Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 41
Heaven


Notas iniciais do capítulo

Quatro meses e três dias depois, estou de volta e agora é para ficar.

Seguinte, pessoal: Como eu disse, tive uma recaída, agora estou melhor e quero recuperar o tempo perdido. Peço que tenham paciência comigo porque foi difícil voltar a escrever, logo pego o ritmo.

Espero que gostem do tão atrasado capítulo :)



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CAPÍTULO 41

HEAVEN

“A política como é ensinada aos que nascem em famílias mágicas é diferente da que será ensinada aqui” disse professor Potter com a voz firme, pedindo que todos os alunos abrissem os livros na página 16. “Aqui você aprenderá como conseguir atingir seus objetivos sem o uso de trapaças de qualquer tipo. Por exemplo, Hermione, pode vir aqui?”

Hermione levantou-se da primeira carteira, seus cabelos ainda mais selvagens do que o habitual, e caminhou até o professor, que segurava uma goles na mão. Ela empalideceu ao pensar que teria que jogar quadribol com um quase profissional.

“Seu objetivo é pegar a bola de mim. Tente.”

Obediente, a morena usou toda sua força para tentar soltar as mãos do auror, separá-las o suficiente para que a bola caísse, mas James era forte e desenvolvera muitos músculos ao redor dos anos por causa do intenso treinamento.

“Isso é o que todos vocês iriam fazer, quando houvesse algo em seu caminho. Agora, Hermione, segure a bola.”

Ela segurou-a com tamanha força que os nós de seus dedos ficaram brancos. Cerrou os dentes, preparando-se para um ataque que nunca veio. James sorriu para ela solenemente. “Professor?”

“Hermione, pode me dar a bola, por favor?”

“Cla-claro, professor” sem pensar duas vezes, estendeu a bola para o professor, que pegou-a e exibiu-a para a classe de estudantes. O rosto pálido de Hermione ficou vermelho ao perceber que tinha sido enganada pela educação de Potter. “Professor Potter...”

“Diga-me, Hermione, você deu a bola para mim porque mandei, ou por que pedi com educação?”

Ela corou ainda mais e encarou os pés ao falar: “Porque você é meu professor, senhor Potter.”

A classe riu ao ver o embaraço dos dois. James se recuperou rapidamente, escrevendo no quadro negro ‘cargos importantes’ e imediatamente fazendo um X sobre ele e virou-se para a classe. “Não se usa nem a força, nem o cargo para conseguir o que quer. Hermione, se você precisasse pegar a bola, sabendo que sou mais forte que você, o que faria? Não fazer nada não é uma opção.”

“Eu iria pedir, professor” tentou ela, sua face iluminando-se ao perceber onde James Potter queria chegar. “E você iria me dar a bola porque pedi com educação, não por causa do meu cargo, afinal não tenho nenhum...”

Assentindo, o auror concedeu dez pontos para Gryffindor e pediu que a morena voltasse ao seu lugar. Quando estava feito, ele voltou a escrever no quadro negro:

Detesto o modo de agir de Você-Sabe-Quem.

“Quero que cada um de vocês escreva em um pergaminho outra maneira de dizer isso, educadamente, e explicando o porquê, além de indicar sua preferência” falou ele. “A melhor resposta ganhará cinco pontos.”

Revan e seus amigos puseram-se a escrever: Acredito que o modo de agir do Lorde das Trevas não seja apropriado para ganhar seguidores, pois estará ganhando-os na base do medo e não da lealdade. Uma abordagem lenta e gradual mostrando os pontos positivos de suas forças atrairia mais interesse da população.

Quando terminaram, James leu a redação de todos e acabou por dar os cinco pontos à Gryffindor (“grande surpresa”, dissera Draco) pela resposta de Neville Longbottom, que dizia em um vocabulário confuso que o ‘uso de tortura como arma de poder demonstra a falta de habilidade para lidar diretamente com possíveis inimigos; o instrumento da luz baseia-se na honestidade e vontade do bem ao próximo’.

