Três dias se passaram desde o funeral e eu passei 1 dia e meio dormindo. Na verdade eu só acordei para comer e ir ao banheiro. Estava exausta. Sei que Rachel apareceu umas 3 vezes enquanto eu dormia, mas Cassandra pediu que ela me deixasse descansar. Frannie também apareceu, porém saiu rapidamente.

Quando acordei, Shelby fez um almoço maravilhoso e eu me senti melhor. O clima de luto havia passado, mas ninguém quis perguntar o que havia acontecido com Russel ou Jake. Melhor assim.

O silêncio imperava. Frannie estava quieta e aparência havia melhorado. Não era mais a paciente fujona. Shelby mal aparecia na sala, estava com Charlie e lendo um livro no quintal. Só Cassandra não estava lá. Nem no quarto. Nem na sala, cozinha ou quintal.

“Onde está Cassandra?” Perguntei para Shelby. Ela abaixou o livro e disse:

“Ela saiu. Faz um tempo já. Disse que voltaria logo.”

“Ela falou para onde iria...?”

“Não, mas ela saiu com o carro...”

“Ahn..Obrigada Shelby..”

Ela apenas assentiu a voltou a ler.

Voltei para sala e Frannie estava no sofá, com um jornal na mão e uma caneta na outra.

“O que está fazendo?” Ela olhou pra mim sorrindo e disse.

“Bem, eu não posso ficar morando aqui pra sempre.. sei que não sou muito bem vinda e que provavelmente ainda estou viva por sua causa. Então estou procurando um emprego e também algum lugar onde possa ficar.. estou em busca de alguém que aceite uma roomate.”

“Legal.. já tem noção pra onde vai?”

“Encontrei algumas coisas em Toledo, Cincinnati e Cuyahoga Falls. Tenho um dinheiro guardado, não é grande coisa, porém já vai cobrir os gastos com condução, alimentação e pode até me ajudar a pagar algum lugar até encontrar um endereço fixo...”

“Entendo...” Falei. Ia sair pra ver se encontrava Rachel.

“Quinn?”

“Sim?”

“você nunca vai me perdoar não é?” A voz de Frannie saia cansada.

“Nunca diga nunca Frannie. Não posso dizer que te perdoo, para que você se sinta bem porque isso seria uma mentira, mas quem sabe daqui a algum tempo? Você está aqui e eu estou aqui. E até agora não houve nenhuma tentativa de assassinato por ambos os lados então, pra mim tá bom assim..”

Frannie deu um sorriso e disse:

“Se você está dizendo.. e sim.. está bem assim pra mim também..”

“Então até mais..”

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Corri até a casa dos Berry e bati na porta várias vezes até Hiram aparecer.

“Quinn?”

“Oi Hiram... Rach está?”

“Sim, no quarto dela, mas Quinn?”

“Sim?”

“Posso conversar com você antes? Prometo que será rápido...”

“Claro Hiram..”

“Entre, por favor..”

Entrei e sentei no sofá. Hiram deu um suspiro e se sentou de frente pra mim em uma poltrona.

“Quinn, você reparou que a Rach tem estado meio explosiva...Quero que me conte o que aconteceu naquela noite em que o Noah foi morto Quinn. E por favor, não me esconda nada. É da Rachel que estamos falando e ela tem agido de forma estranha e eu quero ajudar minha filha..”

Fiquei meio aflita. Então Rachel não tinha contado nada ainda?

“Hiram, eu não sei se eu deveria contar...”

“Pode falar Quinn, eu aguento!”

“Foi Rachel quem matou Russel. Ela ficou com raiva e nem parecia ela na hora. Até eu senti medo quando vi que ela atravessara o punhal no peito dele.”

O misto de choque e desapontamento no rosto de Hiram era notável. Ele estava de olhos arregalados e acho que esperava por algo menos chocante..

“Minha..minha estrelinha..ela...”

“Me desculpe Hiram, a culpa foi toda minha se eu tivesse feito o que era pra fazer Rachel não teria se comprometido...” Lágrimas começaram a descer e Hiram me abraçou.

“Shhhh Não é culpa sua... Rachel fez isso para defender vocês duas, tenho certeza! Quinn, o instinto de proteção entre os companheiros é alto e quando se trata do alfa é gigantesco. Tenha em mente que Rachel faria qualquer coisa pra te proteger, até brigar com Leroy que foi o que ela fez, quando ela reparou que você estava incomodada com o que ele dizia. Meu marido é um turrão, mas Rach já se desculpou...”

