Dusk (Sombrio) escrita por MayaAbud


Capítulo 50
Transformação


Notas iniciais do capítulo

"Não ouse se render
Não me deixe aqui sem você
Pois eu jamais poderia
Substituir sua imperfeição tão perfeita
A forma como você nos olha de cima
Sua compostura falsa
Empurrando e indo cada vez mais para o fundo
O mundo está nos nossos ombros
Você sabe mesmo o peso das palavras que diz?
—Evanescencem Imperfection



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Na manhã do dia dos pais acordei sozinha.

Tentei conter a pontada de desapontamento e engolir o nó na garganta, cantarolando a canção que compus em 4 dias e me preparando para a manhã. Sem ânimo desci ainda em meu roupão felpudo e quente em busca de qualquer comida rápida e fácil. Tudo muito quieto em minha barriga. No fim, eu estava sentada ao piano comendo a terceira maçã e chorando copiosamente, mesmo sabendo que não fazia sentido.

Jacob não sabia de meus planos, era surpresa. Provavelmente teve algum problema, algum chamado que eu não pude ouvir. Ergui a cabeça fitando a chuva fina que caía, as lágrimas parando por um momento, mas meu coração parecendo desaparecer.

Nem mesmo Leah estava ali. Mais lágrimas.

Antes que eu pudesse me acalmar o bastante para ligar para alguém em busca de notícias ouvi a aproximação: o coração grande e pesado, batendo úmido e então assumindo outra forma de som. Não demorou até que ele entrasse pela casa, molhado e um pouco sujo. Os olhos sobressaltados me fitando, rápido demais ele se aproximou, se ajoelhando e me envolvendo. Seu suspiro cansado soou alto.

—Tá tudo bem?_ falamos juntos. Ele segurou meu rosto e me olhou densamente.

—Estava chorando?

Dei de ombros sentindo os olhos e o ânimo pesados demais para esconder.

—Você não estava quando acordei_ comecei tentando dar uma explicação lógica e falhando miseravelmente.

Ele me abraçou novamente, beijando meu cabelo várias vezes seguidas.

—Perdão! Eu queria não me separar de vocês nem um segundo...

—Mais problemas?

—Dois convidados fazendo uma entrada triunfal_ Embora não pudesse ver seu rosto, enroscada em seu pescoço como estava, podia jurar que ele rolou os olhos. Beijei a pele na clavícula exposta.

—Como assim?

—Cortaram nosso território e precisei ir verificar se eles podiam...

—Ser mortos?!

—É... Uma confusão!_ ele bocejou _Mas então Edward e Carlisle chegaram e pelo que entendi, os dois foram reis algum dia. Seu avô pareceu bem surpreso com a chegada deles... A história vampira parece mais interessante que a Americana que conhecemos, você sabe...

—Vladimir e Stefan_ me dei conta. Jake se afastou e sentou à borda do banco do piano, sem me soltar realmente.

—Sim, acho que sim. Dois estranhos, com os olhos estranhos e trejeitos estranhos.

Uma gargalhada leve me balançou.

—Eu não os conheço. Só sei o que as histórias contam. Não sabia que haviam sido chamados.

—Parece que não foram, mas há rumores correndo... Aposto que está curiosa_ ele sorriu brincalhão. Balancei a cabeça absorvendo a informação.

—Não, pra ser honesta.

Jacob segurou meu rosto com a mão em concha.

—Se sente melhor agora?

—Só quando tudo isso acabar_ minha voz falhou com as possibilidades inclusas para o fim disso.

—Nessie..._ele hesitou, a voz quebradiça ameaçando me fazer chorar de novo. _Tem certeza sobre ficar? Talvez nós possamos encontrar algum lugar, longe de pessoas, alguma forma que dificulte sermos rastreados.

—Jacob..._ Já havíamos falado no assunto, não conversamos realmente, eu rejeitara todas as tentativas que fizeram a esse respeito. _Se as coisas não derem certo, se Aro conseguir o que quer, minha família, ou uma parte será feita prisioneira. Serão ligadas aos Volturi por algum poder como o de Alice e Edward.

Ele assentiu fervorosamente, também tinha ouvido Eleazar falar sobre todos os guardas poderosos.

