Perigosa União escrita por Izu Chan


Capítulo 3
Capítulo 3 - Almoço


Notas iniciais do capítulo

Reescrito



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/29348/chapter/3


Acordei tarde no dia seguinte e com extrema preguiça levantei da cama. O inverno já estava começando e algumas nuvens indicavam que a neve não demoraria a chegar. Tomei um banho quente e vesti-me com roupas de frio, mesmo antes de começar o inverno em si eu tremia com qualquer brisa. Ao sair do quarto, fiquei surpresa de não encontrar Takemaru assistindo algum de seus programas e meus olhos são quase imediatamente desviados para o relógio de parede que marcava 11h e 36min. Isso explicava porque ele não estava aqui, devia ter ido almoçar fora.

Pego minha bolsa de mão, colocando o necessário dentro, e saio do apartamento. O caminho foi tranquilo e como não havia comido nada no café da manhã, o almoço num dos meus restaurantes favoritos era extremamente tentador. Paro a uma quadra de um dos meus favoritos: Jiao Wu; sempre ofereceram as melhores refeições ao estilo asiático. Entro e sem surpresa nenhuma noto que as mesas bem espaçadas entre si estavam completamente ocupadas enquanto os funcionários passavam entre elas e o balcão levando a comida numa bandeja. O cheiro de sopa de Misso que me invadiu as narinas assim que uma das garçonetes passou por mim fez meu estômago dar um salto de alegria

Vi uma mesa vazia num dos cantos mais afastados perto do balcão. Esgueiro-me entre as cadeiras e mesas e quando finalmente consigo descansar a mão sobre a mesa, vejo que outra pessoa também havia acabado de chegar. Levanto os olhos para mandar seja lá quem fosse para a lanchonete da esquina, mas minha voz morreu ainda na garganta ao ver o anjo desvairado que havia me atropelado

-Está me seguindo por acaso?!

-Iria fazer a mesma pergunta – ele arqueia levemente a sobrancelha numa expressão ao mesmo tempo de desconfiança e dúvida

-Eu cheguei primeiro – falo entre os dentes trincados, eu havia perdido o emprego, fui atropelada e ameaçada indiretamente no dia anterior, eu não ia simplesmente entregar a mesa para ele

-Minha maleta estava aqui enquanto fui fazer o pedido – baixo os olhos por um momento e vejo uma maleta de couro numa cadeira ao seu lado

-Acha que eu sou cega? Ou burra talvez? Essa coisa estava na sua mão e quando eu falei você a colocou na cadeira.

-Acha que estou mentindo?!

-Que está havendo aqui? – pergunta um garçom parando entre nós e só então notei que a atenção de algumas pessoas próximas estava em nossa discussão

-Ele quer tomar minha mesa!

-Ela disse que eu sou um mentiroso e que estou tentando enganá-la por causa de uma mesa

-Pelo que vejo só há essa mesa. Terão de dividir ou sair – ele cruza os braços olhando de um para o outro, talvez esperando que a ameaça funcionasse

-Não vou sair – fala ele com convicção

-Muito menos eu – afirmo

-Então, por favor, sentem-se e me digam seus pedidos

Sem outra opção visível, sento cruzando os braços e digo meu pedido. Ele senta a minha frente e olha para o lado dizendo o pedido ao garçom. Quando o garçom sai, olho para ele com raiva, mas ao invés de me olhar com raiva com aquela expressão de desconfiança ele apenas sorriu. Uma imagem em que eu batia naquele rosto até que ficasse completamente deformado atingiu minha mente e sorri

-Você fica bem melhor assim

-Que? – pergunto olhando novamente para ele, a imagem dele sendo estrangulado que eu havia imaginado não me permitiu entender o que havia falado com clareza

-Você fica bem melhor sorrindo.

-E o que tem a ver se estou sorrindo ou não?

-Nada, você apenas fica mais simpática

Viro o rosto para a janela. Com certeza era o homem mais estranho que já conheci. Após certo tempo, Loren, uma colega que trabalhava no restaurante, veio andando em minha direção segurando uma bandeja com o meu pedido. Implorei em pensamente para que ela não falasse comigo, se eu fosse mais motivo de risinho para ele cometeria um homicídio em frente a um restaurante lotado e isso não seria bom.

-Olá Izayoi – diz ela colocando o prato a minha frente – Você realmente gosta de gyouza não é?

-Fazer o que – respondo mais para minha má sorte do que para ela

-Inu Taisho o seu prato já está saindo, eu vou trazer em dois minutos

-Sem problema – responde ele sorrindo, vejo-a corar levemente e sair encabulada. Que ridículo, penso enquanto comia. O sabor era tão bom quanto o cheiro e aliviou os roncos do meu estômago – Izayoi

-Que? – levanto os olhos com raiva, ele sorri. Por que diabos ele sorria tanto?

-Bem, considero um atropelamento uma péssima primeira impressão...

-Eu considero motivo de prisão

-Pode esperar eu terminar, por favor? – fico um tempo em silêncio comendo e ele continua – Eu quero me apresentar como se deve.

-E porque acha que eu quero saber quem você é? – ele dá de ombros e olha para Loren que voltou com o prato dele

-Bom proveito – fala ela e sai

-Meu nome é Inu Taisho

-É um grande desprazer conhecê-lo. Pode ficar calado para eu terminar de comer ou tenho que enfiar essa colher na sua garganta?