“Eu gostaria de falar com ele, me desculpar também..”

“Ohh Querida, Leroy foi para Pittsburg, para um congresso de chefes de alcateia ou coisa parecida...nunca entendo isso então fico por aqui..”

“Ahh entendo...”

Hiram me deu outro abraço e disse:

“Já tomei seu tempo demais.. vá lá ver a Rach.. e juízo ouviu?!”

Dei uma risada e enxuguei as lágrimas. Retribui o abraço e logo em seguida corri para o quarto de Rachel.

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A porta estava entreaberta e Rachel estava dançando de pijama no quarto. Ela pulava na cama e cantava em um microfone imaginário. Com certeza era uma música que ela gostava muito pois as caras e bocas estavam impagáveis.

“'Cause I am your lady
And you are my man
Whenever you reach for me
I'll do all that I can

Lost is how I'm feeling lying in your arms
When the world outside's too
Much to take
That all ends when I'm with you”

Decidi entrar no quarto silenciosamente mas Rachel me notou e então literalmente pulou em cima de mim, fazendo com que nós duas caíssemos no chão.

Eu comecei a rir, mesmo sentindo dor. E Rachel tirou os fones.

“Hey..” Ela disse, me encarando.

“Hey..”

“Você não deveria entrar sorrateiramente no quarto das pessoas assim... isso pode causar um susto que dependendo da gravidade pode vir a se tornar um ataque cardíaco e..”

Dei um beijo casto em Rachel. Quando ela se afastou, eu dei uma risada.

“Acho que vou fazer meus monólogos com mais frequência, se toda vez receber um beijo ou ficar admirando o quão lindo ficam seus olhos quando estão dourados..”

“Hum...gostei disso....”

Ela fechou a distância entre nós duas com outro beijo, dessa vez mais voraz, mais necessitado. Só paramos quando senti que precisava respirar.

“Rach?”

“Sim?”

“Tem como a gente levantar?”

“Por que? Eu tô tão confortável aqui...” Ela falou se aconchegando no meu peito.

“Rach, você obviamente está confortável, mas eu não sou um colchão...”

Rachel arqueou uma sobrancelha e eu comecei a gargalhar alto.

“O que foi Quinn?”

“Você..arqueando a sobrancelha, igualzinho a mim..!!!!” Ela rolou para o chão e eu suspirei profundamente me aconchegando no corpo dela. Rachel começou a acariciar meu cabelo. “Tudo bem?”

“Eu estou bem..”

“Mesmo? Hiram veio conversar comigo Rach...aquilo te traumatizou..”

“Sim, mas eu fiz aquilo pra te proteger.. com certeza, se você morresse eu ficaria muito pior..” Ela estremeceu levemente. Aquilo com certeza não era uma possibilidade.

“Obrigada..” Falei um sussurro.

“Não precisa agradecer, tenho certeza que faria o mesmo por mim...”

“Sem nem pensar duas vezes...” Beijei o pescoço dela e arranhei leve a barriga com as unhas. Rachel virou e novamente ficou por cima de mim, só que dessa vez prendeu meus braços acima da cabeça.

“Rach...” O nome saiu como um gemido quando ela me dava beijos no pescoço. Em certo ponto ela sugou levemente e sussurrou.

“Mmmm... vai ficar marcado..”

“Rach..” Gemi outra vez e ela riu, me dando um beijo no maxilar. Quando levantou o rosto, vi que os olhos dela estavam pretos. Ela deu um sorriso de lado e me beijou. O beijo começou lento, mas logo estávamos querendo mais. Porém fomos interrompidas por um furacão loiro que entrou no quarto de Rachel. Esse furacão atendia pelo nome de Brittany e Santana vinha logo atrás gritou:

“ME ARDEN LOS OJOS CON ESTA ESCENA! Levantem suas bundas do chão e parem de se comer!”

“LOPEZ!” Rachel se levantou e me ajudou a fazer o mesmo. “Pare de falar como se fosse alguma puritana...”

“Não sou puritana Berry, mas também não sou obrigada a ver esse tipo de coisa...”

“Como se você não fizesse isso com a Brittany o tempo todo...”

“Claro que a gente faz Rach! Só que vocês estavam usando roupas e a gentmmmmmm” Santana corou e correu pra tapar a boca de Brittany.

“Brit, amor, a Berry e a Fabray não precisam saber o que a gente faz.. ou elas sentiriam inveja...” Revirei os olhos. Santana tirou a mão da boca de Brittany e falou alguma coisa no ouvido dela que fez Brittany sorrir.

