Dusk (Sombrio) escrita por MayaAbud


Capítulo 49
Testemunhas


Notas iniciais do capítulo

“Pés, não me falhem agora
Leve-me à linha de chegada
Todo meu coração se rompe a cada passo que eu dou(...)
Estava perdida, mas agora eu me encontrei
Eu posso ver, mas já fui cega
Eu era tão confusa quando criança
Tentava levar o que eu conseguia
Com medo de que eu não conseguiria encontrar
Todas as respostas, querido
Escolha suas últimas palavras
É a última vez
Por que você e eu, nós, nascemos para morrer”
~Born To Die, Lana Del Rey



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Renesmee

 

   Prendi a respiração por 20 segundos.

   Movi-me como julguei possível, sentando tão ereta quanto podia, o tronco enrijecido, sentindo aliviar rapidamente. Ficava enjoada só de pensar que isso não era dor, que seria pior... A dor aliviava tão logo eu me movesse, no entanto, essas contrações me tiravam completamente do eixo.

   Carlisle já havia confirmado que eram contrações de Braxton-Hicks. O fato é que eu não estava acostumada à dor física. Todos os artigos científicos diziam que esse tipo de contratura era apenas desconfortável (inclusive foi o que me avô repetiu dois dias atrás na última consulta), embora todos os relatos maternos na internet dissessem o que eu já sabia: doía. Ao menos 60% das vezes em que aconteciam. Talvez fosse mais meu medo que a dor, como eu poderia saber?

   Por fim, fitei os olhos perscrutadores que me inquiriam.

—Estou bem_ sussurrei contendo o impulso de rolar os olhos; talvez eu devesse providenciar uma placa para poupar algumas das vezes em que digo isso ao longo do dia. Jacob se resignou a afagar a protuberância em meu tronco.

   O grito animado de Leah, atrás de nós, nos tirou de nossa pequena bolha. Um dos formandos nem descera do palco e Leah, Quil, Hanna e Embry já gritavam por Seth, Jennifer se unindo a eles com palmas e assovios. Jacob e eu nos levantamos aplaudindo enquanto ele avançava e pegava seu diploma, cumprimentando mestres. Seth era oficialmente um engenheiro.

   De esguelha, olhei para Jacob, orgulhoso do amigo, como todos estavam. Seth era o primeiro dos lobos que pôde ir além, embora todos eles tivessem suas vidas encaminhadas, Seth era o lobo mais jovem, teve mais tempo... Me percebi imaginando quão bem meu Jake ficaria de beca. Não pude evitar que a sombra que era a expectativa dos próximos dias se infiltrasse na minha feliz projeção de futuro. Um futuro incerto, que talvez não viesse. Um nó desconfortável obstruiu minha garganta, pesou em meu peito e mirrou meu sorriso enquanto eu lutava contra as lágrimas.

   Terminada a cerimônia e após congratularmos Seth, Jake pediu licença para irmos embora, eu não questionei. Ficava cada dia mais difícil equilibrar a fachada humana e manter relações familiares saudáveis tendo uma mira a laser apontada para sua testa; era como me sentia.

—Sempre poderemos fugir_ o sussurro rouco soou soturno no crepúsculo. Bufei um riso sem nada de humor.

—Nem você acredita nisso.

—Sabe que eu faria_ Jacob me parou no estacionamento, uma mão onde outrora ficou minha cintura e outra em meu rosto, os olhos buscando os meus. _Basta que você diga.

   Meu queixo tremeu, uma lágrima gorda rolou quente por meu rosto. Sim, era tudo o que eu, egoistamente, desejava poder: apenas fugir e me esconder em qualquer lugar do mundo, ter meu filho em paz, assegurar que ele estaria seguro, quem sabe vê-lo crescer ao lado de Jacob...

—Provavelmente nunca estaríamos seguros_ murmurei resumindo nessa única frase todas as razões pelas quais não poderíamos fugir.

—Morreríamos tentando.

—É o que estamos fazendo_ e lembrei ao acaso que Bella tentou me convencer a partir.

