Alexithymia escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 4
Capítulo 03 — Perdidamente.


Notas iniciais do capítulo

Okaaaaaaaaaaaay gente, vocês sabem que eu posto somente dia de terça-feira, mas hoje eu vim postar porque eu vou mudar esse dia para a sexta-feira e é isso ai. Não é uma grande mudança, é? Acho que é melhor até! Okay, eu quero dedicar esse capítulo a Xavessssss por estar aniversariando hoje com 29 aninhos perfeitoss ♥ e para Briane (Anne) que gosta de NÃO, pensando melhor não vou dedicar nada a Briane porque ela não merece q1. Somente ao Xaves pfto e lindo. Okaaaaay, eu quero agradecer as meninas que vem comentando porque, claro, elas são demais né? Claro que são. E aos fanstasminhas que não estão comentando, pfvr, comentem! Eu não mordo, promisse kkkkkkkk



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— Forks, Estados Unidos —

— 10 de junho, 2008 —

.                                          • NEVER LET THIS GO — Paramore •

Com um sorriso nos lábios, penteei meus cabelos escuros enquanto por dentro imaginava o que aconteceria na escola hoje. Estava animada e sorridente mais do que era costume para mim que antes tinha o humor escuro. Edward era a razão disso tudo, era ele quem me fazia ficar sorridente e animada para ir à escola. Ele e seus beijos, suas mãos — e como eu não sou uma total pervertida — seus carinhos em meu cabelo quando ninguém estava vendo.

Coloquei uma blusa preta que ele tinha elogiado algumas semanas atrás e uma calça clara apertada. Tudo isso para ir à escola. Tudo. Isso. Meu pai de vez em quando resmungava essa frase enquanto eu corria para a porta de entrada por estar atrasada, ele sempre destacava o tudo e fazia uma carranca. Minha mãe não via problema nenhum na minha roupa, então estava tudo bem.

Era rara as vezes que minha mãe estava de bom-humor e isso só acontecia uma vez a cada ano. Eu estava cansada de tanto mal humor. É, realmente estava.

— Bom dia. — Eu cantarolei para Edward assim que saí pela porta e ele estava encostado no carro, me esperando.

Ele sorriu torto, somente abrindo os braços para que eu me encaixasse neles. Assim o fiz, apertando meus braços com força ao seu redor.

— Trouxe o casaco hoje, Srta. Swan? — Ele perguntou com a voz abafada contra os meus cabelos. Sua mão brincou levemente com a barra do casaco e depois fora para a barra da minha blusa, seus dedos, tocando por fim, a pele de minha barriga. Estremeci e assenti, sem voz para falar alguma coisa decente. — Hum, que bom, não é?

— É. — Arfei.

Ele riu de minha reação, e deslizou os dedos para minhas costas, abaixando até estar dentro do bolso da minha calça jeans. Respirei fundo porque de repente alguém tinha sugado todo o ar extra que eu tinha dentro de meus pulmões e com todo o autocontrole que eu tinha dentro de mim, coloquei uma mão em seu peitoral e o afastei.

Tentei soar séria a uniforme ao falar:

— Estamos atrasados.

Quase todas as vagas do estacionamento estavam ocupadas quando chegamos, mas Edward conseguiu achar uma antes de acabarem todas. Mike Newton estava de olho nela também e seu rosto pareceu estar em fogo quente quando Edward estacionou o carro lá. Eu pensava que ele iria levar tudo na boa e santa paz, mas o pirado saiu do carro batendo a porta com força quando estávamos nos distanciando do carro para ir à primeira aula.

— A vaga era minha, seu imbecil! — Gritou ele.

Afastei-me discretamente quando ele quase cuspiu em meu rosto e franzi meu cenho, olhando para Edward que estava com os olhos fechados, tentando se controlar. É, o loiro que agora parecia um tomate não sabia com quem estava lidando e talvez eu tivesse que admitir que Edward não fosse bem uma pessoa que era considerada paciente para essas merdas.

— Dê o fora daqui, Mike. — Ele murmurou.

— Tire. Seu. Carro. Da. Maldita. Vaga. — Mike vociferou, ainda cuspindo ao falar.

Suspirei, impaciente. O professor de química iria me matar por chegar mais uma vez atrasada em uma de suas aulas entediantes.

