–Você deveria dormir Renesmee. – eu disse pela décima vez.

Ela estava sentada no chão, no canto do quarto. Acho que estava fazendo um protesto mudo contra a cama confortável, bem ao lado dela. Eu estava de pé, me corroendo para abrir a janela e espiar lá fora, mas Carlisle disse que era melhor mantê-la fechada, então tive que me segurar.

Sabia que Leah estava lá fora patrulhando, cuidando para que nada fosse chegar até nós. E sabia que há muitos quilômetros daqui estava a matilha; esperando o alvorecer para começar o que eu havia apelidado nas últimas horas de Juízo Final. Talvez fosse um apelido dramático demais. Tanto fazia. Era assim que eu me sentia.

Jacob significa grande parte da minha vida. Agora eu não consigo imaginar como seria se ele não estivesse comigo. Eu não tenho a mínima ideia de quem eu sou sem ele. É claro, eu já experimentara a vida sem Jacob, mas aquilo foi diferente; eu achava que ele estava feliz. Mas se ele partisse para sempre... Não restaria nada a quê me agarrar. E eu com certeza voltaria a visitar aquele penhasco...

Não. Eu não posso começar com esse papo derrotista. Eu confio em Jacob para saber que ele vai fazer o que eu pedi: ficar vivo.

–Eu não vou dormir até que tudo isso esteja terminado. – ela respondeu sacudindo a cabeça para espantar o sono. – E além do mais, quem é você para falar sobre dormir? Você esteve em pé aí por toda a noite.

–Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. – ri me lembrando de que Jacob dissera isso para mim uma vez. Suspirei e segurei meu pingente de coração fortemente. Renesmee observou meu colar com um meio sorriso. – O que foi?

–Acho que nós duas estamos nos segurando naquilo que mais tem de precioso. – ela disse e mostrou o colar que ela também tinha. – Minha mãe me deu isso pouco antes de uma luta parecida com essa. Quem sabe dá sorte.

–Quem sabe. – murmurei. Então fui até o cômodo da frente, onde Carlisle estava. Ele observava um ponto indistinto no chão. Ele pareceu sair de um transe quando ouviu minha aproximação.

–Algum problema? – ele perguntou.

–Aqueles carros... Ainda estão aqui, certo? – perguntei sem querer demonstrar nenhum interesse aparente.

–Sim. Estão escondidos no bosque atrás da casa. Por quê?

Balancei a cabeça.

–Só por precaução.

Ele me estudou por um momento.

–Não está pensando em ir para a luta, está?

–Não. – respondi da maneira mais inocente que pude. Até por que não era completamente mentira; eu só perguntei por precaução mesmo. Eu não iria quebrar minha promessa a não ser que fosse irremediavelmente necessário.

–Sabe que não vou deixá-la fazer isso. – ele avisou.

–Não sei do que está falando. – respondi sem olhá-lo. Carlisle levantou-se e disse:

–Não há motivo para se preocupar. Vai dar tudo certo.

Então ele foi até o quarto e ouvi-o falar algo com Renesmee sobre ter uma cama perfeitamente usável esperando por ela.

Inspirei profundamente esperando que o oxigênio extra fosse fazer meu cérebro trabalhar mais rapidamente. Então os carros ainda estavam aqui. Isso era bom; resolvia o problema de não ter como chegar até Jacob, caso fosse preciso. Já sair sem que Carlisle percebesse era outra história. Sem contar que eu não queria deixar Renesmee aqui... Mas eu contava que isso tudo não chegaria a ser necessário. Se eles liquidassem o exército e Joham, estaria tudo acabado. Finalmente acabado. E então, de alguma maneira, eu e Jacob poderíamos aproveitar o paraíso que viria depois do Juízo Final.

(Ponto de vista: Leah)

Lá estava ele, jogado no chão. Como Jacob estava se segurando para não arrancar a cabeça do maldito ali e agora, eu não sabia. Se fosse eu, já estaria tudo acabado.

–Então ainda bem que não é você ali né, Leah. – disse Embry de olhos grudados nos movimentos de Joham. Acho que todos nós estávamos. – Mantenha a cabeça no lugar.

–Fácil você falar, não é o seu irmão mais novo que está ali.

–Ei, eu me importo com Seth também, mas temos que nos concentrar. – ele respondeu.

–Então parem de falar. – rosnou Quil.

Nós tínhamos que ficar um pouco afastados parar ninguém saber da nossa presença, então nós não possuíamos uma visão da cena, de modo que precisávamos depender da nossa audição para saber o que estava acontecendo.

–Olá, Jacob. Acho que nós não fomos formalmente apresentados. Meu nome é Joham. – disse o sanguessuga, cheio de bons modos como se isso fosse algum encontro para um chá ou coisa parecida.

–Encantado. – respondeu Jacob com sarcasmo, então se dirigiu a Seth, que pelo som de seus pés, estava tentando se levantar. – Está tudo bem com você?

A voz de Seth saiu fraca demais.

–Jacob, o que você está fazendo?

–Tá tudo bem, Seth. – disse Jacob.

–Será mesmo? – disse Joham com uma repugnante satisfação na voz. – Espero que não tenha preparado nenhuma surpresa, não Jacob? Isso seria muito rude de sua parte.

–Você disse que Seth não teria nenhum dano. – rosnou ele.

–Ah, mas ele está bem! Não precisa se preocupar. Seria um grande desperdício arruinar uma espécie como a dele, e por falar nisso, como está a sua garota? Dado os danos que ela própria nos causou, presumo que esteja em plena forma, não?

–Vamos terminar logo com isso, certo? Seth, você acha que pode andar?

–Posso sim, mas Jacob, o que você vai fazer? – pude ouvir o medo em sua voz.

