Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 40
O Novo Tudo


Notas iniciais do capítulo

Eu sei pessoal. Estou passando por períodos difíceis e a última coisa que vem na minha cabeça é a fanfic. A opção mais fácil seria largá-la de vez, mas não tenho coragem de fazer isso com vocês. Na verdade agora só me faltam 6 capítulos para acabar a fanfic, e vou me esforçar para tentar terminá-los antes do meu próximo aniversário. A propósito, meu niver é hoje :)



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CAPÍTULO 40

NEW EVERYTHING

Os estudantes acabaram não gostando muito da cobra, depois do quase ataque que realizou em alunos mais velhos. Até mesmo Snape mirava a cobra com desconfiança, apesar de pedir, relutantemente, que Revan removesse o veneno da Mamba quando tivesse uma oportunidade. Quando Viper, como chamavam a cobra por enquanto, se apossou da poltrona mais próxima do fogo, aquela que era sempre disputada, ninguém deu um passo à frente.

“Você está fazendo um bom trabalho” sibilou Revan para ele quando estavam sozinhos. Ele esticou o braço de modo que a cobra se enrolasse nele, procurando uma fonte de calor. “Apenas não morda ninguém.”

“Desde que não force meu veneno” disse a cobra, quase suspirando. Suas escamas davam arrepios no herdeiro Black, que permaneceu sem se mover, afinal, já havia lidado com coisas bem piores do que um corpo frio contra ele. Viper lembrou-se com quem estava falando e se retraiu. “Mestre.”

Revan sorriu com aprovação. “Vá caçar com o basilisco, ou simplesmente coma os restos. Aposto que ela ainda tem alguns corpos sobrando.”

“Sarah vai me engolir” resmungou Viper, referindo-se ao basilisco. Sarahzar, chamavam-na, Sarah para os íntimos. “Vou achar alguns ratos quando vocês humanos estiverem estudando.”

“Apenas certifique-se que não seja Pettigrew.”

Levantou e subiu para os dormitórios. Os outros ainda dormiam tranquilamente, mal sendo seis da manhã. Revan pegou suas vestes e selecionou os livros que precisaria antes do almoço. Sua testa franziu quando se deparou com os novos livros obrigatórios desde a revelação do Lorde das Trevas. ‘Duelando com a luz’, dizia um, e o outro era o velho e bom ‘Tudo o que você precisa saber sobre Política: Versão Editada’.

Versão editada, pensou ele com uma careta. O livro tinha quase cem páginas a menos do que o original – todas as menções do lado bom das trevas haviam sido removidas. Qualquer coisa relacionada à ambição e à seleção também, por medo de associações com bruxos que escolheram o lado negro. A única oportunidade dos estudantes de fazer uma escolha sábia não estava mais lá. Como escolher algo, se não o conhece?

Cutucou levemente os meninos, apenas trazendo-os de volta do mundo dos sonhos sem realmente acordá-los e esperou até que Draco abriu um olho azul preguiçoso, que se arregalou imediatamente. Revan segurou uma risada e se fez de sério e perigoso: “Avise os meninos que estou tomando café.”

O menino assentiu.

Ele era o único Slytherin sentado na mesa, mas não o único estudante. “Fred, George!”

Dois ruivos olharam para ele e deram sorrisos tristonhos. Quase não era possível ver marcas de expressão em seus rostos, quando havia várias ao redor dos lábios no ano passado. Antes da coisa com Ron. Agora a única marca de emoção eram os olhos vermelhos e inchados de chorarem à noite, quando percebiam que eram apenas os dois em Hogwarts agora, e que seu irmãozinho não estava mais lá para sofrer pegadinhas.

“Não conversamos muito ano passado” disse Fred, supôs Revan, pelas sardas que tinha. “Mamãe mandou ficar bem longe de Slytherins.”

“Mandou um berrador ameaçando-nos coisas terríveis se falássemos com você” completou George, tentando parecer ao menos um pouco animado. Suspirou e olhou para as mãos, pensativo. “Apesar de ela de fato fazer coisas terríveis conosco agora.”

