Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 25
Tick Tock...


Notas iniciais do capítulo

Saudações!

Obrigada a todos que comentaram e recomendaram (mesmo o que recomendou sem comentar). Por mais que eu esteja desapontada com os reviews (24, contra 45 do capítulo 17) uma cara leitora comentou em seis diferentes capítulos, então atingi o limite que queria para chegarmos aos 800 reviews ao fim do segundo ano :D

Também, eu *cornetas* TERMINEI o maldito do terceiro ano que não queria acabar! O capítulo final é o meu recorde com 6500 palavras.

Esse capítulo foi divertido de escrever (pelo menos acho que foi, ele tem tipo, 4 meses de idade) e estou ansiosa para compartilhá-lo com vocês.

Boa leitura!



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CHAPTER 25

TICK TOCK

Bom dia, cara Sally.

“Oi, Tom. Tudo bem?”

Sabe como é, tudo permanece a mesma coisa aqui dentro. Aposto que você tem coisas interessantes para me contar.

Sally-Anne Perks franziu a testa. Minha mãe quer que eu volte para casa.”

Todos os pais querem isso, mas não é como você estivesse em perigo, certo?

A menina riu, e as pessoas ao redor dela, Susan Bones, mais especificamente, olharam e apontaram como se ela fosse louca. Rindo sozinha? Só podia ser.

“É, só que mamãe não sabe disso e eu não quero contar.”

Certo, eu não contaria isso para ela. É o nosso segredinho.

Sorrindo, Sally respondeu: “Eu sei guardar segredos.”

Eu sei, Sally. Confio em você. Por isso preciso que vá para o banheiro. Eu tenho uma tarefinha para você.

Obedientemente, a menina saiu da biblioteca e desceu as escadas alegremente, sem perceber que, durante todo o tempo que passara conversando com Tom, as palavras de Tom respondiam aos seus pensamentos sem o uso de tinta. O diário, meio de comunicação antes essencial para a conversa dos dois, estava no fundo da bolsa, debaixo de livros e mais livros. 

_

Revan viu Sally-Anne Perks passar por ele quando ia para a aula de Herbologia. Todos os Slytherins do primeiro ano estavam juntos, caminhando e checando cada corredor antes de entrar, tirando par ou impar cada vez que uma armadura precisasse ser aberta. Revan liderava o grupo sem abrir a boca. Ele queria chegar logo na sala de aula para se livrar dos capangas e de Malfoy. Penelope Clearwater havia sido encontrada morta naquela manhã.

“Meu pai vai comprar as novas Firebolts para todos do time” anunciou ele, dando um sorriso esnobe. “Para agradecer minha futura posição de capitão do time de Quadribol. Também, ele vai fazer questão de arrumar um professor de Defesa  bom para nos ensinar feitiços e escudos e o que mais eu quiser. Meu pai...”

“Vai comparecer ao seu enterro se você não parar de falar!” ameaçou Revan, se virando para Malfoy e tirando a varinha das vestes. O loiro empalideceu.

Alguém veio correndo para eles. O herdeiro Black o reconheceu como um novato Slytherin. Ele ofegava, colocando as mãos no joelho e se esforçando para as palavras saírem.

“Granger... Monstro.”

O esforço não serviu para muita coisa. Logo Professora Sprout ordenou que todos voltassem para seus dormitórios o mais rápido possível, em grupos, de preferência na companhia de um aluno do sétimo ano. Os dez estudantes do segundo ano se viraram e fizeram o longo caminho para as masmorras em um ritmo acelerado. Agora todos pareciam disputar a liderança.

“Granger morreu?” perguntou Tracey Davis, estalando os dedos. Todos sabiam que a mãe dela era uma sangue ruim. “Outro estudante morto, meu Merlin...”

Greengrass apertou a mão dela, tanto para fazê-la parar de estalar os dedos quanto para acalmá-la. “Pode ter sido apenas petrificada.” A frieza em seu olhar diminuía quando as duas conversavam. Pareciam quase amigas.

“Petrificada, morta, não importa” Davis mordeu o lábio. “O monstro está atrás de qualquer um, independente do sangue. Flint, Clearwater e Mrs. Norris mortos, Justin e agora Hermione petrificados... Eu posso ser a próxima.”

“Todos nós podemos ser os próximos” corrigiu Zabini.

Malfoy bufou. “Eu não. Até mesmo um monstro saberia que minha casa é antiga e respeitada.”

