Eu mal conseguia me mover na manhã seguinte. Cada parte de meu corpo doía. Girei minhas pernas para fora do sofá esfregando os olhos. Pela janela pude ver uma que uma chuva fina caía lá fora.

Não ouvia ruídos vindos de nenhum lugar da casa então deduzi que Sam e Emily não haviam acordado. Fui ao banheiro e olhei-me no espelho. Eu estava horrível. Com olheiras roxas e fundas e meu cabelo estava uma zona.

Passei água no rosto e de repente senti muita falta de possuir maquiagens. Não que eu abusasse de seu uso, mas era necessário às vezes...

Voltei à sala e decidi esperar que alguém acordasse. Olhei no relógio e vi, surpresa, que eram cinco e meia. Não percebi por causa da chuva que caía.

Levei menos de dois minutos para saber que não teria paciência para esperar alguém e saí porta a fora.

Não me importei com a chuva. Caminhei até chegar à estrada que vim com Leah na véspera e fui em direção contrária. Tive o cuidado de memorizar o caminho que fiz para poder voltar.

Passei por várias casas, e, sem saber ao certo onde queria chegar, continuei andando. Avistei uma placa que informava onde ficava a praia. Sorri com a perspectiva de conhecer a praia sobre a qual tanto li.

Segui na direção que a placa informava e logo pude ver a água cinza, a fina faixa de areia, as pedras de todas as cores, as árvores de tronco branco...

Cheguei mais perto e sentei num tronco particularmente grosso. O vento que vinha das ondas agitou meu cabelo. Observei-as sentindo uma paz repentina.

Desde o momento que caí naquele buraco, tudo virara um borrão de confusão. Essa era a primeira vez que me sentia serena.

A chuva fina ainda caía, abracei meus joelhos observando o mar. Agora eu sentia um pouco de frio, porém não tinha intenção alguma de mover-me.

Minutos se passaram e o único ruído presente era os das ondas. Como a respiração lenta de alguém que dormia.

–Olá. –disse uma voz rouca atrás de mim.

Quase caí de susto ao olhar para o rosto que fitava-me.

Ele era impossivelmente lindo. No exato segundo que o vi sabia quem era.

Os olhos escuros sob sobrancelhas grossas, as maçãs do rosto altas, os lábios grossos... E ele era tão alto! As veias eram bastante proeminentes naqueles braços fortes.

Jacob Black ainda me encarava esperando uma resposta.

–Olá. – respondi ainda incapaz de desviar meus olhos dele. Estava encantada com sua beleza, mas mesmo assim pude ver traços de tristeza em seu rosto.

Ele fitou-me com curiosidade.

–Então você é a garota que apareceu do nada. – ele disse aproximando-se.

Então ele ouvira falar de mim?

–Como você sabe? – pisquei os olhos.

Ele pareceu hesitar.

–Hã... Os garotos me contaram. – ele baixou o olhar.

Deduzi que Jacob descobrira pela telepatia de lobos, mas provavelmente não quisera comentar nada sobre essas esquisitices.

–Eu sou Jacob. –ele disse simplismente e sentou-se no tronco ao qual eu também estava sentada.

–Sou Agatha. – disse tímida. Depois lembrei-me que era inútil dizer meu nome, certo de que ele provavelmente soubera.

Ele observou as ondas antes de olhar para mim e dizer:

–E o que faz por aqui tão cedo?

–Perdi o sono. – comecei a arrancar os pequenos arbustos que nasciam por entre a areia.

Ele riu.

–Sorte sua. Eu nem sequer dormi.

Soltei o arbusto.

–Por que não?

Ele suspirou.

–Estive ocupado durante a noite.

Percebi as olheiras por baixo de seus olhos. Continuei encarando-o até seu olhar encontrar o meu. Desviei rapidamente.

–Então você também é um – pigarreei. – lobo? – disse isso apenas para contornar o momento constrangedor.

–É, sou sim. – ele olhou para o mar. – Parece que você está por dentro do assunto. – ele comentou.

–Pois é. – suspirei. – Literalmente tive que ver para crer. – lembrei de ver o imenso lobo cinza que era a Leah.

Ele riu novamente.

–Imagino que seja meio confuso encontrar um lobo gigante no meio da floresta. – ele falou sarcástico – Mais ainda ler os pensamentos de um.

Grunhi em resposta sem saber o que dizer.

–Leah ficou bem irritada por você ter feito isso. – ele continuou sarcástico num tom que não gostei muito.

–Ela ficou? – sussurrei. Temi já ter feito inimizade em menos de vinte e quatro horas nesse lugar.

–Ah não se preocupe. – ele tentou-me tranquilizar sem sucesso – Essa é a Leah. – Ele deu de ombros.

Ficamos em silêncio por um momento e ele continuou observando o mar, como se eu nem estivesse mais presente.

Lá no fundo, algo fervia dentro de mim. De início não percebi o que era, mas ao olhar as feições amargas de Jacob, descobri que era decepção.

Aquele não era o Jacob que eu havia sonhado em conhecer. Aquele com o sorriso ensolarado, o campo gravitacional de felicidade e seu bom humor.

Havia algo muito errado com ele.

Se minha teoria estivesse certa, eu estava em algum ponto da história entre Eclipse e Amanhecer. Então eu podia entender que ele estivesse deprimido.

–Você está bem? – a pergunta escapou de meus lábios antes que eu pudesse conter.

–O que? – ele ainda não olhara para mim.

–Me desculpe... É que você não parece bem.

Ele me olhou com um misto de incredulidade e... vergonha?

–Acho que você deveria ir agora. – ele disse indiferente. – Imagino que não tenha avisado que saiu.

Levantei-me imediatamente, meu rosto já quente de vergonha.

–V-você tem razão. – gaguejei. – Tchau.

–Tchau. – ele respondeu sem olhar para mim.

Saí dali em passos rápidos.

A rejeição atingiu-me em cheio, consequentemente formando um nó em minha garganta. Uma voz em minha cabeça gritava que a culpa era minha e que não deveria ter me intrometido em sua vida.

E por mais que eu soubesse que era irracional, não pude deixar de me sentir magoada, afinal todos aqui haviam sido legais comigo e a pessoa que eu mais almejei conhecer foi a única a ignorar-me.