O Outro Lado Da Lua escrita por Marie Caroline


Capítulo 76
3x05 - Provocação


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada as leitoras que comentaram no capítulo passado! Fiquei muito feliz ao ler cada um deles s2
Meninas este capítulo aqui é meio tenso, e é só uma provinha do que vem por aí... Então espero que gostem! :)
Então vamos fazer um jogo? Comentem o que acham que vai acontecer entre Ayane, Jacob e Agatha e se alguém chegar perto da resposta certa, eu largo um spoiler "bem leve". Que tal?
Beijos mil :*



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A água quente do chuveiro batia em minhas costas rígidas e arqueadas. Agora que ficara sozinha, a perspectiva de encontrar novamente os vampiros sádicos que já me tentaram me matar inúmeras vezes, realmente me atingira.

Depois de dar boa noite a Sue, fui para o meu quarto sentindo-me estranhamente fora do ar. Parei em frente ao espelho atrás da porta – o mesmo espelho que ainda continha a rachadura onde meu punho o atingira naqueles dias sombrios depois da morte de Leah. – e encarei no reflexo as cicatrizes feias que meu pijama de alças não conseguia esconder. As linhas costuradas e tortas marcavam meu pescoço, braços e pernas. Na panturrilha direita estava a pior de todas: o buraco grotesco onde o salto da bota de Emily perfurara.

Enquanto analisava os estragos em meu corpo, as lembranças de como cada machucado fora provocado surgiam embaralhadas em minhas mente. Era desorientador e sufocante lembrar com precisão de tudo. A memória que mais me deixava sem ar era precisamente a última coisa que vira naquele dia.

A montanha. A luta. Jacob estirado ao chão... E Leah caindo, impotente contra a gravidade, enquanto Emily se voltava para mim com os dentes à mostra. Eu não pude me defender quando ela voou para mim e cravou uma mordida em meu pescoço. A dor causticante penetrou meu corpo. O veneno correu por meu sistema sanguíneo... Lá adiante, a garota loira e franzina sorria aquele sorriso fingido, enquanto se inclinava para pousar as mãos sobre Jacob, que ainda permanecia caído...

Fora a necessidade de ar que me fizera acordar e sentar rapidamente na cama.

Enquanto lutava para colocar oxigênio dentro dos pulmões, minhas mãos voaram para a minha garganta procurando a mordida. Mas só o que encontrei foram os meus cabelos grudados ali pelo suor.

Mas é claro que não encontraria nada. Fora apenas um pesadelo.

Em algum ponto de ontem à noite minhas lembranças se fundiram com pesadelos, transformando tudo em algo terrivelmente vívido.

–Agatha, você está bem? – A voz preocupada de Jacob veio da direção da minha janela, me causando outro sobressalto de sacudir o corpo inteiro.

–Jake... – minha voz estava trêmula. Jacob se esgueirou pela janela e veio até a minha cama rapidamente. Ele retirou os fios soltos de cabelo do meu rosto e acariciou-o com a ponta dos dedos febris.

–O que foi, meu bem? Mais um pesadelo?

Acenei com a cabeça, ainda assustada demais para falar coerentemente.

–Fica calma – ele me abraçou. – Não foi nada. Está tudo bem agora.

Não. Não estava. Emily viria atrás de mim, sabia disso. E, no entanto, não era isso o que mais me preocupava.

Era a garota sorrindo ironicamente para mim enquanto agarrava o meu Jacob.

Sempre fui uma pessoa impressionável por natureza. E quando se tratava de sonhos, a coisa piorava consideravelmente. Sempre suspeitei que o meu subconsciente tivesse a capacidade de me avisar sobre certas coisas. Não era nada sobrenatural. Era apenas o meu cérebro tentando dizer aquilo que eu não conseguia ouvir quando estava acordada.

Afastei-me um pouco de Jacob e fitei seu rosto, que estava pouco visível por causa do breu que o quarto estava. Tentei controlar minha voz.

–Aquela garota... Ayane. Você confia nela?

Ele me observou cuidadosamente, expressando confusão.

–Por que está perguntando sobre isso agora?

