Prostituta Do Governo escrita por Leticia, Lari Rezende


Capítulo 47
Surge uma cicatriz


Notas iniciais do capítulo

Quem está curioso(a) pra saber da cicatriz? Agora é a hora de saber (:
Boa leitura :3



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O susto que eu tive naquela noite eu jamais esqueceria.  A mãe de Melina nunca voltou atrás da filha o que me levou a acreditar que ela estava morta.

Eu me mudei dos fundos da casa de Tereza para uma casa no começo da rua. O aluguel que a imobiliária pedia era razoável e agora com uma criança para cuidar eu precisava de mais espaço. A casa de madeira tinha três cômodos e um banheiro.

Os moveis eu fui comprando aos poucos e muitos deles foram de doações de Tereza e de pessoas influentes que ela conhecia. Quando me dei conta eu já tinha uma cozinha simples, uma sala confortável e um quarto ótimo para eu e Melina.

Eu estava feliz, a menina chorava durante as noites, mas de certa forma era aconchegante e gostoso levantar a noite e embala-la em meu colo cantando uma musica de ninar.

Lia e Ana Maria também me ajudavam. A noticia de que eu era mamãe deixou-as surpreendidas.

***

5 meses depois.

As coisas iam se ajeitando aos poucos. Melina ainda era um bebe de colo mais já estava maior e continuava saudável. Notei que a única coisa que a acalmava era o simples som de musica.

Tereza vivia dizendo que a garota seria alguém muito influente no ramo musical e eu gostava de acreditar naquilo.

Depois de um tempo notei que alguém me observava quando eu saia de casa com Melina no colo. Era um homem negro de cara de poucos amigos. Tinha a cabeça raspada e uma tatuagem enorme no braço. Usava umas roupas pesadas tanto no tecido quanto na cor. A barba por fazer me assustava e a expressão de ódio nos olhos me dava arrepios.

Comecei a tomar mais cuidado. Primeiro achei que ele queria assaltar minha casa, mas descartei a hipótese depois de um tempo. Depois achei que ele se tratava de um maníaco sexual que queria me seduzir ou alguém que sabia sobre meu passado de prostituta e queria um programa, mas ele nunca
mencionou qualquer desejo sexual por mim. Porem o desespero tomou conta de mim quando eu notei que ele prestava atenção em Melina.

Comecei a achar que a mulher que me entregou Melina pudesse estar falando daquele homem e ele de alguma forma me rondava agora para tentar matar a criança.

O homem sumiu depois de um tempo e eu acabei achando que na realidade era tudo coisa da minha cabeça.

Certa tarde de domingo, eu estava sentada no sofá olhando um programa chato na TV quando alguém bateu palmas em frente a minha casa. Pensei que pudesse ser Tereza ela tinha dito que viria durante a tarde, mas quando olhei pela janela vi que era um homem usando um terno cinza com um papel na mão.

Melina dormia no quarto, a deixei lá mesmo e fui atender a porta.

Quando atravessei o quintal tive a nítida impressão de que um vulto passava por trás de mim, olhei rapidamente para trás e não vi nada.

Era estranho, mas comecei a ficar nervosa.

-Oi – disse eu – No que posso ajudar?

-Olá – respondeu ele – Eu sou de uma igreja nova, será que tem um tempinho para mim?

Eu gostava de ouvir as pessoas evangelizando.

-Claro – respondi sorrindo.

Enquanto o homem falava, eu tinha a nítida impressão de que ele era alguém conhecido. Parei de prestar a atenção em qualquer palavra dele e fixei meus olhos nos dele. Eu sabia que o conhecia, mas de onde? De repente tive um estalo em minha mente.

-Vo.. você – gaguejei – É você.

Eu estava atônita.

-Esta tudo bem? – perguntou ele.

-Foi você que matou aquela mulher – eu disse – Eu vi você rapidamente pelo vidro da loja eu tenho certeza.

Eu dei um passo para trás e ele agarrou meu braço. A única coisa que nos separava era uma pequena cerca de madeira velha que estava caindo aos pedaços.

-Espere – disse ele num tom desafiador – Sabia que é feio recusar a palavra de Deus?

Meu coração acelerava.

-Me solta – ele apertava meu braço – O que você quer?

Ele sorriu.

-Aquela mulher me devia dinheiro – disse ele com um olhar fixado no vazio – Ela era usuária de drogas e me devia bastante. Eu dei um prazo pra ela e disse que se ela não cumprisse esse prazo eu a mataria. E a filhinha dela.. Também iria para o pau.

Os dedos dele contra a minha pele eram fortes a ponto de começar a ficar vermelho.

-A mãe dela já foi – disse ele – Só falta à filhinha.

Entrei em desespero.

Melina corria perigo.

Olhei para trás e vi uma fumaça um tanto forte vinda de dentro de casa.

O cara negro que me observava apareceu ao lado dele.

-Pronto – disse ele com uma voz grossa – Já coloquei fogo na casa. Uma hora dessas só resta comer um churrasquinho de bebe.

Ver a casa pegar fogo e saber que Melina estava lá dentro me deixou tonta e eu senti que iria cair.

Então de repente tudo foi parecido como um borrão.

Eu me lembro apenas que duas viaturas da policia pararam em frente a minha casa e detiveram os dois homens, como a policia tinha chegado ate ali eu não tinha interesse em saber, a única coisa que me interessava naquele momento era salvar a vida de minha filha.

Corri para dentro de casa.

Tudo estava pegando fogo. O cheiro de gasolina era forte e as chamas impregnadas nas paredes de madeira eram altas. Corri por entre as chamas até chagar ao quarto.

Respirar, enxergar e andar eram coisas difíceis de se fazer naquele momento. 

O quarto onde o berço de Melina estava dormindo era repleto de labaredas grandes, de tons amarelados e alaranjados. Notei que um pedaço de madeira que fazia parte do forro estava para se desprender e cair em cima do berço onde minha filha dormia.

Corri desesperadamente, queimando minhas pernas e meus braços. Corri até o berço no exato momento em que o pedaço de madeira caiu.

A madeira que caiu não era grande, era simplesmente grossa e quente devido ao fogo e continha um enorme prego que ficava com a ponta completamente exposta.

Antes do pedaço de madeira cair no berço eu coloquei meu rosto na frente e salvei a vida de Melina.

Agarrei-a e corri com muita dificuldade para fora da casa que se consumia em chamas.

Quando cheguei a frente da casa, lembro de ter visto alguns rostos curiosos olhando o incêndio, lembro de ouvir as sirenes do caminhão de bombeiros chegando, lembro de ter colocado Melina nos braços de Tereza e lembro que uma enorme cicatriz havia nascido no lado direito do meu rosto.

Uma cicatriz, que salvou a vida da minha filha.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?