— Última chance para você sair correndo daqui. — Edward vociferou, pressionando seus olhos.

— Edward… — Tentei o puxar para longe de Mike. Tudo que eu não precisava no momento era que ele fosse parar na diretoria e ser suspenso da escola por não sei-quantos-dias. Ele era a única pessoa aqui com quem eu tinha uma convivência saudável e normal.

— CALA A BOCA, SUA VADIA! — Mike gritou e foi nesse segundo que o punho de Edward atingiu-lhe o olho.

— Ouse chamá-la desse jeito novamente que eu vou matar até sua sétima geração. — Ele disse friamente, puxando-me na direção contrária de onde Mike segurava-se em seus joelhos, uma mão cobrindo seu olho esquerdo enquanto arfava.

Queria ter sido eu a dar o soco.

Edward passou o tempo da aula toda de química perguntando se eu estava bem e se eu queria alguma coisa para beber. Eu estava bem, não era coisinhas como essas que me abatiam com facilidade. Sua preocupação era tão palpável que até os dias de hoje me pergunto se não houvera um momento onde tudo também foi real para ele. Onde ele foi real.

— Está tudo bem. — Eu disse a ele pela terceira vez, sorrindo ao tocar sua barba a fazer com as pontas dos dedos. Edward inclinou seu rosto na direção da minha mão e isso só fez meu sorriso se alargar enquanto eu avançava e entrelaçava meus dedos em seu cabelo, acariciando seu couro cabeludo. Ele descansou o rosto em meu ombro e suspirou.

— Mike é um idiota.

Eu assenti e fiz uma careta ao escutar o sinal para a aula de Inglês tocar. Edward apertou sua mão em minha cintura como se não quisesse que eu fosse e apesar de realmente querer ficar dentro da sala vazia de ciências que em poucos segundos iria estar cheio de alunos, beijei sua bochecha e soltei meus dedos de seu cabelo.

— Podemos achar outra sala de ciências vazia. — Ele sugeriu.

— Se for assim, então tudo bem.

Perdi todas as aulas daquele dia por causa de Edward Cullen. Ferrei-me nas provas por causa de Edward Cullen. Dei tudo que eu tinha para Edward Cullen e não recebi nada em troca — essa era a verdade da qual sempre me escondi por vergonha. Eu tinha sido uma babaca naqueles tempos, mas como dizem… todo erro é uma lição aprendida.

Na aula de Inglês ficamos na sala de química vazia, e depois passamos o tempo todo que tinha até o almoço dando uns amassos dentro do armário do zelador — o que era bem comum nesses últimos dias. Eu não podia mais me controlar quando ele me beijava e tinha toda a certeza que estava pronta, pronta para ser dele. É, eu tinha certeza. Naquela época eu tinha tanta convicção que estava pronta para isso quanto tinha que eu era Isabella Swan.

— Eu quero você. — Ele sussurrou contra a minha orelha, apertando minhas coxas ao redor de sua cintura.

Eu assenti, inclinando meu rosto até poder tocar seu pescoço com meus lábios, querendo tirar aquela maldita camisa dele.

— Meus pais estão em casa. — Sua voz foi quase um xingamento.

— Os meus, não. — O informei com a voz suave.

Conseguimos escapar da escola e fomos direto para a minha casa, apressados. Edward me agarrou com força assim que fechou a porta atrás de mim, pressionando seus lábios nos meus com mais força do que um dia fizera. De qualquer jeito, aquilo era bom. Era bom me sentir desejada, era bom saber de Edward me queria e era de verdade.

Fiquei em cima dele quando ele sentou-se no sofá, apertando-me em seu colo com urgência. Quando não tinha mais ar em meus pulmões, separei meus lábios dos dele e tirei o casaco dos meus ombros, preparando-me para desabotoar a camisa que eu usava por baixo se ele não tivesse me interrompido, tirando minhas mãos e substituindo pelas suas.

Enquanto tratava de livrar-se de minha camisa, Edward distribuía beijos por meu pescoço, meu maxilar, bochechas, ombros, voltando para meus lábios. Urgente e calorosamente. Apertando-me contra ele, empurrando-se mais contra mim como se eu estivesse muito longe.

— Você é tão gostosa. — Ele arfou.