Se os olhares suspeitos que o professor dava para os Slytherins era qualquer indicação, ele não gostara nada das sugestões que deram para melhoria do lado das trevas. Depois de lerem cinco páginas sobre Iniciação ao mundo da Política e escreverem a tarefa de casa (cinco ministros que usaram a honestidade para ganhar a confiança do povo), foram liberados para a próxima aula alguns minutos mais cedo.

“Gostei da sua resposta” comentou Revan para Draco ao saírem. “‘Isso está errado, detesto o modo de agir de Dumbledore’ não é uma boa coisa para se dizer quando o próprio é diretor da escola. Pelo menos a classe riu.”

O loiro empinou o nariz. “Todos os Slytherins, certo, Crabbe, Goyle?”

Os gorilas grunhiram indicando que sim, em seu comum vocabulário de grunhidos e urros. Apressaram-se cada um para a sua matéria escolhida, no caso deles, Trato das Criaturas Mágicas, enquanto Revan correu para a classe de Runas, onde tamborilou os dedos contra a madeira da carteira a aula inteira. Da janela podia ver Eyphah pegando o lugar de ouro do corujal.

A resposta de Fleur chegara – o que era bom por si só, porque havia uma resposta.

Terminou de traduzir um trecho d’Os Contos de Beedle, o Bardo, ganhando alguns pontos para Slytherin, e adiantou o dever de casa, chegando a terminá-lo antes de finalmente ser liberado junto com os outros para o almoço, ao ponto que jogava jogo da velha em símbolos rúnicos com Daphne, que parecia mais interessada nas próprias unhas. A rejeição doía.

No instante em que todos se dirigiram para o Salão Principal, o herdeiro Black correu na direção do corujal, assoviando para que Eyphah descesse. Qualquer escada que pudesse evitar já era lucro.

A resposta dizia:

Caro Revan,

Na verdade estou bem acostumada com cartas de estranhos desde que nasci e meu sangue veela ficou evidente. Estou recebendo propostas de casamento desde que eu era um bebê – é como se todos quisessem uma veela como esposa ou parente. Fica terrível depois de um tempo, porque você começa a queimar tudo que recebe para não ouvir a marcha nupcial. Pelo menos a sua não continha nenhuma, obrigada por isso.

Se conseguiu meu nome, deve ter algumas informações sobre mim, mas aqui vão algumas: Minha avó era veela, o que me dá o poder de controlar a atração que os homens sentem por mim ao ponto de deixá-los babando. Minha irmãzinha Gabrielle, de oito anos, começou a estudar em Beauxbatons ano passado e tem o allure mais fraco que o meu, porém o suficiente para ser detestada por aquelas que desejam ser como nós.

O fato de meu pai ser ministro não importa muito para nossa família – temos uma boa casa, sim, mas vamos à mesma escola de todos e teremos empregos normais, afinal, nem todos podemos ser ministros, muito menos mestiças como eu.

Casas, sério? Aqui somos divididas primeiro por áreas de afinidade, depois pelas áreas de interesse. Por exemplo: Se sou boa em feitiços aos sete anos, como é o caso de Gabby e eu, a turma dela focará mais em feitiços e transfiguração. Ao fazermos treze, escolhemos áreas de interesse: Saúde, política ou magia, que consiste de trabalhos que envolvem, como o nome diz, magia direta.

Temos meninos em Beauxbatons, mas são poucos e só começaram a ser permitidos agora. Além disso, ficam em um castelo adjacente, de modo a não termos contato algum com eles. Professores e diretores, tudo é diferente.

Adoraria me manter em contato com você e sim, eu tenho algumas dúvidas com a sua língua. Também poderia corrigir as suas, se quiser.

Com amor,

Fleur.

Sorrindo em satisfação, ele correu para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Pelo que Voldemort falava de Moody, as aulas seriam certamente interessantes. Chegou a tempo para pegar uma das melhores carteiras, bem na frente da mesa do professor. O olho mágico de Moody girava loucamente, encarando-o e rindo silenciosamente quando conseguia ver alguma coisa engraçada por trás dele.

“Pelo menos uma aula boa” murmurou Blaise, sentando-se pesadamente. Apontou para as três aranhas peludas dentro de potes. “Weasley ficaria aterrorizado.”

