O meu humor não era dos melhores quando acordei. As palavras de Charlie sobre Jacob e Leah ainda pairavam em minha mente, me impedindo de pensar em qualquer outra coisa. Só o que eu queria era falar com Jacob e esclarecer toda essa história.

Já que minha cabeça não estava funcionando normalmente, Sue me pegou de surpresa quando me perguntou se eu não estava pronta.

–Pronta para o quê?

–Vou te levar até Carlisle. Fisioterapia lembra? – esclareceu ela.

Perfeito, pensei satisfeita. Agora Jacob não me escapava.

Quando chegamos, Sue se despediu e eu disse a ela que não precisava me buscar já que eu voltaria com Jacob. Bati à porta da casa branca e Alice me recebeu.

–Olá Agatha!

–Oi Alice.

–Carlisle já está a esperando no escritório dele. – segui-a pela escada e percebi que a casa estava vazia.

–Onde estão os outros? – perguntei.

–Edward, Bella e Renesmee estão na casa deles. Daqui a pouco eles vão vir pra cá. E Jasper, Rose e Emmett estão na fronteira.

–Ainda?

Ela suspirou.

–Pelo menos se Joham aparecer, estaremos avisados.

Paramos à porta do escritório de Carlisle.

–Acha que isso está certo? Quer dizer, deixar todo mundo separado não parece muito seguro.

Uma linha de preocupação enrugou sua testa de mármore.

–Não há realmente nada que possamos fazer quanto a isso. – ela deu de ombros. – Não sabemos onde nem quando eles vão atacar.

Eu queria falar sobre o que eu estivera pensando a semana inteira, mas não queria parecer uma paranóica. – o que eu certamente era – Eu tinha de mostrar a coisa toda objetivamente. Mas os meus pensamentos ficavam facilmente embolados, me impedindo de falar com clareza, às vezes. E agora, minha cabeça estava definitivamente uma zona com toda aquela história de Jacob e Leah.

Descobri que fisioterapia era um pé no saco. Carlisle me fizera fazer um bando de exercícios com um bastão de madeira até eu não aguentar mais. Ele disse que isso era preciso, senão não me recuperaria completamente.

–Bom, se os meus planos funcionarem eu não vou precisar mais de fisioterapia. – disse quando finalmente acabei.

–Que planos? – perguntou ele enquanto pegava um remédio para a dor no armário.

–De acordo com a curandeira que temos na aldeia, eu tenho total controle sobre a minha transformação. Eu só preciso tentar.

É claro que para isso eu precisaria da ajuda de Jacob; e nesse momento eu queria matar ele.

–Você não vai tentar fazer isso, vai? – uma ruga de preocupação apareceu em sua testa.

–Claro. Eu preciso voltar. E se aquelas vampiras atacarem novamente?

–Só que se der errado, seu ferimento vai piorar. Eu tenho que pedir que você não faça isso, pelo menos até a fisioterapia acabar.

–E quanto tempo isso vai levar?

Ele hesitou.

–De seis a doze semanas.

Minha boca abriu-se.

–Não! Isso é muito tempo. Eu tenho que voltar à ativa logo. Você viu como todos estão sobrecarregados.

–Agatha, você pode se machucar seriamente. – ele disse pacientemente.

Suspirei e fui até a janela para observar a floresta. Sempre gostei de florestas. A gente nunca sabe o que pode ter dentro delas. Tão misteriosas e perigosas ao mesmo tempo. Daqui de cima ela parece uma imensa armadilha verde. E correndo no meio dela estão os lobos.

Dentro da armadilha.

Um clique ecoou em meu cérebro. Uma armadilha. Todos separados.

–Carlisle... – virei-me lentamente para encará-lo. – E se isso tudo for uma armadilha?

–Do que está falando Agatha? – perguntou ele, cauteloso.

Eu lembro que havia me questionado sobre por que Joham havia revelado que estava prestes a atacar. E na última semana me questionei por que Joham avisaria que estava atrás de Renesmee... Não seria mais fácil se ele simplismente aparecesse para pegá-la?

Olhei para o frasco com a substância cinza que raramente saía da mesa de Carlisle, por que ele estava sempre a estudando. Era o veneno que injetaram em mim. O que me fez deixar de ser lobo.

Por que ele perdeu tempo inventando algo que fizesse mal aos lobos, quando ele deveria estar estudando maneiras de criar a nova espécie dele? Não era esse o plano?

Era exatamente disso que eu tinha medo. Que as coisas na minha cabeça não fizessem sentido quando eu pronunciasse-as. Mas era hora de revelar as minhas – talvez não tão paranóicas – teorias.

Quando falei, fiquei surpresa que minha voz estivesse soando tão calma:

–Estou falando de uma armadilha, Carlisle. E de que todos nós estamos caindo nela.

– Que armadilha? – começou Carlisle, mas ele parou de repente quando Alice irrompeu pela porta. Sua expressão era de puro terror.

–Eles vão atacar Forks! – ela gritou. – Eu acabei de ver!

