A festa estava quase no fim. Jacob, Quil, Leah e eu estávamos sentados numa mesa mais afastada. Leah me recebera bem, considerando que ela nunca gostara muito de mim. Mas ela parecia diferente, mais leve. Quando ela saiu para falar com sua mãe, questionei Jacob sobre sua mudança.

–É. Leah mudou bastante depois do tempo que passamos fora. – ele respondeu.

–Como é?

–Nós passamos um tempo fora depois de tudo o que aconteceu. Você sabe, ela queria se livrar de certas coisas e eu precisava de um tempo também.

–Então, vocês dois foram, tipo, sozinhos?

–Sim. – ele respondeu.

Eu não sabia por que a informação havia me incomodado, mas o fato de saber que Leah e Jacob ficaram sozinhos em algum lugar não me parecia muito legal.

–E onde vocês ficaram? – perguntei sem deixar transparecer muito interesse.

–Em nenhum lugar específico. Migrávamos de uma floresta para outra no Canadá. – ele deu de ombros.

–Hum. E por que ela mudou tanto?

–Sei lá. Um tempo longe deve ter sido bom para ela. – ele me olhou desconfiado. – Mas por que o interesse?

–Nada não. Só pra saber.

A festa estava ficando mais descontraída à medida que as pessoas começavam a se despedir para irem para casa. Logo, restavam apenas os familiares mais chegados. Depois de me divertir a noite inteira com todos, esqueci aquele ciúme tolo que havia sentido por Leah e Jacob terem viajado sozinhos por um tempo. Era ridículo sentir-me assim uma vez que eu sabia exatamente o que os unira: Leah queria fugir de um amor que a fez sofrer e Jacob também.

–No que está pensando? – Jacob perguntou quando eu me calei por um tempo.

–Em nada muito especifico. – sorri lentamente. Ele não precisava saber de tudo. Ele me observou curiosamente por um momento depois mudou de expressão.

–É. A festa acabou.

–Como assim?

–Hora de correr. – ele sorriu.

–Oh! Sério? – eu perguntei um tanto histérica. Eu não havia pensado nesta parte.

–Sério. – ele levantou estendendo a mão. – Você faz parte da matilha agora.

–Mas... Eu acho que não vai dar certo. – murmurei ao me lembrar daquele dia...

–Por quê? – ele perguntou sem entender.

–É que eu não consegui mudar quando eu tentei.

–Quando foi a última vez que você tentou?

–Hmm, no dia que eu fui embora. – respondi com uma careta. Ele pareceu não acreditar.

–Você ficou sem se transformar por seis anos?

–Não se passou seis anos. – disse entre dentes. – Não pra mim.

–Tá, tanto faz. Eu vou te ajudar. – ele prometeu.

Estávamos na frente da floresta prestes a nos transformar. Depois de sairmos da festa, fomos até a casa de Jacob pegar roupas menos chiques. Não que fossemos usá-las, era para prender no calcanhar. Mas seriam muito úteis depois da transformação.

–Tá legal. É só se concentrar no que você vai fazer.

–Como se fosse fácil. – murmurei.

–Se concentra. – ele chamou a minha atenção entre dentes.

–Tá legal.

–Agora imagina que você está se transformando...

Ele olhou para frente se concentrando e eu fiz o mesmo. Fechei os olhos fazendo o que ele disse. Imaginei a mim mesma explodindo num lobo e senti imediatamente um calor subindo pela minha espinha e o meu corpo explodiu. De repente eu sentia uma força descomunal e uma sensação de invencibilidade. Eu não lembrava de ter sido assim na última vez. Olhei para os lados, eu estava quase do mesmo tamanho das árvores. Jacob estava ao meu lado, já na forma do grande lobo castanho-avermelhado.

Olhei a mim mesma pelos olhos de Jacob e vi um lobo não tão grande, com a pelagem clara, meio cor de creme. Os olhos eram exatamente os mesmos que os meus. Castanhos profundos. Naquela vez eu nem prestei atenção no que havia me transformado. Estava ocupada demais tentando manter a sanidade.