“Shhh” fez Revan, quase inaudível. “Não fale mal dos mortos.”

Trocaram um olhar e riram alto. O olho azul de Moody fixou-se neles. Theo, que acabara de chegar, podia estar enganado, mas juraria que aquilo era um sorriso afetado nos lábios rachados do professor.

“Atenção!” berrou o professor, no instante que o sino tocou. Pegou sua varinha e apontou-a para o quadro. “Sou Alastor Moody, seu novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Não sei onde pararam ano passado, então darei algo que tenho certeza que não estudaram ainda, e que por coincidência é meu assunto favorito. Quem adivinha qual é?”

Escreveu em letras bem grandes: MALDIÇÕES.

“Legal” sussurrou Blaise, mirando as aranhas e a varinha do professor. “Será que vai nos ensinar alguma?”

“É Defesa Contra as Artes das Trevas, seu idiota” resmungou Draco, parecendo igualmente desapontado que somente a prenderiam a combater maldições, não criá-las. “O máximo que vamos fazer será desviar delas.”

Moody pigarreou, encarando-os. “Ahem. Agora que estão em silêncio, podemos continuar. Digam-me as maldições imperdoáveis em um, dois, três!”

“Imperius, Cruciatus e Avada Kedavra” falou a classe em voz monótona. Não queriam ficar na teoria – qual era o objetivo das aranhas, afinal?

O professor assentiu, girando a varinha entre os dedos. Foi novamente para o quadro e escreveu: IMPERIUS, e um breve resumo de seus efeitos e como evitá-los – desviando-se, como dissera Draco anteriormente. Aparência. Tempo de duração. Sentença em Azkaban.

Pansy levantou a mão: “Professor Moody, não vai usar as aranhas?”

Ele riu cruelmente e indicou a Pansy que fosse até a frente da sala. Mirou a classe: “Para que usar aranhas, se tenho vocês?”

Os estudantes esperaram que a informação de que aquilo não se passara de uma brincadeira chegasse, porém o silêncio reinou por mais de um minuto e Pansy começou a estalar os dedos, imaginando o que teria que fazer. Abriu a boca para dizer que não queria participar, tarde demais. Moody já tinha ordenado que a maldição a atingisse em um fino fio de seda, quase invisível e aparentemente tão inofensivo.

“Gostaria de confessar” começou Pansy, seus olhos com um brilho estranho, como que se estivesse hipnotizada. “Que roubei a pedra filosofal, abri a câmara secreta e liderei o ataque do ano passado. Sou a seguidora mais leal do Lorde das Trevas e carrego sua marca com orgulho.” Arregaçou a manga esquerda, mostrando seu pulso livre para todos, que suspiraram aliviados.

“Estou louca para pular da janela” continuou ela, caminhando até a mais próxima e abrindo-a. Sua voz ficava mais e mais alta e cada vez mais desesperada, como se quisesse chorar. “Quero voar. Não! Vou fazer malabarismo. Vou domar um dragão! Provarei para todos que é possível ser engolido por um dragão e sair por suas narinas. Sou imune ao fogo, sou imortal. Vou voar!”

Abriu a janela e subiu até que ficasse a alguns centímetros de uma queda mortal.

Com um suspiro do tipo que não gostava do que estava fazendo, Moody removeu a maldição. Pansy olhou a queda e pulou de volta para a sala de aula, tremendo. Abraçou Daphne e encarou o professor com medo.

“Acredito que isso seja o suficiente. Agora, para a Maldição Cruciatus. Algum voluntário?”

Silêncio.

“Bom, bom, escolha sábia a de vocês. Para isso terei que usar a aranha. Engorgio!” manteve a varinha apontada até que uma das aranhas crescesse ao tamanho de um pequeno pássaro. Inconscientemente, as meninas deram um passo para trás. “Crucio!”