–Eu a conheci ontem – sacudi a cabeça. – Não quis dizer nada por que não queria criar caso, mas... Ela me pareceu estranha. E se ela estiver mentindo? E se ela estiver ajudando Joham ou Emily? E se...

–Não, espera um pouco – Jacob me interrompeu. – Se ela estivesse aprontando alguma, os Cullen iriam saber. Especialmente Edward. Esqueceu que ele lê mentes?

Fitei-o, ainda sem me convencer.

–Foi só um pesadelo – ele continuou. – Não tem motivos para se preocupar com isso, eu tô aqui.

Engoli em seco. Não era a hora de perguntar isso, mas então quando seria?

–Por que você não me contou que conversou com ela na floresta?

Suas sobrancelhas se uniram. Meus olhos estavam fixos em sua expressão.

–Ela comentou algo sobre isso. – expliquei com a voz abafada. – Até perguntou como você estava.

Jacob deu de ombros.

–Não achei importante falar isso na época – alguns traços de dor apareceram em seu rosto. – Foi logo depois que eu te trouxe para casa... Você não estava nas suas melhores condições – ele suspirou. – Enfim, acho que depois eu esqueci de falar. Mas não precisa ficar preocupada com isso, tá? Se ela aprontar alguma, com certeza vamos saber imediatamente.

Eu não consegui ficar calma como ele queria que eu ficasse, mas acenei positivamente mesmo assim. Olhei para o relógio e vi que eram cinco da madrugada.

–Vem cá – Jacob me puxou para o seu abraço, e meu deitou no travesseiro. – Não fica esquentando a cabeça com isso, tá? Vem, vamos dormir.

O calor de Jacob e o cansaço finalmente venceram a minha preocupação. Adormeci quase que imediatamente.

***

Seth tagarelava incessantemente no banco de trás do Rabbit.

Jacob dirigia distraidamente, correndo pela estrada, enquanto meus olhos estavam fixos no paisagem verde lá fora. Sue e Charlie estavam no carro dele, atrás de nós.

Estávamos a caminho da mansão dos Cullen. Alice preparara um jantar para Sue e Charlie, ocasião em que ela os colocaria a par dos preparativos para o casamento. Antes de sair, examinei a expressão de Charlie e ele estava tão animado com isso tudo quanto uma lesma sonolenta. Mas ele não conseguia dizer não a Alice, então era meio que um caso perdido.

–... E eu aposto que a comida vai ser deliciosa. Cara, a Esme manda bem na cozinha! – Seth continuava a descrever que coisas legais ele esperava para o casamento da mãe.

Carlisle nos recebeu na porta. Assim que passamos para o jardim de trás da casa, meu queixo caiu.

Não era só um jantar.

Espalhadas ao redor do jardim havia pequenas mesinhas redondas com cadeiras de mogno combinando. Iluminando todo o local, lâmpadas, do tipo chinesas, estavam dependuradas nas árvores acima de nós. No ar, uma essência de rosas dominava.

Alice sabia mesmo como criar um clima agradável.

–Uau – exclamei quando a encontrei ali mesmo no jardim, junto de Bella, Rosalie e Emmett. –Adorei as luzes.

–É verdade – concordou Sue. – Se você fez uma decoração dessas apenas para um jantar imagine como será o casamento!

–Mas vai ser extraordinário! – respondeu a baixinha. – Vem comigo, vou lhe mostrar o que eu e as meninas já fizemos!

Ela levou Sue até a mesinha mais próxima, que continha a agenda com os preparativos.

–Ah. Que maravilha. – comentou Charlie com uma careta hilária. Bella riu e puxou o pai pelo braço.

–Vem Charlie, vamos ver a sua neta.

Como Seth era guiado para todas as direções que tivessem Renesmee, ele logo seguiu os dois.

Jake se virou para Rosalie.

–E aí loura, tem alguma coisa para comer?

Ela fez uma cara de nojo e se dirigiu a mim.

–Como consegue namorar um ogro desses?

–Por que ela ama o ogro. – Jake respondeu e me pegou no colo enquanto eu gargalhava. – Não ama?

–Para! Me solta! – Podia ouvir as gargalhadas de Emmett. – Que coisa!

Ele me soltou e beijou meus lábios brevemente.

–Olá!