   Jake também tentou me convencer de que seria melhor, de que poderia falar por nós dois ao conselho Volturi... Como se suportássemos estar longe um do outro! Bom, ele talvez sim¸ tendo consciência de que eu estaria segura, muito embora eu morreria a cada segundo, angustiada, ao imaginar o que estaria acontecendo aqui.

Era apenas impossível para mim deixá-lo, ou a minha família, sozinhos, resolvendo um problema que era sobretudo meu.

—Juntos!_ continuei. _Não importa o quê, vamos ficar juntos..._ minha voz morreu por causa do pranto que eu tentava não deixar vir à tona.

Jacob fez um muxoxo me abraçando, um suspiro resoluto soando alto. Em seu abraço quente era quase possível controlar meus hormônios enlouquecidos pelas circunstâncias, a vida parecia quase simples, agradável como a sensação de ver um lago no deserto. Nada parecia tão terrível.

Não tardou que tudo se desfizesse como uma ilusão.

Atravessávamos a ponte rumo a La Push, Jake cantarolava com a música no carro, alternando: a mão no volante e em minha barriga, Anthony parecia brincar lá dentro, um momento de pura paz; quando uma mensagem chegou em meu celular, parecendo agourenta. Hesitei um momento, mas conferi. Era um áudio de Bella pedindo que fossemos até a antiga casa de meus avós quando estivéssemos de volta à cidade, a voz dura, inflexível, soando como um preâmbulo funesto.

*

 

A primeira coisa que me intrigou foi o caos cristalizado que era o chão logo após a entrada; um vaso grande havia se quebrado ali, uma miríade de cacos de cristal jazia dentro de uma grande poça de água e rosas despedaçadas. Primeiro: ninguém naquela casa era capaz de deixar nada apenas cair; segundo, e menos provável ainda, ninguém jogaria um vaso em alguém; se houvesse alguma briga com certeza haveria uma parede no chão; meio segundo para que eu concluísse isso e Jacob passou um braço em minha cintura redonda, claramente temendo que eu e meus saltos altos escorregássemos pelos pedaços estalando sob nossos pés.

De repente eu senti urgência, 3 passos e estanquei, paralisada com o horror e o pesar nos rostos adoráveis que eu podia ver.

Minha família estava reunida na sala. Bella e Rosalie me olharam, as expressões ainda mais abatidas ao me encararem. Minha mãe estava de pé, perto do sofá, Edward tinha seus braços em volta dela. Emmett amparava Rosalie em seu colo, os dois numa poltrona. Alice estava imóvel sentada no chão, Jasper de frente para ela, os dois como estátuas. Meus avós bem poderiam ser entalhes em mármore, de pé junto a vidraça. Ninguém me olhou, exceto as duas vampiras.

Eu tremi, buscando Jake, medo correndo gélido por minha espinha e concentrando-se em meu estômago apertado.

—Alice viu..._ Edward murmurou através dos lábios imóveis_ Aro decidiu averiguar a denúncia.

—Certo_ a palavra saiu devagar, quase como se Jacob duvidasse. _Era o que esperávamos. Eles vêm e estaremos aqui.

Todos eles_ Edward balançou a cabeça, exasperado.

Como?_ minha voz seria inaudível não fossem todos vampiros, enquanto Jake inquiria o porquê.

Não era possível que todos viessem. Nem todos os membros da guarda saíam do castelo para este tipo de incursão, não era seguro abandonar; as esposas jamais saíam, eram preciosas de mais aos seus companheiros para estarem expostas. O que meu pai queria dizer com todos?!

—As esposas e todos os membros_  A voz gentil e aveludada respondeu aos meus pensamentos.

Minha cabeça girou, confusa... hesitante, eu temia chegar à conclusão inevitável, mas ela se avultava sobre mim, impossível de ignorar: _Acabou!