Revan tentou se mostrar simpático, seu coração começando a pesar pelo que havia feito com Ron. Cobras podiam matar leões, mas apenas para defesa. O que ele fizera podia ter passado dos limites. “Querem conversar sobre isso?” mordeu o lábio e impediu-se de piscar, deixando os olhos aquosos. “Ou sobre qualquer coisa?”

“Diga-nos alguma coisa sobre nosso irmão que não sabemos.”

Pensando, disse: “Ele comia daquele jeito porque queria chamar a atenção de Hermione. Mesmo se fosse para ser repreendido, o que acontecia todos os dias, mas pelo menos ela olhava para ele.”

Os gêmeos trocaram um olhar. “Apaixonado aos onze?”

“Deve ser” murmurou Fred, sentindo-se mais leve. “Só amor para querer a atenção de Hermione.”

Foi o primeiro sorriso que Revan viu os gêmeos darem desde o ‘incidente’ com Ron. Concentrou-se, imaginando tortinhas de limão. Instantaneamente, várias estavam ao redor dele na mesa. Empurrou duas para Fred e George, gesticulando para que eles as comessem.

“Não conheci muito bem seu irmão, porque você sabe, é bem complicado ter uma conversa educada com alguém que te chama de cobra nojenta, mas acredito que tenha sido uma boa pessoa. Eu sinto muitíssimo pelo que aconteceu, mal posso imaginar como deve ter sido para vocês” as mentiras fluíam da boca dele com uma facilidade surpreendente. Depois de tanto tempo tendo duas, às vezes três identidades, ele sentia que mentir sobre seus sentimentos era simplesmente trocar de personalidade. “Mas e então, andam criando alguma coisa?”

“Bombas de bosta de bolso” informou George alegremente, por um momento com a vivacidade revigorada ao falar de algo que lhe trazia alegria. Ele gesticulava para explicar melhor: “Porque são tão grandes e tal, nós estamos usando um feitiço que minimiza as bombas e que as expande quando é acionado. Mais bosta no seu bolso.”

“Esse seria um bom slogan” apontou Revan. “Mini bombas: Mais bosta no seu bolso.”

Riram alegremente, sem se preocupar com o barulho – afinal, sendo tão cedo, apenas os professores estavam lá, junto com aurores que circulavam pelo hall a cada poucos minutos para se certifica que nenhum comensal estava lá. Ninguém para reclamar.

Snape foi até eles carregando o horário de Black, Revan. As vestes flutuavam atrás dele, como de costume. “Seu horário, Black. Temo que achará algumas coisas... desagradáveis nele.”

“Políticas não são desagradáveis, desde que ensinadas por um professor competente. Já sabe quem vai nos ensinar?”

O olhar de desgosto de Snape era imenso, e ele soube a resposta. “Potter. O papai do menino que sobreviveu consegue cargos com mais facilidade do que respira. Flitwick ensinará duelos de magia branca, intercalando as aulas convencionais de feitiços com a mãe do menino que sobreviveu” seu rancor se acentuou. “Lily só não fica milionária em um ano porque prefere fazer trabalhar no hospital, isso quando quer trabalhar.”

“Nicholas Potter sofreu muito nesses últimos anos” explicou o herdeiro Black dando de ombros. De fato o menino tinha sofrido, e ainda sofreria mais conforme o tempo passava. Nunca seria o mesmo. “A mãe deve estar exausta.”

“Estamos em uma guerra. Coisas como essa acontecem.”

“Mesmo assim” insistiu Revan, mudando seu olhar de Snape para os gêmeos, indicando o porquê de falar aquilo. “Cada fatalidade é de uma vítima que tinha uma família. Morreram como heróis.”

O Mestre de Poções assentiu, se retirando. Fred e George fizeram menção de se levantarem também para voltarem à mesa de Gryffindor, mas o pequeno comensal gesticulou que ficassem. “Vamos falar de coisas mais interessantes. E o Torneio?”