Gritos encheram o ar, agoniados. As patas da aranha cederam e ela caiu na mesa, debatendo-se de cabeça para baixo, tentando escapar de algo invisível, gritando em supostos pedidos desesperados por ajuda, retorcendo-se como se estivesse pegando fogo. Fogo seria melhor, pensou Revan arrepiando-se ao lembrar-se das punições que recebia quando fazia alguma coisa errada. Olhou de esgueiro para Daphne – ela olhava a aranha sem um pingo de emoção, considerando-a um objeto de estudos.

Pansy, um tanto verde, levantou a mão e pediu para ir ao banheiro, mantendo a outra em sua boca. Pegaram o lixo da classe e estenderam-no para Pansy, onde ela prontamente perdeu o que sobrava do café da manhã em longas ondas de náusea que não pareciam parar.

“Certo” resmungou Moody, livrando-se da sujeira com o nariz retorcido. “Pode ficar pior, muito pior. Pessoas vão à loucura por causa da Maldição Cruciatus. Olhem a aranha.”

A criatura andava em círculos pela mesa, tombando e levantando.

“Algumas maldições são tão fortes que o melhor é livrar as pessoas de suas consequências. Às vezes, a morte é a saída mais indolor. Digam-me o nome da maldição, digam-me!”

“Avada Kedavra!” proferiu a classe animada. Poucos haviam realmente visto uma Maldição da Morte ao vivo e em cores. Faça, faça, pareciam sussurrar, olhando Moody com expectativa.

“AVADA KEDAVRA!”

Um dos maiores flashes de luz verde da vida de Revan envolveu a aranha, matando-a sem um som, sem poupar um segundo. A criatura apenas caiu morta na mesa. A classe murmurava entre si, e Moody sabia que ganhara dezenas de admiradores. O professor voltou-se para a lousa e escreveu sobre ambas Cruciatus e Avada Kedavra.

“Antes de irmos” comentou Moody. “Digam-me por que a maldição da morte é verde. Ninguém? Ora, melhor do que os Gryffindors que acusaram o criador do Avada Kedavra ser de Slytherin. A maldição é verde porque o criador quis que ela fosse verde! Ele apenas decidiu ‘vou fazer com que morram vendo uma luz verde’, talvez por causa da cor de seus olhos, de sua casa ou até mesmo de suas vestes favoritas. É uma cor aleatória, ou vão acusar Gryffindors de terem criado a maldição Cruciatus? Pensem nisso. Dispensados.”

_

A partir daquela data, as cartas entre Revan e Fleur tornaram-se no mínimo semanais, na maioria das vezes diárias. A primeira coisa que ambos faziam quando acordavam era correr para o corujal para ver se havia uma nova carta à sua espera. Fleur estava satisfeita por se manter em contato por carta – não era possível vê-la, de modo a não utilizar seu allure. O menino parecia gostar dela por suas palavras, não sua beleza.

E também não era estúpido como os outros meninos de quatorze anos! Uma das razões de haver tão poucos meninos em Beauxbatons era simplesmente por causa dela e da irmã. Dois ou três engraçadinhos sempre tentavam entrar dentro de suas calças e acabavam queimados. Quando o boato na escola se espalhou que Fleur era veela o suficiente para lançar bolas de fogo, aquilo foi a gota d’água para que cortassem o contato com ela.

Não bastava ser bonita, sempre pensava ela ao ver-se no espelho, tinha que ser linda, como a avó, que já em seus setenta anos, não aparentava mais do que uma saudável mulher nos quarenta, sempre dançando e cozinhando para a família.

Da parte de Revan, ele estava satisfeito tanto por conseguir contato com uma das maiores fontes sobre o que acontecia na França quanto por ter feito amizade com uma menina que, além de três anos mais velha, era a mais bonita que já tinha visto.

Fleur dissera que sua cor favorita era azul, ao que Revan respondeu: verde. Disse que era feliz ao ser filho único, e Fleur lhe respondeu que Gaby era a coisa que mais amava no mundo inteiro. Trocaram livros e feitiços. O herdeiro Black começou a se destacar ainda mais nos duelos – aparentemente a França tinha uma quantidade de feitiços permitidos muito maior.

Vamos nos encontrar hoje! Escreveu Fleur animada um dia, quando já voava para a Inglaterra. Mal posso esperar para conhecer seus amigos.