—Não imagino o que os Volturi vão pensar a respeito dos lobos de La Push, mas Aro é um colecionador _Olhei nossas mãos unidas. _Não me espantaria que rendesse alguns lobos e os levasse... Você sabe o que Alec pode fazer. Não há um meio termo. Você se imagina longe, sem saber o que está havendo? Deixando a responsabilidade para Leah e os outros?

—Se você me pedir_ ele segurou me rosto com as duas mãos. Os olhos escuros estavam tão intensos que senti meu rosto arder. _Você só precisa me pedir.

Sorri, triste, sentindo uma lágrima escorrer por minha bochecha e seguir a linha de sua mão. Eu sabia o que ele tentava, estava me dando a chave, a solução. Se eu pedisse ele iria, mesmo dilacerado por deixar os seus num momento de necessidade, ele estaria afixado as minhas palavras, preso ao meu desejo. Eu quis ser um pouco mais corajosa, ou covarde, que fosse, mas não consegui fazer isso conosco.

—Não. Eu vou ficar aqui. Vou encarar Aro e dizer o que penso olhando em seus olhos. Se isso for toda a felicidade a que tenho direito, bom... Eu a vivi_ minha voz se tornou quase inaudível, minha coragem pouco fazendo jus às palavras.

—Amo você. Amar não diz o bastante. Eu... _Jake fez uma careta, parecia fazer um esforço hercúleo. _Eu vou fazer qualquer coisa para que você e Anthony saiam dessa seguros.

Balancei a cabeça respirando fundo com dificuldade.

—Tenho uma proposta pra você_ falei enquanto pensava. Ele sustentou meu olhar, esperando. _Vamos ser apenas humanos. A maior parte de tempo que pudermos. Com um tempo limitado, mas não vamos pensar mais nisso, estamos pensando há tempo demais e se for nossos últimos dias... De que terá adiantado ter lamentado tanto?! Todas as pessoas no mundo vivem sem saber o que as espera no fim do dia.

Jacob sorriu, aquiescendo, e beijou minha testa.

—É uma ótima ideia_ murmurou contra minha pele.

Procurei sua boca e a selei com os meus lábios, casta e longamente.

—Fiz uma coisa pra você_ falei, tentando me sentir mais animada. Jake ergueu as sobrancelhas grossas, à espera, os olhos ainda tensos.

Respirei fundo me endireitando no banco e deixei que o som fluísse, me permitindo concentrar apenas na música e na presença inspiradora ao meu lado.

A notas iniciaram densas e harmônicas, ganhando uma combinação mais intricada com o avançar, eu gostava de pensar que a canção como um todo era abrasadora, quase brutal, as notas subindo e descendo com uma complexa exaltação. Talvez fosse melhor explorada se tocada com um violino... Refleti ao acaso. Com um único tom longo e ecoante ela se acabou.

—Nossa!_ Jake rompeu o silêncio, parecendo sem fôlego. Toquei seu braço, a pele arrepiada. Sorri, satisfeita que a música o tivesse tocado.

—Se chama Black.

—Ness... Renesmee— ele acariciou meu nome com a voz rouca, unindo sua testa na minha. _Você é maravilhosa. Obrigado!

—Pelo dia dos pais.

Seu sorriso orgulhoso faiscou antes de cair um pouco.

—Eu tinha esquecido.

—Não acho que Billy deva se incomodar tanto. De qualquer forma podemos ir até a loja esportiva em Forks, quem sabe um novo kit de pesca?

—Você é maravilhosa!

Jacob me puxou para seu colo.

***

Após duas horas e um lanche com Billy, fomos até a recém-ativada casa Cullen, embora eu evitasse ir até lá para me poupar de comentários e planos de guerra, gostaria de cumprimentar Edward pelo dia dos pais.

—Posso entrar?_ murmurei colocando a cabeça para dentro da biblioteca para capacidade para centenas de livros, que agora jazia quase nua. Edward sorriu levantando da poltrona onde lia e vindo até mim.

—Feliz dia dos pais_ disse entre os braços de mármore, lamentando não ter pensado em algo com que pudesse presenteá-lo.

—Não há nada mais precioso pra mim do que saber que está feliz_ a voz melodiosa respondeu aos meus pensamentos.

—Eu sei_ nos separamos e ele me ofereceu a poltrona, sentando numa cadeira em frente.