“Vamos entrar!” declararam os dois em uníssono, sentando-se de volta na mesa. “Estamos pensando em alguns modos de conseguir desviar a linha de proteção. Uma droga, vou te dizer.”

“Acredito que menores emancipados possam participar” ele sugeriu. “Ou vocês podem simplesmente pedir para um aluno mais velho colocar seus nomes no Cálice.”

Naquele momento os gêmeos coraram, envergonhados por não terem pensando em alternativas como aquelas. Olhando para o colo, George murmurou que estavam aprendendo como preparar uma poção envelhecedora para que sua magia fosse reconhecida como de maior, ao que Revan imediatamente replicou que, se fosse assim, todos os jovens bruxos e bruxas tomariam a poção para fazer magia fora de Hogwarts.

Mais alimentos apareceram, de todas as variedades e sabores. Das escadas, estudantes apareciam, ocupando seus lugares. Quase sete da manhã, notou o menino. Os cinco estudantes do sétimo ano de Slytherin sentaram-se pesadamente, indicando sua presença. Silenciosamente, Revan cumprimentou Derrick e Bole.

“Linha de proteção...” resmungou George, levantando-se pela segunda vez. “Ridículo. Todos deveriam ter o direito de entrar.”

“Imagine os novatos lutando com criaturas mágicas, usando feitiços de levitação para se defender. O resultado seria o mesmo de jogar suas mini bombas no escritório de Snape.”

Os gêmeos fizeram uma careta com o pensamento, acenaram como despedida e sentaram-se na mesa correta. O relógio tocou, indicando sete horas. Mais pessoas desciam as escadas, ou vinham das masmorras, no caso de Slytherins, e enchiam as mesas.

Vendo que depois da aula de Poções, teria aula de Filosofia Mágica da Luz, cujo professor não fora mencionado, ele gemeu. Maldito fosse Dumbledore, com suas tentativas de manipular a escolha dos estudantes.

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Em sua mente, Nicholas gritava de dor, enquanto seu corpo ficava imóvel. Tentou se debater, abrir os olhos, qualquer coisa, mas não importava o que fazia, não movia um dedo sequer. Mas seu corpo se movia. Ele podia sentir seu ácido estomacal vazar, corroendo os tecidos, e então os tecidos atacarem em resposta, regenerando-se em uma velocidade suficiente para mantê-lo vivo, apenas para ser corroído novamente para o processo recomeçar, nunca parando.

O gosto do que quer que Nemesis tinha colocado em sua boca ainda estava lá, um sabor mais gratificante que água, exalando vida. Inutilmente tentou lamber os lábios, procurando qualquer coisa do que ele julgava ser real para se agarrar.

Pai, me ajude, pensou ele quando sentiu alguém mexer em seu braço, aplicando-lhe comida, ou o que quer que fosse aquilo. Por favor, não seja comida. Seu estômago roncou em resposta, e sabia que estava perdido. Mais ácido foi produzido para digerir o pouco que lhe fora dado. Pare.

Havia um tubo dentro dele, percebeu com horror. Estavam mexendo dentro dele! Sentiu bile subir pela sua garganta e tentou engolir, desesperado para não fazer uma sujeira, mesmo se ele não pudesse ver isso.

Abriu os olhos.

Não realmente, mas em sua mente, seus olhos estavam abertos. Não havia nada exceto escuridão, e Nicholas se perguntou com um arrepio se era o mesmo truque que Nemesis empregara da última vez. Não queria reviver todos aqueles momentos – fictícios- nem mesmo por um segundo. Os meses que passara inconsciente em 1993 já foram suficientes.

Abriu a boca, testando-a. Ela se movia, ponto para ele. Seus dedos podiam ser sentidos perfeitamente. Havia uma luz, como da última vez, mas não. Ele conseguira aprender com seus erros. Arrastou-se apenas por alguns metros, de modo que pudesse ver o estrago feito na barriga.

Merda! Não havia pele lá, apenas carne apodrecida e infectada. Tocou o que julgava ser ácido – mas ácido era vermelho, ou sangrava até a morte? Talvez os dois?