Eu solucei incapaz de me conter. O choro vinha como um tsunami: grande, profuso, irrefreável. Abracei-me a Jacob, que me acolheu em silêncio, apertando-me contra seu corpo amplo, mas dessa vez incapaz de me deixar calma, ao contrário, parecia reafirmar tudo o que eu perderia, o que eu nunca viria a ter. Percebi vagamente a movimentação ínfima na sala, minha família em fim saindo de seu torpor, todos mais perto, meu nome cantado em diferentes tons e vozes, numa canção infeliz.

Só fui capaz de usar Jake como sustento, de todas as formas, nem ao menos tentei represar a dor e a tristeza como fiz desde que Jennifer viera trazendo notícias ruins, permiti-me lamentar.

—O que podemos fazer?_ Bella indagou em agonia, as mãos frias em meu cabelo enquanto eu soluçava e tremia no peito de Jacob.

A voz grave e ressoante de meu enorme tio foi quem respondeu como se a pergunta não fosse puramente retórica: _Vamos lutar!

Encolhi-me contra Jake, um som agudo irrompendo sem controle por minha garganta, enquanto Jazz retaliava:

—Não podemos vencer!

—Nem fugir!_ Emmett fez um ruído de nojo, ele também não era dos que fogem.

—Não é praxe que se escute os criminosos— Esme distorceu a palavra estranhamente_ para tornar mais convincente a justiça perante as testemunhas?! Temos amigos que podem testemunhar por nós. As Denali...

—Precisaríamos de um bocado de testemunhas_ Rosalie disse com desdém.

—Sim!_ concordou minha doce avó, como se Rosalie não tivera sido sarcástica, como se tocasse no Xis da questão.

—Não podemos envolver amigos nisso_ senti que meu avô comedia as palavras por causa do meu descontrole.

—Podemos explicar a situação e deixá-los decidir. Eles só precisam testemunhar, falar que o lobo aqui é domesticado, que o nanico estava errado, só precisam ficar o bastante para que as testemunhas dos Volturi vejam que não há justiça nenhuma para ser posta em prática. Afinal, o que Aro pode fazer depois disso?

Eu ouvia, mas não assimilava as palavras: atada ao terror pela criança dentro de mim, por Jake, minha família, eu morreria de qualquer forma, quem afinal eu toleraria perder?!

—Vamos perguntar a eles_ Alice e meu pai disseram em uníssono.

—O clã de Siobhan. Os Amun. Os nômades que pudermos encontrar... Garrett, Mary... Alistair!

—Vamos cobrar favores?_ o tom de Emmett parecia divertido, eu quis poder soca-lo.

—Se preciso for_ a voz de Alice saiu fininha.

Apertei Jacob contra mim, o pranto ganhando força outra vez, ele apenas me alentava, sem nunca se afastar um milímetro. Continuava em silêncio, mas eu podia sentir a energia agitada que vinha dele enquanto assimilava a conversa que seguia.

*

Só me dei conta do que acontecera quando abri os olhos para a luz da lua, parcialmente encoberta pelas nuvens, que entrava através da vidraça. Jasper me apagou, sem dúvida; a última coisa de que me lembrava era uma conversa zunindo a minha volta enquanto eu extravasava todo meu desespero. Agora eu era jogada de dentro de minha consciência para fora, percebendo que estava no antigo quarto de Edward naquela casa, com os seus poucos móveis nus e a cama de dossel em que eu estava deitada; Jacob fungou, parecendo (estranhamente) alheio ao meu segundo desperta, sentado no chão, as costas apoiadas na cama, de frente para a vidraça.

—Jake!

—Oi, amor!_ a voz falhou enquanto ele tentava atabalhoadamente limpar o rosto e ser discreto antes de se virar para mim.

Apoiei em meus cotovelos sentindo uma fisgada no coração ao perceber que ele chorava. Antes que eu pudesse levantar ele deitou comigo. Minhas mãos em seu rosto esquadrinhando-o; ele estava apenas com a calça de moletom, o cabelo e pele úmidos de orvalho e cheiro de terra molhada.

—Como se sente?

