O Outro Lado Da Lua escrita por Marie Caroline


Capítulo 44
O que ninguém previu




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(Ponto de vista: Ângela)

Meu marido, Felipe e eu nos divertíamos vendo uma comédia na TV quando Agatha irrompeu pela porta correndo. Havia lágrimas em seus olhos.

-O que aconteceu? – perguntei indo atrás dela. Ela não me respondeu e subiu as escadas correndo. – Agatha! – puxei seu braço.

-Mãe, me solta. Eu não quero falar com ninguém! – ela estava descontrolada. Fábio e Felipe vieram ao nosso encontro.

-O que está havendo? – perguntou Fábio.

-Não aconteceu nada. Só... Me deixa ir. – ela continuava tentando se desvencilhar do meu aperto. Soltei-a.

-Minha filha, olhe para mim. Me conta, pode falar. – pedi tentando acalmá-la. Só agora via que o seu encontro com Bernardo fora um erro.

Agatha ficou muda, porém continuava tremendo e as lágrimas ainda caíam.

-Foi o Bernardo, não foi? – Felipe gritou. – Aquele idiota, eu avisei para você...

-Não filho, pare com isso. Só vai piorar a situação. – Fábio sempre tentava manter o controle.

Agatha aproveitou a distração e saiu correndo novamente em direção ao banheiro. Fiz menção de ir atrás, mas Fábio pediu que eu deixasse para lá. Que ela se abriria quando estivesse pronta. Concordei de má vontade, porém permaneci ao lado do banheiro esperando que ela saísse.

Passado alguns longos minutos, ouvi o barulho de água. Pensei que ela estava tomando um banho, mas quando ouvi mais de perto pensei ter ouvido ela se debater. Começou a escorrer água por debaixo da porta.

-Agatha, abra! – gritei batendo na porta. Não houve resposta. Tentei abrir, mas estava trancada. – Fábio, venha aqui! – gritei.

Ele veio correndo para ver o que era.

-Ela não quer abrir! – disse desesperada. Ele observou a água escorrendo e deu um empurrão na porta com o ombro. Depois de três batidas, ela se abriu. Adentramos e me deparei com algo horrível: Agatha estava desacordada dentro da banheira cheia de água.

(Ponto de vista: Ariane)

Eu me preocupava muito com Agatha desde o dia em que ela acordara do coma há seis meses atrás. Preocupava-me que ela pudesse fazer uma besteira a qualquer momento.  Ainda assim não esperava uma ligação desesperada de sua mãe num domingo de manhã. Ela apenas dissera que encontrara Agatha na banheira aparentemente tentando se afogar.

Eu não acreditava que ela fosse capaz de se matar, mesmo que tivesse algum motivo para isso. Fiquei meio desesperada quando dona Ângela me deu a notícia, mas depois de saber que Agatha estava bem pude pensar com clareza.

Eu devia ir até lá ajudá-la e saber quais razões a levou a fazer isso. Pedi a Kevin para me levar até lá. Estávamos no carro agora.

-Acha mesmo que ela faria isso? – perguntou-me Kevin. Ele parecia nervoso também.

-Não, eu não acho isso. – torcia minhas mãos nervosamente. Quis pedir para ele acelerar mais o carro, porém não o fiz. Kevin ainda se sentia culpado pelo acidente meses atrás.

Quando finalmente chegamos dei um beijo rápido de despedida em Kevin e entrei correndo na casa de Agatha. Sua mãe, seu pai e Felipe estavam na sala, todos com uma expressão abatida.

-Oi. Como ela está?

Dona Ângela se apoiava no marido que estava sentado no sofá.

-Ela está no quarto. Não quer falar com nenhum de nós, mas acho que vai recebê-la.

-Tudo bem. – aquiesci e subi as escadas em direção ao seu quarto. Bati à porta. Não houve resposta.

-Agatha, é a Ariane. Abra, por favor. – Esperei alguns segundos e quando decidi abrir eu mesma, ela abriu.

Minha primeira impressão era que outra garota havia aberto a porta. Pisquei os olhos ao me dar de conta que era minha melhor amiga que estava ali.

-Agatha... – ela estava muito pálida, com olheiras fundas em seu rosto. Percebi que havia veias azuis em seus pulsos.

-Veio conferir se eu não sou suicida? – sua voz saiu horrivelmente rouca. Ela me deu espaço para entrar, fechou a porta e encostou-se na mesma.

-Sua mãe me contou o que houve. – declarei.

Ela me encarou sem dar sinais de que diria algo.

-Por favor, me diga que não tentou se matar.

-Eu não tentei me matar. – ela disse aquilo como se fosse a milésima fez que dissesse.

-Então... O que aconteceu?

Ela pareceu constrangida. Deu as costas para mim e sentou-se em sua cama. Esperei alguns momentos até que ela estivesse preparada.

-Não posso explicar. – ela disse finalmente. – Só o que posso dizer é que eu não queria morrer. Eu achei que... Tinha visto uma coisa. – ela terminou num sussurro.

Eu não entendia do que ela estava falando. Talvez essa fosse sua intenção; não me deixar saber.

-Agatha, eu não entendo o que está acontecendo com você. Pode me contar, somos melhores amigas.

Ela inspirou profundamente antes de responder.

-Você não pode entender. Ninguém pode.

Passamos algum tempo em silêncio. Sentei-me na cama ao seu lado. Eu começava a ficar frustrada. Agatha sempre fora sincera comigo, por que tantos segredos agora?

-Sabe o que Bernardo me disse ontem à noite? – ela disse de repente.

-Você esteve com Bernardo? – estranhei. Apesar dos dois terem voltado a ser amigos, ela quase nunca queria o ver.

-É. Eu estive. – sua voz era quase morta.

-Então, o que ele disse?

-Que eu mudei. – seu olhar se perdeu no vazio. – Você acha que é verdade?

Eu sabia que era verdade, mas não queria magoá-la principalmente no estado em que se encontrava.

-Todo mundo muda.

Ela riu sombriamente.

-Para pior?

Aquela conversa estava me deixando desconfortável.

-Você não mudou para pior, é apenas uma fase. Tenho certeza que tudo vai dar certo no final. – imprimi o máximo de sinceridade em minhas palavras. Afinal, era isso o que esperava que acontecesse. Ela ficou quieta, absorvendo minhas palavras. Passaram-se alguns minutos, ela estava com uma expressão tensa. Parecia estar concentrada em algo importante.

-Acho que todos estão com suas vidas nos trilhos exceto eu. – ela murmurou de repente.

Fitei-a sem saber o que dizer. Talvez não houvesse muito que dizer no momento, então só o que fiz foi abraçá-la, esperando que aquilo fosse o suficiente para confortá-la.


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Notas finais do capítulo

Se alguém ficou confuso, este é o prólogo :)



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