Uma voz infantilmente alegre veio das minhas costas. Virei-me e focalizei a garota loura. O corpo magricelo dela estava coberto por um vestido vermelho e curto, seus lábios também continham a mesma cor do vestido. E a posição dela tinha um ar totalmente forçado. Seus pés estavam içados para frente, os braços arqueados. Parecia que ia alçar voo ou coisa parecida.

Não respondi; de modo que Jacob apenas cumprimentou-a com um aceno de cabeça.

–Ouvi você perguntando a Rosalie sobre comida – disse Ayane com um sorriso. – Eu mesma ajudei Esme a preparar os aperitivos para essa noite. Logo será servido.

–Legal – disse Jacob ao me puxar para uma mesinha.

Sentei-me acompanhando os passos de Ayane, que voltava para dentro da casa. Senti Jacob observando meu rosto, mas ele não disse nada e tampouco eu. Logo depois Renesmee e Seth se juntaram a nós.

Eles começaram a conversar sobre coisas que eu realmente não ouvi. Minha cabeça estava distante. Pensando no pesadelo que tive na madrugada passada... Em como ele poderia facilmente se tornar real... Nós já não fomos enganados antes? E não fora eu que descobrira a armadilha de Joham?

–Agatha? – A voz de Renesmee me tirou do transe.

–Hã? – Pisquei os olhos.

–Perguntei se você quer que o seu vestido tenha mangas ou não – ela disse lentamente como se esperasse que eu não entendesse o significado das palavras.

Lembrei-me das cicatrizes.

–Com mangas.

De novo peguei Jacob me observando atentamente. Ele sabia que eu estava incomodada com algo. E o motivo deve ter ficado bem claro por que no segundo seguinte Ayane chegou a nossa mesa com uma bandeja exageradamente cheia de guloseimas. Ela exibia aquele sorrisinho novamente. Por que, por que tudo o que ela fazia me incomodava tanto?

–Aqui está! – Ela depositou a bandeja na mesa. – Espero que gostem!

–Eba! – Disse Seth pegando na mão um monte de mini cachorros-quente.

Ayane sentou-se ao lado de Renesmee, bem à minha frente.

–Então, Renesmee aqui me contou o quão legais os lobos são – ela olhou para Jacob. – E eu achei tudo muito incrível, por que eu pensei que os lobisomens estivessem quase extintos.

–É que na verdade nós somos transfiguradores – Seth respondeu de boca cheia.

Ela voltou-se novamente para Jacob.

–E qual é a diferença? – ela perguntou com interesse.

Jacob ia abrir a boca para responder, mas Seth era o tagarela da mesa...

–Bem – começou ele. – A diferença é que...

–A diferença é que você não pode saber – interrompi Seth encarando Ayane.

Todos me olharam de maneira interrogativa. Dei de ombros.

–Bem, ela não pode. Segredos da tribo, certo?

Renesmee pigarreou e olhou para longe. Seth encheu a boca de comida para não precisar se pronunciar. Ayane me encarou piscando os olhos, a cabeça levemente pendida para o lado. Meus olhos encontraram os de Jacob; ele apenas balançou a cabeça minimamente. Então se levantou e pegou minha mão.

–Vem, vamos dar uma volta.

Segui-o enquanto Jacob me conduzia para o bosque. Quando as árvores estavam nos cobrindo totalmente – e cobrindo a distancia necessária para não sermos ouvidos –, Jacob se virou para mim.

–Você não está muito bem hoje, não é?

Suspirei cruzando os braços. O frio que estava fazendo condensou o ar que saía da minha boca.

–Eu estou bem.

–Ah é? Então o que foi aquilo agora há pouco? – Jacob se aproximou de mim e colocou os braços ao meu redor. Parei de sentir frio imediatamente. – Sei que os seus pesadelos a incomodam, mas não dá para ficar descontando isso nos outros.

–Mas eu não estou fazendo isso – discordei de mau humor. – Eu só disse que ela não pode ficar sabendo de certas coisas! Está errado por acaso?

Jacob me olhou meio admirado.

–Não, não está – ele beijou minha testa. – Só tenta pegar mais leve, ok?