—Estranhamente descansada_ falei a verdade. Como se tivesse hibernado, me sentia cheia de energia, embora sentisse meu corpo pesado. _O que há?_ Jacob estava reticente. Toquei meia lágrima perdida em seu cílio inferior. Ele suspirou, desconcertado. Mais alguns segundos de silêncio passando.

—Eles partiram... Sua família. Ficaram apenas Bella e a Loura.

Assenti entendendo.

Chorar havia me feito bem. De uma forma estranha as coisas pareciam mais claras, eu podia refletir, projetando tudo à certa distância, com o mínimo de racionalidade. Carlisle provavelmente conhecia mais vampiros que todos os outros juntos, embora minha família pudesse pedir favores em nome dele, para alguns provavelmente seria mais eficaz se ele falasse diretamente. Meu pai seria imprescindível para persuadir, sabendo exatamente o que faz alguém hesitar. Bella devia estar desolada por passar mais tempo (talvez os últimos dias) longe dele. Rosalie não devia estar menos incomodada, ela devia ter sido incumbida a ser minha médica particular, afinal, ela também tinha formação em medicina.

Abracei Jacob o mais que pude, com a proeminência que era Anthony entre nós, inalando profundamente o cheiro na linha de seu queixo e agradecendo aos céus, ao menos, não precisar me separar dele.

—Tão cedo?

Ele levou alguns segundos antes de responder.

—Eles são eficientes. Em menos de uma hora tinham planos de busca, mochilas prontas... Fiquei impressionado!_ A voz quase parecendo normal. _Alice não tem certeza de quando, em duas ou três semanas, disse que não poderíamos perder tempo e pelo que pude perceber eles estarão no mundo inteiro. Antes de retornar.

—Precisamos nos preparar para dar explicações aos olhos vermelhos que chegarão em breve falou devagar. Aquiesci. _Mostrar que não sou um filho da lua e, claro, haverá curiosidade sobre você.

Ele buscou minha boca com doçura e algo como saudade, o que pareceu deslocado uma vez que exceto o tempo em que estive inconsciente, passamos o dia juntos.

—Esteve na floresta enquanto eu... dormia— murmurei contra seus lábios e revolvi o cabelo úmido com uma mão.

—Fui deixar os rapazes por dentro das coisas. _Ele se afastou para me olhar e sorriu, os dentes faiscando sob o luar. _Culpe seu pai. Ele achou que era dispensável que você ouvisse todos... os planos, além disso, você e nosso pequeno já estão sob muita pressão.

Ele já não sorria ao final, mas a voz rouca era gentil, uma mão enorme em meu rosto alcançava minha nuca.

—Estão okay com vampiros chegando a qualquer momento?

Ele deu de ombros.

—É necessário, além disso avisei aos Cullen que deviam pedir que os amigos não cacem na região. _suspirou, pensei ouvir raiva, mas não tive certeza: _É o preço a pagar: o fato deles ainda caçarem em algum lugar. Vou pensar que de qualquer forma está fora de minha jurisdição.

 Sorri para sua indulgência, nos fitamos longamente; poderia viver aquela noite por décadas, não me cansaria de admirar a luz prateada nos cabelos negros e como os olhos pareciam ônix, mas principalmente a forma como ele, nós, os três, parecíamos seguros. Eu tinha certeza que ele sentia o mesmo, por mais que tentasse eu notava sua aflição. Ver tão claramente seu sofrimento, ver sem máscaras que ele não era a fortaleza de poder absoluto que sempre me parecia me fazia ansiar por qualquer coisa que amenizasse isso.

—Está com medo?_ indaguei imaginando o que ele estaria remoendo a ponto de chorar.

Ele sorriu. Algo como escárnio atravessou seu rosto antes de responder com um sussurro.

Apavorado! —surpreendentemente eu ri. Sua honestidade me pegou de surpresa, ele riu também por alguns segundos. _A menor possibilidade de que algo aconteça a você me deixa... Louco...? Bem, eu não tenho uma palavra para isso, e infelizmente não posso lhe mostrar.

—Eu sei bem do que está falando_ o apertei contra mim, deixando-o ver minha necessidade por qualquer coisa que não o colocasse em perigo.

