Já havia passado mais de uma semana desde aquele dia em que Zero e Yuuki haviam conversado no telhado. As aulas do dia haviam acabado e Ichiru havia ido à biblioteca e Zero e Yuuki estavam indo embora juntos, Zero, como sempre desde o ocorrido do primeiro dia, estava levando Yuuki em sua bicicleta.

-Zero – disse Yuuki de repente. – Por que você está me evitando?

-Como eu estaria te evitando se eu fico com você o dia inteiro, vou e volto com você na mesma bicicleta e ainda almoçamos juntos? – perguntou Zero.

-Você está evitando ficar a sós comigo para conversarmos. – disse Yuuki – Isso tudo é medo de ser você mesmo?

-Não é nada! – disse Zero – eu falo com você normalmente.

-Prove. – disse Yuuki emburrada.

-Sobre o que você quer falar?

-Me diz por que você age diferente quando os dois estão juntos de outras pessoas? – perguntou Yuuki.

-Eu... – Zero ficou hesitante e diminuiu a velocidade da bicicleta – não sei...

Yuuki se virou e olhou para ele, que parecia um pouco afetado e perturbado.

-Você está bem Zero? – Ele ficou em silencio. – Você está um pouco perturbado, vamos para um lugar que eu conheço.

Zero sem prestar atenção passou a pedalar para o caminho que Yuuki indicava. Chegaram a um começo de estrada que ficava num ponto mais alto que o bairro em que moravam, num acostamento, dava para ver o bairro inteiro.

-Aqui é calmo, - disse Yuuki – vai fazer bem para você.

Zero desceu da bicicleta e se sentou próximo à grade do acostamento. Yuuki se aproximou dele e se ajoelhou em sua frente.

-O que há de errado?

-Quando éramos crianças... – começou Zero. Yuuki escutava em silencio. – Ichiru costumava ser muito fraco. Eu sempre tinha mais disposição. Eu até treinava artes marciais, mas Ichiru estava sempre fraco. Num determinado tempo da minha vida... Eu comecei a me culpar. Achando que eu havia roubado a força de Ichiru. Desde então eu fazia tudo para as pessoas não me perceberem, e se percebessem, não gostassem de mim.

-Mas você não acha... – começou Yuuki. – que desta forma você está sendo injusto com o Ichiru-kun? Quer dizer... Para ele ser notado, você precisa ser esquecido. Não acho que você está sendo cruel com os dois?

Zero levantou o rosto e olhou Yuuki. No momento que viu seu rosto lembrou-se da conversa que tivera com Ichiru na noite em que Yuuki tinha lhe contado a sua memória mais antiga:

-Ichiru, você ainda tem aquilo? – perguntou Zero tentando parecer indiferente.

-O que? – perguntou Zero.

-Aquele colar que a garota de deu na infância. – disse Zero, ainda demonstrando indiferença.

-Ah, aquilo! – disse Ichiru sorrindo. – você também se surpreendeu por que a Yuuki-chan tem o mesmo nome que a menina do colar?

-Acho que sim... Mas esse é um nome comum, afinal. – disse Zero.

-Neve... – disse Ichiru – o significado desse nome não se encaixa com nenhuma das duas.

-Talvez você tenha razão. – disse Zero.

-É, talvez. – disse Ichiru sorrindo.

-Você espera encontrá-la algum dia? – perguntou Zero.

-É , talvez assim eu consiga uma namorada! – disse Ichiru com tom de brincadeira.

Zero continuou olhando para Yuuki.com um sorriso triste se levantou e puxou Yuuki.

-Vamos. Eu já estou melhor. Desculpe por ter de ouvir minhas lamurias. – ao deixar de olhar para Yuuki, sentindo-a na sua frente na bicicleta, olhou à frente e pensou: Eu não posso nem pensar em amá-la. E ela também não pode pensar em mim. Eu não posso tirá-la de Ichiru. Eu já tirei coisa demais dele antes mesmo de nascermos.

Zero continuou em silencio por todo o tempo, enquanto levava Yuuki em casa. A deixou na porta, se despediu brevemente e continuou o caminho com apenas um pensamento: contar a Ichiru que Yuuki e a garota da infância dele eram a mesma pessoa.