“Um dia vou te matar” murmurou, satisfeito em ouvir sua própria voz. Ele esticou as pernas, flexionando os dedos do pé, dormentes. “Ouviu isso, Nemesis? UM DIA VOU TE MATAR!”

Quem respondeu foi o alegre som de um bebê rindo.

Não outra vez. Por favor, tudo menos isso.

Uma figura se aproximou devagar, quase flutuando. Carregava um embrulho em seus braços, acompanhado de outra figura com traços femininos, usando igualmente uma máscara prateada.

“Deixe-me ir!” engatinhou para longe dos três e fechou os olhos firmemente, cantando o hino de Hogwarts o mais alto que conseguia. Do que adiantava? Aquilo era um sonho. Nicholas sabia que era um sonho de onde não podia acordar.

A primeira figura olhou para ele, derrubando seu capuz. Tinha a face tão desfigurada e magra que lembrou Nicholas de uma caveira. A morte em pessoa. Morte sorriu, cumprimentando-o com uma mão esquelética enquanto a outra ninava o bebê.

“Eu disse” repetiu o ruivo, sentindo-se mais valente pelo simples motivo de saber que não poderia morrer. Talvez já estivesse morto... “Deixe-me ir!”

“Não é você” respondeu Morte, inclinando-se para indicar o que carregava. “Olhe. Isso é vida.”

Pequenas figuras correram para o lado de Morte, abraçando suas pernas. Nicholas podia contar dois vultos, mais o que estava no colo. O único com voz feminina olhou para ele com puro ódio, mas quando falou, sua voz estava calma e controlada. “Você é morte.”

“Isso é o que você significa” disse o mais velho, cuja voz indicava não ter mais de sete ou oito anos. Como então podia assustar Nicholas àquele ponto? “Você carrega morte e destruição por onde passa.”

“Sou eu” insistiu o ruivo. “Já me vi, em outro sonho.”

“Não” disse a figura feminina adulta. Ele notou agora que ela carregava uma grande barriga de oito, nove meses. Sua respiração estava entrecortada; ela segurou com força a mão de Morte. Nemesis, corrigiu-se o ruivo. Morte era Nemesis, melhor chamá-lo por um só nome. “Não pode ver?”

Gritou, caindo de joelhos. Água corria por suas cochas. Estava na hora.

Os vultos cercaram-na, ajudando. Nicholas tapou os ouvidos – era novo demais para presenciar aquilo. Os gritos da mulher ainda o atingiam, cortantes, a cada poucos segundos, junto com gemidos de dor impossíveis de ignorar. Quando seu choro uniu-se ao do bebê que nascia, ele abriu os olhos. Um bebê não podia ser tão assustador – afinal de contas, era um bebê.

“Um menino” suspirou a dama, estendendo os braços para o garotinho ensanguentado. “Outro herdeiro para você, querido.”

Mas Nemesis balançava a cabeça com desaprovação. Limpou o menino com um movimento de varinha, examinando-o minunciosamente, e voltou a fazer que não. “Não é um herdeiro. Está… errado.”

A menininha tomou iniciativa, pegando o embrulho original dos braços do pai e estendendo-o para Nicholas. Em tamanha proximidade, o vulto tornou-se uma pessoa. Cerca de cinco anos de idade, com um cabelo quase branco de tão claro e olhos que, por alguma razão, lhe pareciam familiares, ela estendeu o bebê, removendo o pano que o cobria.

“Ele é a vida nova que celebramos” explicou, seu sorriso iluminando olhos verdes brilhantes. O bebê tinha os mesmos olhos verdes; cachos dourados cobriam sua cabeça, dando a impressão se ser um pequeno anjinho. Até mesmo sua face era angelical. “É o herdeiro.”

“E este” falou Nemesis, colocando o bebê recém-nascido no chão de modo que Nicholas pudesse ver seus cabelos ruivos. “É o passado. E o passado está morto.”

Sem um pingo de piedade, Nemesis sorriu (apesar do ruivo se perguntar como uma caveira sorria) e levantou o pé. Sem dar tempo para uma reação, desceu a bota pesada contra o recém-nascido, esmagando-o com seu peso.

