Sete anos depois...

Pov. da Melany

Era uma tarde de sexta-feira. O céu estava nublado e eu o observava através da janela do meu quarto. Não sei por que nos mudamos para outro lugar assim. Sem um pingo de sol e sempre nublado e chuvoso. Na verdade, eu não estava entendendo muita coisa ultimamente. Muitas coisas estranhas estavam acontecendo, o que me fez começar a reparar mais em minha família.

Em toda minha vida eu nunca havia os visto comerem nada, e olha que eu tenho treze anos! Além disso, percebi que os olhos deles mudam de cor. Costumavam variar entre o dourado e o preto, e sempre que eles ficavam escuros, meus irmãos, especialmente o Jasper, me evitavam o máximo possível. Sem falar das incontáveis vezes que eles saíam para a floresta que ficava nos arredores da nossa casa e quando eu perguntava o que eles iam fazer lá, diziam apenas: “Fomos caminhar". Eu até me oferecia para acompanhá-los, porém eles sempre davam um jeito de não me levar.

Além disso, todos eles eram... Como posso dizer... Duros. Sempre que eu brincava de bater com Emmett ou esbarrava em algum deles sem querer, eu ficava com hematomas. Era como bater em uma parede. E pode parecer loucura, mas era como se Alice pudesse prever o futuro, pois tudo que ela dizia acabava acontecendo. E o Edward, de alguma forma, sempre parecia saber o que eu estou pensando. E tinha outra coisa, nos raríssimos dias de sol, eu ia para a escola sozinha. Pensando bem, nunca os vi sair no sol.

Eu amava minha família acima de tudo, porém não podia negar que havia algo muito estranho acontecendo. Era isso ou eu tinha enlouquecido de vez. A porta do meu quarto foi aberta por Alice, o que interrompeu meus pensamentos.

— Melany, é sexta! Você vai passar o resto do dia aí, olhando o tempo? – Ela me perguntou pondo as mãos na cintura.

— Ok, Alice. Você tem razão. Vamos descer. – Concordei, a fazendo abrir o seu lindo sorriso.

Enlacei meu braço ao dela, já habituada com a temperatura anormalmente fria de sua pele. Outro fato curioso. Todos os membros da família, com excessão de mim, possuíam uma temperatura corporal estranhamente fria.  Descemos a escada, nos dirigindo a sala, onde Rose e Emmett assistiam televisão. Minha mãe estava sentada em uma das poltronas, folheando uma revista.

— Chega mais, monstrinha! Está passando Busca Implacável. – Disse Emmett, me convidando para assistir com eles. Acatei seu pedido, sentando entre ele e Rose.

Meu pai estava no hospital, trabalhando. Então onde estavam meus outros dois irmãos?

— Cadê o Edward e o Jasper? – Verbalizei minha indagação.

— Foram caminhar. Parece que acharam uma trilha nova. – Respondeu minha mãe, sem tirar os olhos da revista.

Outra caminhada... Pensei. Era a segunda esta semana.

Voltei minha atenção ao filme e quando chegou na metade, Rose resolveu mudar de canal, já que segundo ela, o filme não era adequado para mim.

— Qual é, Rose! Deixa a menina assistir. – Protestou Emmett enquanto Rosalie trocava de canal.

— Nem pensar. Isso não é filme para crianças. Vamos assistir esse. – Retrucou ela. Pelo que eu pude perceber, o nome do novo filme era A Fantástica Fábrica de Chocolate.

— Ei! Eu não sou criança! E eu quero terminar de assistir o filme. – Reclamei um pouco estressada.

Parece que eles não percebiam que eu não era mais um bebê. Nesse momento, Edward e Jasper chegaram.

— Qual o motivo da discussão? – Indagou Jasper.

Mais uma vez notei como eles sempre pareciam escutar tudo. E para ficar mais bizarro, quando pensei isso, Edward olhou para mim.

