O uivo longo de Rachel, que anunciava a morte de Noah, foi seguido por outros, distantes. Eu estava em estado de completo torpor. Mal me movia. O que eu queria era passar o meu calor para o corpo gelado de Noah.

Tudo minha culpa! Jamais deveria ter sido tão distraída ao deixar uma arma na mata. E agora aquela arma estava ali e ela tinha matado Noah.

Foi então que me toquei. Russel. Me levantei e olhei. Ele estava caído. O punhal estava enterrado no ombro. Não havia acertado onde queria.

Naquele momento, ignorei qualquer laço familiar, vínculo sanguíneo que eu tivesse com Russel. Ele era apenas Russel e eu, Quinn. Não éramos mais Fabrays. Não éramos mais família.

“Seu desgraçado maldito!!! Eu vou te destruir Russel!!!” Gritei indo em direção a ele. Ele se moveu e encostou-se a uma árvore, dizendo.

“Venha Lucy! Venha com toda sua raiva!! Ande mostre quem é você de verdade!! Anda!!”

Cheguei e puxei o punhal com agressividade. Via tudo vermelho. Meu único interesse era enfiar aquele punhal nas costelas de Russel até que ele atravessasse.

“Quinn não!” Rachel havia voltado ao normal e corria na minha direção. Ela segurou meu braço. “Não vale a pena Q.” Ela tirou o punhal da minha mão trêmula.

“Vai se deixar levar pela namoradinha Lucy!? Não é minha filha, com certeza!” Russel falou debochadamente.

“Eu não sou sua filha mesmo, seu escroto!” Dito isso, dei um chute no maxilar de Russel, que fez com que ele tombasse. Mesmo assim ele voltou a se sentar. Com a boca cheia de sangue e com o rosto sujo de terra ele ria debochadamente de mim. Virei as costas. Eu tinha mais o que fazer.

Dei alguns passos em direção ao corpo de Noah, quando um grito esganiçado cortou o silêncio. Olhei para trás e me choquei com o que via.

Rachel havia enterrado o punhal no coração de Russel. Os olhos arregalados dele mostravam surpresa ao ver que sucumbiria pelas mãos de um Berry. Ela apertou e empurrou o punhal com força, de tal maneira que Russel ficou suspenso no ar durante alguns instantes, antes de apagar.

“Rach?” Falei baixinho ao perceber que Rachel estava tremendo. Ela se virou e olhou pra mim. Os olhos dela estavam sombrios e decidi não falar nada. Ela apenas olhou para mim e falou.

“Vamos.”

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Pegamos a capa de Russel para que servisse de mortalha provisória para Noah. Eu retirei a adaga do peito dele, rasguei a manga seca do casaco e a enrolei. O resto do casaco estava cheio de sangue e decidi deixar sobre o ferimento. Rachel se aproximou e disse:

“Pode deixar...” e me deu um beijo na testa.

Se transformou e abaixou, colocando o corpo de Noah sobre as costas, de forma que ele não caísse.

Olhei para Jake, que continuava jogado no chão, sentia que ele estava vivo, mas ele ficaria ali e para o corpo de Russel. Fui até ele e retirei o punhal. Afinal, precisava devolvê-lo a Cassandra. Então arrastei o corpo de Russel até a vala e joguei-o lá dentro. Rachel apenas olhava para mim.

“Está no lugar que merece Russel. Uma vala suja no meio do nada.” Saí logo em seguida.

Eu tinha muito que fazer.

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O uivo de Rachel fez com que alguns lobos da alcateia aparecessem. Santana, Brittany, Kurt e Blaine estavam de guarda e foram nos encontrar na entrada do bosque. Ao verem que Rachel levava um corpo, eles uivaram também. Logo, apareceram Sam, Mercedes, Tina, Mike e Marley.

“O que houve?” Tina perguntou. Então ela olhou parar a mortalha. Os outros olharam na mesma direção. E então Marley olhou pra mim.

“É...é o Noah, Quinn?”

