Mudando o Destino escrita por YoruNoKaze


Capítulo 10
Capítulo 10 - Ad impossibilia nemo tenetur...


Notas iniciais do capítulo

Capítulo mais curto e, na minha opinião, pior que os outros...
Mas me empenhei bastante nele, e espero que gostem.
Boa leitura! ^^



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Cap. X – Ad impossibilia nemo tenetur.../ Não se mantém uma promessa impossível...

"Estava cedo demais para o sol. Aquele começo de manhã que mais parecia um fim de tarde era desanimador. Mas ela acordara entusiasmada, pois era o grande dia. Olhou para a parede, onde pendia um pergaminho desenrolado. Nele estava a imensa lista de coisas que ela devia providenciar. A começar pela aparência. Tomou um longo banho, e depois sentou-se em frente ao espelho. Usando todos os instrumentos que tinha, prendeu suas longas madeixas loiras em um coque complexo, que muito lembrava o arranjo de flores que pousava delicadamente sobre a cadeira de pedra. O bouquet que ela usaria em conjunto com um formoso vestido branco, por ocasião de seu casamento.

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Seu uniforme estava impecável. Deu então um largo sorriso, tão reluzente quanto o metal de sua espada. Estava tudo pronto. Caminhou em direção à porta. Passou por um corredor. O corredor onde tudo acontecera. Lembrou-se dela, quando corria, aquela noite. Lembrou-se de como espantara-se ao ver uma jovem tão bela fugindo tão amedontada. E, animado com tais lembranças, dirigiu-se ao local onde o cortejo o esperava.

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"Está quase tudo pronto", pensava a loira. "Quase". Apenas uma coisa a incomodava naquele dia que deveria ser o melhor de todos. "Ainda dói".  A dor que sentia fez a jovem relembrar-se da ocasião em que conhecera seu noivo. Quando ficou tão desesperada que torceu o tornozelo na corrida. Direcionou sua atenção para o local ferido. Já não havia a marca do hematoma, mas ainda sentia pontadas ao andar. Pegou algumas ataduras. E, para evitar novos tropeços, teve por bem imobilizar e proteger a área dolorida.

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Todos estavam lá. Olhou nos olhos de cada pessoa que o acompanharia naquele evento. Seus colegas, seus superiores, sua família. Todos o aguardavam. Até mesmo seu cachorro, e fiel amigo, o esperava ante a porta de sua nova casa. Unindo-se ao grupo com um novo sorriso, foi em direção à sua felicidade.

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Ela nunca fora tão arrumada à casa de sua mãe. A senhora idosa já esperava seu regresso. Se não fossem seus problemas de visão, agudos o suficiente para impedi-la de afirmá-lo, diria que sua filha estava radiante. Acompanhou-a lar adentro, para a cerimônia da oferenda.
Na cozinha, pratos diversos enfeitavam a mesa. A mãe pegou uma bandeja, e caminhou em direção à lareira. Era uma tradição essencial que os proprietários da casa oferecessem alimentos para o seu deus Lar, o espírito de seus antepassados. Caso contrário, a família seria amaldiçoada até a extinção. Mas naquele dia a jovem se recusou a fazer sua oferenda...

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O cortejo finalmente chegara ao local desejado. O Inuzuka aguardava ansiosamente a aparição de sua noiva. Fazendo parte do cortejo estava toda a nobreza, inclusive Orochimaru e Sasuke, este último já impaciente.
- Sasuke-kun, - sussurrou o homem de aparência ofídica - é tradição que nós compareçamos ao casamento de qualquer um de nossos soldados. Não faça essa cara... esse sacrificiozinho de espera nos dará em troca uma grande popularidade!
Mas o moreno não ouviu. Estava compenetrado demais em seus próprios pensamentos.

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A senhora viúva devia fazer aquilo. Infelizmente, era seu dever. Com um sorriso misteriosamente estranho, acompanhou sua filha até a porta de casa, expulsando-a do lar. Ao olhar para fora, avistou seu futuro genro, e um belo número de pessoas que aguardavam a jovem Ino. Esta, caminhava sorridente em direção a seu noivo. Já traíra seu deus antigo, agora cultuaria um novo. O deus Lar dos Inuzuka. Deixando sua mãe e seus costumes para trás, acompanhou seu noivo, juntamente com o cortejo, até a sua nova casa.

Mas chamou a atenção de um par de olhos intrigantes.

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Chegaram à porta. Uma linda casa, sem dúvida. O noivo sabia que não podia deixar a noiva pisar no solo de seu Lar sagrado, afinal, ela não era da família. Então, seguindo o costume adequado a esse caso, pegou a jovem no colo, e a introduziu à sala de estar. A menina ofereceu seu bolo de casamento, de aveia e mel, como de costume, ao deus dos Inuzuka, e terminados os preparativos, foram até o exterior da casa, convidar o cortejo, que ainda esperava os noivos de longe, para uma festa.
Ao passar pela porta, Ino quase desmaiou. A cena era assustadora.
Aquele que se afastara da multidão em direção aos dois recém-casados era a última pessoa que a Inuzuka queria ver.

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Orochimaru avaliou a situação. Sabia que o moreno não faria nenhuma besteira. Por isso, aguardou o diálogo que provavelmente se seguiria, procurando escutá-lo com atenção.

