Imortal escrita por Carola


Capítulo 13
A preparação do aniversário




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O dia amanheceu silencioso demais. Meus pais estavam quietos no quarto, e Pim ainda estava na casa de Stephan. Na rua não havia nada: ninguém caminhava, nenhum carro passava e não se ouvia nenhum cantar de pássaros ou latidos de cachorros.

Abri os olhos e fui atingida pela claridade intensa que agora iluminava meu quarto. Sentei na cama e espreguicei dizendo em seguida:

_ Ah, como dormi bem! Não fazia isso há um bom tempo...

Arrastei-me até a ponta da cama e procurei meus chinelos com o pé, mas só encontrei pantufas. Caminhei até o banheiro, e enquanto andava fiz um rabo de cavalo, prendendo-o com o primeiro elástico que encontrei na pia. Lavei o rosto e me olhei no espelho. Minha aparência não era uma das melhores, mas em comparação com todas as outras vezes que eu parei para me observar, eu estava consideravelmente bem.

Reparando melhor, eu estava parecendo mais velha. Meus olhos tinham olheiras que hoje estavam menos arroxeadas do que nos outros dias e mesmo me sentindo mais disposta, meu rosto carregava uma expressão de cansaço excessivo, e de... Morte. É, essa era a palavra que melhor definia.

_ Hum, que fome horrível... Parece que não como há dias!

Virei de costas para o espelho, saí do banheiro e em seguida do meu quarto, encontrando com meu pai que também estava saindo de seu quarto.

_ Bom dia!

_ Ei papai, bom dia.

_ Acordou cedo em?

_ É, eu dormi tão cedo ontem que já estou cansada de ficar deitada. – Dei um sorrisinho.

_ Realmente, você foi dormir bem cedo mesmo. Mas, eu estou indo preparar um café da manhã para nós... Quer me ajudar?

_ Claro que sim! – Eu fiquei empolgada, pois havia séculos que eu e meu pai não preparávamos algo juntos, e isso era um hábito que tínhamos antes dele e minha mãe precisarem viajar quase sempre.

Descemos as escadas rapidamente e chegamos à cozinha. Papai foi pegar um copo de água para saciar sua sede e eu fui abrir a janela para permitir que os tímidos raios de sol, que tentavam penetrar nas frestas das nuvens, chegassem ao recinto e o iluminasse, trazendo uma sensação melhor. Juntamente com a luz, veio a brisa. Aquele ventinho que ora era gelado, ora era morno, entrou suavemente pelas janelas e brincou com meus cabelos que estavam presos em forma de rabo de cavalo. Fechei os olhos e então me permiti sentir o cheiro da grama coberta pelo orvalho da manhã. Senti o cheiro agridoce da paz.

_ Sabe o que eu vou fazer? – Meu pai me perguntou.

Eu estava viajando de olhos fechados enquanto o ventinho me envolvia e me deixava mais calma e feliz, por isso demorei a raciocinar que meu pai estava falando comigo.

_ Não, o que é? – Eu respondi ainda de olhos fechados e de costas para meu pai.

_ Panquecas!

_ Hum, suas panquecas são uma delícia! – Eu disse virando-me e lambendo os lábios, dando a entender que havia ficado com água na boca.

_ Sabia que você ia gostar da ideia! Sua mãe me disse que estava morrendo de vontade de comer minhas panquecas, por isso vou surpreendê-la.

_ Ótima escolha senhor Fred! – Levantei uma sobrancelha e comecei a rir. – Vou te ajudar a pegar os ingredientes.

Saí andando para o canto oposto da cozinha para pegar os ingredientes necessários para fazer as panquecas. Meu pai sabia fazer umas que eram extremamente deliciosas. As que eu mais gostava eram as panquecas doces. Normalmente eu comia aquelas que tinham chocolate ou algo do gênero, como brigadeiro. Já minha mãe amava as panquecas salgadas.

_ Você vai querer doce, não é?

_ Sim! – Eu ri.