O crack do pequeno crânio se quebrando invadiu os sentidos de Nicholas e ele agonizou sozinho, sentindo a dor em seu estômago espalhar-se pelo corpo, consumindo-o, derretendo-o até que nada mais sobrasse dele do que seus gritos finais.

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“Você percebe que isso é chato, certo?” reclamou Revan para Padfoot quando viu o cão seguindo-o pela segunda vez naquele dia que mal começava. “E ilegal. Duvido que tenha se registrado no Ministério, ou estaria preso por descumprimento das leis de transfiguração da Grã Bretanha.”

“Ignore seu tio, Revan” pediu Daphne em voz fria. “Não podemos nos atrasar.”

“Vamos nos atrasar se ele não parar com essa perseguição” disse o herdeiro Black, resistindo ao impulso de lançar uma maldição no cão. “Black, vou avisar os aurores se não parar de me seguir, e se eles não fizerem nada, eu vou fazer. Ouvi falar que a castração em cães é muito mais fácil do que em humanos.”

Padfoot voltou à forma humana. “Entendido, garoto. Só estou me certificando que cheguem seguros na aula de Filosofia Mágica da Luz. Estarei lá para garantir que nada saia do controle.”

“O que poderia dar errado em uma aula teórica?” perguntou Daphne, franzindo a testa. “Só se nos atrasarmos e o professor nos impedir de entrar, o que não vai acontecer se você SAIR DO NOSSO CAMINHO.”

Olhou para o restante dos Slytherins, que haviam parado para ver o que estava errado. Toda a gangue vinha na direção de Sirius. “Estão certos. Para aula, todos vocês!”

Esperaram até que ele estivesse de vista para trocar comentários maldosos sobre o auror, como suas vestes não eram mais impecáveis ou sobre seu cabelo sujo e descuidado. Ele exalava tristeza por causa da perda do companheiro.

“Cinco minutos” murmurou Draco, apressando o passo. “Seja lá quem seja o professor, duvido que vá gostar de uma turma que se atrasa.”

“Ah, aposto que seu pai iria ficar sabendo disso” replicou Theo em voz de zombação. Parecia ser uma nova pessoa desde que a guerra começara. “O que ele iria fazer, Draco?”

Quando abriu a boca para replicar, o loiro percebeu que estavam na sala de aula. O quadro negro já estava repleto de informações que continuavam a ser escritas por uma pessoa muito conhecida. Todos os Slytherins sibilaram em uníssono. O que Dumbledore estava fazendo ali?

“Bom dia!” anunciou o velho, abrindo os braços em saudação. “Por favor sentem-se em seus lugares para começarmos com a aula de Filosofia Mágica, ou não teremos tempo de discutir tudo que precisamos!”

Com absoluto tédio no rosto, os estudantes sentaram-se e abriram o caderno de anotações, já escrevendo: Sentimentos e a Filosofia.

“Por Merlin, que ele não fale sobre amor” pediu Revan, fazendo postura de oração. Riram, imitando seu gesto. Apenas alguns Ravenclaws não gostaram da menção. Pelo menos a aula não era com Gryffindors, pensou o menino, ou cabeças já estariam rolando.

“A Filosofia Mágica foi restaurada em Hogwarts esse ano por recentes acontecimentos. Abordaremos aqui questões como a do quadro, muitíssimo importante, porque são nossos sentimentos que definem nossas escolhas, na maioria das vezes. Precisamos aprender a pensar o que é bom não apenas para nós mesmos, mas para toda a população. Arrogância não é bem vinda aqui, nem cobiça. Teremos que vivenciar o sentimento de amor ao próximo.”

Os Slytherins gemeram, enterrando as cabeças nas carteiras.

Dumbledore os ignorou: “Quando se escolhe algo a acreditar, fazemos isso porque alguém pensa que é o melhor para nós. Estudando o que cada opção significa, porém, poderemos fazer uma escolha racional e, garanto a vocês, uma escolha da qual vocês não vão se arrepender. Para começar, explicarei a proposta do lado da luz...”