***

A noite continuou agradável para os outros, mas não para mim. Nem mesmo eu entendia a minha oscilação de humor. Por alguma razão tudo o que aquela garota fazia me irritava de uma maneira perturbadora. E no decorrer do tempo em que a observava, percebi certos comportamentos impróprios da meia vampira. Como, por exemplo, agarrar toda e qualquer chance de falar com Jacob; sorrir constantemente e tentar agradar aos outros; ser totalmente simpática comigo quando eu estava sozinha, mas quando Jacob ou Seth estavam comigo, me ignorar totalmente para ficar empurrando cada vez mais comida para eles.

Como se eu ligasse se ela fosse minha amiga ou não. Pelo contrário, queria distância. Mas então por que ela tentava me agradar quando um dos Cullen estava por perto? Será que ela estava tentando parecer boazinha para eles não a expulsarem dali? E que droga de interesse era aquele nos lobos?

No fim da noite eu estava querendo estrangular ela. Sue e Charlie estavam se despedindo de todos e agradecendo pela noite. Vagamente dei tchau a todos e segui na direção do Rabbit. Renesmee e Seth estavam lá. E a loura aguada também. Que ótimo, mais um extra do show da fingida.

–É sério, vocês fazem um casal tão unido – ela dizia. – Considerando que você é um lobisomem e você é uma vampira hibrida... Isso não afeta nem um pouco?

Não registrei a resposta deles. Mas acho que teve algo a ver com “amor verdadeiro ultrapassa todas as barreiras...”.

–Cadê o Jake? – perguntou Seth quando me aproximei.

–Está se despedindo. – respondi com a voz entediada enquanto abria a porta do carro.

Renesmee me deu aquele olhar perspicaz dela.

–A noite foi maravilhosa, não Agatha? – quase pude ouvir o sorriso afetado na voz de Ayane.

–Com certeza. – respondi tentando imitar o mesmo sorriso que ela sempre me dava. – Mal tenho palavras para descrever.

Ela não percebeu o sarcasmo ou fingiu. Apostava na segunda opção.

–Ah! Que bom que gostou. Nós nos esforçamos muito para tudo ficar perfeito.

–Achei que Alice tivesse feito tudo – assinalei.

–Ora, foi um trabalho em conjunto. – Ela deu um risinho agudo. – Mas sabe o que mais gostei? Foram as companhias. Vocês Quileutes são tão legais. Principalmente Jacob. Você tem muita sorte, sabia disso?

O calor subiu ao meu rosto enquanto meus olhos perfuraram o rosto dela. A raiva borbulhou em minha garganta, me fazendo engolir cada blasfêmia que eu estava pronta para cuspir para a loira à minha frente.

E lá estava. O sorriso do meu sonho estampado na cara lavada dela. A maldita estava gostando da minha reação... Ela estava fazendo tudo aquilo de propósito!

–Ah é? – disse com a voz saindo entalada. – Então deve ter sido por isso que você ficou fazendo tantas perguntas sobre nós, não é?

Seus olhos piscaram inocentemente.

–Nossa. Você deve ter mesmo o instinto para a coisa. Quer dizer, você fala “nós” como se ainda fosse parte deles...

Era óbvio que o comentário dela tinha ultrapassado os limites, então não era estranho que Seth e Renesmee tivessem prendido a respiração. Se eu não estivesse tão zangada aquilo tudo seria engraçado; era como se eles esperassem que eu explodisse a qualquer momento. Mas qualquer coisa que eu pudesse vir a fazer fora tirada dos planos. Por que Jacob chegou na hora certa.

Ele observou a cena por um momento. Deve ter percebido os dois ali sem respirar; o sorriso patético nos lábios vermelhos de Ayane; e a minha posição estática e estranha.

–Bem, já está tarde – ele disse com uma postura casual nada convincente. – Vamos indo?

–Ah, ok – guinchou Ayane. – Tchau gente!

Como não me movi, Jacob pegou meu braço e me empurrou para dentro do carro.

Podia até sentir. Teríamos uma discussão daquelas hoje.


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Notas finais do capítulo

Se quiserem saber a aparência da Ayane, deem uma olhada lá no Tumblr da fic http://sagaooutroladodalua.tumblr.com/