Diário De Rachel escrita por jessysodre


Capítulo 25
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Então, finalmente o comecinho do que vocês estavam esperando...
Boa leitura.



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Rachel queria parar de ler porem sentia-se cada vez mais interessada na história de Lea.

15 de julho de 1713

Não saí do quarto.

16 de julho de 1713

Não saí do quarto e não vi Jesse. A fome estava muito forte.

17 de julho de 1713

Estou morrendo de fome, vou caçar sozinha.

18 de julho de 1713

Estou sentindo saudades de Jesse, ele não veio me ver, talvez ele ache que fui egoísta em não aceitar a proposta, mas não acho que seja justo o que ele me pediu. Como pode ele querer que eu aceite morrer? Não acredito em reencarnação e caso exista mesmo esse negócio de reencarnação, eu posso... Na verdade eu não quero voltar a ser vampira.

19 de julho de 1713

Jesse veio até meu quarto, eu estava enrolada no lençol, sentada na janela olhando o sol se pôr.

_Lea! _ Eu olhei para ele.

_Eu lhe devo desculpas. Sei que fui egoísta, mas é que sofro só de pensar em viver sem você.

_ Então não pense!

_Quero me desculpar com você.

_Como?

_Conversei com Kurt e ele topou fazer um feitiço que me liga a você.

_ Como assim?

_Se você morrer eu também morro.

_ O que?

_Assim você saberá que ao lutar pela sua vida também estarei lutando pela minha.

_Por quê? Noah é tão forte assim que é certo dele querer mesmo vingança? _Jesse ri e se aproxima de mim.

_Não Lea eu só tenho mesmo muito medo de ficar sem você. Prefiro morrer a viver sem você.

_Então se eu morrer você morre?

_Isso!

_Mas achei que você não poderia morrer.

_Não posso, mas você pode. Então se me ligo em você, eu morro.

_Não entendi._ Jesse sorria como se aquela ideia fosse brilhante.

_Kurt explica melhor. Kurt! _ Jesse gritou e logo a porta se abriu, Kurt tinha um embrulho na mão. Ele passou por mim e deixou o embrulho na mesa perto da janela.

_O que precisa saber é que Jesse está louco e quer morrer se você morrer.

_Então eu vou morrer?

_Talvez! Agora parem de se lamentar e me deem o sangue de vocês. _ Ele tirou dois cálices e um punhal do embrulho.

_Calma aí, eu não quero nada disso, por favor, parem, não podemos viver normalmente, sem feitiços.

_Normalmente?! _ Kurt faz um tom debochado. _Eu também acho loucura fazer isso, mas Jesse insiste.

_Jesse...

_Lea, eu quero me redimir com você. Eu fui um egoísta em querer que você se unisse a mim para sempre e não puder fazer você entender que tudo o que eu faço é porque tenho medo de viver sem você. Então deixe eu me ligar a você para sempre, assim você terá certeza que se eu deixar você morrer, eu também morrerei.

_Mas..._ Eu me sentia confusa, não conseguia entender o porquê Jesse queria fazer aquilo, eu o teria perdoado do mesmo jeito. _O que acontece se eu morrer?

_Você reencarna aproximadamente duzentos anos depois de sua morte.

_Nossa! Eu vou me lembrar?

_Provavelmente não._ Kurt tinha um sorriso debochado e sem paciência.

_E Jesse?

_Ele não... _ Jesse interrompeu Kurt

_Acontece a mesma coisa amor e provavelmente vamos nos encontrar e seremos dois apaixonados novamente... _ Aquele corte na frase de Kurt me dizia que ele escondia algo. _ Lea você me ama? Me ama?

Era claro que eu o amava, eu só podia estar ali porque eu o amava. Será que teria outro motivo? Não podia deixar a dúvida tomar conta de mim! O que eu seria se eu não o tivesse conhecido? Uma vida triste e idiota com Theo? Com certeza eu amava Jesse e a vida que tínhamos.

_Claro que amo Jesse!

_Então deixe eu me unir a você. _Balancei a cabeça como um sim e Kurt balança a cabeça como um não. Ela joga o punhal para Jesse que corta o pulso e deixa pingar no cálice._ Sua vez amor.