— Emmett e Melany estavam assistindo um filme, só que Rose resolveu mudar de canal porque o filme não era apropriado para crianças. – Explicou Alice.

— Sobre o que era o filme? – Foi a vez de Edward perguntar.

— Sobre sequestro e tráfico de mulheres. – Respondeu Rose.

— Rosalie tem razão. É um tema muito pesado para crianças. – Opinou Jasper.

— Também acho. Isso não é coisa para você assistir. – Concordou Edward. Bufei indignada, revirando os olhos.

— Eu tenho treze anos! Não sou criança. E quer saber? Chega de televisão. Vou para o meu quarto! – Eu disse já irritada.

— Viu? Vocês a aborreceram. – Murmurou Emmett.

— Emmett, aquele filme não é para ela. – Insistiu Rose. Aff!

Quando já tinha subido uns cinco degraus, ouço Emmett me chamando.

— Vem cá, monstrinha. Deixa esses chatos para lá. – Pediu com seu costumeiro sorriso, batendo no espaço vago no sofá.

Tive que sorrir. Dei meia volta e dessa vez me sentei ao lado de Emmett, me isolando do restante dos meus irmãos.

— Não faz assim. Só queremos o que é melhor para você. – Justificou-se Edward, sentando ao meu lado. Revirei os olhos mais uma vez. Eles eram tão super protetores! 

O resto da tarde passou rápido. Eu e Emm ficamos jogando Guitar Hero. Eu ganhei três vezes e Emmett duas. Assim que terminamos a última partida, nosso pai chegou.

— Boa noite, família. – Ele cumprimentou entrando na sala.

— Boa noite, pai. – Respondemos juntos.

— Boa noite, querido. – Disse minha mãe lhe dando um selinho de boas vindas. – Mel, hora do jantar. – Acrescentou ela me olhando.

Mais cedo, em algum momento enquanto discutíamos sobre o filme, ela escapuliu para a cozinha afim de fazer o jantar. Curiosamente, só para mim. Levantei e a segui para a cozinha. Dona Esme cozinhava bem. Muito bem, na verdade. Era impressionante o fato de que ninguém além de mim comesse naquela casa.

Quando voltamos para sala, encontrei meu pai sentado na poltrona e Jasper, Edward e Emmett no sofá assistindo um jogo de basquete. Rosalie e Alice estavam sentadas no chão com caras entediadas, provavelmente por causa do jogo. Sentei perto delas e minha mãe foi para o colo do meu pai.

— Ninguém merece! – Resmungou Rose.

— Vamos decidir isso democraticamente. – Sugeri pegando o controle. – Quem quer mudar de canal? – Perguntei.

— Eu! – Rose, Alice e mamãe levantaram as mãos.

— E quem quer continuar assistindo esse? – Questionei novamente.

— Eu! – Responderam os homens.

— Eu estou com as meninas. E como eu sou a caçula, eu escolho. – Falei trocando de canal, recebendo vários resmungos dos meninos.

Estava passando um filme sobre vampiros. Não sei por que, mas essa palavra ficou rondando minha mente. Pelo canto dos olhos percebi Edward ficar tenso.

— Vamos mudar. Isso é mais chato que o jogo! – Reclamou Alice trocando o canal. Como eu estava cansada, resolvi dormir.

— Estou com sono. Vou dormir, boa noite. – Pronunciei dando um beijo na bochecha da minha mãe e outro na bochecha do meu pai antes de subir para o meu quarto.

Depois de colocar meu pijama, fui para o quarto do Edward. Eu ainda dormia com ele, mantendo a mania que eu adquiri quando era menor. Quando cheguei, ele já estava deitado na cama me esperando.

— Boa noite, maninho. – Sussurrei já com sono.

— Boa noite, Mel. – Ele respondeu me acolhendo em seus braços gélidos.