Foi então que percebi com profundos desgosto e assombramento: embora eu prantearia intensa e eternamente qualquer perda que viesse a ocorrer, era a perda de Jacob que extinguiria minha vida.

Abalada por esse sombrio conhecimento busquei seus lábios com avidez, sendo recebida com igual ânimo. A necessidade por ele, sempre esperando uma oportunidade para se satisfazer, vindo à superfície, enquanto uma mão grande, áspera e quente subia por minha coxa.

Ainda muito disposta, vi o dia amanhecer róseo, mas chuvoso enquanto afagava as costas de Jacob, cansado e adormecido.

**

A família de Tanya veio na tarde seguinte a partida dos Cullen. Eles já conheciam Jacob, e Edward outrora lhes explicara sobre os quileutes, então ao contrário do que planejamos para receber nossos visitantes, os cumprimentamos na sala. No fim de semana em que conheceram Jake, Edward me segredou que Irina mantinha certa intolerância (além do natural) com os lobos, pois eles mataram alguém por quem ela mantinha algum afeto, um vampiro que esteve prestes a matar Bella, humana, há muito tempo. Perguntei-me se isso lhe faria relutar em testemunhar a nosso favor.

Todos ficaram muito surpresos, principalmente, com minha gravidez (me encararam com expressões chocadas e estáticas) e o fato de Nahuel ter feito uma denúncia grave aos Volturi sem averiguar sua veracidade, expondo a sua própria família ao discernimento dos italianos. Rosalie explicava todo o ocorrido desde meu término com Nahuel até as últimas visões de Alice.

—Certamente podemos testemunhar que este rapaz não é um filho da lua e que os híbridos nunca foram ameaça para nossos segredos_ Afirmou Tanya. _Embora, o que saibamos sobre os transfiguradores seja apenas o que Edward nos contou.

—Eu posso mostrar a todos_ assinalou Jake, abraçado a mim. As Denali se entreolharam.

—Onde estão os outros, afinal? Só recebemos um telefonema de Carlisle_ Eleazar inquiriu.

—Buscando amigos que também possam testemunhar_ Respondeu Rosalie, Eleazar a fitou, seu rosto se nublando em confusão.

—Todos eles estão vindo_ Bella explicou.

—A guarda toda?_ surpreendeu-se Eleazar enquanto as mulheres ouviam.

—Não só a guarda. _Rosalie assinalou, a voz ressoante parecendo gelo. _Aro. Caius. Marcus. Até as esposas.

Todos ficaram imóveis em reação ao extremo estresse. Estátuas vestidas espalhadas pela sala. Então o homem disparou:

—Impossível! Isso não faz nenhum sentido. Colocar a si e as esposas em perigo?

Por um segundo senti os olhos de Jacob em mim, afaguei seus braços a minha volta.

—Não importa quantos amigos possam reunir. Só o que podemos fazer é morrer com vocês_ declarou Tanya ao perceber que não era uma simples averiguação das regras o que viria, Jacob parou de respirar por um segundo e me apertou contra si. Os olhos de um ouro profundo da vampira encontraram os meus antes de prosseguir:

—Vamos testemunhar. E consideraremos o que mais podemos fazer, afinal vocês também são nossa família. Estamos em dívida por não ter ajudado, no passado, quando precisaram.

—Não estamos pedindo que lutem_ reafirmou Bella.

Tanya a olhou.

— Mas se não quiserem ouvir não ficaremos apenas parados. Bom, falo apenas por mim.

—Sua dúvida me ofende, irmã!_ bufou Irina, Tanya lhe abriu um sorriso.

—Estou dentro_ afirmou Kate dando de ombros com um sorriso para as irmãs.

—Eu também farei o que puder para proteger Renesmee. E a sua criança_ Carmen me olhou ternamente enquanto dava 3 passos em minha direção (Jacob me soltou vendo a aproximação) e me envolveu em seus braços frios e acolhedores.