Levei tudo que havia pegado nos armários para a bancada ao lado do fogão. Meu pai começou a fazer a massa enquanto eu encostei as costas na pia e cruzei os braços, apenas observando-o.

_ Filha, daqui dois dias é o seu aniversário. Você vai mesmo querer a festa? – Meu pai perguntou sem tirar os olhos da massa.

Pensei em dizer a verdade, porém, isso incluiria contar toda a verdade, e eu ainda achava que não era necessário, por isso decidi que faria sim a festa, e deixaria meus pais alegres. O lado bom era que, de qualquer forma, isso iria me distrair e me deixar mais tempo perto dos meus pais.

_ Sim, vamos fazer a festa. – Tentei parecer o mais normal possível.

_ Bom, você não pareceu muito alegre com a ideia ontem, no restaurante. Mas já que você disse que quer, então está tudo certo. Vamos tomar nosso café e sair para resolver as coisas, tudo bem?

_ Pode ser! – Esforcei para dar um sorriso bem sincero. – Posso fazer as caldas?

_ Sim, é bom que isso já adianta o café.

Saí de onde estava e fui fazer a calda das panquecas. Eu queria olhar as coisas do meu aniversário rápido para poder passar na casa de Steph e buscar minha pequena. Um dia sem ela me deixava tão incompleta.

Ficamos ali fazendo as panquecas e não rendemos mais comentários. Ainda eram nove horas da manhã quando escutei meu celular tocar no meu quarto. Desliguei o fogo e saí correndo para atender antes que desligasse. Quase caí na escada, mas cheguei a tempo de atender a ligação. Era Stephan.

_ Oi amor! – Ele disse.

_ Ei meu bem, como você está?

_ Bem, e você?

_ Também.

_ Estava dormindo?

_ Não, eu estava ajudando meu pai a fazer panquecas.

_ Sério que você acordou cedo? – Ele espantou.

_ Sim! Dormi muito cedo, oras.

_ É, havia me esquecido desse detalhe. Mas, te vejo hoje?

_ Eu queria passar ai para buscar Pim.

_ Boa ideia! Então você me liga?

_ Ligo sim meu amor. Beijos.

_ Beijos. – Ele se despediu e desligou.

Desci vagarosamente as escadas pensando em como eu amava Stephan. Sentia borboletas no estômago cada segundo em que pensava naquele garoto. Percebia tremores internos cada vez que ele me tocava, e segurava meu coração que queria sair pela boca, ou rasgar meu peito, de tanto que acelerava. Steph era um homem perfeito. Carinhoso, romântico, preocupado, e acima de tudo, protetor. Era tudo que eu precisava.

Cheguei novamente na cozinha e me deparei com meu pai montando a mesa do café. As panquecas já estavam quase todas prontas.

_ Quer que chame a mamãe?

_ Se você quiser, pode sim.

E mais uma vez subi as escadas. Eu não era muito o tipo de pessoa que pode ser considerada sutil, e uma prova disso foi a forma como acordei minha mãe: pulei na cama dela e deitei ao seu lado. Ela abriu os olhos bem devagar, e então disse:

_ Se não fosse você, não podia ser mais ninguém.

E então, a senhora Williams levantou de uma forma sedutora e bonita, me puxou para seu colo e me deu um beijo na testa, me ninando logo em seguida. Aquela foi a primeira vez que parei para reparar minha mãe de verdade, e percebi que ela era mais bonita do que parecia. Seus olhos claros contrastando com sua pela clara lhe davam um ar jovial, apesar de ela não ser tão nova assim.

_ Como eu estava com saudades de você, filha!

_ Eu também, mamãe.

_ Mas então me conta como você e Stephan estão.

_ Ah, nós estamos muito bem. Ele tem sido uma excelente companhia para mim.

_ Hum, sei... Vocês dois estão usando o juízo de você, não é?

_ Claro! – Fiquei vermelha e dei uma risadinha sem graça. Bom, até agora realmente não havia acontecido nada mais sério entre eu e meu namorado, mas isso não significava que não fosse acontecer nunca, e pela primeira vez em toda a minha vida, falar isso para minha mãe me deixou sem graça.

