Aquela estava sendo a melhor noite até então. Finn e eu estávamos completamente envolvidos um com o outro na minha barraca (Santana havia ido dormir com Sugar mesmo eu não tendo pedido pra ela. Imaginei que Kurt tivesse explicado a situação para ela ou algo do tipo. O que importava é que ela não estava ali). Sinceramente, eu sentia que jamais conseguiria sair de seus braços.

O momento ia de perfeito a surreal quando escutamos um grito. E mais outro, e outro, da mesma pessoa. Finn na mesma hora largou o que quer que estava fazendo no meu lábio inferior e ficou imediatamente alerta. Tentei acariciar seu rosto para fazê-lo relaxar mas ele estava imóvel como uma pedra. “O que foi?”, perguntei.

Ele ficou calado até os gritos cessarem. O acampamento feminino inteiro havia acordado. “Mike. Esses gritos eram dele.”

Não sabia como reagir. Me sentei e fiquei apenas em silêncio considerando tudo o que poderia ter acontecido com o garoto. Será que Mike realmente tinha se perdido pelas florestas? Elas eram grandes mas não tão grandes assim... Finn também se sentou e me puxou para perto de si e me abraçou, enquanto passava a mão pelo meu cabelo e pedia para eu relaxar, que tudo ficaria bem. Não era eu quem devia estar fazendo isso? O amigo não era, afinal, dele? Deixei isso de lado, pensando como Finn era realmente incrível, colocando suas preocupações de lado apenas para fazer eu me sentir melhor.

“Só não faça nenhum barulho...”, ele pediu, para não sermos pegos. Mesmo na presente situação, o que estávamos fazendo acarretaria em consequências.

Naquele segundo, o zíper da porta foi aberto bruscamente, quase sendo rasgado, revelando Santana do lado de fora. “Rachel, Sue está reunindo todo mundo do lado da fogueira. Fique de olho para ver quando todo mundo sair e depois vá rapidamente para lá. Peça para o seu namoradinho voltar para o acampamento dos meninos logo em seguida pelas florestas e só quando estiver lá ir para a fogueira.”, disse para mim, e no final se direcionando para Finn. “Se a minha garota se meter em problemas por sua causa, você conhecerá pessoalmente a sensação de ter os meus dois punhos fechados bem no meio da sua cara, seu desengonçado sem miolos, e eu não garanto que você sobreviverá para contar a experiência. E não pense que por um segundo eu tirarei os olhos de você, saco de batatas.”. Com isso saiu para fora do acampamento.

“Ela é sempre gentil assim?”, ele perguntou, ainda me abraçando.

“Você até que deu sorte... Escuta, Finn, você ouviu o que ela disse. É tudo uma questão de timing.”. Olhei para o lado de fora e vi que as últimas três meninas estavam correndo em direção a trilha. “Eu tenho que ir agora e você... voa para o seu acampamento, tudo bem?”

Ele assentiu e se inclinou para frente, selando nossos lábios mais uma vez. Percebi que Finn estava novamente tenso. “Te encontro daqui a pouco.”

Saí da barraca com ele logo atrás. Ele foi em direção a floresta enquanto fui diretamente para a trilha. Por sorte, ainda haviam muitas meninas na trilha. Coach Beiste estava no meio do tumulto, gritando o mais alto que podia para todos voltarem para seus acampamentos. Ignorando completamente o que ela estava dizendo, todos se moviam o mais rápido que conseguiam para a fogueira.

Quando cheguei lá, desejei que Finn ainda estivesse me segurando, porque eu senti que desmaiaria ali mesmo. Mike Chang, o jogador desaparecido há dias, estava no centro do espaço, recebendo os olhares preocupados e temerosos de todos. Ele estava em péssimo estado. Além do fato de estar muito mais magro que o normal, estava com olheiras enormes e inchadas. Estava imundo de terra, grama e não sei o que mais. Suas roupas estavam rasgadas e o cabelo estava espalhado em tufos sobre sua cabeça, como se ele ou alguém tivesse arrancado-os. E, tudo isso somado com seus olhos que não conseguiam focar em canto nenhum por mais de um segundo e sua respiração que não se normalizava, ele estava com aparência de louco.

O time de futebol e Sam estavam em volta do garoto, tentando acalmá-lo e fazê-lo respirar direito. Não demorou muito até que Sue, Will, Beiste e Figgins conseguissem se desvencilhar dos alunos e chegar ao estudante que havia causado tanto transtorno. Will foi o primeiro a chegar nele.

“Mike, o que aconteceu com você?!”, ele disse preocupado, afagando-lhe o ombro em um gesto de conforto.

O garoto não lhe respondeu e nem demonstrou ter escutado. Seu olhar continuava movendo-se sem parar, como se estivesse procurando alguma coisa que não queria de forma alguma encontrar. Sua boca abria e fechava, algumas palavras pareciam se formar mas som algum saía, apenas alguns ocasionais gemidos ou grunhidos.

“Você não sabe fazer nada.”, reclamou Sue, empurrando Will e se aproximando do garoto. “A única coisa que ele vai fazer agora é receber um banho e ir direto para a enfermaria até voltar a ouvir ou focalizar alguma coisa. E o resto de vocês voltem agora para seus acampamentos!”. Ela acrescentou alguma coisa para o time de futebol que se dispersou todo, com exceção de Puck e Finn (que havia chegado), que eram os mais próximos de Mike.

Não tinha visto que Sebastian estava vindo na minha direção até que ele estava na minha frente. “Não temos a menor ideia do que aconteceu com ele. Parece ter perdido os sentidos mas ainda continuava desperto, sabe? Ele fica sussurrando algumas coisas estranhas e impossíveis de entender, palavras que parecem ser de outra língua. Sue quer que ele descanse.”, ele falou, baixinho, para que nenhum dos muitos alunos em volta ouvissem. “Ela acha que ele pode estar apenas em estado de choque. Ela também acha que ele estava apenas perdido pela floresta. O que nós achamos é que algo muito mais sério aconteceu com ele. Algo muito ruim.”

Assenti. “Coitado desse garoto. Mesmo não tendo a menor ideia do que aconteceu com ele eu me imagino no seu lugar achando que nada a minha volta faz sentido ou mesmo existe.”

Sebastian concordou. “Olha, Rachel, eu tenho que ir para o acampamento. Se Finn acabar voltando eu peço para ele ir ficar com você, tudo bem? Por enquanto deixe ele com Mike, eles são muito amigos.”

“Claro que sim.”. Abracei Sebastian com força, com um sussurrado muito obrigado acompanhado, porque era isso que ele vinha merecendo há muito tempo.

Ele retribuiu o abraço e disse um “sempre que precisar” e foi de volta para o acampamento. Dei uma última olhada em Finn, que estava com a expressão concentrada enquanto ajudava Puck e Will a carregar Mike até os banheiros.

Fui dormir esperando realmente que Mike ficasse melhor. Não apenas porque ele era um ser humano como qualquer outro e que eu deveria apreciar a sobrevivência, mas porque sabia que sua situação afetaria muito Finn, talvez de modo bastante negativo. E eu me importava com Finn.