—Eu queria mesmo conversa com você, pensava em ir até sua casa mais tarde.

Sustentei seus olhos a espera, seu tom não me dava nenhuma dica.

—Por favor, não me peça pra fugir.

Edward apertou os lábios numa linha reta.

—Não, por mais que eu goste da ideia e, eu realmente apoiaria se você e Jacob optassem por ela, sei que esse não é o melhor caminho. As testemunhas Volturi precisarão ouvir de você o que temos a dizer. Não basta que Aro saiba a verdade.

Assenti, afagando onde Anthony empurrou de leve.

—Como está a vida conjugal? Não tivemos muito tempo para conversar, desde que se mudou. Têm sido muitos acontecimentos.

Pensei por alguns segundos.

—Acho que ainda não podemos caracterizar como vida conjugal. Primeiro a gravidez, me adaptar com a ideia de ter um bebê, de sair da faculdade, morar em Forks! _Parecia ter sido há anos. _Depois os problemas com Nahuel. Nem faz seis meses desde que engravidei_ não pude evitar olhar pela janela, para a copa das árvores úmidas balançando com o vento.

Ele não disse nada, me olhando.

—Jacob é maravilhoso, você sabe! Está sempre tentando fazer tudo o que é preciso_ eu é que parecia sempre estática, vendo tudo orbitar a minha volta, coisas acontecendo sem que eu me desse conta, fora de meu controle. Suspirei. _Me pergunto se eu estou fazendo o bastante.

—Claro que está_ Meu pai se aproximou e agachou diante de mim, minhas lágrimas embaçando um pouco minha visão. _Você está fazendo muito! Lidando com muito peso. Jacob a ama mais do que eu mesmo poderia projetar pra você. _Afagou minhas mãos. _Você está feliz?

—Como posso estar feliz?!

Enxuguei uma lágrima gorda que caiu.

—Além de tudo isso, além do que vamos enfrentar, é isso que você quer? Ficar em Forks e ter uma vida pacata? Longe da universidade e de uma boa loja de vinhos?

Surpreendentemente eu ri. Não bebia vinho desde que Nahuel saíra de minha vida. Depois com a gravidez... Eu não pensei muito nisso, mas a verdade é que era um hábito do qual eventualmente sentiria falta.

—Posso comprar bons vinhos pela internet.

—Não esqueça de que não precisa fazer nada que não deseja para ser o bastante para Jacob_ Olhei-o, subitamente estupefata.

—Eu o amo. Absolutamente! Mais do que consigo administrar. Parece que nada do que tenho feito tem sido em equivalência a esse sentimento. Quero dizer, minha mãe abriu mão da vida humana. Você abriu mão do sangue dela, abdicou de sua própria natureza... Ele está disposto a morrer por mim. Ele não disse, mas você sabe, não sabe? E o eu que estou fazendo?

—Além de estar grávida, lidando com cada dia que amanhece, até que chegue o momento de enfrentar cara a cara algo que ameaça tudo o que você ama?! _então acrescentou com ironia: _Nada, realmente!

Bufei um riso, chorando. Edward me abraçou por um longo momento, enquanto eu me acalmava.

—Você tem medo de que eu vire uma dona de casa?_ me afastei para olhar em seus olhos dourados. Ele entortou os lábios.

—Tenho medo de que não seja feliz.

—Acha que Jacob me faria infeliz?_ isso não fazia sentido.

—Já vi o bastante de pessoas apaixonadas para saber que amor nem sempre basta. _senti minha mente ficar muda de surpresa, de repente me sentindo ofendida. _Não, eu não duvido do amor de vocês, é um dos laços mais forte e puros que já vi, mas me preocupo com você. Sempre teve o mundo ao alcance das mãos, imagino se um dia não vai se cansar.

—Tem medo de que eu magoe Jacob. De que o faça infeliz. _Edward não contestou minha afirmação. _Eu não sei o que você viu em minha mente, o que me escapa agora, mas como eu poderia...? Não! Não poderia! Estou consciente de que a vida que teremos aqui é bem diferente da que pensei que teria. Mas nós temos tempo, ou talvez não, mas o que importa é que Jacob precisa cuidar de sua família e eles não têm tempo, independente de qualquer coisa. Em alguns anos, teremos de sair daqui de qualquer maneira. Vai ficar entranho quando Jacob não parecer ter 40 anos. Vou estar bem se estiver com Jacob, nada é mais certo em minha vida.

