O Outro Lado Da Lua escrita por Marie Caroline


Capítulo 34
Livre para decidir




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(Ponto de vista: Bernardo)

Eu mal tocava a comida em meu prato quando minha mãe chamou minha atenção.

-Querido, você não vai comer? – minha mãe, Inês, sempre usava termos como “querido e amor”, mas seu tom denunciava a sua verdadeira intenção – que na verdade era controlar tudo e todos.

-Tô sem fome. – disse. – Posso subir?

Ela me avaliou com um brilho estranho no olhar.

-Isso é por causa daquela garota, não é? – ela levantou sua sobrancelha fina. – Há dias que você está estranho.

Meu pai suspirou, visivelmente cansado daquele assunto.

-Não é aquela garota. – corrigi. – É a Agatha. E você sabe que ela está muito mal no hospital, esperava o que? Que eu ficasse dando pulinhos de alegria?

Ela me olhou com arrogância.

-Será que eu preciso lhe lembrar de que o único motivo para nós termos deixado você voltar foi porque você jurou ter esquecido essa garota?

-E eu só disse isso para poder voltar. – rebati calmamente, apesar de que a raiva estivesse ameaçando subir à superfície. – Manipular os outros é uma coisa que eu aprendi com a senhora.

-Bernardo, respeite sua mãe! – disse meu pai, Joaquim. – Agora chega com este assunto. – ele pegou o jornal e se enfiou atrás dele, como sempre.

-Chega com este assunto?! – exclamou Inês. – Joaquim, nosso filho vive sua vida correndo atrás de uma subalterna e você...

-Subalterna? – gritei saindo da mesa. – Por que você sempre se acha melhor do que os outros? A Agatha é mil vezes melhor do que todas essas patricinhas mimadas que você me apresenta. – Ela me olhou com indiferença. – Quer saber? Eu vou dar o fora daqui!

Saí da sala de jantar ignorando os gritos de minha mãe. Passei pelos corredores a passadas largas até a garagem e peguei a chave do Comet do meu pai. Ele odiava que eu pegasse os carros dele. Como se eu me importasse.

Eu precisava sair daqui, precisava me afastar dos meus pais. Liguei o carro e saí feito um louco.

Meus pais haviam decido minha vida uma vez e eu não os deixaria fazer novamente. Iria atrás de Agatha e ninguém iria me impedir.

Fiz uma curva perigosa ao sair da propriedade para a estrada, o vento agitou meu cabelo. Eu adorava correr. Lembrava de Agatha ao meu lado rindo comigo enquanto passeávamos por estradas vazias.

Ela tinha um sorriso lindo, os olhos lindos... Eu não queria ter deixado-a. Mas a escolha de ir para Nova York não fora minha. Minha mãe nunca gostou do meu namoro com Agatha, ela queria dar um fim naquilo e o intercâmbio foi uma maneira mais do que eficiente para destruir tudo.

Eu não quis dizer o porquê da minha mãe não gostar dela, achei que isso a magoaria. Inês achava que Agatha não era boa para mim por que ela não era do nosso círculo social.

Bufei. Isso era ridículo. Mas eu não lutei contra isso, deixei minha mãe me controlar e com o tempo acabei desistindo de Agatha. O pior erro que eu cometi na minha vida.

Meu celular tocou e eu atendi mesmo estando dirigindo. Eu era um ótimo motorista, de qualquer maneira.

-Alô?

-Bernardo, é Ariane.

Não havia melhor hora para ela ligar, eu estava morrendo de vontade de ver Agatha.

-Oi, e aí falou com os pais dela? – perguntei atropelando as palavras.

Ela hesitou.

-Falei. E eles não deixaram.

Diminui e encostei o carro.

-Como assim eles não deixaram? – eu disse mais firme.

-Bom, eu avisei não é? – ela disse presunçosa.

Claro que avisou. Ela também estava contra mim.

-Você também me quer longe dela não é? – disse entre dentes.

-Você tem ideia de como a Agatha ficou quando você foi embora? Ela ficou catatônica, ela não saia de casa, ela não falava com ninguém... Você acha que vai fazer algum bem para a vida dela?

Fiquei sem palavras quanto a isso. Eu não fazia ideia de que ela ficara assim com a minha partida.

-Eu não sabia disso. – disse baixo.

-Pois é. Agora você sabe. Bom, eu tenho que desligar.

-Tudo bem. – eu disse ainda meio atordoado. Ela desligou e eu fiquei um tempo pensando.

No dia em que eu havia visto, Agatha parecia esquisita mesmo. Como se faltasse aquele brilho no olhar. Mas eu achava que era apenas a surpresa de ter me visto... Eu não a imaginava catatônica. Ela sempre fora tão cheia de vida...

