma árvore, havia algo que lembrava um túmulo, era feito de galhos de arvores, mas nele estava enrolada uma pulseira, igual a que o garoto usava.

— Já faz quase dez anos, não é? — Taiyou falou para si mesmo. Depois ele pegou algo na cesta que estava ao seu lado esquerdo, junto da espada de ferro negro que ele carregava.

O garoto tirou um sanduíche da cesta, desembrulhou do papel que usou para conservar, e então começou a comer. De vez em quando ele olhava para a pulseira em seu pulso, que Mitty tinha lhe dado aquele dia.

— Acho que não consigo fazer nada certo, nem mesmo proteger quem está ao meu alcance eu consigo...

— Eu não acho isso... Você apenas continua o mesmo bobo de sempre! — Disse a voz de uma criança com um tom de risada.

— MITTY!? Como? — Apesar da rápida aparição dela enquanto estava preso com a Tsuki, Taiyou ainda jurava que foi apenas uma alucinação de sua mente. Ela estava usando um vestido rosa simples, mas com alguns babados no fim.

— Hummm... — A garota de cabelo rosado colocava o dedo indicador sob o queixo, sinal de que estava pensando. — Eu não sei! Mas olha, sua pulseira ta brilhando, isso deve ser algo, não é? — Ela se sentou ao lado de Taiyou.

— Erh... Esse mundo é realmente estranh... — Taiyou estranhou a Mitty, que estava olhando para ele sem ao menos piscar, os olhos da garota pareciam brilhar. — O-O que f-foi?

— Você se tornou um belo garoto! Estou orgulhosa do meu querido Taiyou! — Disse Mitty emocionada, parecia que ia chorar.

— E-Eu... Não... — Taiyou ficou vermelho. — E você está à mesma de sempre. – Ele brincou.

— Pelo jeito você continua o mesmo cabeça dura e insensível de sempre! Hunf.— Suas bochechas se encheram e ela cruzou os braços.

— Ei! Não precisa me chamar ass... Mitty... — Ele foi interrompido, a garota tentou abraça-lo, mas não podia sentir o seu toque, apenas um calor confortável vindo dela. Ele estava feliz.

— Você não pode mais ser meu... Tem pessoas que você deve proteger... Mas... Eu quero sempre ficar em seu coração. — A garota continuava na mesma posição.

— E desde quando você saiu dele? – Taiyou respondeu com um sorriso.

— Eu sei... Bobo! – Mitty parecia se sentir confortada com aquelas palavras, mas por fim, ela começou a derramar lágrimas. Algumas chegam a molhar Taiyou.

O brilho da pulseira foi lentamente se apagando, e o mesmo acontecia com Mitty. 

— Eu vou ficar de olho em você, não faça nada de errado! — disse a garota, restando pouco tempo.

— Sim... Eu... — Taiyou tentou passar a mão no lugar onde Mitty estava, mas não havia mais nada que pudesse ser tocado — Acho melhor eu ir logo.

Taiyou se levantou, colocou a bainha da espada de ferro negro em suas costas e depois se virou para pegar a cesta que tinha colocado em seu lado. Mas antes que pudesse tocar nela, ele percebe alguém ali próximo, estava atrás de outra árvore, porém de menor porte.

— Hm? ...Tsuki? — Perguntou Taiyou desconfiado.

— Ehk! Ah... Taiyou, v-você também estava a-aqui? N-não era pra estar no rio pescando com a Kitty? — Perguntou Tsuki desconsertada, depois de sair de trás da árvore, provavelmente tinha visto o que aconteceu ali com Taiyou.

— Ah, bem... Depois de a Kitty me humilhar na pesca, eu disse que ela podia voltar para casa, e vim fazer umas coisas. — O garoto disse sem jeito, ele olhava de leve para o túmulo a sua direita.

— “Ah não! Porque eu fui me encontrar logo com ele? O que eu faço? O que eu faço?!” — Tsuki estava perdida em seus pensamentos.

— Erh... Tsuki? Você está bem? — Taiyou perguntou enquanto se aproximava dela.