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Acordei no dia seguinte com Edward ao meu lado. Ele sempre acordava primeiro do que eu. E ao contrário de mim, não se mexia um centímetro sequer durante a noite. 

— Bom dia, dorminhoca. – Desejou como fazia todas as manhã.

— Bom dia, dorminhoco. – Respondi o fazendo rir.

Não demorei a ir para o meu quarto trocar de roupa e fazer minha higiene matinal. Quando desci, encontrei minha mãe na cozinha.

— Bom dia, mãe. – A cumprimentei com um beijo no rosto.

— Bom dia, querida. – Respondeu ela, terminando de colocar o meu café da manhã na mesa.

— Cadê o resto do pessoal? – Procurei saber.

— Os outros ainda não desceram e seu pai está no escritório. – Informou dando um beijo em minha testa antes de se retirar.

Quando terminei meu café, segui o som da suave melodia que preenchia a casa. Fui até a sala do piano e encontrei Edward dedilhando suavemente as teclas do instrumento. Ele tocava muito bem. Sentei ao seu lado.

— Gostaria de me acompanhar? – Ele perguntou com um sorriso.

Eu também sabia tocar. Ele mesmo havia me ensinado. Aceitei seu convite e me juntei a meu irmão. A música era linda. Quando tocamos a última nota, escutamos aplausos. Não tinha me dado conta da presença deles até este momento. Edward me abraçou de lado e encaramos nossa família, que nos olhavam emocionados.

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Estavam todos na sala. O relógio marcava exatamente quatro horas da tarde, mas a tempestade lá fora fazia parecer que já era noite. Eu me encontrava deitada na minha cama, ouvindo música. Minha família estava assistindo um filme de terror que não era apropriado para mim e blá, blá e blá. Antes de vim para o meu quarto, trouxe uma xícara de chocolate quente. A bebida estava uma delícia, então eu resolvi descer e pegar mais um pouco.

Quando cheguei a sala, todos estavam concentrados no filme, que para o meu azar, se encontrava no auge do suspense. O som inesperado de um trovão me fez pular de susto e derrubar a xícara. Por reflexo, tentei segura-la, entretanto era tarde de mais. A xícara se espatifou com tudo no chão e ainda cortou meu dedo. O corte foi profundo o suficiente para sangrar.

Nesse momento, todos olharam em minha direção. Mais precisamente para o dedo do qual o sangue escorria. Fiquei chocada ao constatar que os olhos de alguns deles haviam mudado de cor. Do dourado para o preto. Foi tudo em questão de segundos.

Jasper levantou do sofá e correu porta fora em uma velocidade que eu só julgava ser possível em desenho animado. Logo depois foi Alice. O restante se virou para encarar a porta, mas logo voltaram sua atenção para mim. Eu estava sem reação. Quando me recuperei minimamente, fui correndo para a cozinha. Já que o causador dessa situação foi meu sangue, tinha que me livrar dele o quanto antes.

Enfiei minha mão em baixo da torneira, vendo o sangue escorrer junto com a água. Desisti dessa ideia e fechei a torneira, pegando um pano de prato e enrolando no dedo. Enquanto pressionava o ferimento com o pano, senti uma mão fria em meu ombro. Me virei assustada e vi meu pai. Ele não disse nada, apenas me lançou um olhar tranquilizador, e me guiou de volta para a sala. Quando chegamos ao cômodo, todos voltaram a nos olhar.

— Esme, limpe isto, por favor. – Pediu meu pai se referindo aos cacos da xícara. – Se não tiverem se sentindo bem podem ir. – Ele disse para Rosalie, Emmett e Edward. – Você também, Esme. – Acrescentou ele. Os quatro assentiram.

Enquanto meus irmãos saíram, minha mãe ficou. No olhar dela, eu podia ver preocupação e medo. Meu pai me levou para o seu quarto, onde ele guardava suas coisas de trabalho. Pegou um frasquinho azul, com um líquido transparente dentro, e passou o conteúdo no meu dedo, segundo ele para não infectar, e depois fez um curativo. Fiquei calada durante todo o processo. Quando voltamos para a sala, ela estava vazia e o chão já estava limpo.