Será que eu havia a machucado tanto assim? E se eu havia, ela me perdoaria quando acordasse? Eu dizia quando por que não suportava pensar em se. Porque ela acordaria, eu tinha certeza. Em breve eu teria a chance de pedir o seu perdão e ficaríamos juntos novamente, como deve ser.

Mas eu precisava saber de seu estado mais detalhadamente. Só que seus pais estavam deliberadamente empatando o meu caminho.

Liguei o carro, decidido. Não me importava que os pais dela não permitissem que eu a visse. Eu estava pouco me lixando.

Dirigi em alta velocidade pela estrada. Eu não sabia ao certo onde Agatha estava, mas se eu conhecia bem a mãe dela, ela provavelmente colocara a filha no hospital em que a madrinha de Agatha era enfermeira.

Cheguei até o local em poucos segundos. Estacionei o carro e entrei no pequeno átrio indo até a recepção. Era uma mulher de meia idade que atendia. Preparei meu melhor sorriso persuasivo e falei:

-Olá, você poderia me informar se Agatha Medeiros é paciente deste hospital?

Ela piscou os olhos um pouco atordoada. Abri mais o sorriso.

-Bem, nós não podemos dar esse tipo de informação. Lamento – ela sorriu desculpando-se.

-É que na verdade, ela é uma amiga minha. E ela sofreu um terrível acidente e eu não tenho contato com sua família. Mas sei que a madrinha dela trabalha aqui. – disse.

-Como é o nome da madrinha dela? - Ela perguntou.

Tentei me lembrar.

-Lúcia. – eu disse.

A compreensão apareceu em seu rosto redondo.

-Ah, sim. Ela é enfermeira aqui, somos amigas. Mas seu turno já acabou. Por que não volta amanhã? – O sorriso estava lá novamente. Tentei não revirar os olhos.

-Então isso quer dizer que Agatha está aqui? – Perguntei ansiosamente.

Ela fez uma cara de quem quer confiar um segredo.

-Está sim. – ela sussurrou. – Mas não posso deixá-lo entrar, entende...

Sorri. Ela me deu exatamente o que eu queria.

-Tudo bem, eu volto amanhã. – Dei meia volta fazendo parecer que eu iria embora. Escondi-me atrás de um pilar grosso e enquanto o segurança dava informações a uma mulher esgueirei-me por trás dele passei para o corredor.

Para mim sempre fora fácil demais conseguir as coisas que eu queria.

Procurei em uma placa onde ficavam os quartos de pessoas em coma. Era no andar acima. Subi as escadas e comecei a procurar. Tive que tomar cuidado, porém. Os pais dela podiam estar ali.

Quando olhei pela quinta janela, encontrei dona Ângela sentada ao lado de um leito. Agatha estava deitada na cama, escondida atrás da mãe.

Eu quis gritar ao ver a garota que eu amava ali a poucos metros e não poder tocá-la. Eu tinha que pelo menos chegar mais perto. Mas como faria isso com a sentinela ali de prontidão?

Enquanto ruminava em meus pensamentos algo aconteceu no quarto. Ângela arfou e disse algo que não ouvi. Ela levantou-se e com um sobressalto vi Agatha acordada e olhando a volta completamente assustada.

Sem pensar direito, entrei no quarto. A expressão de Ângela era de puro ódio quando me viu, mas eu estava ocupado demais prestando atenção em Agatha.

Seus olhos eram assustados e ela olhava para os lados como se estivesse se perguntando como fora parar ali. Era compreensível dado ao acidente que tivera.

-Saia daqui! – gritou a mãe. – Como se atreve?

-Mãe... – gemeu Agatha. Ela estava quase chorando, seu peito subia e descia convulsivamente.

-Meu amor, calma. Está tudo bem. – ela se aproximou da filha afagou sua testa.

-Agatha... – sussurrei. Eu não conseguia tirar meus olhos dela. Ela parecia tão frágil, tão assustada... Eu só queria abraçá-la e não soltar mais. – Como você está?

-Saia daqui. Agora. – disse Ângela com a voz gélida.

Não me movi.

-Eu vou chamar os seguranças. – ela ameaçou.

Ok, ela venceu. Dei mais uma olhada para Agatha que continuava perturbada. Sussurrei um “eu senti sua falta” e saí.


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Notas finais do capítulo

Awn! Eu sou a única que gosta do Bernardo? Sério, ele é fofo quando não tá sendo um idiota... E vocês girls? O que pensam desse Bad boy?



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