Misterious Lisboa 11.12.1997 escrita por Forbidden Gate


Capítulo 3
Misterious Lisboa 3




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        No dia seguinte então, abri os olhos como se tudo estivesse acabado. Lembrava-me de como Karol estava. Aos poucos me levantei sabendo que teria de continuar com o caso, de qualquer jeito. Era tão melancólico. Já havia achado Karol, mas agora, tinha de achar quem fez isso. E talvez, as mesmas pessoas, poderiam estar acabando com Lisboa.

E é estranho o fato de Lisboa aceitar bordeis como algo comum... Muitos deles eram secretos. Mas, por que esse era tão conhecido? Tenho de me lembrar que, aqueles caras acabaram de vir do Japão e de todas as informações que Amanda me passou. Vesti um dos meus uniformes como o dia estava quente, deixei o casaco de lado e peguei uma bolsa qualquer, precisava ajudar Flávia com papeis, organizações e outras coisas chatas que eu odiava. Em pouco tempo, estava em frente ao meu local de trabalho, desliguei o carro e adentrei minha sala particular. Flávia parecia confusa com tantos papeis. Deixei a bolsa sobre minha cadeira e passei o braço pela mesa, jogando tudo no chão. Só retirei meu notebook com cuidado e deixei em um sofá ali ao lado. Ela ficou boquiaberta enquanto me observava retirar todas as gavetas de arquivos, deixando-as sobre a mesa.

- Faça quatro fileiras. Na primeira, Casos resolvidos têm um carimbo e minha assinatura. Você vai queimar todos eles.  Na segunda, casos á resolver, que eu me lembre, não são tão importantes são como esse, procurar jóias de senhoras ricas que não tem mais o que fazer. Na terceira, separe por data tudo o que tenho a receber de casos resolvidos. Na quarta, organize todas as contas que devo pagar, pegue o dinheiro, vá e pague. Você sabe minhas senhas, onde está e tudo mais, faça seus deveres.

- Ah... Parece... Bem trabalhoso, Karen.

- Flávia, eu te pago para isso, não? Além de tudo, está fazendo um estágio. Eu não devia te pagar. Sua faculdade devia.

- Ah, sim. Desculpe. Certo, pode deixar comigo.

Sentei-me na cadeira com o celular em mãos e o notebook. Cruzei as pernas, e fiquei balançando-as distraída. Não consegui me manter quieta, estava nervosa por ligar no tal bordel. Disquei o número indicado Por Amanda e fechei os olhos. Forcei a voz e fiz algo mais feminino, o que era difícil para mim.  

- Bom dia, gostaria de falar com... Kaya ou Hizaki... é importante.

- Do que se trata? Se for agendar, é comigo.

- Ah, eu não posso falar com eles?

- Não... Você deve marcar um horário.

- E teria de ir até ai para falar com eles?

- Sim, e lembrando que, como os dois são os chefes... saí bem mais caro.

- Eles devem estar sentados aí sem fazer nada, custa atender um cliente?

- Não importa o que estão fazendo, são os chefes. Essa é a minha função.

- Ah, certo. Marque para hoje, então... Com ... Kaya.

- Certo, tenho o último horário vago, as oito da noite. O valor você deve ver com ele quando vier para cá.

- Certo certo... Mas, pode-me falar mais sobre eles?

- Não. Bom dia, não falte.

E a linha caiu misteriosamente, ne. A mulher que me atendeu, parecia irritada ou parecia odiar seu local de trabalho. Fiz o que consegui, somente... eu teria de ir lá de qualquer jeito. Fiquei ainda mais nervosa. Fechei os olhos e virei a cadeira para direção de Flávia que me encarava com um enorme sorriso nos lábios. Assustei-me com a expressão da outra e cruzei os braços.

- O que é agora, Flávia?

- Marcar, com Kaya? É aquele Kaya?

- Flávia, Oh não... não é o que está pensando...  Ele está envolvido no caso. Pelo menos eu acho, eu não deveria explicar isso para você, volte ao trabalho. Ah, meu Deus.