Eu tremi e as lágrimas voltaram com força. Fechei os olhos. Então senti alguém me apertar e eu desabei. Marley me segurava e algumas lágrimas apareciam no rosto dela também.

“Quinn?” Marley limpou meu rosto e falou. “Vamos em casa. A gente pega uma roupa pra ele e uma pra você.”

“Não.. não. Eu..só pega uma pra ele..”

“Vamos Quinn..” Cassandra apareceu e segurou minha mão. Rachel olhou pra mim e fez um gesto como se assentisse, para que eu fosse com Cassandra.

“Não! Eu quero ajudar.. quero fazer alguma coisa.. se eu for pra casa, eu vou travar..e..” Travei.

Shelby vinha e trazia Frannie ao lado. Ela estava meio cambaleante, provavelmente era o efeito da morfina passando. Todos olharam pra ela.

“Quinn?” A voz estava baixa. Ela estava pálida. Então olhou para o chão e viu Noah.

O grito estridente de Frannie foi tão doloroso pra mim quanto o uivo de Rachel.

Ela se atirou próxima ao corpo e começou a chorar. Eu fiquei agoniada. Parte de mim estava com pena de Frannie naquele momento, já que ela nunca teria a chance de dizer a Noah que gostava dele, mas a outra parte dizia que nada disso teria acontecido se não fosse por ela e pela obsessão maldita de se tornar alguém aos olhos de Russel.

Ela tocava o rosto de Noah, trêmula. E sussurrava palavras que eu não conseguia entender.

Aquilo era demais pra mim.

“Francine, levanta! Vem comigo... Sam, Mike vocês podem levá-lo para casa conosco?”

“Sim Quinn” Sam disse. Frannie me olhava assustada.

“Anda Frannie! Levanta!” Abaixei perto dela e peguei o braço, mas dessa vez falei suavemente.

“Lucy..”

“Por favor, não me chama mais assim...”

“Onde.. onde ?” Acho que ela queria saber onde Russel estava.

“Morto.” Olhei de relance para Rachel, que ainda estava na forma lupina

“Quem fez?”

“Isso não interessa agora. Vamos, preciso me limpar e você precisa comer alguma coisa.. além disso precisamos decidir o que faremos com o Noah...”

“Quinn?” Mercedes falou.

“Sim Mercedes?”

“Nós achamos melhor levá-lo para o galpão, próximo do descampado. Vamos pedir à abuela e para a minha avó que deixem ele limpo e depois, se Leroy concordar, faremos uma cerimônia pra ele...um ritual de despedida.”

“Eu não concordo!” Leroy apareceu. Meu coração parou. Rachel rosnou e se colocou em posição de ataque.

“Rachel Barbra Berry! Isso já foi longe demais... você se uniu a uma Fabray utilizando de um ritual antigo e extremamente sagrado, além de necessário, mas eu não vou deixar que um forasteiro qualquer receba nossas condolências como se ele fosse a...”

“PARE DE FALAR ISSO! Se não autorizar o seu maldito ritual nós não o faremos, mas pare de falar assim dele! Ele merece respeito porque cuidou de mim como um irmão mais velho e foi honrado a vida toda e morreu como um herói, dando a vida para me salvar.. então não fale assim dele!” gritei. Todos ao meu redor me encararam.

Mike e Sam olharam para Leroy e depois para mim e em seguida, pegaram o corpo de Noah e levaram em direção ao galpão do descampado.

“Como ou-!” Rachel rosnou mais uma vez, dessa vez mais alto e mais forte. Leroy se encolheu e disse: “Você decidiu se virar contra mim? Não acredito nisso! Pois bem.. fique aí...”

Leroy ficou magoado com a atitude de Rachel. Saiu pisando duro em direção a sua casa. Olhei para Rachel e ela bufava nervosamente na direção de Leroy.

“Rach..Rach fica calma..” Eu falei. Então ela se aproximou e lambeu minha mão, e logo em seguida saiu correndo em direção a casa dos Berry.

“O que aconteceu com a Berry, Quinn? está tudo bem?” Cassandra perguntou.

“Vai ficar..” Respondi. “Pelo menos eu espero que fique."