_Não vamos morrer?_ Perguntei pegando o punhal no ar.

_Não se depender de mim! _ Ele me deu um beijo. Eu passei o punhal no meu pulso deixando escorrer o sangue para o cálice o tempo que o corte permanecia aberto. Kurt dividiu a mistura do sangue nos dois cálices e disse.

_ Pelo poder do sol e da lua uno esses sangues, almas e corpos em um! Podem beber. _ Disse Kurt empurrando apenas um dos cálices para nos dois dividirmos. Senti curiosidade em saber o que aconteceria com o outro, mas preferi me calar e beber meu sangue misturado com de Jesse, o que foi estranho, aquele gosto me fez lembrar há um ano atrás, onde somente bebia sangue de Jesse._ Prontinho espero que não se arrependam. _ Kurt olhou para Jesse e saiu do quarto deixando-nos a sós.

_Arrepender? Por quê? _ Me aproximei de Jesse sentindo o gosto da mistura dos nossos sangues em minha boca.

_Ela acha que você pode me abandonar. _ Jesse riu e molhou os lábios.

_Abandonar, tipo ir embora?

_Não sei, Kurt é muito louco, agora vem cá._ Ele me puxou. _Estava morrendo de saudade de você. _Seus lábios encostaram-se aos meus e pude sentir o gosto delicioso de seu sangue novamente, nós...

_//_//_

_ Nossa! Então Quinn tinha razão, Lea aceitou Jesse se ligar a ela, mas se ela morresse ele deveria morrer, porque Jesse ainda está vivo? _Rachel sussurrava no quarto. _ Jesse só envelheceu, ele não morreu, como? Preciso descobrir como isso aconteceu. Porque se eu não virar vampira Jesse morre? Se eu, quer dizer Lea não aceitou a ligar a alma dela a ele, isso não deveria acontecer.

As horas estavam passando e Rachel se sentia cansada e com a cabeça doendo de tanto ler, ela queria que Quinn estivesse ali. Ela passa as páginas e para depois da metade do diário.

12 de novembro de 1780

Olho para meu rosto e corpo e realmente nada mudou. Ainda sou uma linda menina de dezessete anos, mas quando olho para dentro de mim vejo uma velha de quase noventa, nada mais é do mesmo jeito, as coisas mudaram, a população mudou. As terras de Jesse só aumentaram e ele resolveu empregar trabalhadores humanos o que foi um tremendo erro. Humanos e vampiros trabalharem juntos é uma coisas que não poderia dar certo.

18 de novembro de 1780

Já fiz muitas coisas ruins, mas hoje eu me superei, acho que hoje pude ver o que realmente eu me tornei.

Tinha acabado de clarear, Jesse havia saído para resolver alguns problemas do gado, eu descia as escadas quando ouvi uma humana conversando com Kurt na cozinha.

_Porque os senhores não têm filhos?

_Não sei!

_Será que a senhora Lea é mulher seca? A pior coisa para um homem é ter uma mulher seca. Eu tenho seis filhos, três meninos e três meninas. Posso ter pouca riqueza, mas cada filho que tenho é uma benção de Deus.

_Creio que sim._ Disse Kurt olhando para os legumes que picava.

_ Nada do que os senhores têm, compensa o nascimento de um filho, dar a luz é a melhor coisa para uma mulher, gerar a vida é tão maravilhoso. Você Kurt não quer casar? Você é um moço novo, bonito. Vai ter filhos lindos!

_Obrigado, mas acho que não terei filhos.

_Por quê? Sua mulher não quer ter filhos? _ Kurt soltou um sorriso_ Uma mulher sem filhos não é uma mulher de verdade. _ As palavras daquela humana me encheram de ódio e dor, eu nunca saberei o que é ser mãe, nunca poderei gerar um filho. Desci as escadas, sentindo o ódio e a inveja tomarem conta de mim. Aquela mulher não tinha metade do que eu tinha, não era bonita e nem rica. Era uma simples humana idiota que morreria em menos de vinte anos, mas eu a odiei com muita força, pois o sentimento que ela falava eu nunca iria conhecer.

