A New Era, A New Game -fanfic Interativa escrita por Denis Cardoso, Frodossauro


Capítulo 4
Charlie Addams




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Pílulas azuis de manhã, pílulas verdes de tarde e pílulas vermelhas a noite... até quando terei que tomar remédio? Meu dia começa com as piores pílulas da melhor cor possível. Eu sou Charlie, tenho depressão e esquizofrenia. Desculpe-me pela sinceridade, mas gosto de ir direto ao ponto. Eu não sei quando tudo isso começou e nem sei nomear o que seria tudo isso. Desde criança eu tinha esses pequenos delírios, e muitos amigos imaginários. Eu sempre preferi viver no mundo da fantasia ao mundo real. Porém não poderia me dar esse luxo, como sou o único homem da família, meu pai sempre cobrou muito de mim, apesar de ser o irmão do meio. Tenho mais duas irmãs, Chloe e Geórgia. Éramos a típica família feliz antes do meu pai se viciar em drogas e álcool. Ele sempre chegava tarde em casa e sempre muito agressivo. Batia na minha mãe e em Geórgia. Eu assistia a tudo, sem poder fazer nada. Na verdade eu podia, porém não fazia. Faltava-me força e coragem. No dia seguinte era horrível ter de ver todos aqueles hematomas e saber que eu poderia ter impedido aquilo. Eu nunca fiz nada, nunca fiz nada por ninguém. Eu sempre fui covarde e sozinho. Eu preferia brincar com meus brinquedos ao ter que dividi-los com as outras crianças. Imagine um garoto ruivo e solitário, desenhando em seu caderno e falando sozinho no canto na cantina. Esse era eu, quer dizer ainda sou. Logo que fiz 12 anos, comecei a frequentar o Campo de Treinamento, apesar de ser ilegal, o Distrito 2 treina seus tributos assim que completam 12 anos. Meu pai me forçou a ir, assim eu passava mais tempo longe de casa, para ele poder abusar livremente de minha irmã mais velha, Geórgia. As pessoas do meu distrito são diferentes de mim, são altos e fortes, com músculos esculpidos de tão perfeitos e carregam um semblante mal humorado por onde andam. Metade deles só faz isso porque precisam manter a fama de Carreiristas e outra metade é assim mesmo. Não estou dizendo que sou uma pessoa alegre, eu quase não sorrio. Eu ria muito quando era pequeno, minha mãe sempre fazia piadas e coisas engraçadas. Eu costumava brincar com minhas irmãs. Eu fui feliz durante uma época. Isso foi antes de minha mãe se enforcar, e do meu pai assassinar Geórgia. Ele a estuprou por horas e horas, eu não pude fazer nada porque estava no colégio com Chloe. Quando cheguei em casa encontrei seu corpo estirado no chão. Estava quase sem vida quando ela agarrou minha camisa e disse: “ Nunca deixe de ser feliz por alguém, não permita que o que ele fez comigo aconteça com Chloe”. Pronto. Ela havia morrido na minha frente, eu fiquei segurando sua mão por horas, chorando em cima dela, tentando reanimá-la de alguma forma. Tudo em vão. Não importa para onde os mortos vão, eu sei que eles nunca mais voltam. Depois desse trágico acontecimento, minha rotina se resumia a ir para o colégio, cuidar da Chloe e desenhar e escrever coisas no meu caderno. De noite, uma maldita insônia me perseguia constantemente. Eu nunca consegui dormir direito. Não depois de todas as mortes que presenciei. Eu acordava de pesadelos, chorava dormindo e chorava acordado. E o pior de tudo, meu pai ouvia tudo. E não fazia nada. Decidi que estava na hora de fazer alguma coisa. Não por mim, que já não mereço nada, mas por Chloe. Por todos aqueles que sofreram sem merecer isso. Eu era louco, quer dizer ainda sou. Tomo remédios todos os dias para me controlar. Vou à psiquiatra e na psicóloga, as únicas do Distrito todo. Eu choro toda noite, eu crio coisas na minha mente que fogem para realidade. Eu vejo coisas, eu ouço coisas que os outros nem imaginam que existem. Eu mato pessoas mentalmente. Eu odeio o mundo, esse maldito show de putas. Acima de tudo, eu odeio meu pai. Eu jurei proteger minha irmã mais nova e nada iria quebrar essa promessa. Absolutamente nada. Bom, era assim que eu pensava antes de isso tudo acontecer. Era dia da Colheita no Distrito 2, era como se fosse uma festa. Todos sorriam e cantavam. Os Jogos Vorazes eram a atração principal para o meu distrito. Eu tinha acordado mais cedo, quer dizer só acorda quem dorme, e eu não durmo. Levantei cedo. Sim, essa é a expressão correta. Eram 5 da manhã, eu já tinha saído da cama, sem fazer nenhum barulho para não acordar Chloe. Meu pai estava desmaiado na sala. Ele cheirava a álcool. Por um momento eu vi a oportunidade perfeita, ele estava desmaiado agarrando uma garrafa de uísque, era com essa garrafa que eu cortaria seu pescoço. Como se eu tivesse coragem... passei por cima de seu corpo e abri a porta de casa, era um dia lindo. Cinza, céu nublado. Chloe não gosta de dias assim, ela prefere dias ensolarados e com arco-íris. Mas eu nunca poderia negar que esse dia era a coisa mais linda que já vi. Sentei na pedra mais próxima fora da minha casa, me preparando para o desenho matinal. Quando fui interrompido. 
 