“Gostosa” não era bem a palavra que eu esperava que Edward me falasse, na verdade. Tudo que eu esperava era “Linda” ou até mesmo “Bonita”. Gostosa soava tão… impróprio, e apesar de ele nunca ter dito as três palavrinhas mágicas eu sabia o que ele sentia por mim. Ele me amava e demonstrava isso sem palavras.

Nós nunca precisamos de palavras.

Arfei quando ele chupou o meu pescoço e Edward me apertou mais ainda contra o seu corpo, seus braços me agarrando com indiscrição. Eu queria que ele fosse mais carinhoso ou talvez falasse alguma coisa bonitinha para mim, mas se ele fizesse aquilo ele não seria a pessoa que eu conhecia. Ele seria um desconhecido e… eu poderia ser uma idiota por estar pensando isso, mas preferia que ele fosse somente por aquele momento.

Queria que ele sorrisse entre o beijo ou qualquer outra coisa.

Somente para mostrar que não era apenas sexo.

Edward se levantou do sofá comigo nos braços, esbarrando e quebrando alguma coisa enquanto me levava para o meu quarto porque no sofá realmente não estava confortável. Com um suspiro alegre deixei que ele soltasse o meu sutiã, prensando-me contra a porta do meu quarto enquanto deixava que este mesmo caísse aos meus pés.

— ISABELLA? — Era a voz do meu pai e eu estava ferrada. Definitivamente. — Vistam-se. — A voz dele era falsamente controlada.

Edward sequer olhou para o meu rosto enquanto se vestia, mas talvez ele estivesse envergonhado demais para fazer isso. Ou qualquer outra coisa que daria uma ótima desculpa. Céus, eu estava tão ferrada! Charlie iria me matar por… estar prestes a fazer sexo quando deveria estar caminhado para a aula de Trigonometria.

— Você falou que não tinha ninguém em casa. — Ele acusou, ainda sem me olhar.

Odiei o tom de sua voz.

— Eu pensava que não tinha. Edward, eu… — Continuo virgem. — Sinto muito.

— Tudo bem. — Mas eu podia saber que pelo seu olhar na minha direção que nada estava bem. Nós não estávamos bem.

Respirei fundo e coloquei um casaco largo, saindo do quarto onde eu estava e sendo seguida por Edward. Eu tinha medo do que Charlie falaria, mas… eu tinha que me forçar a fingir normalidade, afinal adolescentes fazem suas burradas de vez em quando, não é? Eu não era isenta disso, ele deveria ter conhecimento.

— Então… — Charlie estava olhando para outro lado quando começou a falar. — Essa é a primeira vez que matam aula?

— É. — Eu menti.

Pude perceber que meu pai estava com o cenho franzido com a distância que Edward eu estávamos sentados. Seu rosto ficou vermelho, roxo e quando ia começar a ficar azul ele respirou fundo, fechando os olhos brevemente.

— Por que essa é a primeira vez?

— Porque estávamos com vontade de transar. — Edward deu de ombros ao responder.

— O quê? — Esbugalhei meus olhos, pasma. Minhas bochechas coraram fortemente quando Charlie olhou para mim com um misto de decepção e incredulidade e olhou para o chão. Pude ver sua mão indo em direção à arma que ficava no canto de sua cintura. Eu queria me enfiar em algum buraco e nunca mais voltar a terra, como os avestruzes.

— O que você tem com a minha filha, Edward?

— Nada. Nós nem nos conhecemos direito…

Nada.

Essa palavra ficou martelando na minha mente por alguns segundos até eu sair da inércia com Charlie levantando-se exasperado e pasmo com o que tinha acabado de ouvir. Eu, naquela época, não entendi sua lógica, mas hoje faz muito sentido para mim: Estávamos quase transando e não tínhamos nada? Nada? Era isso? Assim?

— Nada? — Arfei.

— VOCÊ ESTÁ PROÍBIDA DE VER ESSE CANALHA, ISABELLA! ESTÁ ME ESCUTANDO? — Claro que eu estava o escutando, ele estava berrando na minha cara. — ESTÁ PROÍBIDA DE VÊ-LO!

— Mas, pai… — Choraminguei.

— Ele não quer nada com você. — Vociferou ele.

Ele não queria nada comigo. Edward.