_Deveria se calar, as paredes têm ouvidos e podem não gostar das suas opiniões. _Eu disse em tom severo e debochado. A raiva daquela mulher me fez querer matá-la. Ela tinha a única coisa que eu nunca poderei ter.

_Desculpe senhora eu não queria ofender, não me mande embora de sua fazenda eu preciso criar meus filhos.

_Você mora na minha fazenda? _ Senti meu sangue ferver.

_Sim senhora eu e meu esposo trabalhamos para os senhores há alguns anos, meus filhos são pequenos ainda e não podem trabalhar, mas os dois mais velhos já estão aprendendo como plantar e enriquecer o solo.

_Eles todos moram aqui?

_Sim senhora. _ O ódio brotava de meus olhos.

_ Traga eles aqui agora!Todos eles.

_Lea! _ Kurt pegou em braço eu a empurrei, fazendo tropeçar nas próprias pernas, ele se apoiou na mesa.

_Senhora eu tenho um filho de um ano, outro de três e outro de cinco e...

_Cale a boca e traga os aqui, se não quiser que eu coloque todos vocês na rua.

_ Sim senhora._ A mulher correu.

_Lea pare! _ Disse Kurt _ Jesse não quer que façamos mal a eles.

_Jesse não está em casa Kurt e pelo que eu sei você não pode me impedir. Não mais. Aquela dor idiota não funciona mais comigo. _ Sorri deixando a cozinha e andando para sala.

_Ela só falou demais Lea. É curioso para eles que vocês não terem filhos, já que a única coisa que eles fazem é filhos. Não faça mal a eles. _ Kurt me seguia, quase implorando.

_Cale a boca Kurt! _Com o passar dos anos a quantidade de sangue que eu e Jesse trocávamos me tornava tão resistente aos poderes de Kurt quanto Jesse. O que tornava Kurt inútil a minha raiva. Saí pela porta e fui em direção ao campo, a mulher e seus filhos caminhavam em minha direção.

_Aqui estão eles. Os dois mais velhos estão no mato como pai.

_Olá crianças!_ Disse sorrindo e sentindo a felicidade do cheiro do sangue deles.

_Lea! _ Kurt gritava atrás de mim._ Carmem leve as crianças daqui, agora.

_Não! Quero mostrar uma coisa a eles. Venham entrem! _As crianças entraram, o sorriso delas me causava dor, o desespero daquela mulher me fazia sorrir, eu queria que ela sofresse pelas suas palavras idiotas. Se eu nunca poderia ter o que aquela mulher tinha, que ela sofresse por me lembrar desse fato._ Escolhe um deles, qual você gosta mais?

_Que? Senhora eu amo todos eles! _ Ela tinha uma menina no colo e outro estava escondido na barra de sua saia, as outras duas me olhavam como quem soubesse o que eu faria.

_ Qual você gosta mais? _ Eu olhei no fundo dos olhos da mulher a hipnotizando.

_Todos! _ Ela me respondeu para minha dor. Eu arranco o menor de suas mãos.

_Lea! Para! Para! _ Kurt moveu a poltrona que me derrubou deixando a criança cair._ Corre! Corre! _ A minha raiva ficou ainda mais forte, olhei para Kurt e sorri. Levantei. Kurt fechou as portas me deixando presa com ele na sala.

_Kurt, não vai querer se meter nessa briga.

_Eles são inocentes, não tem culpa de você não poder ter filhos. _ Eu o encarei, sem perder o som do passo da mulher e dos filhos pelo campo.

_Você tem toda razão! Agora abre essa porta senão...

_Sinto lhe dizer Lea, mas não pode me matar.

_Não quero lhe matar Kurt, gosto de você, eu ia dizer que se não abrir a porta infelizmente vou ter quer destruir a porta. _Eu soquei a porta causando um grande buraco nela. Passei vendo a mulher e as crianças correndo. Corri até elas e fiz a minha dor passar. Os gritos das crianças me faziam bem, mesmo eu me sentindo um animal eu me sentia bem, a voz da mulher pedindo socorro e Kurt gritando e tacando coisas em mim, de nada adiantava o sangue das crianças alimentava meu ódio.

