Desde que Bella ficou sabendo da doença de seu pai, ela viveu em torno dele. As aulas haviam finalmente acabado, permitindo assim que ela ficasse o tempo todo ao seu lado.

Ele já não ia mais trabalhar, suas forças iam se esvaindo pouco a pouco. Foram ao médico algumas vezes, ele havia dado esperanças. Havia um tratamento, mas era muito caro, e só garantiria mais alguns meses de vida.

Bella estava deitada na cama com Charlie, os dois assistiam a uma peça de teatro na televisão.

- Bella, me prometa uma coisa? - Charlie perguntou com dificuldade.

- Claro. O que deseja? - Respondeu se sentando e encarando seu pai.

- Não desista do ballet. Quando eu não estiver mais aqui, prometa continuar esse sonho.

Bella deu um sorisso fraco, logo seus olhos se encheram de lágrimas. Não conseguia imaginar um mundo sem seu pai.

- Eu prometo pai. - Ela respondeu o abraçando.

Charlie tirou um pedaço de papel dobrado do bolso da calça e entegrou a Bella. Sem entender do que se tratava, ela pegou o papel e o desdobrou. Era uma ficha de inscrição para uma escola de dança, 10 pessoas entrariam como bolsistas.

- Pai, eu não ..

- Shhh - Ele calou Bella colocando um dedo sobre seus lábios. - Por favor.

- Eu só não sei se eu sou capaz. Nunca tive uma boa preparação. Com certeza as meninas da escola de dança do centro...

- Você é muito melhor do que elas. Pode não ter tido uma boa preparação, mas sua sabedoria é natural... Quase como um dom. - Charlie sorriu para sua filha. - Você só precisa dançar um pouco para eles. Agora vá logo colocar esse papel na urna e garantir sua vaga.

Bella não perdeu tempo, depois de dar um beijo na testa do pai, saiu correndo para o centro da cidade. Um estranha felicidade oculpava seu coração.

- x - 

É impressionante o que cindo dias pode fazer com uma pessoa. Charlie havia piorado repentinamente. Reneé estava indiferente com toda a situação. Havia abandonado o trabalho e gastava o pouco dinheiro que havia sobrado com mais bebidas e cigarros.

Bella, ao contrário, estava exasperada. Quando não estava no quarto com o seu pai, vivia pelos cantos, sempre chorando. Não havia conseguido criar uma coreografia, não conseguia nem pensar nisso na verdade.

Depois do almoço, voltou ao quarto de seu pai. Ele como sempre estava deitado na cama. Quando se aproximou, ele abriu os olhos.

- Desculpe, não queria te acordar pai.

- Você.. não me ... acordou. - Disse com dificuldade.

Charlie moveu a cabeça e olhou pro velho relógio pendurado na parede.

- Está.. quase... na hora. - Disse sorindo e voltando a encarar Bella.

Só então que ela se lembrou do teste. Balançou a cabeça e se sentou ao lado do pai.

- Eu não vou fazer. - Disse pegando a flácida mão de Charlie.

- Por... favor - Bella encarou os olhos do pai e viu ali um pedido silencioso.

- Eu não tenho coreografia. - Tentou argumentar.

- Deixe.. a música... te levar. - Bella suspirou derrotada. Deu um fraco abraço no pai e se levantou.

- Prometo não demorar. - Charlie sorriu para filha e a mesma fechou a porta. Pôde escutar os passos dela até a sala, o barulho da porta se fechando e depois tudo ficou silencio.

Charlie sabia que não passaria de hoje, sentia isso cada vez que seu coração lutava para bater mais uma vez. Virou a cabeça para a escrivaninha e viu uma foto antiga. Ali estava ele, Reneé e Bella ainda bebê.

Sorriu com a lembrança do dia, mas logo sentiu seu rosto se transformar em uma careta de dor. Reneé, sua doce e amada esposa que sorria para foto não era a mesma que vivia com ele hoje em dia. Ela havia se tornado uma mulher amargurada, sem amor pelos outros e até por si própria. No fundo ele se culpava por isso, se perguntava aonde é que havia errado.

Embora amasse sua esposa, não confiava mais nela, ou naquilo que ela havia se transformado. Precisa mandar Bella para longe dela, e viu essa escola como uma desculpa.

Com dificuldade se levantou e pegou um papel e uma caneta. Não sabia se resistiria até a hora de Bella voltar. Precisava se despedir da filha de alguma maneira.