Sem paciência, Revan balançou a varinha e transfigurou os lábios de Malfoy em um zíper. Depois de alguns segundos de pânico, o loiro voltou a segui-los de braços cruzados. Eles atravessaram a ponte que levava para a outra metade do castelo. Estudantes de todas as casas corriam na direção oposta.

“... Petrificada...”

“... Não foi Potter...”

Malfoy abriu o zíper para falar: “Viu? Se você for a próxima vítima, pelo menos não vai morrer. Vai ficar só petrificada. Melhor do que a morte, eu acho.”

Revan fechou o zíper e apressou o passo, abrindo as grandes portas, seguindo pela esquerda e descendo as escadas em espiral. As masmorras nunca pareceram tão acolhedoras. Os quase duzentos e cinquenta alunos de Slytherin faziam fila para atravessar a parede, ficando na segurança dos dormitórios.

Snape esperava por eles, parecendo tão entediado como sempre.

“Ninguém sairá da sala comunal depois das seis horas. O jantar será servido nos dormitórios. Vocês não irão a lugar nenhum sem a presença de um professor. Mantenham-se em grandes grupos e tenham certeza de que todos estão bem. A Copa de Quadribol foi cancelada por causa dos ataques. Treinem com os alunos mais velhos. Aprendam a cortar e explodir, de algum jeito. Faremos vista grossa.”

Algumas pessoas riram. Snape se retirou para seus aposentos, suas vestes flutuando magicamente no ar. Um a um, os estudantes aprenderam como usar a varinha como uma espada, cortando qualquer coisa com carne. Os sofás foram empurrados para as beiradas, os livros foram guardados, dois palcos de duelos surgiram. Eles começaram a praticar.

Quando Revan conseguiu entrar no dormitório, abrir o compartimento secreto do malão e pegar suas vestes de Nemesis, a sala comunal estava muito cheia para que ele passasse despercebido. Ele jogou um charme de desilusão em si mesmo e desceu as escadas próximo das paredes de pedras, se misturando na escuridão. Discretamente ele olhou para o quadro de Merlin, que sentindo a necessidade do estudante, abriu uma segunda porta atrás dele e piscou o olho.

A corrida para o banheiro foi emocionante. Todos os professores, sem exceção, patrulhavam os corredores, que estavam iluminados para facilitar a procura. No caminho Revan teve que distrair Snape e Flitwick, confundir McGonagall e fazer com que Sprout saísse do caminho.

“Quem é você?” berrou Murta que Geme. “Isso é um banheiro FEMININO!”

“Olá Murta” cumprimentou o herdeiro Black, se inclinando ligeiramente. “Faz tempo que não te vejo aqui.”

Ela sorriu, satisfeita que alguém havia sentido a falta dela. “Nick petrificado, estamos todos com medo. Não podemos sair de Hogwarts, mas podemos nos esconder. Não é como se alguém fosse se importar em me matar outra vez, de qualquer jeito” ela soluçou, voando para uma privada. “A loira, Potter, você, ninguém dá a mínima para mim.”

“Ainda assim você não contou para os professores.”

Murta riu. “O que acontece com fantasmas, querido” ela se aproximou e deslizou um dedo que passou pelas vestes de Revan. “Fica com os fantasmas.”

Aquilo acabou com a conversa. Constrangido, ele se virou, sibilou a palavra certa em ofidioglota e desceu as escadas que apareciam sob seu comando. O basilisco já esperava por ele, enrolado para preservar o calor, duas carcaças de rato ao seu lado.

“Mestre, como posso servi-lo?”

“Me servir?” Nemesis retrucou em fúria. Ele sabia que já haviam tido essa conversa, mas sentia a necessidade de repeti-la: “Você não me serve há tempos.”

O monstro mostrou os dois dentes afiados para ele. “Sirvo ao herdeiro.”

“EU sou o herdeiro!”

A voz de Nemesis era cortante como uma lâmina recém afiada. Contrariado, o basilisco fechou a boca e se abaixou até ficar no nível do bruxo das trevas. “Você é UM herdeiro” corrigiu. “Minha lealdade jaz com qualquer herdeiro que visitar meus aposentos.”

Nemesis deu uma gargalhada amarga. “E ao servir o outro herdeiro, deixa de seguir minhas ordens?”

“A garota, mestre” concordou o basilisco. “Carrega com ela a chave para a glória.”

“O diário?”

“O diário que me libertará de minha prisão para sempre. As aranhas já correm, ah, como elas correm, reparou, mestre, como elas desapareceram? Correm para a Floresta Proibida, para seus familiares, em uma tentativa fútil de se defenderem de mim...”

