Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 24
Segredos Sob A Pele


Notas iniciais do capítulo

Gente! Chegamos nos 700 comentários e ainda estamos no segundo ano, imaginem quando a fic terminar! Obrigada pela lealdade e me desculpem a demora.



Vou editar o capítulo todo, só adicionar descrições porque estou achando ele muito cru.

PS: 3 pessoas choraram no último capítulo!



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CAPÍTULO 24

SECRETS UNDER THEIR SKIN

Quando ficaram sabendo de Flint, ninguém ousou se separar de ninguém.

Os prefeitos haviam separado os alunos em grupos de no mínimo três integrantes para caminharem pelos corredores. Não deveriam ficar sozinhos em nenhum instante, frisaram, e quanto mais pessoas no grupo, melhor.

A cara de desgosto de Revan podia ser vista de qualquer lugar que você o observasse; não bastava ter alguém com você o tempo todo, esse alguém tinha que ser Draco Malfoy, seus capangas mudos, um bruxo que tinha uma mãe assassina e um comensal da morte. Não que Revan se incomodasse com o passado sujo dos companheiros ou com o silêncio dos capangas: O que ele realmente odiava era ter que ouvir a voz irritante de Malfoy no caminho para todas as aulas, todos os dias.

“Com Flint morto, eu serei o novo capitão do time de Quadribol!” ia se gabando, sem parecer se importar com a morte do companheiro. Revan revirou os olhos.

“O pomo estava bem na sua frente” falou sem prestar muita atenção. Também, Flint podia não morrer. Era o que Revan esperava; Ele apressou o passo, querendo chegar na aula de Transfiguração o mais rápido possível. Ele queria checar com Sally-Anne Perks se estava tudo bem. “Goyle tem mais chances de se tornar capitão.”

Atrás dele, Goyle grunhiu uma resposta.

“E o que você mudaria se fosse capitão, Malfoy?” perguntou Nott com uma cara de desgosto. Ele apressou o passo.

“Tiraria toda aquela gente de lá, escolheria a dedo meus jogadores que responderiam somente a mim.”

“Sabe o que isso me lembra?” disse Zabini em um tom sarcástico. Malfoy levantou uma pálida sobrancelha.

Revan respondeu para ele junto com Nott. “Maldição Imperius.”

Malfoy se avermelhou rapidamente, e com um rápido olhar, seus capangas grunhiram em apoio. Blaise abriu a porta e se sentou próximo dos Hufflepuffs; se um dos estudantes mortos havia sido um Slytherin, ele preferia ficar longe deles. Revan se sentou ao lado de Sally-Anne Perks, que escrevia furiosamente no diário.

“Olá” cumprimentou ele com um sorriso galante. “Posso me sentar aqui?”

Sally corou. “Pode.”

Silenciosamente o herdeiro Black colocou os livros de Transfiguração na mesa, os abriu na página certa e observou a garota. “Você está ficando para as férias de Natal?” perguntou. A loira levantou a cabeça surpresa com a pergunta.

“Não, mamãe acha que eu deveria ir para casa.”

“Todos os pais parecem achar a mesma coisa” concordou Revan. “Os Slytherins estão ficando, querem descobrir quem abriu a Câmara Secreta. Os mais velhos estão procurando por sangue depois do que aconteceu com Flint.”

Sally empalideceu e escreveu algo no diário longe das vistas de Revan. Ele conseguiu ver apenas palavras desaparecendo. “Você acha que ele vai machucar mais pessoas?”

O menino levantou uma sobrancelha. “Ele?”

“O herdeiro” explicou Sally.

Revan deu de ombros. “Acho que o herdeiro só vai parar quando tiver cumprido seu objetivo. Não temos como saber quando isso vai ser” ele fingiu um suspiro dramático.

McGonagall entrou na sala e distribuiu presilhas para a classe. Os meninos riram, colocando-as no cabelo, antes de começar a tentar transfigurá-las em aranhas. Pensando em Weasley, o herdeiro Black deu o seu máximo, criando uma aranha gorda e peluda. Ele estava trabalhando em como fazê-la mover mais rapidamente quando Sally-Anne Perks disse, tão baixinho que ele quase não ouviu:

“Os pais de Justin querem Potter fora de Hogwarts.”

“Por causa da coisa com a cobra?” Revan tentou soar desinteressado.