Eu estava tão distraída que eu sequer percebi quando Edward saiu da minha casa sem mais palavras e Charlie continuou gritando absurdos para mim. Eu estava tão ressentida e machucada que todas as palavras ofensivas soaram como elogios para mim. Edward tinha me machucado mais ao ter sido tão… injusto no julgamento sobre o tínhamos e o sobre o que deixávamos de ter.

Meu pai chegou até a me chamar de “Desgosto da família”, mas isso não era nada. Eu já tinha escutado piores vindo da minha mãe. Eu tinha escutado tantas atrocidades que esses nomes me perseguiam toda maldita hora. E eu agia na mais perfeita normalidade. Porque eu deveria ser normal, assim todos gostariam de mim.

Ninguém gostava, afinal, de uma garota problemática, não é? Eu sabia sobre isso decorado.

Passei a noite toda encolhida em minha cama, chorando baixinho e orando para que as paredes fossem grossas o bastante para que ninguém escutasse meus soluços. Edward não me ligou, nenhuma das garotas que eu julgava serem minhas melhores amigas ligou para mim. Estava tudo bem, eu já tinha enfrentado coisa pior.

O que Edward tinha feito para mim era como ser humilhada em um lugar público, de frente ao presidente dos Estados Unidos e transmitido ao vivo para todo o mundo. Meu pai era a única pessoa que se salvava dentro daquele inferno enorme que eu chamava de casa e… eu ainda preferia acreditar que ele não deixaria de me amar por isso.

Acima de tudo estava Edward. Eu esperava que ele não deixasse de gostar de mim por isso. Só tinha sido… um impasse.

Eu ainda era burra o bastante para amá-lo; eu ainda era burra o bastante para desejar o orgulho subindo a minha cabeça quando eu via as garotas olharem invejosamente para minha mão entrelaçada com a de Edward quando entrávamos no refeitório. Eu amava aquilo, seus olhares. Era como se elas dessem sua vida para ter o meu lugar ao lado dele.

Era tudo besteira. E eu só percebi isso depois quando já estava maior porque tudo que eu queria e sempre quis no colegial foi Edward Cullen e Edward Cullen. Faculdade era o último plano, se Edward estivesse comigo eu estaria bem o bastante. Passei dois anos centrados nele, e no terceiro quando eu me tornei mais desleixada com os estudos, o tive.

Era isso. Agir como se não se importasse a escola para tê-lo. Daria tudo para tê-lo. Naquela época, talvez até minha alma.  

A cama estremeceu quando eu me levantei para ir ao banheiro no meio da madrugada, despindo-me das roupas com as quais passeia tarde inteira. Não queria tirar o cheiro de mim, mas a blusa molhada e pesada pelas lágrimas estava começando a me incomodar e agora tudo que eu não queria era ficar mais estressada por agora.

Eu sentia falta de Edward. Estava agonizando por ele. Não importava o que ele tinha feito antes, tudo poderia ser esquecido. Humanos erravam toda hora e Edward, apesar de ser lindo de morrer, era humano e… errava também. Todos erravam, ninguém estava isento disso — era o que eu tentava me convencer.

Tomei banho no modo automático e quando eu me dei conta da merda em que minha vida estava afundada de novo, sentei-me no chão do banheiro, abraçando minhas pernas e chorando desesperadamente enquanto a água quente caia sobre minhas costas. Eu estava tão cansada disso. Há uma semana eu pensava que nunca mais iria ficar tão triste a ponto de chorar, mas aqui estava eu novamente.

Em pedaços.

Edward não apareceu na minha janela com seu volvo naquele dia.

Não fui para a aula nos dois dias que se seguiram, e na sexta-feira eu decidi que já estava na hora de tomar vergonha na cara e me levantar daquela letargia onde eu me encontrava. Eu estava cheia de pegar comida quando ninguém estava em casa e esperar que alguém viesse no meu quarto saber se eu estava viva ou qualquer outra coisa. Claro que ninguém veio. Ninguém nunca vinha.

Prendi meu cabelo em um rabo-de-cavalo e coloquei base nos círculos roxos embaixo dos meus olhos, colocando um pouco de blush em meu rosto. Eu tinha que estar viva, eu já passara desses anos de zumbi há muito tempo. Não que eu estivesse feliz — eu nunca estava — eu só estava consciente. Em todos os sentidos possíveis.