Ela riu e voltou a organizar os papeis e me olhava vez ou outra. Devo ter ficado com o rosto vermelho. Enfim, fiquei lá a ajudando e a ensinando até o final da tarde. Após,  fui para casa. No caminho, notei os três jovens atravessando a rua para voltar para minha casa. Saí do carro com a bolsa e fiquei a observar os três, que estavam com um tipo de uniforme.

- Onde vocês estavam?

- Nós fomos a escola... Conseguimos um dinheiro com Laurence arrumando sua casa e compramos o uniforme. A empregada Foi embora... – Disse Yuki em um tom calmo, bagunçando os cabelos.

- A minha empregada foi embora? Por que? Vocês não deviam trabalhar para ganhar dinheiro era só pedir... Laurence...desgraçado.

- Nós não vamos ficar pedindo mais nada, e quando tudo se resolver, vamos pagar você, Karen.. mas, por enquanto podemos te ajudar em coisas pequenas. Só não podemos faltar da escola. – Disse Kamila, olhando Keli de canto.

- Não quero que trabalhem mais dentro de minha casa. Eu vou me sentir mal com isso, escutem-me. Estou fazendo um favor, apenas... eu ofereci um abrigo e comida a vocês. Não devem retribuir, somos amigos. Entrem, Laurence vai fazer um café para vocês... Eu vou me arrumar e sair novamente.

Disse, empurrando os menores com calma para dentro de casa e fechando a porta. Quando entrei, a casa estava impecável. Cruzei os braços e fiquei a observar Laurence, que estava jogado no sofá.

- Laurence. Você tem algum tipo de problema mental? Estou muito brava com você.

- O que aconteceu agora?

- Colocou os jovens para arrumar a casa? Faça-me o favor!

- Não é isso... Eles me imploraram, e eu disse que pagaria então pelo serviço... a nossa empregada arranjou uma mansão para trabalhar. Mas, não os obriguei á nada...

Laurence conhecia meu jeito quando ficava irritada e eu parecia o fuzilar com o olhar. Joguei a bolsa no sofá e fui para o quarto sem dizer mais nada. Tomei um banho longo, coloquei um terno negro e prendi os cabelos negros que caiam até a cintura em um longo rabo de cavalo. Não passei maquiagem nem nada demais, saí do quarto e fui direto para a cozinha. Como eu estava intrigada com o caso , não conseguia comer nada o dia todo. Comi uma maçã e peguei a bolsa, era sete e  cinqüenta. Saí de casa em disparada e Laurence já estava no carro. Escondi o rosto com as mãos, aparentando estar irritada.

- Você não vai. Vai pra casa, anda... Eu pedi pra cuidar deles. Será que pode fazer pelo menos isso por mim? Eu vou sozinha. Não posso chegar lá com outra pessoa, vão achar estranho e não vou poder concluir nada.

- Eu não quero que vá para um bordel sozinha.

- O caso é meu. O que você lembra por isso?

Laurence ficou algum tempo em silêncio e saiu do carro, voltando para dentro de casa. Suspirei aliviada e entrei no carro, já a caminho do bordel. Levei uma arma na bolsa, qualquer coisa. Quando desci do carro, senti que alguém me observava. Meu estômago embrulhou de novo com a sensação. Surpreendi-me com o local, era bonito, luxuoso, amplo e tinha uns quatro andares. Empurrei a porta e entrei com cuidado, a mesma mulher que me atendeu sorriu forçada e se levantou.

- Karen, você? Kaya está a sua espera.

Fiquei em silêncio, com medo. Ela começava a me guiar para o último andar. Apenas a acompanhei com certo receio, observando tudo. No segundo andar, tinha uma sala estranha, uma porta de vidro escuro.

- Essa é a sala de Hizaki.

Disse a secretária ao notar que discretamente observava o local. Após subirmos algumas escadas, estávamos em frente a porta de Kaya. Estava ansiosa e com medo ao mesmo tempo.Ela abriu a porta e eu entrei na sala com atitude e de cabeça erguida. A sala era enorme, tinha vários enfeites, obras de arte e por incrível que pareça, rosas. Kaya estava sentado de costas em uma cadeira negra virada para a enorme vidraça escura. A porta se fechou e Kaya abaixou a cabeça, me olhando de canto.