Quando a grande data chegou, Revan foi o primeiro na multidão de estudantes que iria receber os estrangeiros. Mal prestou atenção na barca que surgiu do nada no Lago Negro, ou o frio que fazia. Feitiços de aquecimento tomariam conta de qualquer frio do mundo. Procurava por algo nos céus, não sabia exatamente o quê. Quando viu, soube: A carruagem de cavalos alados exalava “França”.

“Revan!” sorriu Fleur quando já estavam agasalhados dentro do castelo. Ela pronunciava seu nome como ‘Hevan’ ou ‘Heaven’, o que trouxe um riso ao menino. “É tão bom te conhecer!”

Abraçaram-se; o herdeiro Black inspirou profundamente, sentindo o cheiro de flores, do paraíso, no cabelo de Fleur. Não conseguia imaginar como se sentiria se ela fosse uma veela completa. Apenas um quarto veela, e já parecia uma deusa! Levou toda sua concentração para que não babasse enquanto guiava-a para uma das mesas.

“Sente-se conosco” pediu ele, mostrando assentos vagos - os búlgaros que se mandassem. Repetiu as palavras de Fleur: “Mal posso esperar para conhecer seus amigos.”

Sua face magnífica se entristeceu. “Posso te apresentar minha irmã. Gabby! Gabrielle, pode por Merlin parar de tentar encontrar Nicholas Potter no meio dos estudantes vermelhos, isso não é educado!” começou a falar em francês rapidamente, suas unhas dando lugar a pequenas garras que, Revan tinha certeza, poderiam cortas um estudante em dois. “Gabby!”

“Está tudo bem” murmurou ele para Fleur. “Estou procurando alguém. Loira, olhos azuis, diferente.”

“Ah. Luna Lovegood está na carruagem. Era amigo dela? Nós conversamos às vezes, Luna tem histórias bem interessantes.”

Sentindo seu sangue gelar, ele agradeceu a veela e procurou pela carruagem. Luna esperava por ele encostada contra uma árvore. Tinha deixado crescer o cabelo em ondas até a cintura, e crescido muito em dois anos. Sorriu para ele quando o reconheceu.

“Hey!”

“Hey!” replicou Revan com todo seu charme. “Como anda minha espiã de Beauxbatons favorita?”

_

“Revan” chamou Fleur, acenando da mesa de Ravenclaw. “Venha aqui!”

Estava cercada de meninos que babavam tanto para ela quanto para sua irmã. Oito anos de idade e já uma arrasadora de corações, pensou ele examinando a mais nova: Gabrielle era, como sua irmã, loira de olhos azuis. Prendia o cabelo em uma trança francesa ao invés de deixa-lo solto e ria como um anjinho. Revan entendeu que seria impossível cansar-se de dar atenção a ela – a menos que sua atenção fosse dirigida para a irmã mais velha, é claro.

Cho mirava Fleur com uma mistura de inveja e preocupação. Ela não podia, simplesmente não podia, perder o posto de menina mais cobiçada da escola. Seria uma tragédia grande demais para ser verdade.

“Sou de Slytherin” informou o herdeiro Black. “Não posso sentar aí.”

Fleur revirou seus olhos de boneca. “O objetivo desse torneio é integrar a comunidade mágica europeia. Se isso significa que um estudante da casa verde não pode sentar na casa azul, estou perdendo meu tempo.”

Gabby olhou para ele e lançou uma torrente de perguntas em francês, dentre as quais o menino pôde distinguir sobre a verdade na amizade dele e de Nicholas Potter. Assentiu, murmurando em francês arcaico que foram amigos quando tinham onze anos.

“Hmmm... Acho que conheço alguém que vai gostar de bater um papo em francês com você, Gabby. É uma boa amiga minha da casa vermelha. Aquela ali, com cabelos selvagens. Gosta de ler?”

A pequena assentiu entusiasmada e voltou a disparar perguntas em francês, perguntando o que a menina de cabelos selvagens queria fazer quando crescer e comentando que ela pretendia estudar para trabalhar no Ministério francês. “Papa diz que tenho potencial” finalizou ela, orgulhosa por formar uma frase completa em inglês.

