As aulas começaram sem grandes estardalhaços enquanto em casa, Cassandra insistia para que eu treinasse com a besta já que eu já havia me acostumado demais com a arma. Então tive que me adaptar a besta. Não era tão funcional quanto a arma, mas era tão letal quanto a outra dependendo do ponto acertado. Essa insistência foi porque ela dizia que a arma era para casos extremos. Charlie estava voltando a se acostumar com a minha presença. O tempo passou muito rápido. Quando dei por mim eu estava na última semana de aula, já tinha comemorado os meus 17 anos e estava treinando sozinha com as armas.

Cassandra estava selecionando os alunos para a NYADA então fiquei sozinha durante umas 2 semanas. Quando eu não estava nem na escola e nem nos treinos eu aproveitava pra ficar tocando no piano da sala e Charlie ficava lá, me fazendo companhia. O tempo passou tão depressa que quando reparei já havia se passado 6 meses desde o dia que em que Cassandra me encontrou. Era difícil pensar que eu já estava há tanto tempo longe das pessoas com quem cresci e convivi durante tanto tempo, mas eu gostava de viver com Cassandra. Por vários motivos eu sabia que ela se preocupava comigo, não só pelo fato da minha condição de uma pária incomum, que por falar nisso tinha crise toda noite de lua cheia. Cassandra já deixava preparada uma ampola com um líquido verde que eu não tinha idéia do que era e me prendia dentro do galpão. Eu sabia que aquilo era para o meu próprio bem mas as vezes eu tinha medo de que ela se cansasse dessa rotina e apelasse para a arma.

Nessa última semana eu estava apenas esperando o resultado das provas finais quando Cassandra passou correndo pela sala e foi direto para o sótão, 5 minutos depois desceu e foi para o galpão. Ela voltou para a sala, onde eu estava estudando e disse:

“ Quinn, levanta e arruma uma mochila com duas mudas de roupa, pega a coleira e a ração do Charlie e esteja no carro em 20 minutos.”

E saiu mais uma vez para o galpão. A pressa com que ela disse aquilo me assustou. Eu subi para o quarto e arrumei uma mochila com roupas e outras coisas essenciais. Eu não tinha idéia para onde iríamos mas pelo jeito não seria um passeio. Desci até a cozinha e peguei as coisas de Charlie. Tranquei as portas e saí. Quando fui em direção ao carro vi que era o Land Hover e que Cassandra colocava alguns equipamentos atrás.

Meu sangue gelou. Então nós estávamos indo atrás de algum lobo. Eu congelei e Cassandra praticamente gritou:

“ Quinn! Coloca o Charlie no carro e entra.”

Fiz o que ela pediu e me sentei no banco. Ela terminou de arrumar as coisas no porta-malas do carro e entrou. Acho que foi o único momento em que ela respirou pausadamente desde que entrou na casa. Antes de colocar o cinto virou para mim e disse:

“ Quinn me desculpe a pressa mas eu jamais faria isso se a situação não fosse urgente. Tive noticias de que há um lobo rondando Lima e que já atacou um garoto. Leroy acionou a sua própria guarda mas me chamou porque eu saberia lidar melhor com a situação. E pelo que ele me disse eu achei melhor levar você, mesmo porque acho que já está pronta. Fora isso fiquei sabendo que um grupo de lobos de Cleveland atacaram lobos de Lima, e que havia uma Fabray entre eles. Então quando chegarmos a Lima teremos muito o que fazer porque Leroy já está avisado sobre você e disse que daria um jeito de contornar a sua ordem a respeito da expulsão dos Fabrays, talvez uma revogação especial apenas para você. mas não espere ser recebida de braços abertos, não sei o que os outros clãs acharão disso então peço que tenha cuidado durante a nossa estadia lá.”

Eu fiquei assustada com isso. Eu iria para uma caçada em um lugar que seria hostil a minha presença? Juro que senti vontade de descer do carro me trancar no galpão. Mas apenas olhei para ela e assenti. Ela arqueou a sobrancelha mas não disse nada. colocou o cinto e ligou o carro e saímos da casa. Charlie ficou choramingando no pet shop e eu fiquei com uma dó terrível de deixá-lo ali. Eu só tinha a lamentar naquele momento. Cassandra saiu do pet shop para atender o celular e quando eu sai ela olhou pra mim com uma cara estranha como se estivesse muito nervosa.

“ e qual foi o clã que não aceitou Leroy? Droga...tudo bem, aceito as condições. Estamos a caminho, até breve.”

Dito isso desligou o celular e entrou no carro. Mais uma vez virou pra mim e disse:

“Quinn temos um pequeno problema. Dois clãs ficaram relutantes em aceitar sua presença. Os Lopez e os Hudson - Hummel. Mas como a assembléia é contada pelo voto da maioria você pode ir até Lima e Leroy irá garantir sua segurança. Ele me prometeu”

“Okay..tudo bem”

“pra quem corre risco de vida você está calma demais...”

“ Não sei..talvez a ficha ainda não tenha caído..” respondi.

“ espero que a sua ficha caia logo.” respondeu ligando o carro.