–Alice, se acalme. Quando isso vai acontecer? – perguntou Carlisle com a voz firme.

–Hoje! Assim que o sol se pôr!

Olhei para a janela novamente observando o céu. Faltava menos de vinte minutos para o pôr do sol.

–Tem alguma coisa errada! – continuou ela, esganiçada. – Ele tem um exército. Como Joham pôde ter criado um exército?

–Um exército? – repeti descrente. A coisa era muito maior...

–Não temos tempo para isso. Temos que ir. – disse Carlisle. – Alice, ligue para Jasper. Diga para voltarem imediatamente. E depois fale com Sam para que ele proteja a cidade. Vou falar com Jacob pessoalmente.

–Não, Carlisle. Isso é exatamente o que ele quer! – gritei.

–Como assim? – perguntou Alice.

–Joham! – disse impacientemente. – Ele quer nos separar! Eu não sei qual é o plano dele exatamente, mas eu sinto que isso é uma armadilha!

–Eu vi um exército atacando Forks. – disse Alice. – Armadilha ou não precisamos proteger a cidade.

–Temos que ir. – disse Carlisle.

Ele e Alice saíram do escritório antes mesmo de eu conseguir me recuperar.

Quando desci as escadas só consegui ouvir Carlisle dizendo para Esme ligar para Edward antes dele e de Alice irromperem floresta adentro num borrão.

Estava indo em direção à porta quando Esme segurou o meu braço.

–Não, Agatha você tem que ficar aqui!

–Esme, eu preciso fazer alguma coisa! – gritei.

–Não, vai ficar tudo bem. Os outros vão resolver tudo. – assegurou-me ela.

–Esme me solta.

–Você não pode se transformar...

–Esme me solta. – repeti sentindo a raiva tomando conta de mim. Ela apertou sua mão em meu braço.

–Agatha, pare!

Então o calor subiu em minha espinha e um rosnado formou-se em minha garganta. De repente meu corpo todo ficou quente e minha vista tremeu, deixando tudo borrado.

Esme soltou meu braço, assustada. Percebi o que havia feito.

–Me desculpe. Me desculpe, Esme. – então saí correndo pela porta. Esme não me seguiu, talvez estivesse chocada comigo. Mas isso não importava agora. Eu precisava falar com Edward. Ele certamente entenderia que não podíamos nos deixar levar por Joham. Que o essencial era proteger Renesmee.

Corri pela floresta e meu ombro protestou. Corri por uns dois minutos e tive que parar para tomar fôlego. Continuei correndo ofegante e cansada. Eu só havia passado pela casa de Bella apenas uma vez, durante uma patrulha, mas lembrava o caminho.

Cheguei à casa e a encontrei sem sinal algum de vida. Adentrei o local, cautelosamente, e encontrei vários móveis quebrados. Havia vidro por toda a parte. Sinais inconfundíveis de luta.

Voltei para a floresta. Se uma luta tivesse acontecido Jacob iria vir imediatamente, não? A matilha patrulhava por aqui e, no entanto, a floresta parecia morta e sem som algum. Seria possível que eles já tivessem caído na armadilha?

Estava decidindo que iria refazer o caminho para a mansão quando escutei o uivo de um lobo ao longe. Um uivo de dor.

O mesmo calor que me atingira há pouco tempo me tomou por completo. Corri a toda velocidade em direção ao uivo. Meu corpo protestava contra o esforço. Meus ossos queimavam enquanto o suor começava a se formar e minha testa. Meus passos eram ritmados por um único e gritante pensamento: Por favor, me diga que ele está bem... Por favor... Diga que ele está bem...

Parei de correr e me encostei a uma árvore para retomar o fôlego. Que droga. Eu tenho que me transformar... Anda, você tem o controle disso... Pensei no uivo de dor que escutara e o medo de que Jacob estivesse ferido me tomou.

A curandeira disse que a magia que me ligava a Jacob poderia me fazer voltar a me transformar. Seria isso, então? O medo de que ele pudesse estar em perigo me faria voltar? Eu tinha de acreditar que sim.

Sem me permitir desistir voltei a correr, me forçando ao máximo para mudar de forma. Eu tenho que protegê-lo... Eu tenho que proteger todos eles... Anda, se transforma!

Quando minha velocidade chegou ao ápice me joguei no ar e finalmente transformei-me. Tentei não pensar na dor que isso me causou. Nos meus ossos protestando e continuei correndo sem parar enquanto as imagens dos pensamentos dos outros preenchiam minha mente.

Jacob lutava com Emily perto da encosta da estrada. Senti a dor dele e imediatamente soube quem uivara: Seth estava no chão. De volta a forma humana.

Emily o pegara. Como me pegara antes.

-Ajude Renesmee! – ele gritou com fúria. Ele lutava com todos os esforços contra Emily, mas outros dois vampiros surgiram da floresta. E a loura de repente saíra correndo e deixara Jacob com os dois recém chegados. – Renesmee teve que fugir. Edward e Bella foram atacados por um bando deles. Você tem que ajudar ela!