- Kaya.

- Madame Rosa.

- Madame Rosa... Gostaria de saber um pouco mais de você...

- Por que tanta curiosidade? Não procura por meus serviços?

Ele se virou com a cadeira e ficou a me observar com uma expressão séria, com as pernas cruzadas. Grossas, por sinal. Ele era muito bonito e sedutor. Não parecia ser tão velho, parecia ter uns... 28 anos. Tinha o cabelo curto e todo cacheado, negro. Seus olhos puxados tinham um perfeito delinear. As bochechas um tom rosado, e nos lábios, um forte batom vermelho.

- Ah... Não é nada demais, Aprecio muito seu trabalho por aqui... Dizem que é ótimo e já é bem conhecido, está a pouco tempo na cidade, com tanto sucesso... Eu sou apenas... uma  estagiaria de Jornalismo, então creio que devo estar sempre treinando ou... atenta a novidades. Na verdade eu só... – Bruscamente interrompida pela voz grossa, porém, delicada do outro, fechei os olhos.

- Querida, Não acho que esteja aqui hoje para isso. Você marcou para conversar comigo?

- Não...

- Então não tem o direito de me questionar. O que deseja?

- Lisboa anda bagunçada, sinto por conhecer a cidade como esta essa semana.

Notei que ele ficava meio sem reação com a conversa. Os olhos negros começaram a brilhar e ele apoiou as pernas grossas sobre a mesa de vidro, com um vestido gótico típico Japonês. Começou a mexer nas luvas de delicadas rendas para se distrair e mudar o rumo do diálogo.

- Eu sinto por Lisboa. Eu não estou aqui só para conversar, certo? Você tem sorte de estar falando comigo. Não atendo a qualquer um. Minha secretária me encheu os pensamentos até aceitar vir para trabalhar hoje. E não vou sair daqui sem satisfazê-la de uma forma, ou de outra.

- Sua secretária? 

Lembrei-me no mesmo segundo de que, aquela secretária poderia ser a irmã de Amanda.Arregalei leve os olhos e abaixei a cabeça para que não notasse como estava nervosa, pensativa. Agora tinha certeza de que, era ela. Ela se parecia com Amanda, e como estava nervosa, não notei. Ela estava me ajudando, se fosse um horário comum, não estaria falando com Kaya, pelo jeito.

- Ah... é...  Não vamos só conversar, mas eu adoraria te conhecer... Além de curiosa gosto muito de saber sobre locais como esse. Você tem bom gosto, Kaya... mas, me conte, gosta de crianças?

Kaya parecia entediado com o assunto que dirigi a ele. Negou leve com a cabeça na expressão séria e se levantou, ajeitando o corset que acompanhava o vestido. Caminhando pela sala de um lado para o outro, suspirou baixo.

- Não ligo para crianças.

- Ah, sei... Kaya, por que se mudou para Lisboa?

- É algo secreto, e não, não é da sua conta. Peço para que se retire e pague por meu precioso tempo perdido. 

 Agora ele parecia nervoso com as perguntas, mas a voz... Continuava calma e baixa. Cruzei as pernas como se estivesse no controle agora e com firmeza, apoiei os braços sobre a mesa dele. Dizendo em um tom  mais alto.

- Parece nervoso, acalme-se, até parece que sou policial ou algo assim, Kaya.

Eu admiro muito seu trabalho... só isso. Fiquei sabendo que, seus serviços são insubstituíveis...  Nunca ganhou uma entrevista, é? Sem falar nisso, eu gostaria de trabalhar aqui. Mas preciso saber tudo sobre você, não acha?

- Eu não estou nervoso, nunca fiz nada para estar. Não tenho o que temer, não acha?

- Com certeza Kaya, oh... Meu nome é Karen.  Sabe, Madame... não me parece ser um fora da Lei.