Sally assentiu e encarou as costas de Justin, que acabara de se levantar para voltar aos dormitórios. Aparentemente ele, assim como Weasley, tinha medo de aranhas. “Você acha certo? Ele foi grosso com Potter mais cedo.”

“Sei lá. Os Slytherins não estavam muito preocupados até Flint ser encontrado. Acho que Fletchey está certo por estar com raiva. Ele poderia ter sido atacado.” Sally escreveu algo no diário. Estreitando os olhos, Revan continuou, prestando atenção em suas palavras: “Mas isso não significa virar todos os Hufflepuffs contra Potter. Nicholas vai fazer alguma coisa, é do feitio dele. Não machucar, porém.”

Sally se levantou e foi até McGonagall, explicou que não se sentia muito bem e pediu permissão para ir à Ala Hospitalar. Ela indicou sua presilha, que caminhava pela carteira cegamente, e terminou de transformá-la na frente de McGonagall. Ela parecia um pouco verde, notou o menino. Quando a professora disse que sim, ela podia se retirar, Sally pegou o diário e quase correu para fora da sala.

Apenas espere... Sussurrou Revan para si mesmo, sorrindo satisfeito quando sua aranha dobrou a velocidade e fez uma tentativa de pular da mesa. A aranha de Perks começou uma batalha com sua própria. Apenas espere. Ele traduziu os feitiços do latim para o inglês, observou os outros transformarem suas presilhas em aranhas e, sem que McGonagall percebesse, mudou a cor de sua aranha várias vezes até que ela não parasse de brilhar. Ele estava ficando impaciente, já haviam se passado quase dez minutos...

“ATAQUE! ATAQUE! OUTRO ATAQUE! NENHUM MORTAL OU FANTASMA ESTÁ SEGURO! CORRAM POR SUAS VIDAS! ATAAAAQUE!”

Por um instante, todos ouviram a voz de Pirraça e ficaram em silêncio, e então, juntos, se levantaram e correram para fora da classe, seguindo a voz do polthergueist, desesperados para ver quem era a próxima vítima. McGonagall se mostrou em excelente forma física, correndo mais do que sua idade iria permitir e chegando no local do crime antes dos estudantes. Nicholas Potter era o único que estava lá, encarando a vítima com a boca aberta.

“Potter” rosnou McGonagall. Ela checou o menino caído e mandou um estudante chamar Dumbledore. “É melhor você ter uma boa explicação para isso.”

“Eu juro que acabei de chegar” disparou Potter. Um flash o cegou por alguns instantes e ele protegeu os olhos. McGonagall, observando o tumulto, levantou a varinha e soltou um rojão que fez com que todos ficassem quietos. Ernie McMillan se aproximou do corpo de Justin.

“Você o matou!” berrou para Nicholas. “Como Justin achava que você iria! Monstro!”

“Monstro!” concordaram os outros Hufflepuffs.

Dumbledore chegou abrindo passagem, primeiro olhando onde Nick Quase Sem Cabeça estava congelado, e então para Justin. Ele tirou seus batimentos e temperatura, checou o brilho dos olhos e deu um peteleco na pele. Quando terminou, exibia um sorriso.

“Ele não está morto!” anunciou. A multidão o encarou como se ele fosse louco. “Está apenas petrificado. Minerva, me ajude, venha aqui...” O corpo de Justin foi colocado em uma maca e saiu de cena.

“O que?” berrou o mais corajoso. “Agora podemos escolher se queremos ser petrificados ou entrar em um coma terminal?” Os estudantes continuaram a encarar Nick Quase sem Cabeça. Alguns tentaram chamá-lo pelo nome, e um deles soprou. O corpo dele se moveu um ou dois centímetros para a frente.

“Está morto?” perguntou alguém.

“Já estava morto antes!”

“É possível morrer duas vezes?”

Revan vasculhou a multidão a procura de uma loira em particular. Sally-Anne Perks estava encostada contra a parede, escrevendo no diário. Sua blusa de manga cumprida parecia estar encharcada com alguma coisa escura. Sangue? Os olhos azuis de Sally se encontraram com os verdes do herdeiro Black, e Sally sorriu arrogantemente.

Foi aquele sorriso que juntou as peças na cabeça de Revan. Ele correu para o corujal, localizou Eyphah no andar que havia conseguido só para si, a chamou com um assovio e escreveu a seguinte carta.

“Olá RAB, como estão as coisas? Você poderia ler a seguinte carta para nosso amigo?