A indecisão gritou em meus pensamentos. Eu sabia que tinha de ir atrás de Renesmee, mas Seth estava ferido e Jacob estava lutando sozinho...

– Vai agora! – urrou Jacob.

Embry estava em alguma parte da floresta perseguindo um vampiro que eu não reconheci. Leah estava junto com Rosalie na fronteira, lutando contra dois vampiros. Perto delas estava Jasper e Emmett, ocupados com mais três deles.

Não havia ninguém que podia ajudar Jacob...

–Ajuda a Renesmee! – ele gritou novamente. E dessa vez a ordem teve um timbre diferente. O timbre do Alfa.

Imediatamente meus pés começaram a percorrer o chão da floresta farejando por Renesmee. Era uma sensação estranha. Eu queria e provavelmente iria atrás de Jacob se não fosse por aquela necessidade de obedecer. E no fundo eu sabia que ajudar Renesmee era a coisa certa a se fazer. Não foi por isso que eu saí correndo no meio da floresta para começo de conversa?

Corri por um minuto e finalmente encontrei-a. Ela estava apavorada e corria freneticamente. Quando ela viu minha aproximação, seu rosto expressou alívio. Mas depois o terror voltou ao olhar por cima do meu ombro.

Eu senti a ameaça logo atrás de mim no exato momento em que ouvi mais uma vez o uivo de dor. Só que dessa vez não era de Seth.

A dor de Jacob me invadiu. A culpa. O medo. E havia apenas um motivo para isso. Seth estava desacordado e sendo levado para dentro do porta-malas de um carro por um homem.

Eu não conhecia Joham, mas de alguma maneira soube que era ele bem ali, à frente de Jacob, que ainda lutava contra os dois vampiros. Joham sorriu e expressou aquela mesma expressão gélida de Emily, antes de entrar no carro e partir pela estrada.

Jacob lutou contra os vampiros, mas o carro estava cada vez mais longe, até sumir.

Virei-me para fitar a recém chegada.

Heydianna me observava com interesse enquanto meu rosnado preenchia o vazio da floresta. Fiz sinal com a cabeça para Renesmee se esconder atrás de mim.

–Achei que Emily tinha acabado com você. – disse Heydianna dissimuladamente. – Meu pai vai ficar feliz em saber que você está em plena forma. Ele odiaria perder um dos preciosos cachorros...

Avancei devagar, mas ameaçadoramente. Jacob se livrara dos vampiros, e começara a correr atrás do carro, mas gritava freneticamente para eu não agir impensadamente.

–Quer saber? Eu não entendo por que Joham se importa tanto com a sua espécie. – continuou ela. – Se bem que eu tenho que admitir... Aquele alfazinho parece realmente delicioso...

–Agatha não cai na dela! – gritou Jacob.

Eu sabia que não podia fazer isso. Renesmee estava bem atrás de mim e precisava ser protegida. E eu era a única que poderia fazer isso. Os outros estavam lutando. Jacob tinha de ajudar Seth. Restara apenas eu.

Heydianna fitou Renesmee maliciosamente e um sorriso encrespou seus lábios.

–E ela é outra que eu não consigo entender por que todos acham tão especial...

Continuei avançando para a vampira lentamente. Os dentes a mostra.

Jacob continuava correndo. Correndo como nunca enquanto o carro cantava pneu na curva. Mas a vampira loura e psicopata aparecera novamente irrompendo pela floresta e derrubando Jacob no chão, rolando pela estrada.

E foi nesse momento que eu descobri ser capaz de odiar mortalmente alguém. Alguém não. Uma coisa. Uma coisa monstruosa e cruel, que precisava ser exterminada. Apenas um pensamento ecoava minha mente.

Você vai morrer vadia.

Avancei para ela com os dentes a mostra e rosnando. Uma força anormal – até mesmo para um lobo – se apoderou de mim e então cravei meus dentes no pescoço dela. Um grito rouco rasgou sua garganta enquanto eu despedaçava seus membros. O som horrível de metal se dilacerando ecoou na floresta. Primeiro os braços e segundo as pernas. Por último arranquei sua cabeça e arremessei-a longe.

Nesse momento vi Jacob conseguir se livrar da psicopata. Ela sorriu quando viu que o carro havia finalmente desaparecido e então saiu correndo pela floresta.

Virei-me para Renesmee. Ela tremia dos pés à cabeça ao vir ao meu encontro.

–Obrigada. – ela sussurrou.

Mas a coisa não estava acabada. Os outros ainda lutavam. Seth sumira. E eu sequer sabia o que havia acontecido em Forks...

O calor abandonou meu corpo deixando uma fraqueza arrebatadora no lugar. Minha visão escureceu e eu senti que voltava à forma humana. Enquanto as árvores giravam ao meu redor, apenas um pensamento rondava a minha mente:

Joham conseguiu. Caímos na armadilha dele.