Pouco depois, meus olhos brilharam de encontro a uma peça delicada, no mesmo segundo, levantei-me e me aproximei do outro com os olhos fixos em sua gargantilha. Era igual a que havia achado no cemitério na manhã de investigação. Deixei um sorriso falso se desenhar em meus lábios pois tinha certeza de que, era ele. Toquei aquela Jóia com a ponta dos dedos e rapidamente ele se afastou. Enquanto piscava incontrolavelmente os falsos cílios, cruzou os braços.

- Incrível, gosta muito de jóias? Pedras preciosas?

- Sim...Eu... adoro. Principalmente, gargantilhas. – Disse Kaya ainda meio desconfiado.

Fiquei a observar a gargantilha que tinha o mesmo pingente da gargantilha encontrada, até parecia ser a mesma. No mesmo instante, Um loiro alto com os cabelos cacheados até a cintura, adentrou a sala em disparada empurrando a porta dupla. Trajava um vestido longo vermelho com detalhes em veludo e estampa de rosas. Por incrível que pareça, usava uma gargantilha de ouro no mesmo modelo. O outro parecia bem assustado com algo.

- Oh, M-Me perdoe, Madame... Não sabia que estava com uma cliente... nee... – Disse, me encarando.

- Não se preocupe Hizaki. Isso tudo é só uma embolação. Diz ela, ser uma entrevista. Se eu soubesse, não estaria aqui para trabalhar, pegue suas coisas.. Logo vamos para casa.

– Disse Kaya, me encarando junto a ele. Fiquei em silêncio e me aproximei de Hizaki lentamente. Fiquei a observar sua gargantilha enquanto ele também se afastava um pouco, mas olhava Kaya de canto. Prontamente, puxou a mão esquerda do ‘’ Parceiro’’. O loiro parecia ter ciúmes de Kaya, estranho.

- Quem é ele? 

- Ele trabalha comigo e é tudo o que deve saber.

– Disse Kaya, acariciando a mão delicada do loiro que mais parecia uma mulher. Bem, estava acostumada com essas coisas. Quando se voltou para o loiro, tocou-lhe o rosto com a mão direita e logo notou:

– Hizaki... Onde está sua gargantilha?

Hizaki parecia nervoso e tinha os olhos marejados. Passou os dedos no próprio pescoço e suspirou ao se lembrar, ao menos, parecia perdido nos próprios pensamentos. Havia perdido ela no cemitério, mas não contara á Kaya.

- E-Eu... Kaa-chan...

Afastei-me e me sentei na mesma cadeira enquanto os dois discutiam sobre a gargantilha, discretamente, peguei meu celular e dei um toque no celular de Laurence, ele sabia que podia mandar a polícia para o bordel e a equipe de busca por Vítimas Especiais. Peguei em minha bolsa, a gargantilha do loiro no plástico especial e dei alguns passos para frente, jogando leve a cadeira para trás. Colocando-a em frente de seus olhos, a altura do nariz.

- Seria essa? Sua gargantilha, Hizaki?

Os dois pareciam ter congelado ao ver a gargantilha, aquele objeto apreendido. Kaya encarou Hizaki, furioso. Hizaki parecia ter um choque e permanecia a me olhar com os olhos cheios de água. Entreguei a gargantilha nas mãos de Hizaki e me afastei para ter sua reação como principal atração.

- Bom, acho que ajudei em algo... Loiro.

Notei que fora uma reação desesperada de Kaya, mas ele me segurou pelo pescoço em um movimento único e rápido. Enforcou-me com as unhas compridas em volta de meu pescoço, arranhando como podia. Senti uma leve falta de ar e tentei o empurrar e segurei seus braços com força após. Hizaki parecia desesperado e se jogou no chão, a procura de algo. Debati-me enquanto Hizaki soltava o plástico, agarrando a cintura de Kaya ao se levantar.

- Não! ... Kaya, Pare! Não! ... Não fique nervoso, não vão fechar o nosso...