Sentei no sofá. Meu pai sentou na poltrona, de frente para mim, e ficou me observando. A única palavra que me veio à mente foi "vampiro", mas eu sabia que era loucura. Eles não se pareciam com os vampiros que vemos em livros e histórias.

Não demorou muito e todos retornaram. Fiquei com vontade de abraça-los, no entanto tive medo de fazer algo que piorasse a situação, então permaneci sentada e calada.

— Agora que estão todos presentes, temos que conversar. – Manifestou-se meu pai.

— Mas, pai, o senhor tem certeza... – Começou Alice parecendo indecisa.

— Tenho, Alice. Finalmente este dia chegou. Sentem se todos. – Ele interrompeu, num tom sério. Meus irmãos também sentaram no sofá e minha mãe ocupou uma poltrona ao lado dele.

— Melany, precisamos te contar uma coisa. Nós não somos humanos. – Revelou meu pai, sem rodeios.

Para ser sincera, de alguma forma eu já sabia ,então só fiz perguntar.

— O que vocês são então? — Questionei com um misto de curiosidade e apreensão.

— Somos vampiros. – Respondeu ele sem o menor vestígio de brincadeira.

Nesse momento, tudo se encaixou. Quer dizer... Mais ou menos.

— Então é por isso que vocês não comem nada? Por que seus olhos mudam de cor? E o que acontece se vocês saírem no sol? – Disparei várias perguntas de uma só vez.

— Sim, não nos alimentamos com comida humana. A cor dos nossos olhos mudam de acordo com a nossa sede. Quanto mais sede, mais escura a cor. Eles também podem mudar por causa do nosso humor. Nossa pele reage de uma forma diferente ao sol. É por isso que não saímos em dias ensolarados. As pessoas iriam notar que somos diferentes. – Esclareceu meu pai, respondendo a cada uma das minhas perguntas.

— Que legal! E o que mais? – Indaguei fascinada.

— Alguns de nós tem poderes especiais. Edward pode ler mentes. Alice pode prever o futuro. E Jasper pode controlar as emoções das pessoas. – Ele explicou.

Uau! Agora tudo se encaixa. Edward, está me ouvindo? Perguntei mentalmente.

— Sim. – Meu irmão respondeu.

Merda! Agora não posso aprontar nada. Edward começou a rir.

— O que foi, filho? – Questionou minha mãe sem entender a reação dele.

— Melany. – Pronunciou simplesmente, ainda rindo.

O resto do dia se passou assim, com eles me explicando tudo que eu precisava saber. Descobri também que era adotada, uma vez que vampiros não podem ter filhos.  Também me falaram brevemente sobre os Volturis, um tipo de realeza que os vampiros tinham, e que as “caminhadas” eram na verdade pretexto para caçar. Meu pai me explicou que eles se consideravam "vegetarianos" por se alimentarem exclusivamente do sangue de animais. Depois de tanta conversa, achei melhor ir dormir. Como sempre, depois de pronta, me dirigi ao quarto de Edward. Ele já estava me esperando. Deitei ao seu lado.

— O que você faz enquanto eu durmo? – Questionei já sabendo que eles não dormiam.

— Te faço companhia. — Respondeu com seu típico sorriso torto. — Agora é melhor você descansar. Recebeu informações demais hoje. – Aconselhou. Assenti com a cabeça.

Antes de dormir, pensei na mudança que faríamos em algumas semanas. Agora eu sabia o motivo. Iríamos nos mudar novamente, pois minha família já tinha ficado muito tempo ali, e como eles não envelheciam, as pessoas já estavam começando a reparar.  Nosso próximo destino seria a pequena e chuvosa Forks. E algo me diz que essa cidade nos reserva grandes surpresas.