Coloquei um casaco com capuz naquele dia, uma camisa qualquer por baixo do mesmo. Edward sabia como eu era, eu… era toda estranha e desalinhada. Mas ele gostava de mim do jeito que eu era. Sim, ele gostava. Ele me dissera isso. Se ele gostava de mim do jeito que eu era, então por que sempre reclamava de minhas roupas? — Essa foi uma pergunta que eu só fiz dois anos depois.

Prendi meu lábio inferior entre os dentes quando vi que ele iria começar a tremer com o choro eminente se eu não parasse de pensar nessas merdas. Eu estava bem, sempre estive. Nunca chorei a noite inteira no chão do banheiro ou qualquer outra coisa. Eu estava bem. Otimamente bem. Perfeita, saudavelmente completa, e com as bochechas coradas sem precisar de blush nenhum. 

Mentira.

Ah sim, eu sabia mentir bem.

Desci as escadas correndo e passei direto pela cozinha, saindo em disparada para a porta principal. Esperei com todas as minhas forças que alguém chamasse, gritasse, implorasse por mim, mas ninguém o fez. Nunca o faziam. Andei os três quilômetros inteiros que faltavam para chegar à escola e Graça a Deus quando eu cheguei o sinal acabara de tocar.

Era prova de trigonometria a qual eu tinha estudado alguns dias antes. Eu era boa em cálculos de qualquer jeito, então estava tudo bem. De 10 questões respondi somente oito porque Edward estava do outro lado da sala, com a mão em cima da coxa de Kate e eu não podia me concentrar com aquela merda acontecendo bem ao meu lado.

Se ele não tivesse chegado tarde eu teria sido a primeira a falar com ele, mas quando ele chegou o maldito professor já tinha me entregado a prova. Porém assim que a aula acabou eu fui andando apressada atrás de Edward que parecia estar andando mais depressa que o normal.

— Edward, espera.

Quando ele me olhou era como se eu tivesse em um bloco de gelo de tão frio que seu olhar foi.

— Qual o problema?

— Você é o problema, Isabella.

Porque eu nunca vou deixar isso acabar

Mas eu não consigo encontrar as palavras para te dizer

Eu não quero ficar sozinha

Mas agora parece que eu não te conheço

— Me desculpe, eu não estou entendendo. — Balancei meu rosto uma vez e troquei o peso de uma perna para a outra, cruzando meus braços. — Olhe, se foi meu pai naquele dia, eu realmente não sabia que…

— Olhe você. — Ao invés de me olhar, ele olhou ao seu redor como se estivesse conferindo algo. — Eu acho que eu fui claro o bastante sobre o que eu quero. Eu não. Quero você.

Eu balancei meu rosto de um lado para outro, negando e começando a sentir minha garganta fechar com as lágrimas.

— Mas você disse… — Minha voz foi um granido como um de animal.

— Todos dizem muitas coisas, deveria saber sobre isso melhor que ninguém. Você já foi usada mais de uma vez, não foi? — Ele acariciou meu rosto com as pontas dos dedos e uma expressão dura em seu rosto.

— Éramos… — Arfei.

— Amigos? Namorados? — Ele ergueu as sobrancelhas e tirou a mão do meu rosto, balançando o rosto duas vezes. — Passou. Veja a parte boa de tudo isso… nos dois casos você não foi completamente usada, entende sobre o que eu estou falando? — Ele sorriu maliciosamente e virou-se para ir até sua próxima aula sem sequer despedir-se.

Eu esperava que ele se virasse e risse, dizendo que era tudo uma piada de mau-gosto.

Ele se virou e meu coração perdeu uma batida.

Será que você podia excluir meu número do seu celular? Eu não quero ser incomodado, sabe como é.

Absorta eu somente assenti e ele se aproximou para ter certeza que eu tinha me livrado do maldito número. O meu papel de parede era uma foto nossa e eu senti meu rosto todo pegar fogo. Meus dedos tremiam e eu quase não conseguia manusear meu celular direito quando finalmente achei o nome “Edward” e cliquei em excluir.

— Pode ficar com a foto. É de lembrança.

Tranquei-me no banheiro da sala de ciências durante duas aulas e chorei copiosamente até poder me controlar o bastante para ir fazer as três provas que restavam. Tudo bem, tudo bem, eu podia fazer essa merda e passar para a faculdade. E sair de perto de todo mundo que um dia eu conheci; eu já tinha sido aceita na faculdade de Sydney e isso já estava bom pra mim.