Eu tagarelava, um tanto chocada: Edward achava que eu era uma mimada irresponsável.

—Você de todas as pessoas devia me conhecer_ Minha voz falhou ao final.

—Não, Nessie. Você é uma boa pessoa, eu sei disso. Mas temo que as coisas estejam confusas agora e quando ficarem claras... Você não esteja onde gostaria.

—Obviamente, não posso garantir estar sempre feliz com Jacob. Mas estou feliz com minhas escolhas. Por isso hesitei muito tempo antes de em fim ceder ao que sinto, mas se um dia eu não quiser mais qualquer coisa, então eu buscarei o que quero. Com Jacob ao meu lado.

Levantei subitamente e saí, deixando-o, me sentindo irritada.

Não sabia o que Edward queria afinal, mas passei dias remoendo todas as coisas que pudessem ter feito ele duvidar do eu que seria capaz de bom grado por Jake. Eu matara uma pessoa por Jacob! Eu não estava muito feliz, afinal, mas não tinha a ver com nada do que Edward me dera a entender. Talvez eu não tivesse levado tão a sério antes, mas me sentia como um nervo exposto, com a sensibilidade intensificada a mil, perguntei se ele precisava mesmo me falar aquelas coisas agora, na ocasião em que me pedira desculpas, ele respondeu que ter um filho mudaria muitas coisas, eram melhor que eu refletisse minhas certeza agora, no fim ele estava preocupado e eu o compreendia, mas entender racionalmente não me fazia sentir menos coisas sem sentido: as vezes rindo absurdamente das maiores bobagens e chorando pelas coisas mais tolas. Eu queria poder silenciar o mundo.

***

Ao contrário da maioria das cerimônias quileutes o Dia do Orgulho Quileute, em 17 de julho, era comemorado em público. Jovens cujos os rostos estavam pintados com signos tribais que constituíam um lobo exerciam função de guia (geralmente eles não atuavam como guias, eram colegiais), mas toda a comunidade se empenhava na festividade e em receber os turistas, mostrando tudo exceto o centro cultural e o cemitério, onde só quileutes podiam entrar. Ao longo da praia tendas protegiam pinturas e esculturas em argila e madeira, comida que estava à venda e pessoas da chuva sempre iminente, apesar da manhã cinza claro e das nuvens distantes. Numa delas estavam as enormes placas de madeira antiga que ostentava os nomes das 4 principais linhagens, lá Billy contava a quem se interessasse sobre a história da La Push e dos quileutes, como se tudo não passasse de folclore. Jacob monitorava tudo quase sozinho, os rapazes estavam pela floresta, em guarda.

—Então, vocês podem se transformar em lobos?_ perguntou um garotinho, acompanhado da irmã e dos pais, ele era o único que parecia ter acreditado, seus olhos eram grandes de animação.

—Sim, se precisarmos nos defender_ dissera Billy, claramente se divertindo com a plateia, ele adorava contar esses histórias. Por um momento o imaginei contando histórias para uma cópia em miniatura de Jake. Afaguei a barriga.

Leah trouxe-me um cachorro quente inesperado, mas que desejei assim que senti o cheiro.

—Se encontrar, Jacob, chame-o, certo?

—Algum problema?_ Parei a comida à caminho da boca. Lee hesitou, mas respondeu:

—Dois garotos...

—Drogas de novo?_ imaginei um motivo para ela mesma não ter resolvido.

—Não... Vi um garoto discutindo e ele... Tremeu. Como quando...

Olhei em volta para ter certeza que ninguém nos ouvia, senti meus olhos arregalarem.

—Você acha que estão se transformando?

—A qualquer momento, qualquer provocação! O outro eu cumprimentei quando a mãe me apresentou, está muito quente. Bom, quente o bastante para que eu percebesse, e não parecia de muito bom humor.

—Acho melhor ligar, não o vejo há alguns minutos.

Leah assentiu, discando no telefone, então seus olhos fixaram em algo além de mim. Segui seu olhar até o garoto de pele cor de noz, mais afastado da multidão, onde um braço raso de água do mar se unia ao rio que passava ali perto. Ele conversava com uma garota, os dois muito sérios.