_ Você se arrependerá pelo resto da eternidade! _ Disse Kurt. Acho que talvez ele tivesse razão, isso é claro se eu sentisse alguma coisa. A maior parte de mim não sentia nenhum remorso por ter o sangue daquelas pessoas nas mãos, porém uma parte bem pequenininha se lamentava.

Pessoas se reuniram, para tentar me impedir, porém elas foram detidas e hipnotizadas pelos vampiros de Jesse. Eu drenei por último o corpo da mulher, ela se deixava facilmente ser levada pela morte, depois de ter visto seus filhos morrerem em meus braços. Seu sangue ardeu em minha garganta como um veneno, senti como se ela tivesse me envenenado por dentro.

Senti um braço me puxar.

_Limpem isso agora!_ Jesse gritou para os vampiros em minha volta. _ Lea ficou louca?! _ Eu estava em estado de choque dentro de minha consciência, senti minha humanidade voltando na medida em que o sangue daquela mulher descia pela minha garganta. Eu tentei lutar, resistir a dor do arrependimento que chegava até mim.

_ Lea o que você fez?_ Jesse gritava, eu joguei o corpo da mulher no chão.

_Eu não sei!_ Me levantei travando a luta com a pequena humanidade que queria me fazer sentir mal.

_Kurt porque você não impediu?

_Eu tentei Jesse, olho isso! _ Kurt provavelmente apontava para a porta. _ Mas acho que ela tem muito sangue seu no corpo, o que a torna imune aos meus poderes.

_Resolvam isso agora! _ Jesse disse. Eu passei por ele indo para casa, ele veio atrás de mim. Fomos até o quarto, eu me senti meio tonta e confusa. Pensei que Jesse fosse brigar comigo, me dizer coisas frias e difíceis de ouvir, mas ao invés disso ele ajudou a tirar minha roupa coberta de sangue e preparou meu banho.

_Porque você está fazendo isso? Eu matei quatro crianças!

_Acontece!Você estava com fome.

_Não Jesse eu estava com inveja, com raiva, com ódio, com tudo, menos com fome, eu queria ser ela, eu queria ter filhos eu queria sentir dor.

_Você está confusa Lea, tente dormir._ Aquele carinho estava me dando raiva. Como ele era capaz de me tratar assim depois que eu ter matado uma família?

_Eu não durmo há décadas e você sabe disso. Não quero dormir hoje e não vou dormir. _ O desespero tomava conta de mim, tudo estava confuso._ Tire os humanos da fazendo Jesse antes que eu os mate, antes que eu mate um por um. _ As palavras faziam doer um pedaço de mim que eu desconhecia naquele momento, senti lágrimas se fazerem em meus olhos depois de muitos anos sem sentir essa sensação.

_Lea, não posso! Estamos entrando em um novo século, as coisas mudaram, precisamos entender isso. Não podemos ter uma fazenda somente com vampiros.

_Jesse agora! Eu não quero ter mulheres grávidas aqui!

_Vou mandar as mulheres saírem, tudo bem?

_Não! Nada bem._ Tudo estava horrível para mim. O jeito que Jesse estava levando aquela situação me deixava ainda pior, eu queria não me sentir péssima, mas por algum motivo eu me sentia.

_Alguma coisa deve ter mexido com você, isso acontece quando estamos chegando perto dos cem anos. _ Jesse tentou me abraçar e eu fugi de seu abraço.

_Pare de me tratar como se eu fosse alguém legal! Eu sei o que eu sou!

_Eu também sei! _Ele disse com quase um sorriso no rosto. Mas era mentira eu não sabia quem eu era, aquela dor dentro de mim estava acontecendo, eu sentia dor e remoço, mas não podia jamais admitir. Saí do quarto, em seguida da fazenda. Jesse não veio atrás de mim, corri para bem longe dali.