“Enfim... o que estão fazendo aqui..?”

“Hiram deixou que subíssemos. Não tem nenhum motivo especial... a gente só queria encher o saco...” Santana falou com desdém.

“Mas San.. você não disse que queria vir aqui porque a Rach não tinha saído de casa ainda?”

Santana corou mais uma vez e eu dei risada.

“Obrigada por se preocupar com a Rach, Santana...”

“Cállate Barbie!!” Santana falou e todas nós rimos.

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Depois de passar um tempo na casa de Rach, ouvindo Santana reclamar toda vez que juntávamos as mãos, decidi ir em casa e ver se Cassandra tinha voltado. Rachel foi comigo e encontramos Shelby e Cassandra colocando algumas bolsas no carro. De longe, eu ouvi Cassandra falar um “Ohh droga!”.

“Cassandra?”

“Oi Quinn, Rachel..” Ela falou, ainda arrumando as coisas dentro do carro.

“Oi Rachel..” Shelby falou e Rach retribuiu com um aceno.

“Você está indo embora?!” Perguntei aflita pra Cassandra. Ela suspirou e passou a mão no cabelo.

“Rach você pode nos dar um minuto?” Rachel assentiu e Cassandra me levou até o batente da porta. Nós nos sentamos e ela começou a falar.

“Eu disse que eu iria embora não disse Q?”

“Sim falou mas...” Minha voz murchou. Eu estava meio perdida.

“Quinn... a NYADA me chamou e eu vou precisar ir para NY ainda essa semana. Era pra eu ter ido há dois dias atrás, mas você estava mal então decidi ficar e adiar minha partida. Mas agora eu realmente preciso ir...”

Senti um nó na garganta. Cassandra me deu um sorriso triste.

“Não precisa ficar triste. Não sei quanto tempo vai durar a minha temporada em NY, provavelmente 6 meses... ou 1 ano, mas sempre que eu puder virei te visitar... além disso, preciso manter contato com a minha pupila..”

“Onde esteve hoje mais cedo?”

“Fui comprar minha passagem e ligar para o pet shop...”

“Eu vou ficar aqui?”

“Sim. Enquanto você dormia, tive uma conversa com Leroy antes dele viajar. Fizemos um novo acordo. Essa casa se torna sua e agora os Fabrays a partir da sua geração terão espaço na alcateia de Lima. E bem, como eu estarei viajando e você é menor de idade precisava de alguém que ficasse responsável por você aqui, cuidando da suas burocracias escolares e etc.. e essa função foi para Geraldine Pierce, ela se voluntariou a fazer isso.. ela vai ficar encarregada de me mandar um relatório mensal sobre o seu comportamento, entendeu?”

Dei uma risada alta, porém Cassandra fez uma careta séria.

“Você tá falando sério?”

“Claro que eu estou! Preciso saber onde diabos eu estou aplicando minha herança...”

“Herança?!”

“Ahh é.. não te falei sobre isso? Bem, quando minha avó faleceu ela deixou uma parte da herança dela em meu nome. Mesmo com todo os meus problemas com a minha família eu tinha direito à essa parte. Investi em ações e meio que tripliquei a herança. Antes de te conhecer eu esbanjava... não é a toa que eu tenho um duplex em NY, em Upper West Side, além de dois carros caros. Porém, te transformei em minha herdeira. Lembra dos documentos? Tecnicamente você é minha sobrinha e você está no meu testamento. Parte dessa herança será aplicada na sua educação Q. materiais, viagens escolares e já tem uma bela poupança para faculdade... algo em torno de US$ 30,000.00 ...”

“Você está de brincadeira comigo Cassandra!?”

“Não brinco com coisa séria Filhote, você sabe disso. Tem uma quantia pra você se manter aqui em Lima até o final do High School. Sei que você é responsável Q. então não vai usar tudo de uma vez, e caso use, ficará sem dinheiro... a não ser que arranje um emprego.”

“Eu.. eu não sei o que dizer Cassandra..” Em Cleveland eu mal via dinheiro. Russel liberava uma quantia mínima apenas para roupas, e mesmo assim, pedia a nota de tudo.

“Apenas agradeça filhote...” Ela deu um sorriso.

Então eu a abracei. Cassandra era o mais próximo de algo materno que eu tive durante toda minha vida e agora eu tinha uma nova vida.