Bom dia, meu amigo! Te vi hoje de manhã, tenho que dizer que fiquei surpreso! Achei que você preferisse lugares mais quentes. Estou me perguntando o que você está fazendo aqui. Me mande uma réplica o mais rápido possível. Eyphah ficará aí enquanto você escreve.

Abraços,

–R.”

Ele foi para os dormitórios e jogou xadrez com Nott por mais de uma hora; os dois meninos transfiguraram as peças em bruxos, duendes e elfos, Merlin sendo o rei branco, e Morgana sendo a rainha preta. Uma a uma, as peças foram caindo pela luz verde lançada de minúsculas varinhas que não fazia coisa alguma. Revan moveu o cavalo, naquele caso centauro, para destruir um elfo de Nott.

Eyphah não demorou a chegar, exausta mas disposta a trabalhar ainda mais se seu mestre pedisse. Revan passou as unhas pela cabeça do corvo, que grasnou antes de voar de volta para o corujal.

Revan se colocou perto do fogo e leu:

“Surpresa.”

Curioso, ele colocou a carta tão perto das chamas que as pontas do papel se enegreceram. Lentamente, as palavras apareceram, letra de Regulus mas palavras de Voldemort:

“Você não estava fazendo o suficiente, decidi resolver o assunto eu mesmo.”

Revan esperou mais palavras aparecerem, explicando, por exemplo, as pessoas no coma, Flint, já considerado morto, ou por que um sangue ruim havia sobrevivido, mas a proximidade com o fogo fez com que o papel se tornasse ilegível depois de alguns minutos.

Tudo bem, pensou Revan. Se Voldemort não iria responder sua questão, o basilisco iria.

_

Nemesis corria sem fazer um som pelos corredores, apagando as tochas no seu caminho para ter certeza que ninguém pudesse vê-lo. Ao se aproximar do banheiro feminino do terceiro andar, seus passos desaceleraram e ele se permitiu respirar mais alto.

"Cedric Diggory vai usar o banheiro dos monitores amanhã" ele informou Murta. Era o pequeno segredo deles. Nemesis dizia quem usaria a grande banheira, e Murta ficava em silêncio.

O fantasma riu. "Vou me preparar. Se quiser diversão fantasma, sabe onde me encontrar!"

Sozinho, ele resumiu suas atividades. Nemesis sibilou para a pia, ordenou escadas para não sujar suas vestes que agora pareciam ser a marca de seu nome, e desceu, seus olhos brilhando na escuridão.

"Incendio!" sussurrou, apontando para frente. Um jato de fogo iluminou seu caminho. "Servo!"

O basilisco terminou de comer uma ratazana e encarou o herdeiro. Os grandes olhos amarelos do monstro não produziram efeito nenhum em Nemesis. Escolher o que e quem matar definitivamente tinha as suas vantagens.

"Quem mais está aqui? Quem mais vem?" Sua voz era furiosa, suas palavras cortantes. Nemesis se sentia traído. O basilisco era dele.

"Uma garota e o Último" respondeu o monstro, fazendo um movimento brusco para pegar um rato.

Nemesis bufou.

"Você é Nemesis. Ele é o Último. A garota é a garota. O Último fala pela garota. Às vezes vem aqui ele mesmo. São vocês três."

Ele balançou a cabeça. "Não. Eu deveria ser o único. Sirvo ao herdeiro, assim como você!"

O monstro pareceu bufar também. "Obedeço todos os meus mestres. Não foi minha intenção induzir ninguém em um coma. O Último pediu que eu matasse, e você pediu para não machucá-los."

"Flint vai morrer" acusou Nemesis.

"Mas não se machucou."

"Morrer é se machucar!" Àquele ponto, o pequeno comensal já gritava.

"Não" corrigiu o basilisco com a paciência de quem já viveu mil anos para contar a história. "Te garanto, mestre, que o humano não sentiu um pingo de dor. Obedeci a você."

Cale a boca, Nemesis quase disse. "De agora em diante você serve apenas eu."

"Não" repetiu o monstro. Suas escamas verdes brilhavam no mesmo tom dos olhos do menino. "Não posso. O Último me disse a mesma coisa. Ele não gosta de você interferindo, mestre."

Voldemort nunca me machucaria, pensou Nemesis. Eu sou a coisa mais próxima que ele tem de alguém. "Não mate."