-Não sei se teria coragem

-Está me desafiando? – não pude evitar um sorriso mínimo, ele só corria demais num carro e achava que podia lidar com uma assassina profissional? Ele não sabia disso, mas estava sendo burro da mesma maneira

-Eu não sei se teria coragem de ficar com uma colher na garganta. Não daria pra comer meu sushi – fala ele colocando um pouco de sushi na boca e após mastigar fala – Desculpe por ontem, devia ter maneirado na direção

-Devia estar sem habilitação – resmungo entre os dentes

-Por que você é tão grossa?

-Porque você me atropelou!

-A culpa também foi sua

-Comparada a sua culpa, a minha é mínima

-Certo – continuamos em silêncio até terminar de comer e Loren voltar com as duas contas

-Obrigado – fala ela ao receber o dinheiro e Inu Taisho levanta-se

-Quer carona Izayoi?

-Não

-Então como posso encontrar você de novo?

-Você quer meu número? – pergunto incrédula

-Se quiser ver por esse lado

Que cara de pau!Num dia me atropela, no outro... Talvez ele só estivesse tentando se desculpar, pensa uma vozinha no fundo da minha cabeça. De um jeito estranho fazia sentido

-Ok – pego um papel de propaganda do meu casaco e anoto um número atrás – Aqui está – estendo o papel e ele pega, olha rapidamente o número e guarda o papel no sobretudo

-Até mais – viro-me para pagar a conta e sinto uma pressão leve na bochecha

Quando me virei ele já estava perto da porta. Acompanho-o com os olhos e vejo que ele entrou numa Mercedes-Benz GLK prateada. Saio do restaurante e vejo o carro acelerar enquanto virava numa rua. Volto o caminho até o apartamento, estranhamente desnorteada. Não encontrei ninguém quando entrei, fui direto para o quarto e deitei na cama. Notei que estava sorrindo e toco a bochecha onde ele havia me beijado, parecia estar formigando.

Talvez no final das contas, não devia ter dado o número da loja para ele. Mas o que eu estou pensando?! Ele tem um filho. Forcei-me a lembrar o rosto e o nome do garoto. Se ele tem um filho então é... casado. A última frase pareceu pior do que realmente era. Sinto algo quente rolando pelo meu rosto e a encostar as pontas dos dedos percebo que são lágrimas. Lágrimas que caiam sem sentido por alguém que acabara de conhecer. Eu estava virando uma estúpida.

[...]

A Mercedes-Benz GLK estaciona em frente ao apartamento de outra das vítimas: Lady Madeline Fume. Como todos os anteriores nada havia sido roubado, não havia sinais de luta exceto apenas a da lâmina no coração.

-Senhorita Rey - fala Inu Taisho postando-se ao lado da médica legista agachada ao lado do corpo, havia um rapaz ao lado dela que levantou os olhos apenas brevemente e então voltou a analisar algo no cadáver

-Inu Taisho – Olivia Rey, uma morena de cabelos cacheados volumosos e rosto em forma de coração, faz um pequeno aceno em sua direção e fala ao seu assistente – Acho que já terminamos por aqui Philip, me ajude a levar esse corpo pro necrotério para examinarmos a droga

-Sim senhora – responde ele

-Descobriram qual é a droga? – pergunta olhando para o corpo, era uma mulher loura por volta dos 30 e apenas em uma olhada pode perceber que ela fez algumas cirurgias estéticas nas pernas e nos seios, ela estava deitada no chão da sala sobre um tapete persa, o roupão cor de salmão estava aberto

-Ainda não – responde Olivia voltando a atenção a Inu Taisho e levanta-se tirando as luvas clínicas – E também não tenho idéia de que droga é essa. Algumas toxinas são comuns em outras drogas, mas a mistura é única e não consegui descobrir todas as toxinas

-Quem fez isso deve ter tido um bom trabalho para encobrir – conclui e olha para o assistente da médica que colocava o cadáver sobre uma maca – Ela parece ter sofrido, mas não há sangue ou qualquer objeto que sugira uma luta – ele passa o olhar pela sala; havia uma estante, provavelmente do séc. XVIII, onde estavam os vinhos e cálices, não muito distante da janela que tinha vista para o Central Park estava uma mesa de chá redonda com duas cadeiras estofadas e ao lado do corpo um sofá dois lugares branco

-Acabamos por aqui – fala Olivia ao postar a frente da maca para ajudar seu assistente a levantá-la

-São uma bela coleção de vinhos – fala Philip com um ligeiro assovio – Provavelmente as melhores de 1870. Devem ser deliciosas, apesar de o sabor ter sido afetado pelo aquecedor – ele dá um suspiro desejoso

-Depois do trabalho você pensa em encher a cara garoto – ele sorri para a chefa e ajuda-a a erguer a maca

Inu Taisho observou enquanto a perícia colhia fotos de todo o local, quando os médicos passaram ao seu lado bastou o breve instante em que seus olhos se encontraram para perceber o que ele queria dizer. Não havia muitas pessoas agora, apenas mais dois policiais. Encaminhou-se a estante e deu uma rápida olhada nos vinhos.  Estavam organizados num semi-círculo e percebeu que o último do lado esquerdo, o menos visível, não completava o semi-círculo

-Quantos vinhos ela tem? – pergunta a um dos policiais

-Pelo que percebemos são 7

-Então porque aqui tem apenas 6?



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!