—Jake não atende. Vou procurá-lo, vou ser rápida_ ela lançou um olhar de desculpas para minha barriga e contive um rolar de olhos. Não era como se eu não fosse rápida o bastante, mas eu não me sentia muito disposta a correr mesmo, com certeza Leah seria mais eficiente que eu. Apenas concordei mordendo meu cachorro quente e dando uma olhadela para onde os dois adolescentes tensos falavam. Ele parecia ter 17 ou 18, ela não aparentava ter mais que 15, talvez 16.

Me concentrei a fim de ouvir o que diziam, mas só captei a voz feminina chamando-o, numa voz preocupada: “Alex!”. Quando olhei, estavam mais à frente. Ele andava a passos decididos e raivosos, água respingando a cada passo enquanto ele andava pela faixa de mar em direção à floresta, sua forma um pouco borrada, isso me alertou. Principalmente porque ela o seguia enquanto chamava.

Quando o vi desaparecer pelas árvores, corri. Não uma corrida realmente, mas o mais rápido que se pode andar entre as pessoas sem chamar demais atenção para sua velocidade. Não foi difícil alcançar a garota.

—Ei, não é seguro_ falei. Ela me olhou, confusa, mas não diminuiu o ritmo do passo _Temos uma grande população de leões da montanha, atualmente.

—Não ouvi falar_ ela hesitou, mas não parou realmente.

—Jacob não teve tempo para avisar a comunidade, com os preparativos para hoje_ inventei.

—Ah. _ela pareceu hesitar ao ouvir o nome de Jacob, os olhos indo para minha barriga e voltando ao meu rosto, sem parar de caminhar. _O meu amigo...

—Eu vou até lá, não se preocupe, se puder esperar aqui_ pedi e corri a uma velocidade humana. Quando alcancei as árvores percebi que sua parada não demorou muito, ela continuava em direção à floresta.

Suspirei, levemente irritada com a teimosia, mas me concentrei no cheiro mais recente e nos sons, ele não estava muito longe, não foi difícil alcançá-lo. A garota se aproximava.

Ele me percebeu antes que eu pudesse pensar no que fazer

—Você está bem?_ perguntei. Ele me olhou como se eu o tivesse ofendido abominavelmente.

—Porque você quer saber?_ a voz de quem sente dor. Não pude evitar lembrar como Jacob dissera ter se sentido, eu desejei fazer com que o garoto, Alex, se sentisse melhor.

Nesse momento, o vento soprou contra mim, trazendo-me o cheiro humano da garota há poucos metros, o jovem a notou também, porque levantou a cabeça e fitou para além de mim.

—Alex, por favor, vamos sair daqui e conversar. A floresta não é segura_ me virei bem a tempo de ver a garota olhar para mim enquanto se aproximava e então, de volta para seu amigo. Ela passou por mim e continuou andando, cada passo mais perto dele.

A expressão de Alex era de puro desdém, as mãos tremendo ao lado do corpo. Ele olhou dela para mim como se sentisse nojo.

—Me deixa, Ava!_ se um humano pudesse rosnar, o som seria como suas palavras saíram. Ele fechou os olhos, suas mãos foram de encontro a árvore mais próxima e abaixou a cabeça entre os braços, se inclinando em direção ao tronco.

Ele tentava se controlar, trêmulo, eu podia ouvir sempre que ele puxava o ar com força.

—Ava_ chamei, o alarme soando claro em minha voz. Ela me ignorou. Alex tremendo mais.

—Você está sendo exagerado. Qual é?!_ a voz dela era suplicante.

Ele riu, um som debochado e doloroso.

—Exagerado!_ a voz permeada de ódio e ele caiu de joelhos com um solavanco, tremendo tanto que parecia ter um ataque epilético em 4 apoios, eu podia ouvir seus dentes batendo. Eu investi envolvendo a garota, que avançava em direção ao amigo na intenção de ajudá-lo. Ela resistiu.

—Você acha que vou machucá-la, como pode acreditar que eu sou perigoso?_  eu o entendi dizer, ofendido, em meio a arquejos de dor e o bater dos seus dentes, sua expressão  desconfigurada de um ódio apavorante, os olhos, toda a parte branca envolvendo a íris castanha estava injetada de sangue, eu conseguia sentir as rajadas de calor vindas dele.