“Aposto que tem” concordou Revan. “Hermione! Aqui!”

Esperou até que a morena chegasse carregando uma pilha de livros. Se possível, os cabelos de Hermione estavam ainda mais desarrumados e seus olhos exibindo a expressão de quem andava lendo de mais. O livro de cima dizia: Traumas mágicos.

“Hermione, essas são Fleur e Gabrielle. Gabby não fala inglês, mas devora livros. Acho que terão bastante a discutir.”

Voltou-se para veela mais velha, preocupado. “Luna não vai vir? Como ela está, de verdade, Fleur?”

A loira franziu a testa. “Não sei. É difícil entender as emoções de Luna, sempre que algo de ruim acontece ela ri e fala ‘C’est la vie’. Nunca parece preocupada com nada, mesmo quando existe algum conflito entre ela e outro estudante. Os professores gostam dela, Madame Maxime gosta dela. Ela tem facilidade com matérias relacionadas à natureza, e faz amizade com alunos mais novos. Gabby gosta dela, apesar de discutirem por razões políticas.”

“Oh” fez Revan, interessado. Finalmente aquela conversa estava levando-o a algum lugar. “Então as opiniões dela e de sua família são diferentes? No que ela acredita?”

“Ela diz que apoia o lado vencedor” disse Fleur com um suspiro, brincando com a comida no prato. Era francesa, mas, por algum motivo, não tinha o sabor certo. Não exalava a palavra casa. “Sempre que alguém pergunta, são essas suas palavras. Nunca mudam, nem o tom, nem seu humor. Luna parece maravilhada e afirma com veemência que apoia o lado vencedor. Realmente, não entendo. A guerra mal começou, e a posição da maioria ainda não está clara. É impossível dizer quem vai ganhar a guerra, principalmente porque nem saiu da Inglaterra. Só agora os rumores estão chegando no continente.”

Não na Hungria, pensou o menino, olhando para a mesa de Slytherin onde os estudantes de Durmstrang divertiam-se sem causar muito barulho. A interação dos estrangeiros com Slytherins parecia perfeita. Silenciosamente, o herdeiro Black contou as cabeças que pareciam ter potencial para servir ao Lorde das Trevas – algumas dezenas com físico ideal.

Sabia que a guerra era um assunto delicado de se tratar, porém inevitável. Como quem não queria nada, perguntou: “A França já tem uma ideia formada?” Viu que Gabby e Hermione prestavam atenção nele. Revan esperava uma resposta de Fleur, mas foi a pequena que respondeu:

“Papa está chamando lutadores. Muitos.”

“Ele não quer que nos preocupemos” completou Fleur, como se aquela ideia fosse absurda. “Mas sabemos que alguma coisa grande está vindo. Se esse torneio começou a ser preparado depois da revelação do Lorde das Trevas, já faz seis meses. Imagine o quanto tropas podem crescer em seis meses.” Tremeu, e automaticamente, Revan estendeu-lhe seu casaco.

Suspirou, sentindo que aquilo era o máximo que poderia conseguir por agora.

_

Luna não queria sair da carruagem.

Tinha saudades de Hogwarts, muitas, porém sempre que pensava em revisitar a amiga ruiva, em correr pelos corredores mal iluminados, lembrava-se de Harry Potter e sua promessa: Servi-lo para sempre em troca de sua vida.

Justo, concedeu. Ela seguiria Revan/Harry mesmo sem aquela ameaça, e devia a ele o recomeço que tivera em 1993.Beauxbatons parecia um sonho que virara realidade.

Lindo, era a primeira palavra que vinha em sua mente ao pensar no castelo. Feito com pedras brancas e detalhes em safira, iluminado magicamente ao invés de tochas e com chão aquecido, o contraste de Beauxbatons com Hogwarts era imenso. Onde Hogwarts gritava ‘rusticidade’, a escola de magia francesa gritava, simplesmente, ‘luxo’.