Bocejos começaram a surgir aqui e ali. Em dez minutos, qualquer observador constataria sem sombra de dúvida que todos os estudantes de Slytherin dormiam profundamente.

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“Abra os olhos” ordenou Voldemort, acenando para Revan antes de empurrar o menino para fora da cadeira onde dormia. “Te disse para não dormir em sala de aula, garoto.”

O herdeiro Black fez um esforço supremo para levantar-se e voltar a uma posição que o manteria acordado. Colocou a mão na boca, ocultando um bocejo. “Dormiria também se tivesse que ouvir Dumbledore falar por uma hora.”

“Dumbledore?” ele levantou uma sobrancelha e conjurou uma poltrona confortável para ouvir o relato todo. “Desde quando ensina?”

“Desde hoje de manhã” grunhiu o adolescente, jogando um balde fictício de água gelada em cima de si mesmo. “Queriam que fosse uma surpresa. Filosofia Mágica da Luz. Uma hora de merda. Binns ganhou com concorrente como pior professor.”

“As aulas de Dumbledore eram muito boas quando ele me ensinava.”

“Aposto que sim” concordou ele. “Mas o objetivo da aula é, sem dúvida, ver quem se interessa pelo assunto, contar as cabeças que futuros soltados da luz.”

O Lorde das Trevas foi tomado por uma onda de raiva. Respirou profundamente, contando até três. A varinha no coldre implorava para ser usada. Não se machuca o segundo em comando, repetiu para si mesmo, mesmo se o segundo em comando for um menino de quatorze anos incompetente que dorme na sala de aula.

Pior, na sala de aula onde poderia arrumar aliados para as trevas! Seu olhar reprovador fez com que Revan recuasse. O menino quase podia ouvir a voz dos pais dizendo que ‘aquilo não se faz’. Sinto muito, repetiu para si mesmo. Sinto muito, meu lorde.

“Melhor acordar, então. Antes disso, como está a cobra? Já ganhou um nome definitivo?”

Revan fez que não, dando de ombros. “Por enquanto, chamam-no de Viper. Está fazendo um bom trabalho assustando os novatos. Sei que só se passaram algumas horas, mas ninguém invadiu a sala comunal até agora. E Regulus, como está?”

“Deve estar bem” foi a vez de Voldemort dar de ombros. “Não andamos nos falando muito. Ele está esperando muito de você, garoto. Não o decepcione.”

Por um momento o herdeiro Black pensou que Voldemort estivesse se referindo a si mesmo, pois sabia que aquelas palavras eram dele, não de Regulus. Perguntou-se por que ainda não recebera uma resposta da carta que enviara por Eyphah para saber como estavam as coisas, e qual era a porcentagem da propriedade queimada pelos comensais. Sempre havia um piromaníaco no meio.

Suspirou; não queria acordar. Discutir coisas banais com seu lorde era muito melhor do que ouvir coisas banais de um homem que odiava. Queria que estivesse de volta à mansão, rodeado de pessoas que conhecia bem e que respeitavam-no por seu poder. Ele sentia falta de cada um dos comensais, até mesmo dos apelidos como ‘pequeno lorde’, o favorito de Bellatrix.

Decidiu por não dizer que sentia falta dos comensais. Aquilo poderia ser interpretado da maneira errada ou convertido para uma frase que pudesse colocar Revan em má situação. Como na maioria das vezes, silêncio era a melhor resposta.

“Mais alguma coisa, meu lorde?”

“Sim. Já sabe qual será o primeiro fim de semana em Hogsmeade?”

Revan estreitou os olhos. “Sim… Está planejando alguma coisa, não está? Conheço essa cara.”

“Quero um ataque simples, rápido e silencioso, executado por meus melhores e mais fieis seguidores. Não mais do que dez – nenhum deles pode ser detectado. Eles vão simplesmente matar os aurores em patrulha e deixar mensagens escritas. Podres da luz, como a relação de Dumbledore com Grindelwald.”