Ava recuou comigo diante dele, finalmente percebendo o perigo. Então não conseguiu mais segurar os tremores, que se intensificaram e sua forma dobrou de tamanho. O som das roupas rasgando preencheram o ar por um momento e rosnados bestiais tomaram lugar logo depois. O lobo colérico avançou, confuso em nossa direção, o som ensurdecedor de seus gritos e rosnados, a menina reagiu, apavorada e nós caímos de costas em algumas pedras e galhos úmidos.

—Calma, Alex. Você está bem. Vai ficar tudo, bem­_ Me vi falando tão tranquilizadoramente quanto pude apesar dos sons que ele emitia, sentada no chão molhado, minhas mãos erguidas em sinal de confiança. _As lendas. Elas são reais. Você está bem, isso vai passar... Tente ficar calmo, respire. Pense em coisas boas... Ava está assustada, agora, vamos nos acalmar, certo?

Ele rosnou, raivoso, mas se deixou cair no chão, os olhos lacrimejantes e confusos, a respiração arquejante. A garota, ainda deitada como caiu, apoiada nos cotovelos, parecia em choque, uma máscara congelada de horror.

Respirei fundo, tentando pensar claramente, então percebi a aproximação.

Um, dois, três segundos e três lobos estavam conosco, mas só Seth e Quil irromperam para onde estávamos. Que bom que eles eram rápidos.

O terceiro veio representado pelo homem, descalço e vestido apenas com uma calça jeans, que me esquadrinhou antes de mais nada, o alívio em seu rosto espelhava o meu, os olhos não me deixaram enquanto caminhava até mim e me ajudava a levantar. Ofeguei ao sentir o braço direito, o mesmo que apoiara a garota na queda, arder. Jacob me amparou num meio abraço enquanto girava o membro e avaliava a miríade de cortes e arranhões sangrentos e superficiais no cotovelo e metade do antebraço. Diante da sombra em seus olhos, preferi não fazer nenhuma menção a dor nas costas, que embora incômoda era suportável.

—Pode levar a garota até sua mãe? Acho que Sue pode averiguar se ela está bem e explicar o que for preciso_ A cabeçorra de Seth aquiesceu. _Vai ficar tudo bem, garoto

O lobo de um marrom profundo, ainda de barriga no chão, emitiu um ganido choroso e depois olhou para Quil, imaginei que eles estivessem conversando.

—Vamos pra casa!_ ele me pegou nos braços e, se por que ele emitia uma energia que não permitia contestação ou porque eu estava subitamente cansada, eu não protestei.

***

Tirei o casaco e a blusa e olhei ao espelho, no banheiro, percebendo os hematomas que começaram a se formar na lateral da linha de minha coluna. A única vez em que tivera um hematoma foi quando caí de um despenhadeiro com o carro patinando no gelo. Um acidente de carro. Não se comparava a cair de costas segurando pouco mais de 45 quilos.

Você não estava grávida, disse uma voz em minha cabeça.

Deixei escapar um muxoxo, afagando a barriga ao sentir uma leve ondulação na parte baixa do umbigo.

—Nessie_ Jacob fitava minhas costas, à mão uma embalagem de anticéptico.

Tirei o jeans pra gestantes, agora molhado e cheio de areia e lodo, em seguida sentei à borda da banheira olhando cautelosamente enquanto se aproximava. Jacob não dissera uma palavra enquanto me trazia pela floresta, imaginei que ele estivesse preocupado com a transformação do garoto e lhe dei espaço.

—Talvez arda um pouco_ disse esticando meu braço por cima da banheira e derramando um pouco do liquido incolor, não ardeu, provavelmente as pequenas feridas vermelhas já haviam fechado o suficiente.

—Você está bem?_ indaguei percebendo-o um pouco tenso. Ele hesitou, suspirou e falou:

—Como posso estar bem com você, grávida, correndo perigo bem diante da primeira transformação de um lobo?!

—Estou bem. Estamos bem_ envolvi meu tronco volumoso e nu.

Jacob me fitou, eu quase podia ver um milhão de pensamentos e respostas passando por seus olhos.