Senti meu pescoço ser solto e o corpo empurrado com força contra o chão. Hizaki abraçava Kaya de olhos fechados e me apontava uma arma. Levantei os braços mesmo com a leve falta de ar e sorri forçado. Laurence e o grupo adentraram a sala em disparada. Hizaki disparava uma bala contra meu braço e contra o peito de um dos policiais que parecia o ameaçar com o olhar. Permaneci no chão em um grito doloroso. Laurence se aproximava para me ajudar e os outros prendiam Kaya e Hizaki, a força. Kaya gritava em desespero, inquieto.

- N-Não... ! Jamais...  EU NÃO VOU DEIXAR MEU BORDEL! Jamais! Soltem-me! Madame Rosa não tem nada a ver com...

Hizaki apenas chorava e tentava se soltar das algemas. Eu nunca havia tomado um tiro antes mesmo com casos sérios, e sangrava bastante. Tanto o impacto quanto a dor, era insuportável. Sentia o sangue a escorrer por meu braço direito sem parar. Senti o corpo fraco e na hora, uma forte tontura. Mas fui forte! Laurence tentava me ajudar enfaixando meu braço e o local do ferimento principalmente. Levavam os dois para o carro a força, e Kaya era arrastado, fazendo um completo escândalo. Assim que me ajudaram a levantar, Entre gemidos, corri para o carro com ajuda e me levaram  para o hospital. Recebi uma chamada no celular, Laurence atendeu por mim. Era do hospital onde faziam a analise no corpo de Karol. Eu tive de passar por uma breve cirurgia. Por isso, Laurence não podia me contar sobre a ligação. Já era tarde. Kaya e Hizaki estavam detidos por alguns dias até o julgamento, até eu me recuperar, pois só eu tinha direitos e acesso ás provas do caso. Laurence me esperou acordar no dia seguinte para contar. Quando abri os olhos, ele estava lá com meu café da manhã. Arregalei os olhos quando me lembrei de tudo.

- Onde estão as crianças? O que houve? Você está bem? Laurence! Kaya e Hizaki... ?

- Não se preocupe, fique calma, calma... Vai ficar tudo bem. Kamila, Keli e Yuki estão bem...

 – Disse o outro, com a mesma expressão tosca de sempre. Tomei meu café com calma, olhando meu braço. Ainda sentia muita dor, mas eu não deixaria o caso com Laurence como ele havia pedido. Não é que eu não confie nele e ele não irá resolver. Mas, é meu primeiro caso importante a um tempo... importante também na minha carreira, e eu gostava de me esforçar. Voltei a deitar. Fiquei pensando e pensando o dia todo. A final, essa era a principal coisa a se fazer em um caso como aquele. Prestei o máximo de atenção nas informações que Laurence me passava. Parei com o assunto e percebi que estava sendo meio ignorante com ele e egoísta, com o caso em minhas mãos. Surpreendi-me com o que ele dizia sobre a análise e me sentei como consegui.

‘’ Karol foi estuprada, e depois morta a  facadas. Pelo que disse, sua pele estava mole, roxa também... Parecia ter apanhado muito. ’’ – Disse Laurence.

- Isso é tão... Horrível. Como podem fazer isso com uma criança? Uma criança?!

- Eu não sei. Mas, acontece muito, agora preste atenção. Temos de saber se Kaya e Hizaki destruíram Lisboa com tal orgulho.Então acho melhor esperar mais dois dias para jogá-los atrás das grades! – Disse Laurence, em tom sério novamente.

- Tem razão, dois dias Somente. Eu quero fazer isso o mais rápido possível... Laurence pode trazer os jovens para cá? Vou ter que contar isso á eles, a final... vão precisar participar do julgamento.

- Pode contar para eles quando voltar para casa. Agora precisa descansar Karen.

Voltei a me deitar incomodada com a situação, afinal, teria de esperar no mínimo três dias para sair do hospital.