—Você é mesmo especial, pequenina_ disse-me Eleazar, com o mesmo tom com que me falava quando eu era uma criança, referindo-se a atração (coisas que ele dizia desde que me viu pela primeira vez, com horas de nascida) que ele afirmava haver em mim. Irresistível, ele dizia.

Suspirei, tensa. Duvidava que isso me ajudasse em algo com os 3 vampiros-reis.

Eleazar mergulhou em especulações sobre a razão para todos eles saírem de seu castelo em Volterra, Aro não costumava sair em expedições de punição, Bella e Rosalie lhes davam as informações que tinham.

Delicadamente Carmen me soltou e após um sorriso encorajador, aproximou-se do parceiro afim de opinar no bate papo; procurei me desligar da conversa conforme me aproximava de Jacob. Minhas mãos sempre ansiosas por ele correram de suas mãos aos ombros largos escondidos sobre o pulôver de lã. Ele me apertou contra seu corpo e depositou um beijo cálido no alto de minha cabeça enquanto eu inspirava longamente em seu tórax.

Percebi que a conversa cessara e então alcancei a aproximação do carro em nossa estrada de terra.

—Renesmee_ Bella advertiu. Aquiesci e levando Jacob pela mão nos encaminhei para a sala de jantar.

Com o Clã Denali havia sido fácil, eles eram da família, como Tanya bem dissera, agora é que seríamos testados.

Jacob me olhou enquanto sentávamos à mesa. Estou bem, chiei em sua mente. Estava nervosa, é claro, além de tudo, eu não conhecia todo os vampiros que viriam, provavelmente nem a metade, se é que muitos atenderiam o pedido de meu avô.

Sentindo-me instável, quase hiper-ventilando, levantei e sentei no colo de Jacob. Ele me beijou lenta e intensamente, uma das mãos girando e se enchendo com meus cabelos, era bom, me acalmava, me fazia sentir segura, capaz de quase tudo. Sorri contra seus lábios e ele respondeu genuinamente, com um sorriso lindo. Então dei-me conta dos cumprimentos na sala. Três novas vozes soaram, 3 novas disposições intelectuais se apresentavam para mim; isso me acalmou, não eram nômades (ainda); vampiros solitários tendem a ser menos empáticos. Colei meu rosto ao de Jacob ouvindo a introdução de Rosalie.

Ouvimos os arquejos suaves quando minha tia falou sobre a existência de híbridos, aparentemente não duvidaram nem questionaram a veracidade, apenas se era um coração híbrido o que ouviam; com a deixa Bella falou sobre os quileutes sem jamais falar lobisomem, usando sempre metamorfo ou transfigurador. E seguiram, as duas, explicando sobre a denúncia de Nahuel, a vinda de toda a guarda e de como precisávamos fazê-los ouvir. A vinda dos 3 principais vampiros foi, novamente, motivo de especulação por longos dois minutos, então partiram para o assunto testemunha e como a veracidade dos fatos era nossa única arma.

—Renesmee?_ soaram duas vozes queridas me tirando de um segundo distraído enquanto Anthony se mexia dentro de mim. Jake sorriu um sorriso que não chegou aos olhos, tenso e me ajudou a levantar.

Com um suspiro baixo me endireitei e caminhei os poucos passos que me fariam visível da sala, Jacob perto o suficiente para sentir seu calor às minhas costas.

—Olá_ minha voz soou mais clara do que eu imaginei, sorri para isso, satisfeita, recebendo 3 diferentes sorrisos. Inicialmente apenas me apeguei ao fato de que eram sorrisos.

Vacilei em minha autoconfiança quando se deram conta de meu estado.

Tratava-se do Clã Irlandês, cujo Siobhan era a líder _uma mulher grande e curvilínea, de cabelos longos e escuros, absolutamente bonita. A acompanhavam Liam, seu imponente parceiro de expressão austera, e Maggie, miúda e de cachos vermelhos. Seus olhos profundamente rubros.

—Como se parece com Edward!_ chiou Siobhan com candura, após um segundo. Atrás dela Maggie assentiu. Elas trocaram um breve olhar antes que ela seguisse: _Então, um transfigurador.