- Já faz algum tempo, não é, senhora Inuzuka? Lembra-se de mim?
A loira olhou para a espada semi desembainhada na cintura do rapaz à sua frente, e só pôde responder seca e amargamente:
- Senhor Uchiha...
- Vejo que se lembra. Vim lhe dar os parabéns pelo casamento. Ah, e eu lamento pelo seu tornozelo. Deve ter doído bastante enquanto fugia, não é?
- Senhor... -um arrepio tomou conta de Ino- não sei do que me acusa.
- Digamos que... você ouviu o que não devia, e agora guarda um segredo meu.
- De modo algum! Não sei do que se trata, senhor...
- Oras, não se lembra da noite em que ficou bisbilhotando a conversa alheia, e tropeçou, correndo de mim??!?!
- Uchiha-sama! -interveio Kiba, já exaltado- Não fale deste modo com minha esposa! Se ela diz que não sabe, então realmente não sabe. Talvez o senhor esteja confundindo-a com outra pessoa...
- Por acaso, soldado, devo crer que você acoberta esta invasora às minhas costas?
- De modo algum, senhor... só quis dizer que...
- Então não discuta! Nunca subestime meus olhos!
- Senhor... não estou querendo questioná-lo mas... devo pôr em dúvida sua teoria.
- Continue...
- Fui eu quem ouviu tudo naquela noite. -Ino lançou um olhar assustado para seu marido- Sobre o Namikaze, o Uzumaki, e sobre o cerco duplo.
- As coisas estão ficando mais interessantes. Mas ainda não me convencem. Está tentando acobertar a noivinha, assumindo a culpa dela, pois sabe bem qual o castigo a espera, não é?
- Estou confessando o crime, senhor.
A essa altura, o cortejo já achava estranho a demora do ritual. Então, aos poucos, foram se aproximando, um a um, do lugar onde se desenrolava um diálogo muito estranho.
- Pois bem, te darei uma chance de se redimir.
- Estou escutando.
- Pegue sua espada.
O Inuzuka tirou a espada da bainha suavemente.
- Você deve provar sua fidelidade.
Ino abriu os olhos como nunca imaginara que pudesse. O Inuzuka, tomado pelo susto, gritou:
- Senhor!!! Não posso fazer isso!!
- É o preço.
- Senhor, é a minha vida que está em risco!
- Desconheço o motivo do seu espanto. Grande traição, grande punição.
- Mas senhor... Ela é minha esposa!
- Então, terei de tomar a difícil decisão de te punir por ter me traído... -virando-se para o cortejo, que já estava mais próximo, e quase podia ouvi-lo, falou em um tom de voz mais alto- Este homem confessou um crime grave contra o império romano. Ele é acusado de alta-traição, e assumiu a pena merecida!
O cortejo simplesmente não tinha palavras. Sasuke deu alguns passos à distância de Ino, e Kiba o acompanhou. O Uchiha continuou:
- Lex Romanorum est! E sob confissão eu aplico a pena, diante de todos vós, ut fiat justicia!

O cortejo se dissolvia. Que era a lei, todos sabiam. Mas não quiseram assistir o final daquele espetáculo pavoroso. Com um leve aceno de cabeça de Orochimaru, indicando que tal ato era apropriado, Sasuke desferiu o golpe contra o Inuzuka. Destruindo sonhos, esperanças, tudo. Foi aquele golpe. Estava tudo acabado. Para ambos. O silêncio era constrangedor. Muito vermelho. O mundo parara. Era com esses olhos que ela via o pior momento de sua vida.

Com um grito, correu em direção a seu marido. Tomou-o em seus braços como pôde, porém sem levantá-lo do chão. A espada que perfurara o abdomen do soldado deixara um rastro de sangue. Aquele sangue, que agora sujava suas mãos e sua alma... era aquele sangue que a acompanharia por toda a sua existência.
Com esforço, o agonizante jovem sibilou algumas coisas. Ino aproximou seu rosto úmido em lágrimas dos lábios cansados do marido, em tentativa de ouvir o que lhe dizia:
- Ino... eu... me desculpe...
- Não... escute... você não pode me deixar agora... somos uma família, não é mesmo? - Dizia a loira entre os soluços.
- Família... - os olhos de Kiba abriram-se um pouco mais - você...
- Estou esperando um filho seu... e preciso de você agora... comigo!!! - a menina chorava cada vez mais.
- Ino...
- Não... não se esforce... - ela segurava firmemente a mão do Inuzuka - logo chegará alguém para ajudar...
- Ino... não... - Kiba fechou os olhos - cuida dele... promete?
- Claro, claro que cuidarei! - As palavras mal se distiguiam, em meio a tanto pranto - Mas fique comigo...
- Eu... amo... vocês dois...
A Inuzuka sentiu a mão do marido perder a força. Tentou se levantar, mas chorava tanto que não conseguia se manter de pé. Quando finalmente pisou firme, olhou para o corpo do pai de seu filho, abaixo de si. E tornou a soluçar forte, quando notou o semblante calmo do rapaz que parecia dormir e, tal como prometera uma vez, terminava num sincero e doce sorriso..."

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Legenda:
Lex Romanorum est = É a lei romana.
Ut fiat justicia = Para que se faça justiça.

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