Sangue. Era esse o gosto que Nora sentia. Queria vomitar, tirar de dentro de seu corpo aquilo que estava lhe fazendo mal. Só não sabia o quê, sequer se lembrava da última coisa que havia comido. Um cheiro reconfortante e familiar encheu suas narinas fazendo-a se sentir melhor. Os lençóis de seda estavam enrolados em suas pernas, e ela podia sentir a textura macia, mas a curva de seus joelhos suava, assim como suas mãos e sua testa. Acorde, disse a si mesma. Mas seus olhos se recusavam a abrir. Ela mexeu-se inquieta tentando obrigar-se a abrir os olhos. Um gemido de desespero, mais algumas tentativas frustradas... Era como se sua mente agisse sozinha deixando bem claro que por pior que fosse a sensação que Nora estava tendo, se sentiria pior se acordasse. 

Mas ela conseguiu. Seus olhos abriram e foram cegados pela luz do quarto. Olhou para o relógio sobre a cômoda. Quatro da madrugada. Por que não conseguia se lembrar de nada? Como fora parar ali, na cama de Patch? E onde ele estava? 

- Patch. - Ela chamou, mas sua voz quase não saiu. 

- ACORDOU. - Alguém gritou. Uma mulher. Dabria.

Nora conseguia ver seus cabelos loiros e sedosos, a roupa justa e provocante. Sua visão estava embaçada e ainda assim Dabria continuava deslumbrante.

Ela sentou-se na cama, sua cabeça girou. Estava pronta para sair da cama, quando Dabria ficou em seu caminho.

- Nem pense em sair daqui.

- Saia da minha frente. O que faz aqui? Onde está Patch? - Sua garganta ardia a cada palavra, mas ela não se importava.

- Cuidando das suas burradas, como sempre. Mas devo dizer que dessa vez, você se superou. - Nora a olhava sem entender nada. - Não se lembra do ritual? Katarina, Nathanael... Bateu a cabeça? 

- Não sei do que está falando. Saia daqui. Me deixe em paz. 

- Dá pra ser menos infantil só por um segundo? Se você levantar, vai se sentir mais tonta. Vai desmaiar e eu já vou avisando, não vou mover um dedo pra evitar que você meta o nariz no chão. - Ela cruzou os braços para enfatizar o que dissera.

- Não preciso da sua ajuda. - Ela se levantou pelo lado oposto ao que Dabria estava. Sua visão escureceu, mas ela não desmaiou. Sentou-se outra vez na cama e uma série de imagens começou a passar em sua mente. 

Katarina. Sangue. Anjo negro. Nathanael. Uma adaga. Sua marca.

Agora ela podia sentir a ardência em seu pulso, que só agora, percebeu que estava enfaixado. Era tudo um pesadelo. Só um sonho ruim, como qualquer outro. Aonde estava Patch? O medo a invadiu e tudo que ela queria, e precisava, era saber que não estava sozinha. 

Ela levantou-se outra vez, sem se importar com as tonturas ou a dor que sentia por todo o corpo. Passou por Dabria, ainda de braços cruzados, e se dirigiu a sala. Ela podia ver Patch de costas, o cabelo bagunçado. 

- Patch. - Ela chamou baixinho. 

Dabria saiu do quarto e parou ao lado de Nora, um sorrisinho malicioso nos lábios vermelhos. 

Patch virou-se mas não se levantou do sofá, permaneceu sentado. Seu rosto estava cansado, triste. Como se ele estivesse carregando o mundo em seus ombros. Talvez estivesse.

- Nora. Eu... - Ele começou. Era a primeira vez que Patch não tinha palavras para explicar algo.

- Nora, você trouxe mais um problema a Patch. Tá vendo a garota deitada? - Nora olhou bem para Patch, em sua perna havia uma cascata de cabelos vermelhos. A dona dos cabelos tinha uma feição angelical, traços finos, uma pele invejável. Era absolutamente linda. - Ela é Katarina. - Dabria disse tirando Nora do transe. - Graças a você ela está de volta. 

Patch pegou a garota em seus braços e a levou para o quarto, colocando-a na cama onde Nora estava antes. Desligou a luz, fechou a porta com cuidado e voltou a sala. Nora estava sentada em uma poltrona de couro negro, chorando. Dabria estava retocando o batom ao lado. 

- Você já pode ir. - Ele disse para a loira. 

- Na melhor parte? - Ela fez biquinho, guardando o batom e o espelho. 

- Saia. - Foi tudo que ele disse antes que ela pegasse a bolsa e saísse do estúdio batendo a porta. - Nora? - Ele sentou-se onde Dabria estava anteriormente e puxou Nora para seu peito. 

- O que foi que eu fiz? - Ela questionou, chorando.

- Nada disso é culpa sua. Você foi usada, para trazê-la. Escuta, eu vou fazer com que Nathanel pague pelo que te fez. Me diga aonde dói. - Ele pediu.

- O que aconteceu? Por que ela está aqui?

- Eu não sei. Eu não entendo porquê Nathanel a trouxe e nem como... Mas ela está vinculada a você, Nora. 

- Você... falou com ela? - Ela perguntou, soltando-se dos braços dele.

- Sim. Ela não sabe o que aconteceu. Só lembrou de mim, e...

- Ela está aqui por você. - Nora sussurrou. - Ela veio... Por você. Eu... E minha mãe? Aonde ela está? Eu preciso ir para casa. 

- Tudo bem, eu te levo. - Ele levantou-se junto com ela.

- Não. Eu vou ligar para o Scott. Katarina precisa de você. Tchau, Patch. - Nora pegou o celular e discou o número de Scott, sem dar tempo para que Patch fosse atrás dela. Ela tinha razão, Katarina precisava dele. E ele não podia deixá-la em casa.

Nora estaria segura. Ele sabia que sim.