Luxo estava escrito em suas paredes com quadros de artistas renomados, nos uniformes de seda azul, nos professores que só vestiam as melhores marcas e nas comidas, apenas o top do país com os melhores elfos domésticos disponíveis no mercado. E as pessoas? Nojentas no começo, e céticas ao saber que alguém saíra da melhor escola de magia da Europa para apenas a melhor da França. Com o tempo, porém, Luna se acostumou, e logo passou a achar melhor o modo como era ignorada ao modo que sofria bullying em Hogwarts.

Então conheceu os pequenos. Apenas os filhos da elite podiam entrar aos sete anos de modo a serem preparados precocemente ao mundo mágico, e dos poucos que haviam, Luna se identificou com a maioria. Passou a evitar feitiços de tradução e a aprender palavras básicas, entreter os novatos com histórias que ouvira do pai e contar das maravilhas que já tinha visto. E com os pequenos, Luna sentiu-se completa.

Espiar era apenas uma parte da sua vida. Perguntas inocentes, introduções às crianças sobre o lado negro que, a loira descobriu, não era tão negro assim, eram feitas em um curto espaço de tempo. Depois de reportar tudo ao Potter desaparecido, Luna abandonava a faceta de espiã e voltava a deixar sua criança interior livre.

Talvez ela devesse dar oi a Ginny, dizer que sentia muito pela morte do irmão dela. Claro que sabia quem havia comandado tamanha crueldade, ou pelo menos tinha fortes suspeitas. E não se importava.

_

“Vou colocar meu nome no Cálice hoje” anunciou Fleur na manhã seguinte. Inclinou-se mais para perto de Revan. “Se quiser que eu coloque seu nome...”

O menino balançou a cabeça, agradecido. “Nah. Quebrar as regras não é um bom jeito de se destacar. Só Nicholas Potter faz isso. Vou me contentar com campeão de duelos e estudante top do ano” viu a decepção no rosto da loira e completou: “Vou estar torcendo por você.”

“Sério?” perguntou ela. “Não para o estudante selecionado de Hogwarts, sua escola?”

“Nope. Se Potter estivesse… Em condições de participar, ele seria o escolhido. Dumbledore vai dar um jeito de um bom samaritano ser o escolhido de Hogwarts para passar uma boa impressão.” Suspirou. Revan sabia que as chances de um Slytherin ser escolhido eram nulas. Lembrou-se que estava na mesa de Ravenclaw, checou se ninguém estava ofendido e cortou seus waffles.

Gabby olhou para ele com grandes olhos azuis e perguntou algo rapidamente em francês.

Como fazia com Astoria, o herdeiro Black bagunçou seus cabelos. “Se a campeã de Beauxbatons não for sua irmã, torcerei que o melhor competidor vença. Se me dão licença...”

Pensar em Astoria fez com que ele se lembrasse que sua vida não era apenas um jogo de manipulações. Ele tinha aliados, voluntários ou não. Dois búlgaros abriram espaço para que ele se sentasse na mesa de Slytherin – percebeu que era a primeira vez em dois dias que sentava ali.

“Já estão sentindo minha falta?” perguntou alegremente, cumprimentando os estrangeiros e amigos. Daphne levantou os olhos do café da manhã, mirou-o friamente e voltou a comer. “Ciumenta.”

_

Os morcegos voavam pelo Salão Principal como faziam em todo Halloween. Circulavam os estudantes, assustando-os, e voltavam a voar antes que pudessem provocar gritos demais; abóboras flutuantes que jogavam doces eram a alegria dos jovens. O teto mostrava o tempo como realmente estava, com uma pitada de exagero: Chuva forte e trovoadas que ocultavam parcialmente a lua cheia.

Revan perguntou-se como estava Moony – até agora não recebera nenhuma carta de Regulus com notícias de seu bichinho de estimação.

Slytherins ao redor dele cochichavam sobre possíveis campeões: “Krum”, afirmavam com certeza, porque “ele é o melhor”, e qualquer estudante de Hogwarts que não fosse Gryffindor.

“Já imaginou Longbottom lutando?” comentou Draco, fazendo uma réplica da cara do menino. “Vovó!”

“E se fosse você?” retrucou Blaise, imitando Draco. “Papai!”