22 de dezembro de 1780

Ainda não me sinto bem, eu e Jesse ainda estamos dormindo em quarto separados. Jesse não está chateado comigo, isso me chateia, brigamos frequentemente. Sinto-me cada dia mais sozinha. Kurt não olha para mim e me despreza e isso me faz lembrar que matei aquelas crianças. Todo dia que encontro com Kurt isso me passa pela cabeça, cada gosto, cada cheiro...

03 de janeiro de 1781

Os empregados de Noah tentaram invadir nossa casa. Matei alguns vampiros, isso me fez com que me sentir melhor.

15 de fevereiro de 1781

Os ataques continuam. Jesse não me deixa sair de casa. Me sinto presa feito um animal.Talvez seja essa a sensação que eu mereço.

30 de julho de 1781

Minha vida não faz sentido, eu e Jesse só brigamos ultimamente.

09 de agosto de 1781

Minha vida não faz sentido, eu e Jesse só brigamos ultimamente.

05 de outubro de 1781

Minha vida não faz sentido, eu e Jesse só brigamos ultimamente.

10 de novembro de 1781

Minha vida não faz sentido, eu e Jesse só brigamos ultimamente.

22 de dezembro de 1781

Minha vida não faz sentido, eu e Jesse só brigamos ultimamente.

03 de janeiro de 1790

Eu e Jesse estamos brigados novamente, me pergunto quantas décadas é capaz de durar uma crise no casamento.

15 de novembro de 1790

Tudo parece estar voltando ao normal, pelo menos é nisso que quero acreditar. Jesse e eu nos amamos e finalmente dormimos na mesma cama.

18 de fevereiro de 1791

Talvez nada volte a ser como era no começo, eu já tenho noventa e um anos e não me sinto bem em passar por uma adolescente de dezoito anos. Minha cabeça está cada dia mais maluca, queria procurar um médico, mas acho que ele não entenderia.

07 de julho de 1791

Jesse mandou fazer uma pintura minha e colocar no teto do nosso quarto, ele espalha pinturas minhas pela casa inteira, eu sei que ele me ama, mas me olhar pela casa me incomoda, não consigo acreditar que ele é capaz de me amar com todos os meus erros e defeitos, sinto-me suja e idiota. Queria deitar em uma cama e esperar a morte. Pena que ela não viria.

Aniversários me fazem piorar cada dia mais!

14 de julho de 1791

Aniversario de casamento, Jesse me levou para o teatro, confesso que por mim ficaria em casa, mas tínhamos acabado de nos entender, achei que não seria tão ruim ir com ele. Entramos e quando me sentei percebi uma energia diferente. Procurei e quando foquei o olhar pra bem mais a minha frente puder ver um homem de terno, parecia olhar para mim. Seus olhos eram tão arrepiantes que me pareciam conhecidos, levantei-me.

_Vai onde amor?_ Perguntou Jesse

_Pegar um ar. Essa peça é horrível.

_Ela mal começou._ Jesse molha os lábios, talvez na tentativa de segura palavras. _Quer que eu vá com você?

_Melhor não.

_Me desprezando?

_Não, só que você gosta de teatro, certo?

_Você não?

_Não!_ Ele soltou um sorriso de sem paciência que estava muito frequente em seu rosto nos ultimo meses e se virou para o espetáculo, saí o deixando sozinho. Estava um vento gostoso. Encostei-me a uma árvore. Adoro os fins de tarde. O por do sol era a única coisa que me fazia gostar de estar “viva” Se é que dá para chamar isso de vida!

Olhar pra o sol, sua cor alaranjada se misturando com o azul do céu me causava sentimentos bons, um sorriso provavelmente se formava em meu rosto naquele momento em que fui surpreendida por uma voz que me fez arregalar os olhos e virar rapidamente. Era estranho não ter percebido sua presença antes.

_ Posso saber como se chama? _ Sua voz era aveludada e seus olhos verdes me deixaram hipnotizada. Ela tinha uma mexa dourada caindo ao recor de seu rosto.

_Claro! Lea._ As palavras saíram sem eu as controlar.

_Lindo nome. Quinn muito prazer._ Ela pegou em minha mão e levou até a boca, me fazendo sentir o calor de sua saliva e lembrar que aqueles olhos verdes e aquela apresentação incomum já haviam sido apresentados a mim em algum lugar de minha memória.