Alcancei uma blusa dele no cabide e passei os braços, saindo do banheiro, parando apenas para vestir o short jeans com elástico que jazia em cima da cama e seguindo em direção ao andar de baixo, abotoando a camisa.

—Você não pode agir como uma super-heroína, você está grávida.

Parei ao pé da escada, subitamente aborrecida.

—Sim, Jacob eu estou grávida! Estou e não aguento mais estar. Não aguento mais todos vocês me tratando como uma incapaz, como se eu não fosse tão forte como metade de vocês_ caminhei para longe enquanto ele se aproximava, parando bem no meio da sala.

—Ness... _sua voz era mais calma, e isso me irritou mais, era como se ele falasse com uma criança. _Você está mais vulnerável. Está machucada, cheia de hematomas... Não é como se tivesse saído ilesa dessa.

Sem considerar a respeito, alcancei a cadeira de madeira maciça com asento de corino que ficava adjacente a uma poltrona, a ergui com facilidade e apertei seus braços grossos

que estalaram e se desfizeram em lascas e pó em meus dedos. Coloquei a cadeira no espaço entre nós ignorando a dor em minha palma e disse:

—Eu ainda sou eu mesma.

Saí porta afora, querendo ficar sozinha, mas Jacob me seguiu. Parei na varanda e o olhei antes de dizer:

—Eu preciso de um tempo.

—Renesmee...

—Eu preciso de um tempo, Jacob. Me deixa!

Ao virar para sair dei de cara com a forma de Leah nos olhando boquiaberta, Seth (ainda lobo) há alguns metros tinha quase a mesma expressão. Os ignorei e caminhei firmemente para meu carro, parado em frente à casa.

Sozinha. Eu juro que não estou brincando quando digo que quebrarei alguns ossos de qualquer lobo que vier atrás de mim_ falei friamente antes de entrar no carro, que graças aos céus estava com a chave na ignição, e arrancar.

Eu não estava pensando, só dirigi pela 101 o mais rápido que pude sem arriscar ser parada pela polícia. Levou bastante tempo até ter vontade de parar. Na verdade, não fosse pela fome eu teria dirigido o dia todo, que fome!

Port Angeles parecia longe o suficiente, mas perto e seguro o bastante. Dirigi pelo caminho conhecido, até o píer, onde sabia que acharia uma variedade satisfatória de comida.

Ignorando os olhares para uma grávida com blusa masculina, shorts e chinelo (por sorte, parecia ter sido um dia quase quente ali, a temperatura apenas começando a cair) comprei toda a comida que podia carregar e sentei num banco de frente para o mar. Suguei ansiosa o milk shake de chocolate amargo e sorri ao sentir Anthony empurrar com força. Comi batatas fritas, um hambúrguer e uma torta de limão sem preocupação, até estar desconfortavelmente cheia. Não demoraria até o sol se pôr.

Decidi ligar o celular. Olhei em volta enquanto o aparelho passava por todo o processo, satisfeita que não parecia haver nenhum lobo ou vampiro me seguindo.

Haviam várias mensagens, diziam basicamente a mesma coisa: está tudo bem?

Talvez tenha sido um pouco irresponsável sair assim no momento tenso pelo qual todos estamos passando...

Nessie, querida, nos dê notícias, estamos preocupados, dizia a voz de Bella, numa mensagem de 40 minutos atrás.

Não havia mensagem de Jacob.

Fui para a de Leah.

Ness...

Silêncio.

Alice viu... 4 dias, numa manhã. Estamos planejando a melhor maneira de encontrá-los sem deixá-los chegar muito perto da cidade. Jacob achou que você devia saber.

—Finalmente!


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Notas finais do capítulo

Eu não sei se há alguém por aqui ainda.
Se houver, provavelmente nem lembra do que essa história fala (kkkkk)
Bom, está aqui.
Comecei novos projetos com relação a escrita e percebi que não consigo com os antigos em aberto (rsrs)
Obrigada a todos que tiraram um tempo no último ano e meio e vieram aqui, é incrível como essa história continua tendo acessos s2, aos perguntaram sobre a história e eu... Vcs são os melhores! Não os mereço.
Não prometo que postarei tão logo, mas PROMETO que não levará mais de um ano! Abraços!



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