Gargalhadas preencheram a mesa, mas logo a diversão deu origem à impaciência. Não queriam esperar até que Dumbledore terminasse de comer. Não queriam que os juízes demorassem aquele tanto para escolher os campeões. Finalmente, quando pensaram que não aguentariam esperar mais nem um minuto, Dumbledore se levantou.

“Espero que todos estejam tendo um excelente Halloween!” exclamou ele, aproximando-se do Cálice. “O Cálice está quase pronto para tomar sua decisão, cerca de um minuto. Quando os campeões forem chamados, por favor, escolhidos, dirijam-se à sala por trás da mesa dos professores, onde receberão primeiras instruções. Um minuto, eu disse?” parecia prestes a contar um grande segredo.

“Então temos tempo para algo mais. Senhoras e senhores, eu tenho o prazer de anunciar que Nicholas Potter acordou e está estável!”

Aplausos surgiram de grande parte dos alunos, por mais que a maioria deles não conseguia entender como uma pessoa era mais importante do que um torneio milenar.

Nicholas Potter surgiu da sala por trás da mesa dos professores, mancando levemente e com uma expressão de dor no rosto, apesar do sorriso que carregava. Levantou a mão direita com cuidado, saudando os alunos, e dirigiu-se não para a mesa de Gryffindor, mas para a mesa dos jurados.

“NÃO” repetiam Slytherins para si mesmos. “Não pode ser.”

Draco estava furioso. “De quem foi a ideia de fazer Nicholas Potter um jurado? O idiota não consegue ficar longe do hospital por um mês!”

Mas antes que pudessem replicar, o Cálice começou a brilhar uma luz azulada intensa, e todas as outras fontes de luz desapareceram. Era apenas o Cálice, e os estudantes encarando-o. Em um instante, do azul as chamas foram para vermelhas. Faíscas começaram a voar. Uma chama voou do Cálice, e todos prenderam a respiração.

“O campeão de Durmstrang” anunciou Dumbledore. “É Viktor Krum!”

Aplausos, mais do que os que celebraram a recuperação do menino que sobreviveu. Krum levantou-se e acenou para seu diretor, que parecia prestes a ter um infarto em seu assento. Não parecia muito surpreso – caminhou para a antecâmara sem exibir nenhuma emoção.

“A campeã de Beauxbatons” continuou o velho. “É Fleur Delacour!”

Mais aplausos surgiram, os de Revan sendo os mais altos. Gabby também aplaudia com fervor, Hermione ao seu lado. Bravo, bravo de fato.

A terceira chama a sair do cálice continha o nome de “Diggory, Cedric!”, que fez com que todos os estudantes de Hogwarts pulassem, aplaudindo e dando-lhe tapinhas amigáveis nas costas, mais altos do que tudo que o herdeiro Black já tinha ouvido, gritos de pura alegria que enchiam o ar e não pararam até que Diggory desaparecesse.

“Excelente!” exclamou Dumbledore. “Agora nós temos nossos três campeões. Tenho certeza que posso contar com cada um de vocês, incluindo os estudantes de Beauxbatons e Durmstrang, para dar todo o suporte que puderem. Ao apoiarem seu campeão, vão contribuir para um maravilhoso...”

Parou de falar quando viu que o Cálice voltou a brilhar em chamas vermelhas, lançando um último pedaço de pergaminho no ar. Dumbledore estendeu o braço para pegá-lo, claramente chocado. Leu o nome, leu novamente, e então uma terceira vez.

“Nicholas Potter!” fez Draco, furioso. “Aposto!”

Um Potter, de fato, mas não Nicholas. Limpando sua garganta, Dumbledore exclamou, aterrorizado: “HARRY POTTER!”.


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Notas finais do capítulo

SIM! Eu terminei em um cliffhanger :)

A minha principal pergunta depois de tanto tempo é: Quem ainda está aqui? Quero saber quantos não desistiram da fic. Me deixem saber, estou curiosa.

E é claro... O que acharam do cliffhanger? E como acham que isso vai se desenrolar?

Beijos gente, volto terça que vem com o capítulo 42.

~Lady Slytherin