"Tarde demais. Quando você é velho como eu reconhece o cheiro de morte. O humano está morrendo agora."

Não... Não! Nemesis deu as costas para o basilisco e subiu as escadas, refazendo seu caminho para o Salão Principal, então prosseguindo para as escadas que levavam até a Ala Hospitalar.

Flint estava morto, deitado na maca.

"Eu sinto muito" murmurou o pequeno comensal, se aproximando e usando um canivete improvisado para marcar um raio no peito do menino. "Eu sinto muito."

Ele se afastou, pronto para trocar de identidade. Revan precisava lidar com Nicholas Potter, que parecia um cachorrinho perdido depois da grande revelação, quando todos descobriram que o menino que sobreviveu era, na verdade, o herdeiro de Slytherin. Ele estava anormalmente quieto esses dias...

_

Com o feriado de Natal, pelo menos noventa por cento da escola foi para casa, com medo do monstro. Dentre esses noventa por cento, grande parte dos Gryffindors. Ficaram Granger, Weasley e Nicholas, além dos gêmeos, que pareceram pensar que ficar na escola durante aquele período seria uma aventura, recebendo como consequência três berradores, cada, da mãe.

Os Slytherins aproveitaram o período para estender seu domínio na escola. Apenas alguns foram para casa, como Tracey Davis e Blaise. O pai de Nott estava ocupado demais para cuidar dele, Malfoy tentaria recuperar o posto de possível herdeiro de Slytherin ao sibilar para qualquer um que visse, Greengrass claramente mataria o basilisco com seu olhar frio, Parkinson seguiria Malfoy como o bom Pug que era... E Revan, bom, não era como se ele tivesse uma escolha.

Quando o sol nasceu no dia 25, sua cama tinha mais presentes do que tinha no ano anterior. O presente do trio dourado não estava lá, verdade, mas os gêmeos decidiram parabenizá-lo com chapéus que deixavam a cabeça, apenas a cabeça, invisível, e uma nota em código sobre como eles planejavam pregar uma peça em Nicholas.

Toda a casa, orgulhosa de como o herdeiro Black, com um feitiço, desmascarou Nicholas, lotou o chão ao redor da cama dele de presentes: Livros, ingredientes de poções e doces, principalmente. Malfoy encarou a pilha de presentes com inveja; ele só recebera presentes dos pais, futura esposa e capangas.

O presente de Regulus o surpreendeu: Uma Nimbus 2001 com feitiços de proteção, opção Invisível e acelerador extra. Foi o presente de Voldemort, porém, que Revan mais gostou. Um diário de duas vias, aberto apenas com sangue. Voldemort explicou que ele esperava que com aquilo, os dois pudessem se comunicar melhor.

Nott deu um grosso livro de feitiços para batalha, assim como os alunos mais velhos. As meninas optaram por doces, a equipe de quadribol, uma grande bandeira de Slytherin, e Malfoy, por diversão, uma cobra de pelúcia que imitava a que Revan havia criado no duelo.

Satisfeito e sem vontade de descer para o Salão Principal, Revan se acomodou na cama, abriu o diário e começou a escrever.

__

“Nick” chamou Hermione. “Não consigo te ver. Nunca pensei que tantos presentes coubessem em um quarto tão pequeno. Ron, você está pisando no meu pé.”

“Não, você está pisando no meu” retrucou Ron, empurrando dois presentes para longe dele. “A poção está pronta.”

“Eu era quem deveria falar isso!”

“Para quê? Ele não vai te beijar.”

Hermione lançou um olhar furioso para o ruivo e não pôde deixar de corar, apesar de não ser verdade. Ela moveu a varinha e fez com que os presentes se encolhessem, cabendo em uma grande sacola que foi depositada no canto da sala. O Menino que Sobreviveu havia recebido pelo menos cinquenta presentes.

“Não consegui um fio de cabelo de Revan” disse Nicholas, se inclinando para a sacola e pegando o presente mais próximo. Era uma miniatura dele, voando em uma vassoura e lançando feitiços para todos os lados. Ele jogou o presente para trás e abriu o próximo. Bolinhos feitos por uma bruxinha de sete anos. Ele mordeu um pedaço e cuspiu. Discretamente, jogou o bolinho pela janela.

“Bom, eu consegui um cabelo de Bulstrode” Hermione sorriu, satisfeita consigo mesma. “Podemos pegar um fio de Revan se conseguirmos entrar nos dormitórios.”