Nemesis balançou a cabeça para limpar seus pensamentos. Ele não queria saber de aranhas, não naquele momento. “A garota” repetiu. “Você a serve? Foi sob a ordem dela que matou os estudantes?”

“Devo limpar a escória de Hogwarts, mestre. A escória pode ser pura ou podre, mas é escória.”

O bruxo das trevas cerrou os dentes. “Sem mortes” ordenou. “Ninguém deveria morrer. Eu disse para causar pânico, nada mais.”

“O garoto disse o contrário.”

Nemesis piscou. “Garoto?”

“O garoto que sai do diário, se chama Tom” explicou o basilisco, se aproximando de Nemesis. Agora que as coisas haviam se acalmado, bem que a cobra poderia se aconchegar em seu mestre. “Nome estranho... Muito menos misericordioso do que você, mestre.”

Nemesis se desvencilhou do basilisco, acariciando suas escamas, e correu para os dormitórios. Tom... Ele havia estudado quase todas as famílias da Inglaterra e não havia muitos Toms em Hogwarts. Definitivamente, pensou ao remover suas vestes e colocar o pijama, não deveria haver nenhum Tom na escola capaz de falar a língua das cobras, senão outro que Tom Riddle, o menino do orfanato.

_

No escritório de Dumbledore, Fudge andava irritado. Ele estava com vontade de jogar alguma coisa no velho bruxo. Não bastava estarem no meio da noite, discutindo um assunto de extrema importância, aquela fênix precisava cantar melodias tristes que faziam com que ele se lembrasse de cada coisa ruim que já havia feito na vida.

Dumbledore por sua vez estava calmo como sempre, apesar dos olhos estarem menos brilhantes do que o usual por causa do sono. Ele trançava sua longa barba enquanto esperava o Ministro falar, não se importando com a demora, nem com os resultados daquela conversa. Ele era Dumbledore, o bruxo mais poderoso já visto no século, ministro nenhum iria impedi-lo de realizar suas ideias.

“Está uma bela noite” comentou Dumbledore, estendendo uma vasilha para Fudge. “Gota de limão?”

O ministro estreitou os olhos. Ele mesmo havia permitido o uso da Poção da Verdade e poções calmantes nas famosas gotas de limão de Dumbledore e não iria cair em um truque tão velho. “Direto ao ponto, Dumbledore.”

“Ah” o velho bruxo de ajeitou na cadeira, examinando o resultado da trança da barba em um espelho. Os quadros nas paredes dormiam profundamente. “Qual seria o ponto, Cornelius?”

“Não podemos esperar mais” ele informou. “Está tomando conta dos jornais. Nicholas Potter tem que agir logo contra esse monstro, antes que mais vítimas sejam encontradas. É melhor você pensar duas vezes antes de dar uma tarefa tão complicada para um moleque incompetente.”

“Ora, Cornelius, você acha que eu soltei o monstro? Tudo o que eu queria era fazê-lo voltar a dormir. Nicholas Potter vai se livrar do monstro logo, eu te garanto. Ele está apenas planejando a melhor tática.”

Tática... Fudge sabia que não havia tática alguma. Ao lutar contra um monstro tão poderoso, o melhor seria atacar sem recuar até que o perigo terminasse, não deixar que ele se espalhasse e criasse vítimas, assustando toda a escola. Ele cruzou os braços, mandou um olhar fulminante para Fawkes, que cantava uma melodia fúnebre.

“O garoto que morreu” lembrou o ministro. “O pai dele quer guerra.”

“Todos querem justiça. Professora Sprout está preparando as mandrágoras para acordarmos os estudantes. É realmente uma pena que Flint tenha morrido, e Clearwater, agora... Estamos tomando conta de tudo.”

“Um bruxo de sangue puro” enfatizou Fudge. “Que faz doações imensas para o Ministério.” Ele se levantou bruscamente e foi até a porta. Fawkes parou de cantar. “Uma semana, Dumbledore, antes que eu feche a escola. Aurores estarão vindo amanhã para levarem Hagrid.”

Dumbledore se levantou também e o acompanhou pelas escadas e corredores, querendo ganhar tempo. Seu roupão colorido brilhava com a luz da lua cheia. “Hagrid não tem nada a ver com isso, Cornelius.”