Eu me conformava em não ser em Yale ou Harvard.

Quando cheguei à casa de meus pais, fui direto para o meu quarto. Chorei por toda à tarde, agarrando meu travesseiro com força enquanto comprimia meus soluços para que ninguém tivesse que escutar nada disso. De qualquer jeito, eles não iriam ligar. Nunca ligavam. Não fui para a festa de formatura, então nunca iria saber qual é a sensação que se deve sentir, o sorriso enorme que deveria assaltar meu rosto ao perceber que metade de minha vida já estava realizada.

Não foi Edward Cullen que fez isso a mim. Eu fiz.

Fui pegar meu diploma na escola depois e quando cheguei à casa de meus pais o enfiei dentro de minha mala sem tentar ser delicada ao fazê-lo.

Eu não fugi de casa, eles me deixaram ir. Sempre deixavam.

Eles não me procuraram e eu não liguei.

•••

— 01 outubro, 2008 —

— Sydney, Austrália —

Era o meu primeiro dia na faculdade de Sydney e eu não estava fazendo realmente questão de me enturmar mais que o normal. Na verdade, eu queria passar despercebida daqui porque eu não sabia falar muito bem o inglês daqui e não fazia ideia de como as coisas funcionavam. Passei na secretaria antes para pegar meu horário sem muitas palavras.

Eu não me lembrava do tom de minha voz. Tudo bem, talvez eu estivesse exagerando, mas fazia longos dois meses que eu não falava nada sem ser “Oi” ou “Sim” e nos casos mais raros era para pegar um café nas Starbucks que tinha próxima ao apartamento onde eu sobrevivia. Não que fosse muito ruim, eu só estava sentindo falta de contato com humanos.

Eu estava parada em meu armário quando algum lunático bateu em mim e eu quase caí para o lado se não fosse meu equilíbrio perfeito.

— Cara, me descu… — O garoto parou de falar, olhando-me com cara de tacho após isso.

— Está… — Minha voz foi rouca e eu limpei discretamente minha garganta antes de continuar. — Tudo bem. É, está tudo bem. — Quase sorri ao ouvir o som da minha voz. Não que ela fosse bonita ou outra coisa, era apenas… confortável.

O garoto de olhos escuros olhou para mim, ainda mudo.

— Riley. Riley Biers. — Ele estendeu a mão e eu a olhei hesitante.

— Bella. — Apertei levemente sua mão, nada muito longo e logo a soltei.

— Sem sobrenome? — Riley perguntou erguendo as sobrancelhas com um quase sorriso em seu rosto pálido demais para parecer real.

Soltei um sorrisinho mais para ser educada do que por vontade.

— Swan. — Eu estava catando alguma coisa dentro do armário só para ter a desculpa de não lhe olhar nos olhos.

— Americana, certo?

Eu assenti.

— Percebi pelo sotaque.

— Pois é, ainda não peguei o jeito de falar.

Fiquei grata que o sinal para a primeira aula tenha tocado. Não que Riley Birds não fosse legal, era só que eu ainda não me acostumei em falar com outras pessoas. Aposto que o coitado estava me achando uma completa estranha que parecia estar fugindo dele, mas fazia alguns meses que eu não ligava para o que os outros estavam pensando de mim.

Ficava mais fácil com o tempo.

— Nos vemos depois. — Disse a ele gentilmente.

Ele assentiu e tocou meu ombro ao se distanciar. O lugar onde seus dedos tocaram ficou formigando e eu balancei meu rosto enquanto andava para fora do prédio em que estava. Evitei ser muito distraída enquanto caminhava, falar com uma pessoa já estava bom demais por hoje. Estava chuviscando um pouco e quando eu cheguei ao prédio 3 meu cabelo estava úmido, fazendo-me colocá-lo atrás de minha orelha por odiar quando ele caia em meu rosto.

Entrei um segundo antes da professora e como todo mundo já estava em seus devidos lugares, tive que me sentar ao lado de uma pessoa que eu não me dei ao trabalho de olhar o rosto. A sala estava cheia, talvez vinte e quatro pessoas em mesas duplas. Talvez fosse rude de minha parte, mas eu realmente não estava com humor para falar com mais alguém ou ter de me apresentar.