“Por que tem que ser o fio de Black?” protestou Ron. “É mais fácil pegar de Crabble ou Goyle.”

Nicholas deu de ombros. “Draco não vai falar com os capangas. Os macacos só abrem a boca para comer. Vamos.” Ele tirou a capa da invisibilidade do pai de debaixo o braço e cobriu a si mesmo e a seus amigos. Em silêncio, o ruivo seguiu Revan e, saindo da capa, deu um esbarrão nele, tirando alguns fios no processo. Ron apostou em Goyle, que ainda não tinha terminado de tomar café da manhã. Com a ajuda do amigo, estuporou o Slytherin na saída do Salão Principal, o escondeu em um armário (depois que Nicholas trocou a camiseta da serpente por uma de veadinhos) e correram para o banheiro de Murta de Geme.

“Você toma primeiro” falou Ron para Nicholas, que levantou uma sobrancelha. “Você é o menino que sobreviveu. Se Hermione fez alguma coisa errada, você tem maiores chances de sobrevivência.”

“Então você entende como minha sobrevivência é vital” retrucou o Menino que Sobreviveu, empurrando o frasco com um líquido transparente para Ron. “Teste. Talvez Revan tenha colocado algum veneno aí.”

Ron levou a poção aos lábios e a tomou com uma careta. Ele sentiu seu cabelo crescer, e cicatrizes aparecerem por seu corpo. Sua mão esquerda doía quando ele se movimentava. O ruivo se mexeu, testando o novo corpo, e estava prestes a modificar suas vestes quando percebeu que, não importava o esforço, ele não iria caber, porque seu corpo não parava de mudar.

Ele correu e se olhou no espelho. Ora era um menino de seis, sete anos, e logo voltava a ser o garoto que todos conheciam, com cabelos sedosos, alto e elegante.

De uma das cabines, Hermione começou a chorar.

“Não me diga que sua poção falhou também!” gritou Nicholas cruzando os braços, e relutantemente pegando a poção de Ron. Era um líquido marrom e grosso que lembrava lama. Morrendo de nojo Nicholas engoliu tudo e esperou para sentir os efeitos colaterais que não tardaram para vir. Ele se alargou pelo menos duas vezes, rasgando suas vestes, encolheu, seus cabelos ruivos viraram castanhos e quando caminhava, se sentia como um pinguim. O ruivo fez uma nota mental para nunca chegar naquele peso.

“Não vai sair?” Ele movimentou a varinha e corrigiu suas vestes. Hermione fez um som que Nicholas interpretou como um não. “Tudo bem. Te vejo logo.”

Ele saiu cambaleando pelos corredores a procura de Draco. A varinha que havia roubado de Goyle era estranha em sua mão gorda, assim como os sapatos e a fome que acabara de surgir. O loiro estava conversando com Revan na biblioteca, e por alguma razão, ele parecia um tanto irritado. Nicholas se aproximou lentamente, estremecendo ao ouvir seus passos.

“Não sei o que você fez com ele, mas eu o quero de volta!”

“Com medo de perder seu escudo, Malfoy?” a voz de Revan era tão fria que Nicholas quase não a reconheceu. “Ah, lá está ele.”

O ruivo quase soltou um palavrão, mas fiel à Goyle, soltou um grunhido e se sentou pesadamente ao lado de Malfoy.

“Agora você pode parar de me perseguir” disse o herdeiro Black.

Draco deu um sorriso amargo. “Quem disse que estou te perseguindo?”

“Você respira no meu pescoço, rouba minhas anotações e me chantageia.”

O loiro deu de ombros. “Faço isso com todos.”

Nicholas bufou, e os Slytherins olharam para ele, surpresos. Goyle mal falava. Madame Pince olhou firmemente para eles e apontou a saída da biblioteca. Nenhum deles pareceu se importar ao sair de lá com os livros na mão.

“Porque ele é o herdeiro?” perguntou Nicholas.

Draco parou de caminhar. “O quê?”

“Black é o herdeiro?” repetiu o ruivo.

Os Slytherins trocaram um olhar e caíram na gargalhada. Eles voltaram a caminhar para os dormitórios, atravessando o castelo e descendo as escadas até as masmorras. Nicholas teve que correr, ofegando, para acompanhá-los. Ele já sentia falta do seu corpo apenas alguns quilos acima do normal.