“Alguém tem que ser o culpado. Hagrid é a escolha óbvia. Uma semana e contando. Eu temo que não conseguirei manter os pais quietos por muito tempo.” Fudge ultrapassou o limite dos terrenos de Hogwarts e desaparatou, deixando um Dumbledore preocupado nos terrenos. Ao caminhar de volta para seus aposentos, o velho bruxo não conseguiu deixar de se perguntar se Nicholas Potter, no final das contas, iria conseguir salvar o dia.

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No meio da noite, Revan se levantou abruptamente: Seu peito estava queimando. Ele arrancou o pendente de cobra, dessa maneira descobrindo a fonte do calor. A cobra que saía do esqueleto estava vermelha de tão quente. Chocado, o herdeiro Black abriu seu malão e pegou o diário, assim como uma pena de sangue.

Olá.

Olá, Revan, respondeu Voldemort por meio do seu próprio diário. Use outra pena agora. Temos assuntos a tratar.

Revan trocou a pena. Feito, meu mestre.

Ótimo. Acredito que tudo esteja indo como planejado.

Sim, meu lorde. A garota está com o diário e já não vive sem ele. A escola logo será fechada por causa da falta de atitude de Dumbledore. O velho deve estar esperando Potter fazer alguma coisa.

Então precisamos agir logo, o mais rápido possível. Assim que essa conversa terminar irei para Hogwarts. Confio em você para orquestrar um bom plano até o anoitecer de amanhã.

Meu lorde.

Revan escondeu o diário no malão e se deitou, exausto. O dia já estava quase amanhecendo, poucas horas restavam para que ele descansasse. Ele deixou de jeito a capa verde que havia usado quase um ano atrás: esperançosamente, Sally-Anne Perks iria reconhecê-la. O herdeiro Black esperava que sim. Ele não estava disposto a arrastar uma menina túneis abaixo.

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Sally se apoiou na parede e encostou a face pálida contra a rocha. Sua mão se estendeu fracamente para sua mochila, em uma tentativa inútil de pegar o diário. Seus dedos tremiam, porém a loira não sabia explicar por que. A voz de sua mãe apareceu em sua cabeça, alta e clara: Você não deve ter comido o café da manhã. É a refeição mais importante do dia.

A menina, porém, tinha comido o café da manhã, e bem mais do que o normal, como nos dias anteriores. Ela cogitou a possibilidade de visitar a Ala Hospitalar, talvez Madame Pomfrey soubesse o que estava errado com ela, mas Tom, seu precioso Tom, discordava, e quem era ela para discordar de alguém tão magnífico quanto Tom?

“Tom...” Sally sussurrou, sua voz quase impossível de se ouvir. “Me ajude, por favor.”

Sou uma mera memória, Sally. Não posso te ajudar. Dentro do diário, Tom sorria.

“É claro que você pode. Você é muito mais do que uma memória. Me diga o que está acontecendo comigo.”

Fraqueza. Descanse mais, coma coisas saudáveis e faça exercícios.

“Acho... Acho que vou para a Ala Hospitalar.”

As palavras apareceram em sua cabeça com uma intensidade tão grande que a fez vacilar. NÃO.

“Estou doente, Tom.”

NÃO, repetiu a memória. Fique longe de lá. Como espera explicar tudo sem incluir as nossas conversas?  E se as incluir, o que você acha que vai acontecer? Vou ser queimado em uma lareira qualquer. É isso o que você quer?

“Não, Tom, eu quero que você fique comigo mais do que tudo nessa vida, mas eu preciso de ajuda.”

Outra voz a fez pular de susto. “Eu posso ajudar, se você me permite.”

Olhos azuis se encontraram com misteriosos olhos verdes debaixo do mesmo verde da capa que cobria o rosto da pessoa. Sally encarou a mão estendida receosa, olhando para o estranho e para o corredor vazio e de volta para o estranho, e finalmente desistindo, ela segurou a mão firme coberta por luvas negras. Dando um impulso para a frente, ela começou a caminhar.

“Sally... Não acredito que não se lembra de mim.”

A loira voltou a examinar o estranho. Um sorriso apareceu no rosto da menina. “Henry!” Ela deu um abraço fraco no rapaz encapuzado. “Obrigada pelo diário, muito obrigada, você não sabe como isso me ajudou...”

“Hey, se acalme, Sally.” Henry também pareceu sorrir por debaixo do capuz. “Não vou a lugar nenhum. Na verdade, eu gostaria que você fosse a um lugar comigo. Vamos, pegue sua bolsa. Não é muito longe.”