Senti Jacob dar um passo à frente.

—Acredito ser difícil assimilar sem ver. É realmente incrível_ refleti brevemente como eu mesma passara anos imaginando e ainda assim fiquei chocada ao ver os lobos. _Posso lhes mostrar de minha perspectiva_ ofereci uma mão a Siobhan.

—Sei que dizem a verdade, criança. É o dom de nossa pequena Maggie. Mas estou curiosa sobre isso_ nos aproximamos enquanto ela sorria amigavelmente.

*

—Seth, Leah_ sorri cumprimentando-os no quintal da grande casa de meus avós. Ambos acenaram com suas grandes cabeças lupinas, sentando nas patas traseiras e ignorando a plateia vampiresca que se formava dentro de casa, na grande vidraça.

Jacob tirava os sapatos e a blusa, enquanto eu lamentava pelos jeans, ele ficava especialmente sexy naquela calça... De repente, sem nenhuma transição, o grandioso lobo avermelhado tomou seu lugar, do homem restando os frangalhos da calça voando por todos os lados e a forma avassaladora com que me olhava. Ele resfolegou. Naquela forma o cheiro de tantos vampiros juntos lhe parecia ainda pior. Sustentei seu olhar com complacência enquanto ele vinha até mim. O grande focinho tocando meu ventre.

A ideia era convencer nosso mais recente visitante, o nômade Garrett, de que os quileutes não tinham nada a ver com Filhos da Lua (a verdade é que poucos vampiros tiveram contato com verdadeiros lobisomens, o que sabíamos, em geral, era o conhecimento milenar sobre seres metade-lobo-metade-homem, com consciência puramente instintiva e a necessidade de uma lua cheia); por isso aquela transformação com plateia, embora Jake tenha mostrado aquela forma outro par de vezes, os vampiros pareciam curiosos, como se tentassem desvendar o truque, enxergar o coelho no fundo da cartola. Era quase meio dia, isso também lhes punha à prova, além da transformação deliberada e da hostilidade sob controle que vinha dos lobos.

Na verdade, os vampiros incomodavam mais aos lobos que os lobos aos vampiros; nossos visitantes eram como amigos que não gostam de animais ao tratar animais de estimação dos anfitriões; os lobos lhes eram quase indiferentes, afora a curiosidade que despertavam. Perguntava-me se eles davam credito a origem dos lobos de La Push, talvez parecesse mero conto que sendo tão letais para vampiros eles pudessem conviver pacificamente com os Cullen.

A casa de meus avós estava apinhada, e eu procurava ir pouco lá, me deixava ansiosa ouvir as conversas e especulações. As únicas razões eram me apresentar a algum retardatário e verificar Anthony, crescente em meu abdômen, muito embora eu tenha tido boas conversas com alguns visitantes. Por exemplo, Zafrina, uma vampira magra de 1,85m de altura, cujo o dom era causar alucinações ou cegar qualquer pessoa em seu campo de visão (exceto Bella, com seu escudo). Ela e minha mãe andavam treinando com o escudo e ela me deu algumas dicas para tornar as imagens que eu projetava mais consistentes a ponto de perturbar alguém; eu não tivera muito sucesso.

*

Era a segunda consulta na semana; antes que Carlisle estivesse de volta Rosalie percebeu que Anthony talvez houvesse desacelerado em seu crescimento.

—Ele está maior que na última consulta, mas Rosalie tinha razão_ confirmou Carlisle.

—Estamos com 22 semanas, doutor_ Jake estava inquieto.

—Sim, Jacob, o tamanho corresponde perfeitamente as 35 semanas quando, seguindo o padrão anterior, ele já deveria estar em 36, quase 37. Anthony vai continuar se desenvolvendo, mas mais lentamente agora, ao que parece _eles trocaram um olhar._ Isso deve querer dizer que temos poucas semanas antes que Nessie dê à luz. Normalmente, um bebê não tem completa maturação ainda, mas o que podemos esperar deste bebê?!