Eu odiava ter a atenção de outros em cima de mim.

— Você está me seguindo? — Alguém perguntou, incrédulo.

Quando eu me virei, tinha certeza que minha expressão não era a mais gentil de todas.

Riley sorriu e eu dei um sorrisinho sem dentes, olhando para a folha que tinha em cima da banca de relance só para ter certeza que eu não tinha entrado na sala errada.

— Hum, não. — Respondi. — Como chegou aqui tão rápido?

— Só andei pelos fundos e vim parar aqui. — Ele franziu o cenho quando viu a confusão estampada em meu rosto. — Você estava no prédio dois, Isabe…

— Bella. — O corrigi.

— Bella.

— Então você está me dizendo que eu andei o prédio 1 inteiro até chegar aqui? — Perguntei e ele assentiu, reprimindo um sorriso zombeteiro. — Mas que inteligência de minha parte. Não estou acostumada com isso daqui, talvez amanhã eu use esse atalho.

Minha voz era a coisa mais confortável de se escutar, por isso que eu não parava de falar. Era bom saber que eu a possuía e que ela não tinha sofrido nenhuma alteração drástica por não ter sido usada frequentemente. Não que eu estivesse me excluindo da sociedade, eu apenas estava evitando decepções. Tinha um grande espaço entre um e outro.

— É, talvez. — Ele concordou. — Então… direito, hum?

— É, desde criança quis fazer esse curso.

Depois disso a professora chamou a atenção da turma e fez todos se apresentarem. Quando foi minha vez eu murmurei “Isabella Swan” sem vontade alguma, mas ninguém fez questão de saber — isso fora a primeira coisa que eu gostei deles. Indiferença poderia ser sua melhor amiga sempre que você não quer ser notada.

Almocei com Riley e um amigo dele — Toby Hight — naquele dia e nos outros que se passaram. Nós dois nos tornamos amigos com muita hesitação de minha parte, porém quando eu parei de ter medo do que ele poderia fazer contra mim, foi tudo as mil maravilhas. Eu parei de achar minha voz confortável e passei a me acostumar com ela, passei a ser mais sociável e amigável quando queria.

Eu não passava minhas noites de sexta-feira sozinha. Não mais. E Riley era a melhor companhia que eu tinha achado — ou que tinha me achado — em toda a minha vida. Tínhamos quase nada em comum e mesmo eu confiando nele bastante, ele ainda não sabia que eu tinha fugido de casa. Na verdade, o meu passado era um assunto que não era tratado com tanta frequência. Ele evitava perguntar.

Quando eu pensava sobre a minha escapada de casa, eu achava que era o mínimo que eu poderia fazer. Desde criança eu nunca tinha tido afeto materno e paterno e as festinhas que tinham na minha escola sobre dias dos pais ou qualquer outra coisa, eu sempre passava escondida em algum lugar. Chorando porque minha vida era uma caca — sim, eu pensava exatamente assim.

Eu nunca soube o que era ganhar um presente por ter tirado nota alta em matemática, nunca soube como era se sentir protegido no abraço de um pai ou qualquer outra coisa que era comum criança e adolescentes terem. Eu pulei essa fase, fui intimada a isso. Talvez tenha sido isso que tenha formado o belo desastre que eu era hoje, e não, eu não tinha ressentimento por isso. Apenas não queria voltar a vê-los.

Mas eu soube, sim, o que era se sentir protegida em um abraço, como era se sentir verdadeiramente amada. Não por meus pais, claro. Por Riley. E mesmo assim nós nunca tínhamos nos beijado. Não por falta de vontade de ambas as partes, ele… entendia o receio que eu tinha sobre me envolver sentimentalmente com alguém.

Quando nós nos beijamos foi porque eu que tinha o beijado. Fazia exatos oito meses que tínhamos nos conhecido e não, eu não estava contando. 


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Notas finais do capítulo

Poiss é, é isso ai. Talvez eu faça outro flashback, mas não vai ser beward. Talvez não. Sla kkkkkkkk enfimmm gente, espero que tenham gostado! Ok... comenteeeeeem se você leu esse capítulo, pfvrrrrr, eu não mordo e respondo todos os reviews! Sério. Pode colocar só "Gostei" ou "Tá um lixo" sempre vou responder, ok? Beijos, boa noite! ♥