Draco correu contra uma parede com um quadro de um velho bruxo que levantou um bastão, batendo-o contra o chão. Draco desapareceu, fazendo Nicholas se perguntar se era o mesmo mecanismo da plataforma 9 ¾. Quando chegou sua vez, o velho bruxo o fuzilou com o olhar e murmurou algo sobre poções. Mesmo assim, Nicholas conseguiu passar.

A sala o outro lado era fria, escura e vazia. Livros enchiam as paredes, fotos dos mais influentes bruxos conversavam entre si e lareiras com fogo verde não faziam nada para melhorar a atmosfera da sala. Em uma poltrona, Greengrass fazia dever de casa com Pansy, que estava mais interessada em conversar sobre Draco do que em terminar o trabalho de Poções.

“Espero que fiquemos sem ataques esses dias” comentou Revan, se jogando em um sofá.

Draco levantou uma sobrancelha loira.

“Menos pessoas na escola, mais chances de sermos os escolhidos” explicou, apesar de não parecer com muito medo. O herdeiro Black apontou a varinha para as chamas e fez com que as faíscas formassem um grande monstro.

“E mais chances de sermos os culpados” adicionou Nicholas. “Vocês têm novas suspeitas?”

Os olhos azuis de Draco se fixaram nele. “Você” acusou Malfoy. Nicholas deu um passo para trás. “Goyle nunca falaria tanto.”

“E Goyle” sorriu Revan. “Não é ruivo.”

Os olhos de Nicholas se arregalaram. Ele agarrou a varinha, lançou um feitiço na lareira, levantando o fogo, e saiu correndo, tentando passar pela parede. O bruxo sorriu para ele e fez que não com a cabeça. A parede era rocha pura. O menino que sobreviveu a apalpou, tentando achar a saída. O velho bruxo voltou a fazer que não.

“Peguem Potter!” berrou Pansy, apontando para ele e tirando sua varinha do coldre. Os Slytherins pularam em cima deles como animais.

Amarrado e amordaçado, Nicholas encarava os próprios pés esperando seu destino. Ser pego por Slytherins não era bom. Ser pego por eles em um território totalmente do inimigo era pior ainda. Revan parecia particularmente divertido com a situação dele. Em seu olhar havia algo que Nicholas nunca havia visto antes: malícia pura.

“Snape uma vez nos disse para nunca deixarmos alguém que não uma cobra aqui dentro” Draco comentou, alto o suficiente para todos ouvirem. “Mas ele entrou. O que devemos fazer com ele?”

Greengrass sacou a varinha. “Furnunculus!” Espinhas cheias de pus apareceram na face de Nicholas. Pansy foi a próxima: “Tarantallegra.” Os olhos de Nicholas se arregalaram quando suas pernas começaram a querer se chacoalhar, mas presas com cordas. Arrepios correram por seu corpo; ele sentia suas pernas se debaterem sem poder fazer nada para impedir. Seu rosto queimava com as espinhas, mas os Slytherins não estavam satisfeitos:

“Cornibus!”

Algo cresceu na cabeça de Nicholas. Aquilo eram... “Chifres!” riu Nott. “Boa, Revan!”

O velho bruxo da foto gargalhava.

“Vamos lá, pessoal” sorriu Revan. “É o suficiente.”

“Não, não é” retrucou Bulstrode. Ela deslizou uma unha afiada no rosto de Nicholas, desenhando sua cicatriz. As duas mordidas de Nagini formavam um formato peculiar no rosto dele. Ao unir os pontos, parecia que o ruivo carregava um raio na bochecha, assim como em seu ombro. “Pronto. Dez galeões que ele vai correr para Dumbledore até a hora do almoço!”

“Quinze que ele corre para o diretor dentro de uma hora!” apostou Nott.

Nada daquilo era suficiente para Draco. “Cinquenta” ele falou lentamente “Que ele vai fugir em um instante, como o covarde que é.” O loiro cortou as cordas.

Covarde ou não, Nicholas era esperto. No instante em que se viu livre, ele pulou para longe dos Slytherins, correndo na direção da porta. Merlin pareceu decidir que a tortura fora suficiente. Daquela vez, Nicholas passou.

Ele correu, correu mais do que correu sua vida toda, subindo todas as escadas até o banheiro da Murta que Geme. Quando chegou, vendo pela primeira vez Hermione semi transfigurada em uma gata, mal teve fôlego para rir. A sabe tudo, porém, estendeu algo para ele, depois de examinar os chifres, espinhas e corte.