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Os dias foram se passando lentamente para mim, eu já estava quase sem sentir a dor, mas vez ou outra, eu sentia pontadas fortes. Enfim, era hora de sair do hospital. Levantei-me e até me senti enferrujada. Mas, disposta. O caso estava me stressando, me deixando preocupada, e eu realmente estava me envolvendo demais. Mas, era empolgante para mim. Ao mesmo tempo em que me deixava triste com Karol.

Laurence estava sempre lá para me ajudar, então fomos para casa. Fiquei muito tempo pensando em como eu ia contar cada detalhe para os jovens. Quando cheguei em casa acompanhada por Laurence. Yuki correu até mim, segurando minhas mãos, todos ficavam a olhar curiosos.

- Karen!!! Você tomou mesmo um tiro? Quem fez isso?

Realmente me surpreendi e sorri de leve, me soltando do menor aos poucos.   

- Sim... Mas, foi leve... e vai passar logo. Está melhor, mas... Precisamos conversar. Mas, antes vocês têm que me prometer que vão ser fortes e vão seguir a vida de vocês. E preciso saber de algo importante. Esse cruxfixo que vocês carregam... Significa algo? Ou tem alguma senha? Podem me contar, será para o uso vocês mesmos após servirem como prova.

- Nós vamos prestar atenção. – Disse Keli.

- Vai ser difícil, mas, pelo menos estamos juntos. – Disse Kamila.

- É a senha do banco, mamãe disse para usarmos quando tivéssemos uma emergência, mas... Falta o dela. – Disse agora, Yuki.

Laurence caminhava até o laboratório no subsolo da casa,para pegar todos os objetos encontrados, todos. O vestido com sangue, o cruxfixo,o sapato,o bracelete de Karol ,a gargantilha de Hizaki que trouxe de volta para casa, e a maldita mala onde a achamos. Fiquei em silêncio por alguns minutos e me sentei com eles, assim que Laurence chegou com a caixa com os objetos.

- Isso parece ser bom, podem ter dinheiro até conseguirem um trabalho. Lisboa está cheio deles. Se bem que poderiam trabalhar para mim... Certo, vou explicar... não fiquem tão assustados.. Mas, foi o que aconteceu. No julgamento vocês vão precisar,

Contar o que houve com detalhes.

Peguei primeiro de tudo o cruxfixo da mãe dos jovens, deixando sobre a mesinha de vidro.

- Esse, é o da mãe de vocês... foi grande sorte ter achado. Eu entrei na igreja no dia da tragédia, e tive a sorte de me despedir dela por vocês. Meus pêsames. Ela era realmente muito bonita, também.

Somente com isso, os jovens começavam a chorar. Peguei então o bracelete da menor junto ao sapato. Deixando os objetos sobre a mesma mesinha. Os três se abraçavam e era de apertar o coração, mas era a verdade, e eu precisava mostrar o que consegui.

Coloquei sobre a mesa então, o vestido ensangüentado e a mala.

- Ela foi encontrada nessa pequena mala... nua. Eu sinto muito, muito mesmo, não devia ser assim e nem tão... Horrível...

- Como isso pode acontecer? Karol era a minha melhor amiga, nossa irmã está morta! Morta... ela nunca fez nada para ninguém e sempre foi quieta... eu vou matar quem fez isso! Eu preciso saber isso não vai ficar assim, ninguém, ninguém mesmo vai me impedir de achar quem fez isso... e eu... ! Não...

- Eu fiz isso por você... Kaya e Hizaki, donos de um bordel grande e conhecido aqui em Lisboa a pouco tempo, Já foram pegos. Eu fui até o bordel e me certifiquei com essa gargantilha se eram eles mesmos.

Joguei a gargantilha sobre a mesinha de vidro junto aos outros objetos .Kamila fora interrompida em seu ataque nervoso, voltando a se sentar com a cabeça baixa, chorando escandalosamente junto a seus irmãos.

- Eu realmente sinto muito por isso, mas eu preciso muito da ajuda de vocês, para descobrir tudo sobre esses dois, talvez, eles estejam bagunçando Lisboa assim como o que fizeram com sua irmã, pode acontecer com outras pessoas. Eles não estão sozinhos, acreditem em mim. Mas, por enquanto, só descansem, sei que foi informação demais de uma vez, mas foi necessário.