Todos que tiveram aulas com Dumbledore suspeitavam da relação dele com o antigo bruxo das trevas. Cartas misteriosas que seu filhote de fênix trazia com frequência, o modo como o ruivo costumava rir alegremente quando as recebia e, principalmente, a emoção da batalha que colocou Grindelwald atrás das grades da própria prisão. Relatos diziam que ambos tinham lágrimas nos olhos quando tal batalha acabou.

“Então, eu vou para Hogsmeade. Me encontrarei onde com os outros?”

Voldemort balançou a cabeça. “Você não vai. Não podemos correr esse risco. Preciso de você no castelo com os estrangeiros, fazendo uma boa campanha e, por Merlin, impedir que a maioria deles esteja fora do castelo.”

“Oh” fez Revan. “Tudo bem. O que exatamente devo falar para os estrangeiros, principalmente os franceses?”

“Isso é um ponto importante, garoto. Existe uma garota chamada Fleur Delacour, filha do ministro francês, portanto extremamente influente. Preciso que você entre em contato com ela e fale qualquer coisa sua de adolescente, faça com que ela vá para Hogwarts com uma ideia formada dos lados da guerra” explicou Voldemort com sua face mais séria. “Vai reconhecê-la quando Delacour chegar com a irmãzinha. Serão facilmente as meninas mais belas da escola, apesar da menor ter apenas oito anos.”

“Vou mandar um correio coruja para ela no intervalo do almoço” prometeu o herdeiro Black. “E falarei minhas coisas de adolescente.”

Ele sorriu. “Então acorde. A aula chegou ao fim.”

_

Cara Fleur,

Primeiramente, obrigado por abrir a carta. Sei que deve ser estranho receber correspondências de quem você não conhece. Meu nome é Revan Black e sou aluno de Hogwarts. Nós de Hogwarts ficamos sabendo do torneio ontem, então pensei em te mandar essa carta, principalmente com os professores frisando a importância de amizade entre escolas.

Sou da casa de Slytherin – a casa verde, ou a casa das cobras, se preferir. Outros colegas meus também estão mandando mensagens para estudantes que virão no Halloween, talvez até algum amigo seu, ou amiga. Beauxbatons é uma escola para garotas, não?

Me desculpe se essa carta soar desajeitada. Primeiro, só comecei a praticar meu francês recentemente com alguns amigos, portanto devo estar cometendo erros terríveis de ortografia. Tente ignorá-los, se isso for possível. A propósito, está precisando de ajuda em alguma parte da língua inglesa? Adoraria te ajudar.

Bom, um pouco mais sobre mim. Tenho 14 anos, então não poderei entrar no torneio (ou seja, sem concorrentes para você). Adoro quadribol e jogo na posição de apanhador para minha casa. Minhas matérias preferidas são Feitiços e Transfiguração, e espero com o tempo me tornar um animago. Minerva McGonagall, a professora de Transfiguração, pode se transformar em um gato. Parece ser uma habilidade muito útil.

Sou órfão, mas aprendi a me cuidar desde pequeno. Meu pai não esteve presente em minha vida, mas o considero meu herói. Em meu tempo livre, gosto de ajudar estudantes mais novos com a tarefa de casa e às vezes, ensino duelo para eles. Duelos é um novo assunto em Hogwarts. Ainda não tive nenhuma aula, mas Flitwick, o professor, é campeão.

Pode me contar mais sobre você? Quero conhecer as pessoas que conviverão comigo durante o ano. Diga-me sobre sua escola, seus hobbies, o que quiser. Trocar cartas com estrangeiros sempre acaba por se tornar uma experiência interessante – nossas culturas são tão diferentes!

O corvo que trouxe essa carta pode ficar com você, se quiser. Caso não queira, basta abrir a janela e ela voltará para a Escócia. Espero que tenha gostado dessa carta tanto quando gostei de escrevê-la.

Sinceramente,

Revan.


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Notas finais do capítulo

Os reviews serão respondido no decorrer da semana. Sintam-se livres para gritar comigo, reclamar de como a fanfic está entediante (mas é necessário). Eu mereço o que quer que venha :)