Assenti, sentindo-me inquieta. O que era pior: ter um recém-nascido quando os Volturi chegassem ou estar a ponto de dar à luz?! Três ou quatro semanas... Senti-me sufocada, como se tivesse mais um prazo a cumprir, suspirei resignada enquanto afagava minha barriga sob os olhares de meu avô e de meu amado.

—Quero ir para casa_ murmurei, me obrigando a pensar em coisas mais leves, coisas que eu precisava fazer. Olhei para Jacob e pude perceber como ele pareceu agradecido.

Saí do pequeno consultório sentindo-me como Atlas, segurando o mundo inteiro. Com a mão em minhas costas Jacob me guiava. Estagnei no lugar quando o muito jovem vampiro (ele parecia um adolescente, era pouco mais alto que eu), me estendeu 3 dedos acesos como uma vela, as costas da mão virada para mim, num movimento singular e ofuscante, as chamas se foram e me ofereceu uma rosa vermelha fresca e úmida.

Eu sorri.

—Um pouco de magia para alegrar seu dia_ seus olhos vermelhos era sorridentes como os lábios, atrás dele sua parceira, Tia, sorria também.

—Obrigada, Benjamin_ falei honestamente. Ao meu lado, Jake acenou de forma rígida e o jovem casal continuou seu caminho enquanto nós seguíamos porta à fora.

—Terão que providenciar um sumário se quiserem que eu decore o nome de tantos vampiros_ murmurou Jake, taciturno. Eu sorri fitando a rosa.

Benjamin era algo incomparável, mesmo no mundo dos vampiros. Ele dominava fisicamente os elementos: água, terra, ar e fogo. Qualquer vampiro que se aproximasse como ele do fogo seria uma pira em segundos. Edward gostava dele, o que o fazia completamente confiável para minha família.

Voltei meus pensamentos para algo mais que rodeava minha mente nos últimos dias, foquei em organizar as notas mentalmente, ajustá-las... Era a terceira semana de junho, em 3 dias seria dia dos pais. Eu gostaria de presentear Jake com algo mais concreto, quem sabe um carro, mas quando me ocorreu já não tinha tempo... Então, isso talvez servisse.

—Preciso sair. Vou me reunir com o conselho_ murmurou Jake ao entrarmos em casa. _Leah logo estará aqui, tudo bem?

Aquiesci.

—Vou ligar para Hannah, quem sabe ela possa vir até aqui.

Ela não ia a casa de meus avós com as atuais circunstâncias e com os cursos de artes que ela vinha fazendo ultimamente, andava bem ocupada. Eu ficava feliz que ela estivesse bem, mas questionava-me o que seria dela se algo acontecesse a Embry.

Jacob se despediu e saiu para a chuva fina que caía.

Girei em meus calcanhares indo de encontro ao meu piano a fim de pôr em prática as notas que tinha em mente inspiradas por um homem e um lobo castanhos.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei.
Foi muito tempo. Posso ouvir o eco do vazio aqui, mas eu disse que não abandonaria a fic e estou aqui para explicar aos leitores que ficaram (saibam que têm todo meu amor).
Eu gostaria de abraçar cada um que me mandou mensagem incentivando e querendo saber sobre mim, por todo esse tempo, vcs são uns amores.
Mas bom, o que houve é que enquanto eu pesquisava sobre gestação e fazia mil esquemas para escrever sobre a gestação da Renesmee e esboçava o capítulo do parto hibrido (que vcs lerão em algum tempo) eu descobri que estava grávida!
Eu simplesmente não tinha ânimo para sentar e escrever. Eu estou na faculdade, um curso integral e ficava muito cansada e enjoada. Só queria dormir.
Em fim, depois veio todos os cuidados de uma recem-mãe com um recem nascido... E voltar a ser vc mesma depois de uma experiencia como a maternidade é quase impossível.
Aqui estou eu, escrevendo no escuro para não acordar a pequena Helena s2
Me perdoem por todo o atraso, mas confiem em mim: terminar de contar esta história é uma questão de honra.
Não vos abandonarei.



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