–Vai ficar tudo bem. Você pode ir, vai poder se transformar depois daquele bosque e ir para casa.

–Droga, eu espero que Seth pegue a deixa.

–Ele é um garoto esperto, vai entender. – disse Quil.

–Não vou deixar você aqui. – disse Seth com a voz mais forte.

–O que ele está fazendo? Sai logo daí para podermos atacar!

–Calma, Leah. Talvez ele tenha entendido, mas não quer dar bandeira pro sugador. – disse Embry.

–Vai logo, Seth. Esse foi o trato. – disse Jacob.

Depois de uma leve hesitação, ouvimos os passos arrastados de Seth indo na direção do bosque, onde os Cullen estavam escondidos. Só mais um pouco e Seth estaria a salvo, o que significava que poderíamos atacar...

E então tudo aconteceu rapidamente. Sentimos Jacob se transformar e logo tivemos acesso ao que ele estava vendo: Joham tentando atacá-lo com uma daquelas seringas dele. Apenas isso foi preciso para entendermos que já havia começado.

–É isso... Vamos!

(Ponto de vista: Agatha)

Acordei meio assustada. Girei minhas pernas para fora da cama e olhei para os lados, sem lembrar de ter vindo para o quarto. Renesmee finalmente se rendera ao sono e agora dormia enrolada em sua cama. Levantei-me e fui até o outro cômodo. Carlisle abrira a porta e olhava pelo horizonte, onde havia indícios de uma nova manhã. O céu estava tingido de um cinza nublado melancólico.

–Está quase na hora. – ele disse ao se virar. – Leah vai ir para o posto dela para a luta, então é melhor eu ir patrulhar por hora.

–Tudo bem. – assenti.

Ele deu meia volta com o corpo, parecendo indeciso.

–Posso confiar em você para não sair daqui?

–Eu não vou deixar ela aqui. – disse com firmeza. – Nunca faria isso.

–Tudo bem. Eu sei que está sendo difícil para você, mas vai dar tudo certo.

Grunhi sem saber o que dizer.

–Acorde Renesmee, por favor. Por mais que ela precise dormir, seria melhor vocês duas estarem alertas caso algo aconteça.

–Certo.

Então ele acenou com a cabeça e saiu fechando a porta. Voltei para o quarto com a intenção de acordar Renesmee, mas quando olhei em seu rosto sereno resolvi que daria a ela mais algum tempo fora da realidade. Pelo menos por enquanto.

Sentei-me na cama, agarrando-me aos joelhos para não sentir frio. Como eu queria que Jacob estivesse aqui para eu poder sentir sua pele quente junto à minha. Será que ele já estaria frente a frente com Joham ou ainda estaria esperando na floresta? Leah já fora para o seu posto; será que ela conseguiria cumprir a promessa que me fez? E Seth, será que ele conseguiria voltar bem?

Só agora eu percebia que três pessoas tinham feito promessas por causa dessa luta. Eu prometera ficar de fora; Jacob prometeu ficar vivo; e Leah prometera cuidar de Jacob. De alguma forma, essas três promessas se relacionavam. Estavam conectadas. Será que elas seriam cumpridas? Ou as circunstâncias as colocariam em segundo plano?

E então, um horrível som metálico veio da floresta. Coloquei-me de pé em um pulo, e Renesmee acordou assustada.

–O que está acontecendo? – ela gemeu.

–Fique aqui. – disse com a voz controlada. Fui até o outro cômodo e abri a porta lentamente. Espiei pela fresta e encontrei a floresta vazia me encarando. Como não houve mais nenhum som, fechei a porta e virei-me. Renesmee estava bem atrás de mim.

–Acha que esse barulho veio da luta? – ela sussurrou. Balancei a cabeça.

–Não dá para ouvir daqui.

–Cadê o vovô?

–Na floresta, patrulhando. Vem, vamos ver se dá para enxergar algo da janela.

Abri a janela do quarto cuidadosamente, mas de novo só o que dava para ver era a floresta. Droga, por que eu fui perder meus sentidos aguçados? Era uma droga não saber o que estava por vir... Então, uma brisa atingiu as árvores, balançando-as levemente.

Renesmee inspirou ruidosamente ao sentir a brisa e me olhou com os olhos alarmados ao sussurrar:

–Agatha... Tem alguém aqui!

(Ponto de vista: Jacob)

A coisa acontecera muito rapidamente. Num minuto eu estava observando Seth se arrastar para longe de nós, e no outro o psicopata estava tentando me atacar pelas costas com o maldito veneno dele. Transformei-me, e em menos de dois segundos estava pronto para atacar cada membro que encontrasse, mas então eles começaram a aparecer de todos os lados.

Joham desapareceu no meio deles. Tentei persegui-lo, mas cada vez mais vampiros apareciam, bloqueando meu caminho. Os Cullen logo saíram de seus postos e se juntaram à luta. Alguns dos vampiros aparentavam ser recém nascidos, por causa dos seus golpes apressados e impulsivos. Outros tinham mais habilidades, mas eles não eram páreos para os Cullen, principalmente para Jasper e Emmett. Alguns vampiros tentaram fugir, mas os garotos pegavam qualquer um que ameaçasse sair do local. Eu ainda perseguia Joham, mas também matava alguns deles pelo caminho.

–Podem cuidar deles enquanto pego Joham? – perguntei.

–Vai lá, cara. A gente dá conta! – respondeu Embry ao enfiar os dentes no pescoço de um deles.

–Pega ele, Jake! – complementou Seth, que já se transformara. Peraí, ele estava bem pra isso?

–Fica tranquilo, eu tô bem! – disse ele, animado até mesmo numa situação como essa.

Senti a preocupação de Leah ao ver-me correndo para o interior da caverna, mas ignorei. Eu tinha que acabar com isso de uma vez.