“Olhe o que jogaram!” ela apontou para o livro, mostrou as páginas vazias e lançou vários feitiços, nenhum deles funcionando. “É um diário!”

“Hermione” protestou Ron. “Pessoas escrevem em diários. Esse daí está em branco.”

A morena revirou os olhos. “Fale algo novo, Ron. Nick, tente fazer algo. Ele não rasga, não tem nada escrito, não sei o que fazer!”

Foi a vez dos meninos revirarem os olhos. Hermione não sabia o que fazer? Aquela era a primeira vez.

“Deveríamos levar o diário para Dumbledore” ela sussurrou. “Ele vai saber o que fazer.”

“Dumbledore, Dumbledore, Dumbledore... Existem mais pessoas que podem resolver o enigma.” Ele apontou para si mesmo. Além disso, ele não queria que os Slytherins ganhassem galeões à sua custa. “O que sabemos sobre o livro?”

“Hermione o tirou da privada” disse Ron.

Hermione corou. “Mas ele estava seco!”

O ruivo franziu a testa, abriu a torneira e deixou que uma gota de água pingasse nas páginas velhas do diário. Como esperado depois da afirmação de Hermione, a folha absorveu a gota sem deixar vestígios. Sua boca se abriu em um O. Ela correu para a mochila, tirou uma pena e um frasco de tinta e escreveu, a mão direita tremendo:

Olá.

As palavras lentamente desapareceram, sendo substituídas por outras. Olá. Quem é você?

Hermione começou a escrever quando a mão de Nicholas a parou. Ele balançou a cabeça, pegou a pena e escreveu, ao invés do nome: Quem é VOCÊ?

O diário levou algum tempo para responder. Um estudante, assim como vocês. Vamos fazer um trato, nome por nome. Vocês primeiro.

Ron.

Ahhh, então estou na presença do menino que sobreviveu e sua gangue. Obrigado pela colaboração. Meu nome é Tom.

Hermione olhou a data no diário. Era de cinquenta anos atrás... Curiosa, ela arrancou sua pena de Ron e escreveu apressada: Você sabe alguma coisa sobre a Câmara Secreta?

Uma carinha feliz apareceu e a próxima coisa que o trio sabia, eles estavam sendo puxados para dentro do diário. Depois do que parecia ser pelo menos meia hora, eles voltaram a si, boquiabertos. A carinha feliz ainda estava no diário. Os três disputaram pela pena, desesperados para descobrir mais sobre Hagrid, o monstro e Tom, quando ouviram passos.

“Ron, Nicholas!” berrou Percy. “O que estão fazendo aqui? Isso é um banheiro FEMININO! Fora daqui!” Ele jogou as mochilas dos três para fora. “Antes que eu tire pontos, dos dois.” Ele finalmente olhou para Hermione, ainda em sua forma de mulher gata. “HERMIONE! Para a ala hospitalar, já!” Percy os empurrou para fora. “Nicholas, o que são esses chifres? Você também, Ala Hospitalar!”

“Não...” protestou Ron, tentando chegar na pia. “O diário...”

A face de Percy ficou ainda mais vermelha. “Diário? Agora além de usar o banheiro feminino você escreve em diários? Mamãe vai ter uma conversinha com você. Fora, todos! Xô!”

Os três saíram, olhando para o diário deixado na pia. Ele ficou lá, sem ser tocado, até que Sally-Anne Perks, atormentada com vozes invisíveis que diziam para ela pegar o livro de volta, voltou silenciosamente, cumprimentou Murta (que, durante o natal, vagava pelo castelo), escondeu o pequeno diário dentro das vestes (ela se sentiu completa mais uma vez) e correu para os dormitórios de Hufflepuff, dormindo com um sorriso no rosto.


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Notas finais do capítulo

A cena com o basilisco foi improvisada. Senti que não expliquei bem e não acho que daria tempo. Temos só mais dois capítulos (do segundo ano). Espero que tenham entendido por que não foram petrificados. Um por um, eles vão morrer, haha.

Os reviews foram respondidos, e terminei o poema que tinha que escrever. #ihatepoems

Reviews são muito apreciados. Vamos tentar chegar nos 800 até o fim do segundo ano? Eu fiz as contas, 33 reviews em cada capítulo (conseguimos isso no último) vão fazer o serviço.

Até!