_Obrigada!_ Disse puxando minha mão. Ainda continuei segurando seu olhar, eu precisava lembrar, de onde eu a conhecia? Eu conseguia ouvir o som do seu coração, o que a tornava humana e impossível de ser alguém que eu conhecia quando eu era humana.

_A senhorita está sozinha? _Seu olhar verde sedutor penetrou ainda mais os meus, me fazendo lembrar do dia do meu casamento, aquilo era impossível, aqueles olhos verdes eram os mesmos que eu vi no banho de ervas e cristais que Kurt preparou para mim. Fugi de seus olhos.

_Não! Estou acompanhada do meu... Esposo._ Olho para os lados e percebo que o cenário era o mesmo que eu vi no meu sonho no dia do meu casamento. Fiquei assustada.

_Casada? Tão nova. _Não olho para seus olhos novamente, não podia ser aquilo. Que bruxaria era aquela que Kurt fez que me trouxe quase oitenta anos no futuro? Eu estava louca? Será?

_As aparências enganam. _Falei reparando nela de todos os modos que meus olhos deixavam e percebi que a roupa, o cabelo, o jeito eram idênticos aos que eu tinha visto no sonho. Era ela. Senti tantas sensações que quase me senti humana de novo.

_ Então eu devo ter me enganado também quando vi a senhora retribuindo meus olhares lá dentro. _Soltei um breve sorriso de canto dos lábios. Era dela a energia que me inquietou dentro do teatro, era ela que eu tentava reconhecer. Aquilo estava muito estranho, não podia ser real. Eu precisava sair dali urgentemente.

_Com certeza se enganou senhorita Quinn! _Ela se aproximou e sussurrou em meu ouvido. Arrepiei me sentindo nervosa com o calor de sua respiração tão perto de mim. Afastei-me.

_Claro que sim! _ Ela sorri e coloca a mecha dourada para trás da orelha. _ Talvez seja melhor a senhora voltar para dentro, aqui fora pode ser perigoso. _ Não consegui conter o sorriso, o único perigo ali era eu, quer dizer, seu jeito sedutor me fez correr perigo também.

_ É melhor a senhorita voltar para lá, eu posso ser perigosa. _ Disse sem pensar nas palavras. Não sei como estava acontecendo, porém ela me deixava mais nervosa a cada segundo que passava. Ela molhou os lábios rosados. Eu fiquei incrivelmente encantada com seu charme. Como seria possível? Kurt sabia que eu encontraria com ela? Será que eu estava sonhando? Ou ela também era uma bruxa?

_ Perigosa? Não me parece perigosa.

_ As aparências enganam. _ Deixei me envolver novamente pelo verde de seus olhos. As sensações que eu sentia me faziam lembrar a velha Lea. Aquela que tomava banho no rio com sua mãe, aquela que eu havia perdido há muito tempo. Precisava sair dali, estava em um território desconhecido que me causava dor.

_ Preciso ir._ Dei um passo em sua direção na intenção de passar por ela.

_ Pensei que não tinha problema ficar aqui fora. _ Ela segurou em meu braço, me causando arrepios e sensações físicas que não sentia há tempos.

_ Seu cheiro é tão bom! _ Eu disse sentindo pela primeira vez o perfume de um humano e não o cheiro de seu sangue. Ela que curvou as sobrancelhas e sorriu.

_ Esse elogio eu nunca ouvi uma dama fazer._Percebi que não só pensei, mas também expressei com palavras o que senti.

_ Não sou uma dama comum senhorita Quinn. _ Respirei fundo para poder gravar seu cheiro e puxei o braço tentando me manter normal diante daquela situação extremamente estranha.

_ Vejo que não! _ Desviei os olhos dos dela, aquele olhar era como feitiço. Ela com certeza era uma bruxa ou eu era maluca.

_ Com licença, preciso encontrar meu esposo._ Passo por ela nervosa e tremula feito uma adolescente.