“OK OK.. chega...” Ela se desvencilhou do abraço e passou a mão no olho rapidamente. Acho que foi pra tirar uma lágrima. Nunca saberei. Ela levantou foi ver as malas no carro.

“Cassandra?”

“Sim?”

“Por que não deixa Charlie comigo?”

Ela olhou e arqueou a sobrancelha.

“Não sei..”

“Não confia em mim? Deixa ele aqui.. ele se sente a vontade.. melhor do que em um pet shop em Fort Shawnee...”

“Hum.. ok..mas olha.. muito cuidado com o Charlie ouviu? Vai ter que dar um jeito de deixá-lo afastado daqui toda noite de lua cheia..”

“Vou dar um jeito, não se preocupe.”

Shelby apareceu com uma Rachel de olhos vermelhos.

“O que houve?” Perguntei preocupada. Shelby também tinha os olhos vermelhos. Rachel me abraçou e eu sentia ela fungando contra meu pescoço. Shelby olhou pra mim e disse:

“Eu também estou indo Q.”

“Sério? Mas pra onde?”

“Estou voltando para o Carmel High em Akron..Não é muito longe.”

“Ela vai embora de novo...”Rachel sussurrou baixinho. “Ela vai me deixar mais uma vez.”

“Não vou Rachel.. vou sempre estar por perto. Leroy liberou minhas vindas à alcateia, pois disse que uma possível aproximação entre nós duas faria muito bem a você e a mim também.”

“Mas por que não pode vir para o McKinley!?” Rachel falou.

“Vocês já tem um treinador Rach, além disso eu tenho meu próprio coral no Carmel, o Vocal Adrenaline, eles precisam de mim.”

“Humpf..” Rachel escondeu o rosto mais uma vez no meu pescoço e Shelby suspirou profundamente.

“Rach? Olha pra mim, querida..” Falei. Ela levantou o rosto. Dei um selinho nela e disse:

“Sei que você adora um drama, mas Shelby vai estar aqui o tempo todo Rach. Você tem sorte, não faça birra.”

“Não estou fazendo birra!” Ela fez um bico e eu dei risada.

“Está sim Rach. Olha, se isso te deixa melhor, prometo que sempre que tivermos um tempo livre, e você quiser, nós vamos até Akron visitar a Shelby..nós podemos não é?” a última parte foi para Shelby, que me deu um sorriso gigantesco.

“Mas é claro que podem!! Devem na verdade.. e sempre que eu puder Rachel eu virei..não vou embora pra longe outra vez..”

“Hum.. se é assim, tudo bem..” Rachel se soltou de mim e limpou os olhos.

“Posso te pedir um abraço?”Shelby perguntou pra ela.

Rachel não respondeu, apenas envolveu ela em um abraço apertado. Assim que a soltou, Shelby veio e me abraçou também.

“Shelby? Vamos?” Cassandra chamou. Shelby deu um aceno e entrou no carro. Cassandra ficou olhando pra mim durante alguns segundos, como se fosse falar algo. Então Rachel a chamou:

“Srta. July?”

“Sim..?”

“Sei que tivemos pouco contato durante sua estadia aqui, mas como alfa, parceira de Quinn e sua futura aluna eu gostaria de agradecer...”

Cassandra arqueou a sobrancelha e disse:

“minha futura aluna? E agradecer o quê?”

“Sim, tenho pretensão de entrar na NYADA e isso vai acontecer. E meu agradecimento é por ter cuidado da Quinn e de certa forma, ter trazido ela até mim.”

Cassandra deu um sorriso singelo.

“Não fique feliz por ser minha aluna antes da hora Berry. Vai mudar de ideia assim que tiver sua primeira aula comigo. E não foi nada... fico feliz em ter servido de cupido..” Ela deu um risinho irônico e depois ficou séria. “Agora é sua vez de cuidar dela entendeu?” Rachel assentiu. “E Berry, se você fizer algo contra a Quinn, pode ter certeza que eu não vou hesitar em atirar.”

“Não se preocupe com isso. Nunca faria algo contra a Q.” Ela olhou pra mim e deu um sorriso.

“Que seja.” Cassandra deu de ombros. Ela olhou pra mim e disse:

“Então, é isso...”

“Sim, er-.. bem.. até mais?” Falei sentindo o nó na garganta novamente. Eu realmente não prestava em despedidas.

“Sim, até mais.” Cassandra sorriu e entrou no carro. Eu dei um sorriso triste, tentando imaginar como seriam as coisas dali em diante. Rachel me abraçou e nós duas ficamos observando o carro ir embora.