Apoiando a menina, os dois caminharam lentamente até o banheiro de Murta que Geme. Sally enrijeceu, mas continuou indo. Era geralmente nesse banheiro que ela esquecia o que fazia, só acordando do outro lado do castelo alguns minutos depois. Ela se forçou a continuar acordada.

Henry sibilou algo para a pia, que se abriu, revelando um túnel. Com outro sibilo, escadas mágicas apareceram. Henry ajudou Sally a descê-las e observou com satisfação como os olhos azuis da menina se arregalaram ao ver a imensa estátua de Salazar Slytherin.

“Henry, estou com medo” confessou Sally, apertando sua mão contra a do garoto mascarado, que sorriu. A menina definitivamente tinha razões para ficar com medo.

Henry apertou sua mão de volta e começou a remover a capa, revelando uma outra capa, dessa vez negra, com as pontas rasgadas e minúsculos detalhes em tons mais claros que faziam com que ele se misturasse com a escuridão. Sally ofegou e levou a mão para a boca. Ela reconhecia aquela pessoa. Era assim que Nicholas Potter descrevia o tão temido Nemesis.

Antes que tivesse tempo de reagir, um pesado sono caiu sobre ela. Sally olhou para o estranho com lágrimas nos olhos: Henry, aquele que havia feito de sua vida em Hogwarts mais suportável, estava prestes a matá-la...

Nemesis a carregou com facilidade pela entrada da Câmara e depositou a menina cuidadosamente no chão frio. Seguindo as ordens do mestre, o bruxo das trevas retirou o diário da bolsa de Sally e o abriu. Dele, para a sua surpresa, surgiu uma figura, saindo lentamente, até ficar translúcida em sua frente. Era um jovem de dezesseis anos com uniforme de Slytherin, cabelos penteados perfeitamente e um olhar arrogante que podia ser comparado com o de Malfoy.

“Você deve ser Revan” sorriu o estranho. Seu sorriso era tão forçado para ser educado que lembrava Revan de Nicholas. “É bom finalmente te conhecer em pessoa.”

“Aqui sou chamado de Nemesis” corrigiu o bruxo. “E quem é você?”

“Tom. Você deve ter ouvido falar de mim.”

É claro que ouvi. Você adora falar de si mesmo. “Tom Riddle?” confirmou Nemesis, torcendo com todo o seu coração que suas deduções estavam erradas e que aquele era outro Tom. O estranho assentiu. “Você é Tom Riddle!”

Uma voz o assustou, vinda do fundo da sala. “Nós, Revan, somos Tom Riddle.”

O olhar de Nemesis se encontrou com a figura de Voldemort que flutuava até eles. Do que adiantava conhecimento prévio, em uma situação daquelas?  

“VOCÊ?” repetiu Nemesis. Ele arrancou a capa, revelando olhos rasos que tentavam conter o choro. “Todo esse tempo? POR QUE VOCÊ NÃO ME CONTOU?” uma lágrima solitária desceu pelo seu rosto. “Por que você não me contou que era Tom Riddle?”

Tom Riddle deu um sorriso que Nemesis só podia descrever como maligno. Foi Voldemort, porém, quem respondeu: “Preste atenção, garoto. Se você me serve, é por causa do que sou hoje, não do que fui cinquenta anos atrás.”

“Mas...” Você me traiu!

“Sem mais, garoto. Direto ao trabalho. Essa é a garota?”

Nemesis assentiu mordendo os lábios. Não chore, repetiu para si mesmo. Meninos crescidos não choram. Guerreiros não choram. “Sim, meu lorde.”

 O sorriso de Voldemort agora foi real. Ele se aproximou do corpo da menina loira, alisando-o suavemente, testando sua força. Apenas pelo contato, ele parecia ficar mais forte, ganhando mais consistência. Suspirando, o lorde das trevas abriu a mochila de Sally e retirou a varinha da menina. Ele quase podia senti-la contra seus dedos.

“Você sabe o que precisa fazer.”

O pequeno comensal engoliu em seco, dando um rápido olhar para o basilisco, esquecido. Sua varinha, perfeitamente polida e sem nenhum traço especial, estava pronta em sua mão esquerda. Quando a levantou, pronto para lançar as palavras mortais, Sally, para a sua surpresa, abriu os olhos azuis e encarou Nemesis. As pupilas se dilataram ao perceber onde estava.

Sally-Anne Perks fez força para se arrastar para trás. À medida que Voldemort ficava mais forte, ela ficava mais fraca. Naquele instante, estava branca como papel e fria como nenhum ser humano saudável poderia estar. “Henry” sussurrou. A tristeza dominava seu olhar de um modo tão profundo que fez o estômago de Nemesis dar um nó. “Por que fez isso? Achei que você era meu amigo...”