_ Não vá! _Ela me segurou as pontas dos dedos e nossos olhos se encontraram, algo dentro de mim pulsou, era como se eu estivesse saindo de um coma profundo e aquilo fosse meu primeiro suspiro. O medo tomou conta de mim._ Quando posso vê-la novamente?

_ Senhorita! Sou uma mulher casada, gostaria de mais respeito._ As palavras saíram tremulas.

_ Desculpe! Eu não quero ofendê-la, mas é que gostaria de poder conversar com você mais uma vez. Tenho a impressão que nos conhecemos._ Tentei não ouvir suas palavras.

_ Preciso ir!_ Corri para dentro do teatro. O medo de tudo que aqueles poucos minutos na presença dela me fizeram sentir estava crescendo dentro de mim. Será que ela também havia sonhado comigo?As dúvidas começaram a tomar força na minha cabeça.

Entrei e fui em direção a Jesse, torcendo para que eu não estivesse eufórica. Vampiros não deveriam ficar eufóricos, na verdade eles não ficam. Pelo menos eu nunca tinha ficado, mas era assim que eu me sentia.

Jesse estava conversando com o representante de alguma cidade próxima, ele era um homem rude e sem princípios algum. Conforme eu me aproximava a conversa deles ficava mais clara.

_ Venha Jesse, será maravilhoso ter o cavalheiro conosco, deixa a sua senhora em casa, aposto que as meretrizes vão lhe dar um trato.

_Talvez seja melhor deixamos para outro dia. _ Pude ouvir o sorriso de Jesse, mesmo sem estar no campo de visão dele tenho certeza que ele já sabia que eu ouvia._ Lea é um pouco espaçosa demais, se é que me entende.

_ Não foi o que me pareceu da última vez. _ Ouvi o suspiro de Jesse e uma raiva tomou conta de mim. Eu estava um poço de emoções, não conseguia entender nada dentro de mim.

_Não foi o que o cavalheiro pensou eu e..._ Jesse não conseguiu terminar a frase antes de eu me posicionar ao lado do senhor sem princípios.

_Ola senhora Lea! _ Sentia raiva do som que saia da boca daquele senhor sínico e hipócrita, se Jesse não tivesse se levantado e colocado o braço em volta da minha cintura e apertado com muitíssima força, eu com certeza tinha feito aquilo que estou louca pra fazer a tempos, que é cuspir o sangue desse animal na cara dele.

_Tudo bem amor? Como foi o passeio? _ Disse Jesse tentando ser gentil, perto daquele humano idiota que ele mantinha uma falsa relação de amizade.

_Não melhor que aqui dentro eu suponho.

_Com licença, estou indo para deixar os pombinhos à vontade. Jesse caso queira participar a reunião, será as oito. Senhora Lea, continua linda, não envelheceu um dia, quero saber o que vocês tomam naquela fazenda que parecem sempre jovens.

_Vai lá um dia desses será um prazer mostrá-lo. _ Disse com um sorriso hipócrita.

_Tchau! – Disse Jesse se sentando e rindo da minha piada.

_Que dia foi esse Jesse? _ Pergunto olhando para ele como uma mulher que eu mesma não conhecia.

_ Que?

_ Que dia você saiu com esse verme para pegar prostitutas?

_Lea, pelo amor de Deus!

_Responda!

_Ciúme não faz mais seu estilo. Agora sente e espere o show acabar._ Ele tinha razão eu não sentia mais ciúme, na verdade não sentia nada ou quase nada. Já fazia tempos que em nossos “banquetes humanos” eu e Jesse dividíamos as mulheres.

_Que? Você não vai falar comigo como se eu fosse uma humana idiota que espera seu marido terminar de meter com outra. _ Jesse me olhou e sorriu debochadamente.

_Uma dama com vocabulário tão baixo, que feio Lea!

_Pelo amor de Deus Jesse, me poupe! _ Viro as costas para Jesse e caminho para a porta onde entrei. Todas as vezes que íamos ao teatro Jesse sempre escolhia lugares no alto, como camarotes, eram fechados por portas e com muitos lugares vagos.