Depois de ser chamada pelo amigo, Tsuki acordou, mas se assustou.

— Kyah! — No desespero, ela deu um soco em Taiyou, que sem entender nada, acaba voando para a árvore onde ele estava — “Essa não! Porque eu fiz isso?” — Seu coração batia acelerado.

— Ai! Você tem uma força nessa sua mão, viu! Mas o que eu fiz de errado? — Perguntou Taiyou tentando se levantar.

— M-Me d-desculpe! — A garota foi até Taiyou, que ainda estava deitado, e vê que acabou machucando a mão esquerda dele — U-Um ferimento, deixe que eu cuido dele.

— Você não precisa... Tá, tudo bem. — Ele desistiu de falar depois que Tsuki já começou a enrolar um lenço branco que ela tinha em sua mão. Enquanto ela fazia isso, ele passou a olhar para o rosto dela, e acabou notando algo diferente nela.

— O que foi? — Perguntou Tsuki, ao ver que Taiyou estava olhando para ela. Seu rosto estava começando a corar.

— Você... Estava chorando?

No susto, Tsuki, que já estava amarrando o curativo, acabou apertando demais a mão de Taiyou, o fazendo gritar de dor.

— N-Não mesmo... E-Eu d-devo não ter e-enxugado o m-meu rosto direito... Porque eu estaria chorando? — Ela tentou se levantar depois disso, mas Taiyou a segura seu braço.

— Sei... — Ele a puxa para perto de seu rosto — Essa foi a pior desculpa que já ouvi, lágrimas são diferentes... — Disse enquanto limpava o rosto de Tsuki com o seu polegar.

— E-E... E-Eh... N-Não... E-Eu... — Tsuki ficou totalmente sem jeito, não falava nada direito, suas bochechas ficaram muito vermelhas, seu coração batia mais forte, e tentava procurar um lugar para olhar, ao invés do rosto do garoto.

— Então? Não vai me dizer?

— Tai... Esse é o túmulo da Mitsuki? A filha da Hikari-San? — Procurando por algo, ela viu o túmulo ali perto e perguntou.

— Hm... Sim, eu que eu fiz. — Taiyou soltou o braço de Tsuki.

— Entendo... Ela era muito especial para você?

— Muito. — o garoto respondeu de forma simples.

— Talvez isso explique o porquê de ser diferente dos outros garotos. — Tsuki disse em um tom mais baixo, seu coração tinha se acalmado.

— Você disse algo? — Taiyou estava distraído pegando a espada e a cesta que estava no chão.

— Não disse nada! Hihi! — Tsuki riu, e também se levantou.

— Você está estranha, tem certeza que está tudo bem? — o garoto ainda pergunta desconfiado.

— Eu já disse! Não é nada... Seu... Seu... Ta-ra-do! — A garota foi andando na frente, deixando Taiyou para trás.

—... Ei! Porque você sempre me chama assim!? E eu nem fiz nada! Me espere! — Taiyou parecia estar falando sozinho, ele foi atrás de Tsuki, mas para por um momento e olha para trás.

O garoto voltou para a árvore em que estava, mais precisamente, em frente ao túmulo de Mitty.  Ele procura por algo dentro da cesta e tira. Era um dos sanduiches que ele tinha comido antes, em seguida o põe em cima de um prato pequeno.

— “Quase me esqueci. Mas eu prometi que te faria algo da próxima vez, não é?” — Pensou Taiyou enquanto colocava o prato em frente ao túmulo. 

— Vamos Tai! Você é muito lerdo! – Gritou Tsuki, ao perceber que o Taiyou ainda estava parado.

— Estou indo! – Ele respondeu, mas antes de começar a andar, pode ouvir aquela voz doce.

— Obrigada Tai! Certamente está delicioso! Agora vai, tem alguém “especial” te esperando. Fufufu!

— Sei...  — Taiyou correu para alcançar Tsuki.

Mitty continuava sentada em um dos galhos daquela árvore observando os dois irem embora juntos.

— Certamente... Ela é muito especial...