O garoto encapado deu um passo para a frente e se ajoelhou para ficar face a faca com a garota. “Nunca deixei de ser seu amigo. Eu me importo com você” ele informou, tirando uma mecha de cabelo da cara da Puff. “Sabe, Sally, eu era exatamente como você. Diferente em um lugar que não conhecia, sem amigos, eu me sentia abandonado. As pessoas achavam que ser diferente significava estar errado, mas eu sabia que não era verdade. Todos nós somos especiais e importantes.”

A menina recuou do toque enluvado de Nemesis. “Não! Se você se importasse comigo, não teria me trazido aqui...”

Ele deu de ombros. Voldemort (e Tom, e o basilisco) assistia a conversa. “Você não entende, entende, Sally?” Nemesis novamente estendeu a mão enluvada para a face da garota. Dessa vez, ela permitiu que o pequeno comensal tocasse sua pele.

A loira fez que não com a cabeça.

“Você foi a escolhida: Sally-Anne Perks. A menina que não tinha nada. Eu te escolhi, no meio dos mil estudantes de Hogwarts, para me ajudar” Nemesis pausou, dando um olhar para Voldemort, “Nos ajudar, nesse plano grandioso onde todos importam.”

Seu charme praticado ao longo dos anos começou a funcionar. Lentamente, Sally foi relaxando, parando de lutar contra a fraqueza que a impedia de ficar em pé e correr. Ela deu uma piscada demorada: Mal havia acordado, mas queria dormir novamente.

“Se for para o mal...” ela insistiu.

Nemesis deu um brilhante sorriso, mesmo que ninguém pudesse vê-lo por baixo de sua capa. “E quem te disse que o que estamos fazendo é para o mal?”

Em outras ocasiões, a loira teria corado, mas o sangue mal circulava pelo pequeno corpo. “Não é para o bem, então é para o mal.”

“Dumbledore jogou dezenas de pessoas em Azkaban apenas no último ano, suspeitando que elas poderiam ser, bem, eu. Como você pode ver, ainda estou aqui, e cada uma daquelas pessoas está aguardando um julgamento que nunca virá. Isso soa uma coisa do “bem” para você?”

Não houve resposta. Nemesis continuou:

“Você sabia que, depois da queda de Você-Sabe-Quem, recém formados de famílias tradicionais perderam oportunidades de emprego, porque os nascidos trouxas deveriam ser privilegiados? Isso não apenas parou o fluxo, mas o inverteu: Os melhores agora trabalham no mercado negro. Isso é bom?”

“Eu não sabia disso!” sussurrou Sally, esquecendo-se de onde estava. “Quando vamos aprender?”

“Nunca. Porque o Ministério não quer que isso vá ao público. Ele também prefere ignorar descobertas que podem revolucionar o mundo mágico, porque os jornais ganham mais dinheiro publicando matérias sobre Nicholas Potter, que não faz absolutamente nada desde quando era um bebê. Pessoas importantes estão sendo deixadas para trás.”

A voz de Nemesis trazia arrepios na menina, que franziu o cenho. “Por que está me contando isso? Eu não sou importante.”

O pequeno comensal se levantou e estendeu a mão para ela. “Você ainda não é importante, mas pode ser” ele corrigiu. “É isso que te proponho. Você quer ser alguém importante, Sally? Quer saber que você fez a diferença no mundo?”

Ela fez que sim, reprimindo um sorriso. A sensação de perigo já estava esquecida em sua mente. Sua mão trêmula encontrou-se com a do misterioso estudante.

Nemesis deu um aperto reconfortante em sua mão. Com a varinha que nunca havia deixado o braço esquerdo, ele proferiu as simples palavras com toda a tranquilidade do mundo:

“Avada Kedavra.”


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Notas finais do capítulo

Foi um capítulo pequeno, mas com conteúdo, concordam? Por isso eu peço humildemente, reviews. Eu preciso deles para escrever.

Uma preview do que espera vocês assim que chegarmos aos 765 comentários (ou mais :D):

Meu lorde sorriu Nemesis, ajoelhando-se na frente do mestre e verdadeiramente beijando suas vestes pela primeira vez. Bem vindo de volta.

Suficiente? Comentar não machuca e faz muito bem para mim.

Espero falar com vocês novamente logo!

PS: Algum médico aqui? Tenho uma pergunta a respeito de, *pigarreia* tortura.