_Lea?! _ Ele me chama sem gritar. Continuo andando como se não pudesse ouvi-lo. _ Volte aqui e não seja infantil, você não liga para onde eu vou ou deixo de ir tem muito anos.

_ Isso te dá o direito de sair por ai... Jesse esquece! Vou para casa. _Nossa conversa era baixa, graças aos nossos super ouvidos podíamos nos falar a metros de distância.

_Lea é nosso aniversario de casamento, volte aqui.

_Vou para casa! _ Eu não me sentia traída ou com raiva, apesar de não gostar da ideia da possibilidade de Jesse transar com humanas por aí. Isso naquele momento pouco me importava, eu estava mais preocupada em saber sobre a mulher misteriosa e sedutora com o nome de Quinn que me fez ter reações estranhas como uma crise de emoções.

_ Amor eu te levo! _ A mão de Jesse encostou-se a meu ombro.

_Jesse... _ Eu pensei em discutir, reclamar, mas desisti. Não me importava. Entrei na carruagem, Jesse falou, talvez ele tentasse se explicar ou sei lá, porém nada do que ele dizia me fazia para de pensar naqueles olhos verdes que me fizeram voltar no tempo e me sentir tão humana. Eu queria, eu precisava saber mais sobre aquilo. Como eu poderia tê-la visto a tanto anos atrás? Kurt talvez soubesse me responder.

_ Lea está me ouvindo? _ Jesse disse um pouco antes de chegarmos à fazenda

_Jesse como você mesmo disse, eu não me importo, durma com quem você quiser, faça o que quiser. _ Saí da carruagem e entrei em casa. Não queria estar ali, pela primeira vez depois de tanto anos eu senti falta de casa, queria minha cama pequena e sem graça. Subi para o quarto, Jesse reclamava, mas eu não o ouvia. Fechei a porta e peguei o diário e agora estou aqui, presa dentro de mim, não sei o que fazer, muito anos fiquei sem sentir falta de nada que não fosse sangue e agora depois de um simples olhar eu sinto falta do desconhecido. Jesse está batendo a porta e eu não quero atender.

15 de julho de 1791

Não saí da janela o dia inteiro, não sei se Jesse saiu ontem depois de eu me recusar a atender a porta, preferi não saber. Senti fome e saí do quarto, Kurt estava passando pela sala.

_Kurt!_ Ele olhou para mim

_Sim Lea!

_Tenho algo para lhe perguntar _ Kurt não respondeu com palavras, porém sorriu como se soubesse o que eu queria dizer.

_ Jesse está no quarto descansando. _ Ele se virou. Eu fiquei na dúvida, mas logo entendi o que ele quis dizer. Não podíamos conversar com Jesse em casa ele ouviria. Correspondi com um sorriso.

_ Então quando ele acordar diga que fui caçar. _ Saí pela porta e andei. Corri. Andei novamente e quando parei percebi que estava muito mais longe que eu pretendia. As terras de Jesse já tinham acabado, e eu estava em território completamente desconhecido, o sol já estava se pondo, eu não havia comido nada, a fome por sangue já estava me cegando, senti cheiro de sangue a alguns metros. Eu estava na mata fechada e o cheiro vinha de um vilarejo que estava bem a minha frente. Me escondi entre as árvores e assim que a noite caísse eu pretendia atacar o primeiro que passasse por perto. Ouvi vozes que pareciam em sua maioria vozes masculinas.

_Você não vai conseguir chegar em casa, está caindo de bêbedo.

_Vou ... s..im.

Os bêbados apesar do sangue amargo, eram bons de caçar, pois eram sempre alvos fácies e rápidos. Esperei os cavaleiros se separarem e para minha sorte o mais bêbado parecia se aproximar e com ele o cheio horrível de álcool. Posicionei-me e saí do meio das árvores e me coloquei na frente do cavalheiro, que para minha surpresa tinha traços femininos. Apesar das roupas masculinas e um chapéu que tampava quase todo o seu rosto eu consegui identificar nitidamente que era uma mulher. Que me fuzilou com olhos verdes sem foco.

_Lea?!


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Notas finais do capítulo

Por favor, me deixem suas impressões.
Prazer e luz.



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