Os três se levantavam e corriam para o quarto. Eu me afundava no sofá e Laurence me abraçava de lado, me sentia triste, cansada e confusa. Qual seria o próximo passo? Eu precisava dormir mais. Tiraria aquele dia para mim e para os jovens terem um tempo para pensar e se recuperar. Sem mais nem menos, caí no sono. Nos braços de Laurence, que sempre estava preocupado. O tempo passou, e eu só acordei no dia seguinte. Quando acordei, estava em minha cama. Acordei e já fui vestir o uniforme para o julgamento. Os dois estavam em uma cela, presos, juntos. Com a última roupa da última vez que os vi. Esperando para serem julgados, melhor de tudo? A minha espera... Pareciam desesperados, não consegui conter uma risada inesperada quando fiquei a frente da cela. Hizaki estava deitado no colo de Kaya, chorando baixo. Kaya levantava seu rosto e voltava a atenção a mim. E realmente, estava feliz.

- Oras... Mas... Cadê todo  o luxo de vocês? Que vocês merecem? Não? Vocês merecem apodrecer ai.

Kaya se levantava furioso e tentava pegar meu pescoço, apenas dei um passo para trás.

Após, fui atrás de alguns papeis para dar inicio ao julgamento com policiais do grupo. Laurence preparava os jovens para virem ao tribunal. Sentei-me e notei que havia uma jovem com as pernas cruzadas. Foi a primeira a chegar ao tribunal, estava na primeira fileira e não parava de me encarar, estranho. Era uma garota alta, de cabelos negros e longos, um salto fino e de boa postura. Quem seria ela?. Quando todos estavam lá, me levantei reverenciando o júri, é claro, que Os dois tinham um ótimo advogado contra. Demos inicio julgamento explicando ao júri tudo o que havia acontecido desde o começo. Estava nervosa, ainda sim tinha certeza, não tinha como eles escaparem. Iniciei fazendo perguntas aos meus colegas de trabalho. Após, o advogado fez o mesmo. Levantei-me e ajeitei meu uniforme, caminhando pelo local, pensando em cada palavra pronunciada e a pronunciar. Respirei fundo e perguntei calmamente para Kaya, quem estava sentado á frente.

- Kaya, Kaya... onde o senhor estava na noite do assassinato de Karol?

- Eu estava no bordel. Ando trabalhando muito ultimamente. – Disse ele, nervoso.

- Mesmo, Kaya? Ah... e a que horas voltou para casa?

- Eu acho que... após a meia noite... eu não me lembro. – Disse, suspirando.

- O que você diz sobre a gargantilha que achei, de seu parceiro? Você mesmo confirmou que era essa. Hizaki ficou tão chocado quando a devolvi... O que ela fazia dentro daquele quarto subterrâneo se não era de vocês? Como disseram. 

Ele ficou alguns minutos em silêncio. Sentei-me novamente, cruzando os braços e observando seu advogado. Fazia perguntas simples e coisas que todos já sabiam sobre Kaya, tentava passar a melhor imagem do cliente falando  sobre o bordel. O juiz parecia entediado e eu estava sem argumentos. Levantei-me e ajeitei as mangas, mostrando os curativos. Toda aquela delicadeza de Kaya, e o jeito como me olhava,  me irritava profundamente.

- Não é tão atoa assim. Não estaria aqui se não fosse realmente importante. Não é mesmo, Hizaki? Brincando com armas... Perdendo suas coisas no mesmo local dos acidentes, das tragédias. Por que ficaria tão nervoso?Não sentem culpa? De estuprar uma garotinha de 10 anos e ainda por cima a cortarem como se.... !

 - Protesto! Informações demais. – Disse o advogado dos dois.

Sentei-me e revirei os olhos, teríamos um intervalo pequeno para discuções. Laurence sentou ao meu lado e aquela garota continuava a me observar sem parar. Laurence explicava o que eu devia fazer, mas parece que, ela queria me hipnotizar, e conseguiu.