_ Assim espero, senhorita.

Antes que eu ficasse mais vermelha e com mais vergonha em continuar aquele assunto, meu pai chegou e interrompeu de uma só vez todo o papo feminino.

_ Ei, vocês duas não vão descer para tomar café da manhã não? – Ele parou na porta e começou a bater o pé como quem está impaciente.

Eu e minha mãe rimos e então ela disse:

_ Já vamos descer, Fred.

_ Está certo, estou esperando... Não demorem porque senão as panquecas esfriam!

_ Tudo bem. – Eu disse.

Minha mãe foi procurar seu roupão para vestir e ir tomar o café, e eu decidi não esperá-la, por isso desci de uma vez. Meu pai estava sentado à mesa, que por sinal estava cheia de coisas gostosas e muito atraentes.

_ Hum, parece delicioso!

_ Fiz suas caldas doces!

_ Você é o melhor paizinho do mundo! – Falei abraçando-o por trás e dando um beijo em sua bochecha.

Sentei ao lado do meu pai e então começamos a conversar enquanto minha mãe não descia.

_ Então filha, já sabe como vai querer sua festa?

_ Ainda não, temos que decidir isso.

_ Acho que podíamos mesmo alugar algum salão, fazer uma festa extraordinária. Lembra-se da sua de 15 anos? Pois então, podíamos fazer igual, porém uma de 18 anos.

_ É, pode ser sim. – Lembrei-me de minha festa de 15 anos e de repente me animei a fazer uma festa. Se tudo desse certo como deu da primeira vez, seria incrível.

_ Bom dia! – Minha mãe gritou da escada.

_ Bom dia, atrasada.

Ela riu graciosamente e sentou do outro lado da mesa.

Começamos a comer. As panquecas doces eram exclusivamente minhas, e meus pais comiam as que eram salgadas. As minhas preferidas eram com calda de chocolate, e por incrível que pareça meu pai tinha feito muita calda de chocolate para mim.

_ Ainda são apenas nove horas da manhã, e bem, eu queria olhar as coisas da festa e depois dar uma passada na casa de Steph para pegar minha Pim.

_ Sem problemas. Vamos terminar de comer e sairemos para olhar todos os detalhes. E não se preocupe, apenas escolha o que você deseja e nós cuidaremos de todo o resto para você, filha.

_ Obrigada! – Sorri.

Terminei de comer e decidi subir ao meu quarto para pegar tudo que eu precisaria levar comigo como celular, fones de ouvido, gloss, óculos e desci novamente.

_ Eu estou pronta!

_ Vou trocar de roupas enquanto seu pai limpa a louça.

_ Certo, papai, quer ajuda?

_ Não filha, pode ficar ai esperando.

_ Tudo bem.

Eu sentei no sofá e liguei a TV para ver desenhos animados, como de costume. O clima do dia estava super gostoso e ver desenho seria super relaxante. Era irônico pensar que dali dois dias eu faria aniversário, mas na verdade eu continuaria tendo meus calorosos dezessete anos.

Antes de ir à casa de Steph eu decidi procurar Jas. Ele estava muito sumido... Não havia dado nenhum sinal de vida, nem procurado saber como eu estava ou se eu tinha me recuperado bem. Pensei em pedir que me contasse tudo que precisava saber e todos os eventos que eu perdi, mas provavelmente Jason também não iria querer me contar.

_ Carol, onde está seu pai? – Minha mãe estava descendo a escada.

_ Ele foi levar a louça para a cozinha e provavelmente está lavando tudo. – Eu disse olhando para a TV.

Minha mãe simplesmente passou direto e não disse mais nada. Eu fiquei ali, concentrada nos personagens desenhados que encenavam na televisão.

_ Fred, vamos? – Minha mãe disse para meu pai.

_ Ah sim, você já está pronta. Então vamos.

Os dois saíram da cozinha e foram para o cômodo principal para me chamarem e irmos.

_ Filha, vamos logo? – Meu pai disse.