- Irmão, que horas são? - Ela falava ainda com sono. Esfregando os olhos. 

- Você deveria estar dormindo. - Eu disse tentando ser agradável. Acredite era difícil. 

- Porque o papai está morto na sala? - Senti seus olhos se encherem de dúvida, quase percebi uma felicidade. 
- Ele não está morto, está desmaiado. É quando você não está nem morto nem vivo. Como se estivesse dormindo. - Antecipei a explicação antes que ela perguntasse por quê. 
 

- Hmm, estou com fome. 
 

- Venha eu lhe preparo o café-da-manhá. - Consegui sorrir.
Ela comemorou e entrou correndo pela casa, quase tropeçou no pai morto-vivo. Disse que ela deveria tomar banho enquanto eu fazia o café-da-manhã. Eu não sou muito bom nessa coisa de cozinha, mas minha irmã ficava satisfeita com tudo que eu fazia. Era costume eu preparar todas as suas refeições. Acho que ela tinha se acostumado com uma comida ruim. Enquanto Chloe tomava banho, meu pai acordou o suficiente para deitar em sua cama, ainda lhe restavam algumas horas de sono antes da Colheita. Eu preparei panquecas coloridas, com recheio de chocolate e iourgute de morango, o restinho da dispensa já havia se ido. Chloe saiu do banho só de calcinha com o cabelo emaranhado e toda feliz. As bochechas estavam rosadas, devido ao banho quente. Eu coloquei a comida na mesa e ela atacou tudo com voracidade. 
 

- Obrigada irmão. Eu te amo. - Ela abriu um sorriso, com um pouco de chocolate marcando o sorriso branco. 
Meu coração acelerou, eu não sabia o que dizer. Ela já tinha me dito isso diversas vezes. Porém dessa vez senti que precisava retribuir. Que talvez não tivesse a chance de dizer isso pra ela. Foi aí que percebi que eu nunca tinha dito isso pra Chloe. 
 

- Eu te amo também. - O silêncio ecoou pela casa, a troca de sorrisos e olhares era tudo o que permanecia. Eu realmente amava minha irmã. Porquê nunca tinha dito isso antes? Dei um beijo em sua testa e a mandei se vestir. Margareth já ia buscá-la. Margareth é mulher que toma conta de minha irmã quando estou fora. Chloe disse que eu deveria vestí-la hoje, já que era um dia especial. Meu nome apareceria na urna umas cinco ou seis vezes. Ela sabia disso, e queria estar linda caso algo acontecesse. Eu coloquei o seu vestido favorito, que também era o mais bonito. Era azul com bolinhas brancas, tinha um laço engraçado atrás do vestido. Uma tiara preta, combinando com sapatinhos pretos. Ela estava radiante, parecia uma princesa. Margareth gritou para dentro da casa do portão, então eu tive tempo de dar um abraço em Chloe antes que ela saísse correndo. Logo que saiu, eu fechei a cara. Meu pai estava em pé, na cozinha comendo os restos da panqueca que fiz. A visão desse homem fez subir um refluxo, consegui controlá-lo. Não queria vomitar na cozinha. Eu entrei no banho e no minuto seguinte estava limpo. Eu coloquei roupas claras. As mais claras que eu tinha. Calça bege e camisa social azul claro. Argh, eu estava ridículo. Penteei os cabelos pro lado. O velho asqueroso que era meu pai apareceu atrás de mim e disse que estava parecendo um doente. Um sorriso debochado apareceu em minha face. Eu saí do banheiro em direção ao meu quarto. Ainda dava tempo de desenhar. Sentei em minha cama e tracei o laço engraçado que se prendia ao vestido de Chloe. Sorri e ajeitei a gola da camisa. Pronto, estava imerso em trevas. Quando acordei, meu cabelo estava todo bagunçado. Olhei para o relógio e vi que ele havia parado. Que eu estava atrasado. Depois de tanto correr, soube que já era a terceira vez que chamavam meu nome. Um mulher alta e musculosa tinha tomado conta do microfone e gritava-o. 
 

- CHARLIE ADDAMS! APAREÇA CHARLIE ADDAMS! 
 

Parei em estado de choque, aquilo não podia estar acontecendo. Só podia ser um dos meus delírios. Eu tomei os remédios hoje? Sim, tomei. Ou seja aquilo tudo era real. Trágico e real. Eu nunca conseguiria proteger minha irmã, eu nunca diria “ eu te amo” pra ela novamente. Eu iria morrer. E eu sabia de quem era a culpa. Enquanto Pacificadores me carregavam ao palco, um homem alto, de cabelos pretos e uma cicatriz no rosto sorria alegremente. Ele era o culpado por isso. Meu pai.


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Notas finais do capítulo

Enfim, queria me desculpar pela demora... Espero que gostem do capítulo, porque eu me esforcei demais. xxx



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