Porque, eu me sentia incomodada e tinha certo receio de pessoas estranhas naquele tribunal. Tinha medo... não prestei atenção e Laurence e quando chegou minha vez dar continuação ao julgamento, eu congelei. Não sabia o que dizer, pensar ou fazer.  Após um tempo de determinadas pronuncias, continuei poucos minutos antes do segundo intervalo para obter informações e/ou propostas sobre o caso.

- Kaya e Hizaki trabalham em um bordel, odeiam crianças, principalmente garotas pequenas. Parecem ser mimados e não parecem estar sozinhos na cidade. Espero que saibam que, nós vamos encontrar quem estiver por trás disso... bom, senhores do júri. Estamos aqui hoje para explicar o porque dessas tragédias. Nós tememos que os dois! Tenham uma gangue. Pensem comigo, agora. Estão aqui a pouco tempo, e no mesmo momento em que se mudaram, Lisboa não é a mesma. Tragédias, pessoas sumindo. Eu tenho acompanhado tudo. O dinheiro que eles tem, poderia ser usado para pagar muitas pessoas para estragar a cidade, e digo mais, em minha opnião, é claro... os dois estão por trás de tudo. Posso ter poucas provas, mas tenho um bom argumento sobre os casos de Lisboa. Nada acontece assim, da noite para o dia.  Ou acontece? – Indaguei a todos do tribunal.

Kaya se levanta e é puxado por Hizaki que o abraça. A jovem de cabelos negros se levantou e saiu da sala discretamente, parecia sussurrar algo para o guarda que vigiava a porta. Estranhei, mas como tinha dito o que pensava e a pura realidade, me sentei e fiquei em silêncio ouvindo o próximo, a favor dos dois. Ouvi um barulho estranho vindo de fora e me levantei, pedi permissão para me retirar por dois minutos e saí correndo para fora do tribunal. Assim que saí, caminhei por toda a delegacia com cautela e certo receio. Ouvi gritos vindos do tribunal, gritos gritos e mais gritos, dolorosos, cada vez mais distantes. Entre disparos e vozes estranhas, corri para dentro mas, a garota de cabelos negros me segurou na porta. Comecei a chorar, não havia mais ninguém no local aquele dia. Eu estranhei o silêncio quando saí do tribunal, e agora todo aquele alvoroço. Tentava me soltar, sem sucesso, ela me agarrava com força, eu gritava o nome de meu marido que ainda estava lá dentro. Quando consegui me soltar, entrei em disparada no local. Todos que estavam lá dentro estavam mortos. Fiquei paralisada. Keli, Kamila, Yuki... e Laurence... Meu marido? ...  Morto? Ajoelhei-me ao seu lado e fiquei olhando os lados, procurando ajuda. Como isso poderia acontecer? Como todos estavam caídos, mortos em tão pouco tempo por que seja, três pessoas?! Ouvi uma risadinha sínica e quando notei, Kaya, Hizaki e Estephanie, a garota dos cabelos negros  estavam juntos. Estephanie me apontou uma arma na cabeça sem hesitar. Levantei-me e corri o mais rápido que consegui sem forças, abalada e em pleno desespero. Quando notei, estava cercada, um barulho incrívelmente alto.Uma forte dor no peito, era uma bala me atravessando, Ela, novamente. Sentia cada centímetro ser atravessado dolorosamente pela bala que me atingia em alta velocidade. Como se fosse a coisa mais simples do mundo, eles entraram em um helicóptero particular seguidos de outros e outros, e foram embora na minha frente. Quando as pessoas notaram o que acontecia, ligaram para a polícia, mas era tarde demais. Senti o forte vento bater contra meu rosto e cada gota de sangue cair ao chão, tão tarde... o sangue cobria meu corpo por completo. Em meus últimos minutos de vida, pedi perdão aos ventos, por não conseguir resolver o caso do qual tomei responsabilidade, mas fiz o meu melhor, até o final. ~


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Notas finais do capítulo

Fiiim ~ Yay, mas tem parte 2 do livro. ♥ ~



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