_ Sim. – Eu disse desfazendo minhas perninhas de índio e procurando o controle do aparelho para desligá-lo. Meus pais já me esperavam fora de casa. Saí e segui diretamente para o carro sem parar pelo caminho. Desembolei meus fones de ouvido, escolhi alguma música entre as milhares que existiam em meu celular, e então me permiti viajar naquele som. Apenas fechei os olhos e esperei que o carro chegasse a seu destino.

Primeiramente, meus pais foram ao encontro de um amigo deles que era dono de um Buffet, e que provavelmente seria quem conduziria toda a minha festa. Eu não queria nada que fosse “quinze anos demais”... Queria algo moderno e que fosse bonito e coerente com a idade que eu iria fazer.

_ Olá Richard. Há quanto tempo!

_ Loren! Que prazer recebê-la mais uma vez. – Richard deu dois beijinhos no rosto de minha mãe. – Olá Fred!

Meu pai apenas balançou a cabeça em forma de cumprimento.

_ Então, o que os trazem aqui?

_ Está chegando o aniversário de Carollyne e pretendemos dar uma festa.

_ Que ótimo! Carol, conte-me tudo que deseja e eu providenciarei.

_ Não quero nada muito chamativo, e precisa ser coerente com a minha idade. Quero apenas um salão decorado elegantemente, bebidas, aperitivos bem gostosos que todos comam, música, algumas mesas, luzes coloridas. Precisa ser animado, mas ao mesmo tempo sutil.

_ Sei perfeitamente o que você quer! E já posso imaginar como vai ser maravilhoso. Não se preocupem, farei tudo, e caso precise de mais alguns detalhes eu entro em contato. Certo?

_ Obrigada Richard! – Eu sorri.

Richard era excelente, e sabia exatamente todos os meus gostos e a forma como eu queria que as coisas ficassem, afinal ele me conhecia desde pequena, pois sempre fazia todas as minhas festas. Cresci acostumada a conversar com aquele homem e decidir decorações, comidas, lugares e tudo que uma festa requeria. Depois de tanto tempo me ouvindo dar opiniões e fazer escolhas, Richard não ficava mais horas me dando ideias, apenas queria saber o básico, e a partir dali ele seria capaz de produzir toda a festa do jeito que me agradasse. Parecia que ele podia ler meus pensamentos.

Saímos do escritório de Richard e fomos à rua fazer compras. Havia meses, ou quem sabe anos que eu e meus pais não saíamos para comprar roupas e acessórios. Normalmente, assim como todas as mulheres (ou quase todas), eu e minha mãe parávamos em incontáveis lojas, sempre vendo pelo menos uma peça bonita. Depois de tanto tempo nessa rotina, meu pai já havia acostumado com o hábito e nem ligava mais. Dava opiniões e ainda ajudava a escolher coisas bonitas que muitas vezes passavam despercebidas no emaranhado de produtos.

É lógico que meu pai também fazia suas compras, mas logicamente gastava menos tempo que eu e minha mãe. Por esse motivo, nós nos separávamos e quem acabasse primeiro, encontraria o outro. Obviamente meu pai sempre acabava esperando as duas madames praticamente refazerem o guarda roupa.

O tempo passou rápido demais, e as horas que gastamos dentro de provadores pareciam ter sido apenas alguns minutos. No fim, acabamos carregando uma quantidade gigante de sacolas para o carro.

_ Você vai almoçar com a gente, filha?

_ Ah mamãe, acho que vou deixar vocês namorarem um pouquinho. – Dei uma risadinha. – Vou aproveitar para ver Steph.

_ Você quer carona? – Papai me perguntou.

_ Pode deixar que eu vou andando. Não é tão longe assim.

Dei um jeito de sair rápido, e quando estava do outro lado da rua acenei um tchau para meus pais, que estavam entrando no carro, provavelmente decidindo onde comeriam. Eu precisava ir até a casa de Stephan, que devia ser uns dois quarteirões de onde eu estava, mas decidi que primeiramente eu faria algo que já devia ter feito há mais tempo: procurar Jason Price, meu Jas.


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