Pronto. Agora sim estávamos indo para Lima. Não seria uma viagem longa. Pelas minhas contas daria uns 45 minutos. E ainda atravessaríamos todo o centro de Lima até chegar a propriedade dos Berry. Cassandra estava mais calma, mas tamborilava o dedo no volante o tempo inteiro. Cochilei maior parte do caminho e quando dei por mim entramos em uma rua que parecia particular, semelhante à um condomínio de casas. Cassandra seguiu até chegar ao fim da rua e parou em frente ao que parecia ser a casa principal. Ela virou e pediu que eu ficasse dentro do carro. Quando olhei para fora ela ia em direção a um homem alto, cabelos meio grisalhos, um nariz avantajado e óculos. Deduzi ser Leroy Berry.

A conversa começou entre ele e parecia ser interessante quando eu ouvi ruídos ao lado da janela do passageiro e quando vi arregalei os olhos. Dois lobos: um castanho avermelhado de olhos pretos e um lobo preto, enorme de olhos castanhos. O lobo preto vinha a frente e o avermelhado logo em seguida e os dois rosnavam para mim.

Eu estava assustada demais para qualquer coisa e os lobos só se aproximavam e rosnavam cada vez mais alto até que Leroy se colocou entre os lobos e o carro. Eu estava tentando de todas as maneiras soltar o cinto de segurança. Até Leroy gritar:

“Meninas, recuem!!! E isso é uma ordem”

O lobo preto continuou parado enquanto o avermelhado recuava. Eu tinha ouvido certo. Meninas?!? O Lobo preto não parecia querer recuar, mas bufou e deu as costas para Leroy indo em direção a casa e sendo seguido pelo outro lobo. Leroy abriu a porta mas eu ainda não tinha conseguido me livrar do cinto de segurança. Ele afastou minhas mãos e com um ‘Clic’ o cinto foi solto e eu finalmente soltei o ar pela boca. Cassandra parou do lado de Leroy e cruzou os braços.

“Sinto muito, Cassandra e Quinn. Sinto muito por essa ter sido a forma de te dar boas vindas a nossa alcateia. Me desculpe por esse susto.”

“Quem eram?” foi a única coisa que consegui perguntar.

“ Você conheceu a alfa e a sua beta.” respondeu Cassandra.

Leroy suspirou e balançou a cabeça.

“ a beta, Santana Lopez, de pelagem avermelhada. E o lobo maior de pelos pretos era Rachel Berry.”

“ e porque diabos a alfa e a beta dessa alcateia estavam tentando me assustar?” pulei do carro com indignação aparente.

“ Vingança.” disse Leroy “ Não se preocupe, vou dar um jeito de isso não acontecer novamente. Vou pedir para alguém leva-las até a casa cedida a vocês. Mais uma vez me desculpe.”

E saiu andando em direção à casa grande.

“ deixa eu ver se eu entendi. Elas querem vingança. Mas o que foi que eu fiz para elas?” Cassandra suspirou e encostou no carro.

“ não você Quinn.. A alcateia de Cleveland. Você, em tese pertence a ela. Eu disse que um grupo de lobos de Lima havia sido atacado por outros vindos de Cleveland?”

“ sim falou.”

“ Rachel Berry e Santana Lopez estavam entre os lobos de Lima. Junto com mais outros 5. O ataque foi promovido por uma Fabray...”

“Frannie” senti um gosto de bile na boca. Até de longe aquela criatura aparecia pra me atormentar.

“ isso mesmo. Sua irmã, pelo que disseram era a líder do grupo e estava com mais 4 outros, todos homens.”

“Você sabe quem são?” eu tinha minhas dúvidas e podia até deduzir quem tinha participado.

“ Ainda não, mas vou ver se Leroy vai me dar mais algumas informações.” ela parou de falar e olhou para mim. “Pode sair do carro agora Q.”

“Hum...ok”

Olhei para os dois lados antes de por os pés no chão. Suspirei quase que aliviada até um garoto loiro e com uma boca grande demais apareceu.

“ Oi..hum sou Sam Evans, Leroy pediu que eu levasse vocês até a casa. Bem é por aqui.” economizando palavras.

Cassandra e eu entramos no carro e Sam seguiu na frente. A casa era menor do que a nossa em Fort Shawnee, na verdade parecia mais um chalé. Cassandra estacionou e o Evans saiu. Aquilo tudo tava muito silencioso para mim.

“Quinn” Cassandra chegou do meu lado e estendeu um pequeno estojo preto. “ enquanto estiver aqui, e andar sozinha eu quero que esteja com isso. É uma adaga. Esconda. Leroy não sabe mas isso é para sua defesa. A filha dele não vai para enquanto não tiver a vingança feita. É o instinto natural de um lobo e pelo que eu ouvi dizer dessa garota ela não vai parar. Então isso é para se cuidar.”

Eu apenas assenti e segurei o estojo com força. Entramos e arrumamos as coisas em um canto da sala. Cassandra foi até a porta e disse:

“ Preciso ir falar com Leroy. Quero que descanse. Volto em 1 hora. Não saia daqui.” E saiu.

Fui em direção ao pequeno quarto e deixei minha mochila do lado da cama, junto com a besta e a aljava com flechas. Coloquei dentro do armário a arma e a munição. E deitei na cama. Minha cabeça girava e meus ouvidos zumbiam. Tinha medo de pegar no sono, mas estava cansada demais para lutar contra ele. Fechei os olhos e a única imagem que vinha a minha cabeça era a de um par de olhos castanhos me encarando firmemente.