–Caramba... – sussurrei.

–Eu sei. – Jacob respondeu. – Linda como sempre.

Ri e comecei a correr experimentando a força de meus músculos. Jacob seguiu atrás de mim se divertindo ao me observar. Era incrível como eu me sentia tão à vontade com isso. Como se tivesse feito isso a vida inteira.

–Vamos correr o perímetro. – disse Jacob acelerando. Eu acelerei também tentando acompanhá-lo. Eu escutava tudo com intensidade. Minhas patas passavam pelo chão como se estivessem flutuando. De repente senti que se eu quisesse poderia mesmo ultrapassá-lo.

–Então tente! – ele disse em resposta aos meus pensamentos. Ele correu como um borrão, tal era a sua velocidade. Dei uma risada e me impeli para frente. Estava quase o ultrapassando quando Seth nos chamou.

–Ei, parem de brincadeira vocês dois. Acho que eu encontrei algo.

Imediatamente Jacob seguiu para onde Seth estava e eu o segui. Apesar de não estar muito acostumada com essas rondas, eu sabia que aquilo não deveria ser comum.

–E não é. – disse Seth. – Senti um cheiro de um vampiro que eu não reconheço.

–Aonde? – perguntou Jacob.

–Perto da fronteira com o território dos Cullen. Eu senti quando levei Renesmee para casa.

Vi a imagem na mente de Seth. Ele se apavorara por saber que um vampiro desconhecido estivera tão perto de Renesmee.

–Peraí. Se um vampiro estivesse no território dos Cullens, eles saberiam certo? – eu perguntei.

–Alice deveria ter visto alguma coisa, mas ela não disse nada hoje. – acrescentou Jacob.

Continuamos seguindo o rastro. Era um cheiro muito pior do que o de Alice. Imaginei porque faria diferença para mim. O rastro acabava no mesmo precipício que eu pulei da última vez que estivera aqui... Senti Jacob estremecer quando viu a lembrança na minha mente. Ele não comentou nada e tampouco Seth.

–O sanguessuga deve ter pulado na água. – concluiu Jacob.

–Por que ele estaria aqui? Quer dizer, ele não iria querer se meter no território de um clã tão grande como o dos Cullen. – Seth se questionou.

–Vamos continuar a ronda, ver se achamos algo mais. – disse Jacob.

Eu segui-os com um pressentimento estranho. Era como se isso fosse apenas o começo de algo maior. Tentei dispersar esses pensamentos ao correr mais rápido.

Depois de algumas consideráveis horas disso, eu estava caindo de sono. Não houve movimento algum e Seth estava preocupado, mas Jacob não.

–Quem quer que seja que tenha vindo aqui ou é idiota ou louco. Quem é que ia querer se meter num lugar com a maior matilha de lobisomens do mundo?

E mesmo assim Seth não conseguiu relaxar. Via em seus pensamentos constantes imagens dos Volturis. Me arrepiava até a alma ver aqueles rostos pálidos com assustadores olhos vermelhos e mortais.

O sol finalmente nasceu e Jacob nos disse para irmos para casa. Ele falaria com Sam sobre o tal vampiro para deixá-lo alerta.

–E como está a situação entre vocês dois? Com a coisa dos dois alfas... – eu perguntei a ele.

–Cada tem um tem a sua própria matilha. Assim não tem tanta rivalidade.

–Ah sim, entendi.

–Eu te vejo mais tarde, então. Você vai estar na Sue?

–Hã, eu não sei...

–É claro que você vai para a minha casa. – Seth interveio.

–Então tá! Te vejo depois. – uma parte minha não queria se afastar de Jacob.

–Eu ouvi isso. – Jacob disse rindo.

–Ops... Acho que vai levar algum tempo até eu me acostumar com essa coisa. – eu ri constrangida.

–Ah, o que é isso parem vocês dois. – reclamou Seth.

–Ok, seu chato. Vamos embora.

Saímos correndo de lá em direção à casa de Sue, onde, felizmente, uma cama macia e confortável estaria me esperando.